segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Florescimento da cultura, das artes e do Direito; correção dos costumes
Benefícios das Cruzadas – 3

Suavização das relações sociais. Der Burggraf von Regensburg, Codex Manesse
Suavização das relações sociais.
Der Burggraf von Regensburg, Codex Manesse



Continuação do post anterior


Antes da primeira cruzada, a ciência da legislação, que é a primeira e a mais importante de todas, tinha feito pequeno progresso.

Algumas cidades da Itália e as províncias próximas dos Pireneus, onde os godos tinham feito florescer as leis romanas, viam, sozinhos, renascer alguns vislumbres de suas civilizações.

Entre os decretos e as determinações que Gastão de Béarn tinha reunido, antes de partir para a cruzada, encontramos disposições que merecem ser conservadas pela história, porque nos apresentam os frágeis começos de uma legislação, que o tempo e felizes circunstâncias deviam aperfeiçoar.
“A paz, diz esse legislador, do século XI, será mantida em todos os tempos pelos clérigos, monges viajantes, senhoras e por seus sucessores.

“– Se alguém se refugiar junto de uma senhora, terá segurança, à sua pessoa, pagando a multa.

“– Que a paz esteja com o rústico; que seus bois e seus instrumentos de lavoura não possam ser arrebatados”.



Desenvolvimento simultâneo das artes
Desenvolvimento simultâneo das artes
Estas disposições benéficas eram inspiradas pelo espírito de cavalaria, que tinha feito progresso nas guerras contra os sarracenos na Espanha.

Elas eram sobretudo obra dos Concílios, que tinham determinado acabar com a guerra entre os particulares e os excessos da anarquia feudal.

As guerras santas de além-mar terminaram o que a cavalaria tinha começado e aperfeiçoaram a mesma cavalaria.

O concílio de Clermont e a cruzada que o seguiu, desenvolveram e consolidaram tudo o que os concílios precedentes, tudo o que os mais sensatos dos senhores e dos príncipes tinham feito pela humanidade.

Vários príncipes cruzados, como o Duque da Bretanha, Roberto, Conde de Flandres, marcaram seu regresso por sábias determinações. Algumas instituições salutares começaram a tomar o lugar dos abusos violentos da feudalidade.

Foi principalmente, na França que se notaram essas mudanças.

Muitos senhores tinham libertado seus servos, que os seguiam depois à santa expedição.

Giraud e Giraudet Ademar de Montheil, que tinha seguido seu irmão, Bispo de Puy, à guerra santa, para encorajar e recompensar alguns de seus vassalos de que estavam acompanhados, concederam-lhes diversos feudos por um ato passado no mesmo ano da tomada de Jerusalém.

Poder-se-iam citar vários atos semelhantes feitos durante a cruzada e nos primeiros anos que a seguiram.

A liberdade esperava no Ocidente o pequeno número de cruzados que voltava da guerra santa e que parecia não ter outro Senhor, que Jesus Cristo.

Freiras numa abadia.
Freiras numa abadia.
O Rei da França, embora tivesse estado por muito tempo sob as censuras da igreja e não se distinguisse por nenhuma qualidade pessoal, teve um reino mais feliz e mais tranquilo que seus predecessores.

Começou a sacudir o jugo dos grandes vassalos da coroa, vários dos quais estavam arruinados ou tinham perecido na guerra santa.

Muitas vezes repetimos que a cruzada pôs enormes riquezas nas mãos do clero; é um fato que não se poderia negar embora não seja igualmente verdade, para as guerras santas que se seguiram.

Mas não se poderia dizer que o clero era então a parte mais esclarecida da nação e que esse acréscimo de prosperidade estava na natureza das coisas?

Obras de caridade. Free Library of Philadelphia, Rare Book Dep.
Obras de caridade.
Free Library of Philadelphia, Rare Book Dep.
Depois da primeira cruzada podemos notar o que se vê em todos os povos que marcham para a civilização: o poder tendia a se centralizar nas mãos daquele que devia proteger a sociedade.

A glória foi a partilha daqueles que eram chamados a defender a pátria; a consideração e a riqueza dirigiram-se para a classe pela qual deviam chegar as luzes.

Várias cidades da Itália tinham chegado a certo grau de civilização antes da cruzada; mas essa civilização fundada sobre a imitação dos gregos e dos romanos, muito mais do que sobre seus costumes, o caráter e a religião dos povos, apresentava de algum modo acidentes passageiros, semelhantes às luzes repentinas que aparecem no céu e brilham por alguns momentos durante a noite.

Todas estas repúblicas esparsas e divididas entre si, como todas essas legislações, somente trazidas dos antigos, como todas essas liberdades precoces, que não tinham nascido do solo e não estavam de acordo com o espírito do tempo, prejudicaram a independência da Itália nas idades modernas.

Para que a civilização produza seus salutares efeitos e os benefícios sejam duradouros, é necessário que ela tenha suas raízes nos sentimentos e nas opiniões dominantes de uma nação e que nasça, por assim dizer, da mesma sociedade.

Seus progressos não poderiam ser improvisados, e tudo deve tender ao mesmo tempo para a mesma perfeição. As luzes, as leis, os costumes, o poder, tudo deve caminhar junto.

Foi o que aconteceu na França; também a França deveria ser um dia o modelo e o centro da civilização na Europa.

As guerras santas contribuíram muito para essa feliz revolução e pudemos percebê-lo desde a primeira cruzada.

(Autor: Joseph-François Michaud, “História das Cruzadas”, vol. II, Editora das Américas, São Paulo, 1956. Tradução brasileira do Pe. Vicente Pedroso, páginas 72-83).

FIM



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