A missa antes da batalha, azulejo do milagre de Daroca |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
No dia 23 de fevereiro de 1239, as tropas católicas de Daroca, Teruel e Calatayud, reino de Aragão, empreenderam o assalto do castelo de Chío, perto de Luchente, do qual os muçulmanos tinham se apossado, segundo evocou Aleteia.
Tratava-se de mais um episódio da guerra de Reconquista que durou oito séculos para recuperar a península ibérica invadida a sangre e fogo pelos fanáticos islâmicos.
Momentos antes da batalha, o capelão de Daroca celebrava uma Missa, em que consagrou seis hóstias para a Comunhão de cada um dos capitães das tropas.
Os Corporais de Daroca com o Sangue das hóstias |
O capelão saiu correndo com as hóstias embrulhadas nos corporais [pequena peça de pano usada na liturgia antiga] e as escondeu em um monte.
Afastados os assaltantes árabes, os comandantes pediram ao sacerdote que lhes desse a Comunhão.
Quando o padre foi buscar as hóstias no esconderijo, encontrou as seis manchadas de sangue e grudadas nos corporais.
Os comandantes entenderam aquilo como um sinal de Jesus de que eles seriam vencedores.
Então fizeram com que o sacerdote encabeçasse a batalha, levantando os corporais com as hóstias ensanguentadas como estandarte.
Os muçulmanos foram derrotados.
Uma versão parecida contavam mouros de mais de sessenta anos que ouviram de pais e avós terem recebido ordem de cercar ao nobre Berenguer de Entenza que cavalgava pelo reino de Valência com homens de Calatayud, Daroca y Teruel.
Berenguer se sentiu rodeado e encomendou uma missa a um clérigo de Daroca. Esse, após a consagração depositou o Corpo de Cristo nos Sagrados Corporais, panos litúrgicos do altar.
Instantaneamente a hóstia consagrada com forma de pão ficou visível como carne embebida em verdadeiro sangue.
Altar onde estão expostos os Corporais em Daroca. |
Eles avançavam atrás do sacerdote que, paramentado de vermelho, montava ma mula branca e levantava bem alto os sagrados corporais.
Foi assim que com a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, “obtiveram grande vitória contra os mouros”, segundo reza antiga crônica.
Após os últimos choques e consolidada a sorte da batalha, os chefes católicos disputaram para saber qual cidade teria a honra de guardar os corporais.
Três universidades – a de Teruel, a de Daroca e a de Calatayud –desejavam possuir a Sagrada Relíquia e jogaram o caso à sorte.
E as três vezes deu Daroca.
Porém, para afastar a desconfiança de alguma manobra para adulterar o resultado, Daroca consentiu que os Corporais ficariam no local em que parasse uma mula branca sobre a qual seria levada a relíquia.
Sobre dita mula branca iria o sacerdote com os Corporais, precedido pela multidão dos fiéis.
A mula viajou durante 12 dias e passou sem se imutar por Teruel.
Corporais levados na procissão de Corpus Christi em Daroca. |
Em Játiva, ouviu-se um coro de vozes celestiais.
Perto de Alcira, uma mulher possessa foi libertada dos demônios. Em Jérica, dois ladrões, que estavam perto de matar um comerciante, se arrependeram e devolveram os bens roubados.
Mas, chegando perto da cidade de Daroca “fincó aquí los genillos por voluntad de Ihesu Cristo”, “fincou ali os joelhos por vontade de Jesus Cristo” e morreu diante da igreja de São Marcos (hoje Igreja da Trindade).
Os fiéis viram nisso um sinal divino de que os Corporais deviam ficar nessa igreja.
Posteriormente foram trasladados para a igreja de Santa Maria reconstruída com maiores dimensões para que os Sagrados Corporais pudessem ser vistos por todo o mundo.
É a atual igreja de Santa Maria Colegiada desde onde, na festa de Corpus Christi, a cidade leva em procissão os Santos Corporais para fora das muralhas e os exibe aos numerosos peregrinos.
Daroca se converteu em grande centro de peregrinação a partir do século XIV com a visita de reis e personalidades importantes.
Por causa da afluência de devotos, a festa de Corpus Christi chegou a se estender durante quase um mês. Cfr. Espacio Xiloca,
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