segunda-feira, 31 de março de 2014

Al-Jihad Sulami conclama uma contracruzada à 1ª Cruzada vitoriosa

Sitio de Jerusalém, Français 770, fol 349 (1187). BnF
Sitio de Jerusalém, Français 770, fol 349 (1187). BnF

A vitória da 1ª Cruzada representou um abalo moral formidável para o mundo muçulmano.

Os maometanos da seita seljúcida até então invencíveis haviam sido derrotados pelos cristãos.

O autor islâmico que ficou para a História como Al Jihad Sulami, presumivelmente de Damasco, compôs um Tratado por volta de 1105, visando inflamar o zelo dos príncipes e emires do mundo islâmico para uma contracruzada contra os católicos que já dominavam Terra Santa.

O Tratado nos revela o ponto de vista, bastante imaginoso, islâmico sobre as origens da I Cruzada.

Contudo, nos apresenta de modo muito claro o estado de desmoralização das cortes maometanas, já submersas na luxúria e pusilanimidade, diante das sucessivas derrotas sofridas pelas mãos dos cavaleiros da Cruz.

O Tratado também deita uma luz esclarecedora sobre o espírito militar agressivo dos mais genuínos representantes do Islã da época.

O apelo de Al-Jihad Sulami afasta definitivamente a ideia de uma religião muçulmana pacífica padecendo a agressividade “colonialista” dos francos.

Os argumentos de natureza econômica são afastados. O Corão e a religião de Maomé ordenam a guerra. As ideias de coexistência pacífica, diálogo ou ecumenismo simplesmente não existem e não podem existir na alma do bom muçulmano.

Mas, sim a guerra por Alá para extinguir os cristãos, então vitoriosos.

Diz Al-Jihad Sulami :


“...Parte dos infiéis atacou de surpresa a ilha da Sicília, aproveitando as disputas e rivalidades que aí reinavam da mesma maneira que os infiéis também capturaram em Espanha uma cidade após a outra.

“Quando ficou confirmada a situação conturbada da Síria [refere-se à Terra Santa] onde os soberanos se detestavam e se combatiam, eles resolveram invadi-la.

“E Jerusalém era o verdadeiro objetivo de seus desejos.

“Examinando os países da Síria, os francos constataram que os Estados estavam em lutas uns contra outros, que seus pontos de vista divergiam e que suas relações repousavam em desejos latentes de vingança.

“Sua cupidez ficou então reforçada e os animou a se engajar no ataque. De fato, eles conduzem com zelo a guerra santa contra os muçulmanos, mas estes, em revanche, dão provas de uma falta de energia e de união na guerra onde cada qual tenta passar suas obrigações aos outros.

“Desta maneira, os Francos chegaram a conquistar territórios ainda maiores dos que eles tinham em vista, exterminando e avassalando seus habitantes.

“Até o momento presente, eles prosseguem seu esforço para aumentar sua conquista.

Sitio de Jerusalém, Français 10, fol 412v, BnF
Sitio de Jerusalém, Français 10, fol 412v, BnF
“Sua cupidez cresce sem cessar na medida em que eles constatam a covardia de seus inimigos que se contentam vivendo guarnecidos contra o perigo.

“Eles anelam e têm certeza de se tornarem mestres de todo o país e em fazer prisioneiros todos os seus habitantes.

“Queira Alá, na sua bondade, frustrar suas esperanças restabelecendo a unidade na comunidade. Ele está próximo de ouvir nossas preces. (...)

“Temos assim dissipado vossas dúvidas, e vós deveis agora ter certeza de vossa obrigação em fazer a guerra pela fé.

“Esta tarefa incumbe mais especialmente aos soberanos, porque Alá lhes confiou o destino de seus súditos, e lhes prescreve cuidar de seus interesses e defender o território muçulmano.

“É preciso absolutamente que o soberano se engaje todos os anos para atacar os territórios dos infiéis para expulsá-los de lá, do modo que é obrigatório a todos os chefes muçulmanos, para exaltar doravante a palavra da fé e humilhar a fé desses incrédulos, dissuadir os inimigos da religião de Alá de qualquer desejo em empreender novamente uma expedição semelhante.

“Ficamos tomados por uma surpresa profunda ao ver esses soberanos que continuam levando uma vida fácil e tranquila quando se aproxima uma catástrofe semelhante, como a conquista do país pelos infiéis, a expatriação de uns e a vida de humilhação de outros, sob o jugo dos infiéis e com tudo o que isso representa: morticínios, cativeiros e suplícios que perduram dia e noite”.

(Fonte: Tratado composto por volta de 1105 por Al-Jihad Sulami Damasco, ed. jornal Sivan asiáticos, 1966, apud Internet Medieval Sourcebook)




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