Santa Joana d'Arco, santuário do Bois Chenu, França |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Uma das mais sublimes manifestações do espírito humano parecia afogada pelo prazer materialista da vida. O heroísmo parecia enterrado para sempre, e no país dos heróis cristãos que é a França! deplorou Louis de Raguenel em “Valeurs Actuelles”.
Em 2005, a maioria das teses dos alunos da Escola Nacional de Administração francesa (ENA), célebre pela sua exigência, “constatavam ou lamentavam a decadência de uma sociedade cada vez mais individualista que torna difícil aparecer grandes homens”.
Alguns escritos achavam resignadamente que evolução da sociedade tornava fatal essa queda.
E constatavam que ficaram para trás os tempos em que os heróis podiam aparecer no presente falando e agindo preto sobre branco.
A morte do oficial de gendarmaria Arnaud Beltrame num lance heroico contra o terrorismo chacoalhou a França adormecida pela mediocridade |
Houve uma ruptura com o presente decadente.
Os atentados islâmicos se reproduzem em Paris desde 2015.
E a sociedade moderna e progressista que se acreditava instalada na mediania para sempre se voltou então para a única e última realidade capaz de produzir os heróis que salvam o corpo social da desgraça: a fé religiosa.
E também para a instituição humana que pode lhe fornecer a tábua de salvação: o exército.
Sim: fé e exército unidos constituem a fábrica dos heróis prontos para partir ao sacrifício supremo por algo que vai além de tudo: a pátria.
Pouco valorizadas durante décadas, com os orçamentos cada vez mais recortados, objeto de incompreensões e escárnios, as forças armadas conseguiram transmitir seus valores de geração em geração, manter seu nível moral e defender sua categoria.
Foi um verdadeiro milagre, diz de Rague.
Até os políticos mudaram a linguagem e passaram a reconhecer seu papel capital na defesa material do país e no rearmamento moral dos franceses.
O general Henri Pinard Legry, presidente da Associação de apoio ao exército escreveu: “os franceses tomaram consciência do que é que é o heroísmo em ação (...) a coragem e a abnegação […], de geração em geração só foram possíveis porque cada soldado aos 18 anos optou por servir até o sacrifício de sua vida se for necessário”.
General Henri Pinard Legry: “os franceses tomaram consciência
do que é que é o heroísmo em ação”
Jamais neste século as armas francesas ficaram tão engajadas no “front” interior e nos mais variados cenários de conflito no exterior.
“Não se fabrica heróis, mas militares para servir o país”, explica o coronel Brulon, do estado maior do exército, “mas alguns acabam sendo, sem escolher as circunstâncias”.
O coronel Beltrame quis ser paraquedista para pular nas costas do adversário no Iraque, foi covardemente assassinado e post-morte ganhou a Cruz ao Valor Militar.
Vendo os terroristas islâmicos na Franca quis se oferecer como refém para poupar os sequestrados e acabou sendo degolado.
Seu exemplo acordou a sociedade comodista. Diante de milhões de telas, a Franca chorou seu filho.
A França sentiu que jamais teve tanta necessidade de heróis.
De gente que escolhe estradas que estão fora da norma.
O soldado da elite da marinha Pierrepont era chefe de um grupo de comando quando caiu em Burquina-Fasso combatendo o Estado islâmico.
Bertoncello se especializou no contraterrorismo e na liberação de reféns.
Um coronel do Estado Maior ressaltou ser necessário apresentá-los à juventude como “dois modelos, duas encarnações da esperança”.
A França jamais teve tanta necessidade de heróis. |
O herói não se preocupa em ser herói. Ele quer o sentimento do dever cumprido.
Pertencer a unidades de elite é uma provação até para as famílias. Fala-se dos que morreram. Voltar à vida de família pode parecer sem graça após ter vivido entre os perigos da missão.
Mas, todos escolheram essa vida voltada para os outros à procura do absoluto e da superação de si próprio, glosa o articulista.
Eles procuram em verdade uma vida mais intensamente humana. E esse é o ponto comum de todos os heróis segundo diz o brasão dos paraquedistas: “Para além do possível”.
Ou como constata o escritor Sylvain Fort: “para o herói o absoluto passa por cima do relativo”.
Ele desfere um desmentido doloroso aos que só veem em torno de si realidades sem substância.
Porque o herói, o militar ou o santo, são os modelos exemplares de homem encravados no mais fundo do imaginário coletivo.
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