segunda-feira, 10 de agosto de 2009

João Sobieski (II), o rei cruzado que salvou Europa

Jan III Sobieski libera Viena do assédio turco
Jan III Sobieski libera Viena do assédio turco
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Por volta de 1680, os islamitas voltaram-se contra a Áustria.

“Havia sete anos eles se armavam desde o Danúbio até o Eufrates, desde o Mar Adriático até as Cataratas do Nilo; em todos os portos se embargavam os navios estrangeiros, para passar da Ásia e África à Europa”.

Assim, com uma impressionante armada, “cuja descrição traz à memória a expedição de Xerxes contra a Grécia”,(2) com cerca de 300 mil homens os turcos atravessaram a Hungria, uma grande parte da qual havia sido por quase 150 anos dominada por eles, e encaminhavam-se para Viena.

A situação era alarmante, pois se os turcos dominassem a Áustria, estaria ameaçada toda a Cristandade.

“Foi um momento transcendental na História do mundo; importante como o ano de 732, quando os árabes, diante de Tours, lutavam pelo senhorio da Europa. [...] Pode-se dizer, com razão, que a independência da Alemanha estava nos muros de Viena; a meia-lua plantada de um modo duradouro nas muralhas de Viena teria mudado o curso da História universal”.(3)



Beato Papa Inocencio XI pregou a Cruzada contra os turcos para liberar Viena, túmulo em altar da basílica de São Pedro, Roma
Beato Papa Inocêncio XI: pregou a Cruzada contra os turcos para liberar Viena.
Túmulo em altar da basílica de São Pedro, Roma
Lancinante apelo do Papa Inocêncio XI

Percebendo toda a transcendência do perigo turco, o Papa de então, o Bem-aventurado Inocêncio XI, fez todo o possível para procurar auxílio em prol da ameaçada Áustria:

“Conjuro-te pela misericórdia de Deus — escrevia a Luís XIV — que acudas em auxílio da oprimida Cristandade, para que não caia sob o jugo do horrível tirano”.(4)

O monarca francês respondeu evasiva e friamente, com vãs desculpas e com acusações à corte de Viena.

O Soberano Pontífice apelou então para a Polônia. João Sobieski não foi surdo ao pungente apelo. Sabia bem que se Viena caísse, a Polônia tornar-se-ia fácil presa para o Islã.

Jan III Sobieski em Czestohowa, diante da padroeira da Polonia
Jan III Sobieski em Czestohowa,
diante da padroeira da Polônia
Em 31 de março de 1683, por mediação do Papa, ajustou-se uma aliança defensiva e ofensiva com o Imperador, contra os turcos, da qual se fez garantia o Papa, e que não só juraram os dois soberanos [o Imperador e Sobieski], mas também seus plenipotenciários e os cardeais” que os representavam.(5)

O Imperador comprometia-se a mandar 60 mil homens para a campanha, e o rei da Polônia, 40 mil.

O astuto rei polonês, baseado nos seus espias, e contra a opinião geral, afirmava que os turcos iriam diretamente sobre Viena.

Por isso, pôs-se a caminho da capital austríaca, levando consigo seu filho Jacó Luís, de apenas 16 anos de idade.

Passando por Czestochowa, as tropas rezaram pedindo à Mãe de Deus a bênção para suas armas.

Enquanto isso, o Vizir Kara Mustafá havia chegado próximo a Viena e organizado o cerco da cidade, que era defendida pelo valente Conde de Stahrenberg, à frente de 15 mil homens. O Imperador teve que deixar a cidade.

Os turcos devastavam tudo nos arredores, praticando incêndios, assassinatos e violências.

Faziam muitos prisioneiros nas aldeias em redor de Viena.

Parte da população levavam como escravos, e parte matavam sem misericórdia.

Vendo o estado de muitos desses infelizes que conseguiram escapar, mais de 60 mil habitantes de Viena fugiram da cidade sitiada.

Escudo e armas turcas, troféus de guerra no Museu Czartoryski, Cracóvia
Escudo e armas turcas, troféus de guerra no Museu Czartoryski, Cracóvia.
“Vencer com glória ou morrer como cavalheiro”

Para incentivar seus homens e os cidadãos de Viena à resistência, o Conde de Stahrenberg fez-lhes uma preleção que terminava com as palavras:

“Preferimos uma morte gloriosa no campo de honra que entregarmo-nos aos inimigos. [...] Segui-me como vosso líder, cordial e alentadamente, já que penso ou vencer com glória ou morrer como cavalheiro”.(6)

Os olhos da Europa estavam voltados para Viena, e em todas as igrejas, por ordem do Papa, foi exposto o Santíssimo Sacramento.

Quando Sobieski chegou com seu exército libertador nas proximidades de Viena, em 11 de setembro, a cidade exangue já estava em seus últimos haustos.

No dia seguinte os cristãos cruzaram o Danúbio e juntaram-se às forças alemãs, sob o comando do Eleitor da Saxônia, João Jorge, e do Príncipe Carlos de Lorena.

O total das forças cristãs chegava a 84 mil homens, sendo 38 mil infantes e 46 mil ginetes.

João III Sobieski
João III Sobieski
Ao saberem da chegada de Sobieski, os turcos foram tomados de terror, ainda mais que já estavam agastados com a duração do cerco, que excedia os usuais 43 dias, e suas fileiras estavam sendo dizimadas pelas balas dos resistentes e pela peste.

Mas tinham ainda 170 mil guerreiros, sem contar as divisões que estavam na Hungria.

“Promessa: vitória se houver confiança em Deus”

Na manhã do dia 12 de setembro de 1683, travou-se a famosa batalha.

Antes, na madrugada desse dia, Sobieski com todo seu estado-maior assistiu à Missa celebrada por um capuchinho enviado por Inocêncio XI, Frei Marco d’Aviano, que tinha fama de santidade e de visão profética do futuro.

O próprio Sobieski acolitou a Missa. No fim desta, depois de abençoar o exército, Frei d’Aviano disse aos combatentes:

“Em nome do Santo Padre, vos digo que a vitória é vossa, se tiverdes confiança em Deus”.
Nesse momento Sobieski armou seu filho cavaleiro.

Depois, quando os dois exércitos estavam frente a frente, Sobieski deu sinal para o combate com o grito: “Deus é nosso auxílio!”

Armaduras de hussardos poloneses, Museu Czartoryski, Cracóvia
Armaduras de hussardos poloneses, Museu Czartoryski, Cracóvia
A resistência dos turcos foi desesperada. Por duas vezes foram acuados, e por duas vezes refizeram-se e contra-atacaram.

Em determinado momento daquela carnificina, os hussardos carregaram com sua habitual impetuosidade sobre o inimigo, mas este era muito compacto e parecia impenetrável.

Por isso os hussardos recuaram para nova investida.

Mas os inimigos, tomando aquilo como fuga, correram atrás deles, abrindo assim sua defesa.

Os hussardos então voltaram-se contra eles, junto a um reforço, abrindo grandes clareiras em meio ao inimigo e gritando o nome de Sobieski.

Os turcos debandaram em desordem, enquanto o rei polonês e seus cavaleiros lançavam-se em sua perseguição.

Os dois lados lutavam valentemente. Sobieski estava em toda parte comandando, combatendo, encorajando seus homens e impelindo-os sempre para a frente.

Ele foi o primeiro a entrar no campo infiel. Kara Mustafá já havia fugido, os turcos foram vencidos e a Cristandade estava salva.

Joao III Sobieski entra em Viena
João III Sobieski entra em Viena
Vitória por Deus numa luta a Ele consagrada

Sobieski enviou ao Papa a notícia da vitória, junto ao “Estandarte do Profeta” tomado aos turcos.

“Prostrado, com os braços abertos, Sobieski declarou que era pela causa de Deus que ele estava lutando, e Ele quem dera a vitória: ‘Veni, vidi, Deus vincit’, escreveu ele em sua carta a Inocêncio XI”.(7)

Sobieski atacou ainda os turcos na Hungria, fazendo-os recuar ainda mais, e depois voltou à Polônia para passar o inverno. O perigo turco estava quebrado para sempre.

De volta à pátria, Sobieski passou seus últimos anos no seio da família, onde veio a falecer em 1696, consumido pelas preocupações políticas e pela doença.

“Ele amava as ciências, falava várias línguas, e não se fazia menos amar pela doçura de seu caráter que pela atração de sua conversação”.(8)

(Fonte: José Maria dos Santos, Catolicismo, janeiro de 2005)

Notas:
1. S. Tarnowsi, Sobieski, in The Catholic Encyclopedia”, vol. 15, New York, The Universal Knowledge Foundation, Inc., 1911, pp. 61-62.
2. Juan Batista Weiss, Historia Universal, Tipografia La Educación, Barcelona, 1930, vol. XI, p. 880.
3. Id., pp. 881, 882.
4. Id., p. 883.
5. Id., p. 884.
6. Id., p. 889.
7. The Catholic Encyclopedia, id., p. 62.
8. Dictionnaire de la Conversation et de la lecture, par une société de savants et de gens de lettres, Paris, Librairie de Firmin Didot Frères, Fils et Cie., 1863, tomo 11, p. 589.


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2 comentários:

  1. Maravilha...Cada vez mais amo a Igreja Catolica...senti arrepios ao ler este testo.
    Que Deus o abençõe!!!

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  2. Tenho a mesma opinião, Deus o obençõe, você irá colher os frutos, e sentir as flores, as árvores dessas sementes plantas aqui na terra.

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