quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Os Cavaleiros Hospitalários, ou de Malta: ordem militar suscitada por Deus

Fundo: ruínas do Hospital de Jerusalém.
Frente: brasão de feitio moderno dos hospitalários
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Os Hospitalários foram os primeiros, como Ordem religiosa e caritativa, a se fixarem na Terra Santa, tornando-se Ordem de Cavalaria somente algumas décadas depois.

Os seus estatutos de Ordem de Cavalaria foram inspirados em grande parte no dos Templários.

O grande feito pelo qual a Ordem ficou famosa foi a defesa de Malta, daí o nome pelo qual são mais conhecidos.

Origem e ideal da Ordem

Em 1048, alguns ricos mercadores de Amalfi compraram a permissão de construir em Jerusalém, perto do Santo Sepulcro, um mosteiro do rito latino e um hospital para acolher os peregrinos pobres e doentes.

A eles ajuntaram uma igreja sob o nome de Santa Maria, a Latina.

Pelo ano de 1100, Gérard de Tunc e seus confrades tomaram o hábito religioso. O papa Pascal II aprovou a ordem em 1113.



Foi a princípio confiada aos beneditinos, que velaram pelo serviço religioso e pelo culto. O Hospital era dedicado a São João Batista.

Foram construídos bem próximos dois hospitais: um para os homens peregrinos, dedicado a São João Batista; e outro em honra de Santa Maria Madalena, para as mulheres que vinham visitar os Santos Lugares.

O Bem-aventurado Gérard era diretor do hospital de São João, quando os cristãos se tornaram senhores da Cidade Santa.

Godofredo de Bouillon favoreceu muito o hospital, encantado com a piedade daqueles que, sob a direção de Gérard, se tinham dedicado ao serviço dos doentes e dos peregrinos.

Vários cruzados, edificados com a caridade dos que serviam no hospital, se consagraram ao mesmo exercício de piedade, dedicando a isso também os seus bens.

Os irmãos hospitalários ficaram então em condições, não somente de alojar os peregrinos, mas ainda de os escoltar e defender contra as afrontas dos sarracenos.

Eram bravos guerreiros, a quem a piedade e a causa pela qual combatiam inspiravam um novo valor.

Altivos e temíveis adversários dos sarracenos fora de Jerusalém, eles eram, no interior do hospital, humildes servidores dos doentes.

Um aspecto do Hospital de Jerusalém após desentulhar o local
Austeros para consigo mesmos e cheios de generosa caridade para com os outros, não comiam senão pão feito de farelo e da farinha mais grosseira, reservando a mais pura para a alimentação dos doentes e dos peregrinos.

Para perpetuar esse piedoso estabelecimento, Gérard achou que era necessário manter os irmãos hospitalários através de votos.

Como o Patriarca de Jerusalém gostou muito desta proposta, Gérard e os seus companheiros fizeram, nas mãos deste prelado, os três votos de religião.

O Papa Pascual II aprovou o instituto por uma bula, onde ressaltava que colocava sob a proteção especial da Sé Apostólica e de São Pedro o hospital de São João Batista de Jerusalém.

Para o Hospitalário, a perspectiva é a mais larga e as obrigações as mais imediatas.

Não se trata somente de combater por Cristo e pela Igreja, mas também pela justiça; de servir aos pobres, doentes e oprimidos.

É claro que esses fins são condicionados pela ação militar, e em consequência disso a disciplina absoluta é de rigor.

A história dos cavaleiros pode se resumir num triplo papel, cumprido sucessivamente na glória:

“Defenderam o Santo Sepulcro e constituíram um dos braços da Cruzada permanente na Palestina; combateram e retardaram a invasão marítima dos turcos; e em último lugar, continuaram encarregados da vigilância do Mediterrâneo, vendo a sua situação decrescer à medida que os perigos diminuíam para a Cristandade”.

A Ordem de Malta era ao mesmo tempo hospitalar, religiosa, militar, aristocrática e monárquica:

Hospitalar, tendo fundado hospitais abertos aos doentes de todos os países, sem distinção de culto e servidos por eles;

religiosa, pois os seus membros faziam os três votos de castidade, obediência e pobreza;

militar, pois duas de suas classes estavam sempre armadas, em guerra habitual contra os infiéis, para proteger os cristãos;

monárquica, tendo à sua cabeça um chefe inamovível, investido dos direitos de soberania sobre os súditos da ilha de Malta e de suas dependências;

aristocrática, pois apenas os cavaleiros partilhavam com o grão-mestre o poder legislativo e executivo, as três classes da Ordem escolhiam os seus chefes no seu seio, estes concorrendo com os grão-mestres, nos capítulos gerais, na confecção e na execução das leis, o que fez considerar também o governo da Ordem como republicano por certos historiadores.

O hábito e as Regras

Os hospitalários tomaram o hábito negro com uma cruz branca de linho, terminada por oito pontas.

Traziam uma cruz de ouro de oito pontas, esmaltada de branco, suspensa a uma fita negra de brilho ondeado.

Os franceses acrescentavam uma flor de lis de ouro em cada ângulo da cruz.

O estandarte era de goles (esmalte vermelho, figurado no desenho por traços verticais) na cruz de prata. Algumas vezes, a outra face apresentava as armas do grão-mestre bordadas.

Por volta de 1118, Raimundo du Puy, tendo sido eleito Grão-Mestre, fez os estatutos:

Detalhe de Capítulo da Ordem de Malta, na ilha de Rhodes. Museu de Versailles.
Detalhe de Capítulo da Ordem de Malta, na ilha de Rhodes.
Museu de Versailles.
“Em nome do Senhor, assim seja! Eu, Raimundo, servidor dos pobres de Jesus Cristo e superior do hospital de Jerusalém,… ordeno antes de tudo que todos os irmãos que se dedicam ao serviço dos pobres observem os três votos que fizeram a Deus, ou seja: a castidade, a obediência e a pobreza.

“Quando algum dos irmãos cometa alguma falta contra a pureza,… se o pecado foi público, será punido no lugar onde pecou; e no domingo, quando o povo saia da Missa, será despojado dos seus trajes, e, à vista de todo o mundo, será açoitado.

“Se ele prometer corrigir-se, será recebido na casa; mas será tratado como um estranho durante um ano, após o qual os irmãos farão o que julguem conveniente.

“Para as outras faltas menos graves, será ordenado jejuar a pão e água e comer no chão durante quarenta dias.

“Guardar-se-á o silêncio à mesa. Se se descobre que algum dos irmãos tem qualquer dinheiro seu, que tenha escondido ao Grão-Mestre, ser-lhe-á preso esse dinheiro ao pescoço, e o Grão-Mestre o fará açoitar rudemente na presença de todos os irmãos.

“Além disso, ele o condenará a quarenta dias de penitência, durante os quais jejuará, nas Quartas e Sextas-feiras, a pão e água.

“Todos os irmãos, em honra de Deus e da Santa Cruz, portarão cruzes sobre a sua capa e o seu manto, para que Deus, pela virtude deste estandarte, nos livre das emboscadas do demônio”.

Esses foram os primeiros estatutos da Ordem Militar dos Cavaleiros de São João de Jerusalém, chamados depois Cavaleiros de Rodes, e por fim Cavaleiros de Malta.


Continua no próximo post: Malta: uma ordem religiosa e militar hierárquica e sacral



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