Ricardo Coração de Leão, estátua em Londres |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Na terceira Cruzada, Ricardo Coração de Leão, rei da Inglaterra, empreendeu a reconquista do litoral palestino desde São João de Acre até Ascalão.
A coluna franca, descendo de norte a sul, progredia ao longo da costa. Ela era reabastecida em cada etapa pela frota cristã que tinha ficado senhora do mar.
O exército de Saladino fazia um movimento paralelo, mas do lado das colinas, procurando aproveitar a menor falha para acossar ou surpreender a Ricardo.
“A cavalaria e a infantaria dos Francos, escreve o cronista turco el-Imad, avançava pela praia, tendo o mar à sua direita e nosso exército à sua esquerda. A infantaria formava como que uma muralha em volta dos cavalos.
“Os homens estavam revestidos de casacos de feltro e cotas de malha de tal maneira fechadas que as flechas não podiam perfurá-los.
“Equipados com poderosas bestas, eles mantinham nossos cavaleiros à distância”.
O caid Behâ ed-Din conta ter visto um soldado franco que carregava até dez flechas encravadas nas costas de seu casaco sem ligar a mínima para o fato.
Os cavaleiros cavalgavam no centro da coluna e só saiam para cargas repentinas, quando se tratava de afastar magotes ou forçar a passagem.
“Os turcos, povo do diabo, morriam de ódio, relata Ambrósio, porque com nossas armaduras nós éramos como que invulneráveis. Eles nos apelidaram ‘os homens de ferro’”.
A superioridade dos franceses residia em sua armadura e em sua disciplina. Mas os maometanos tinham em seu favor uma extrema mobilidade.
Cavaleiro turco seljúcida, arqueiro |
A despeito deste assédio, a coluna franca progredia na ordem mais estrita, sem se desarticular nem se deixar atrair para longe da rota.
Ela passou ao pé do Monte Carmelo e atingiu Cesárea. Saladino perdeu a esperança de defendê-la e mandou destruí-la.
Por fim, a coluna chegou diante de Arsur, ou Arsuf. Era ali, mais precisamente nos jardins que precedem o burgo, que o sultão decidiu frear os franceses.
Em poucos instantes o exército cristão viu-se rodeado pelos mamelucos.
“Na frente dos emires marchavam os trombeteiros e tambores tocando os instrumentos e uivando como demônios: se Deus mandasse o trovão não teria sido ouvido.
“Após a cavalaria turca vinham os negros e os beduínos, tropa de infantaria ágil e rápida por trás de seus leves escudos. Todos miravam os cavalos, para desmontar nossos cavaleiros.”
“Naquela tórrida jornada de 7 de setembro de 1191, no palmeiral de Arsur, os franceses, rodeados pelo exército de Saladino, com muitos de seus cavalos mortos e eles próprios crivados de flechas, por um instante se acharam perdidos”.
Como na fatal cavalgada de Hattin em 1187, o combate parecia começar nas piores condições.
Após descrever o rodopio alucinante dos arqueiros montados do Islã, o granizo de flechas que se abatia sobre a coluna franca em meio a uma nuvem sufocante de poeira, a algazarra infernal dos tambores egípcios, os uivos de toda essa “canalhada”, Ambrósio confessa “que no exército cristão não havia nenhum homem bastante ousado para não achar que naquele dia sua romaria tinha acabado”.
Ricardo Coração de Leão esmaga Saladino em Arsur |
Aos Hospitalários que garantiam a retaguarda e que lhe confessaram estarem no limite de forças, ele ordenou imperiosamente de aguentarem. E eles aguentaram.
Entrementes, a tática defensiva custava muito caro.
Desde longe os arqueiros muçulmanos matavam os cavalos francos.
Ricardo preparou uma carga envolvente que teria levado à captura ou destruição completa de todo o exército maometano.
“Ficou combinado que antes do ataque, seriam postos em três rangos seis trombeteiros que tocariam subitamente desencadeando a carga de toda nossa cavalaria”.
A impaciência de um Hospitalário impediu o desenvolvimento da manobra. Houve simplesmente uma carga direta. Mas, em verdade, foi como um tufão que varreu tudo.
Béhâ ed-Din, que estava ao lado de Saladino deixou uma descrição apavorante daquela cena:
“Então a cavalaria franca formou-se em massa e, sabendo que nada iria salvá-la a não ser um esforço supremo, ela decidiu-se a carregar.
“Eu vi, eu mesmo, esses cavaleiros, todos reunidos protegidos pelo muro formado pela sua infantaria.
“Eles pegaram as lanças, soltaram todos à vez um brado terrível, a linha dos infantes abriu-se para deixá-los passar e eles caíram por cima de nós.
“Uma das divisões deles precipitou-se por cima de nossa ala direita, uma outra sobre nossa ala esquerda, uma terceira sobre nosso centro, e tudo entre nós foi posto em derrota...”
Esta revanche dos antigos desastres nos valeu pela pluma do poeta Ambrósio uma página de epopéia:
“Os cavaleiros do Hospital que haviam sofrido muito carregaram em boa ordem.
“O conde Henrique de Champagne com seus bravos companheiros e Jacques d'Avesnes com sua linhagem carregaram também.
“O conde Roberto de Dreux e o bispo de Beauvais carregaram em conjunto.
“Do lado do mar, à esquerda, carregou o conde de Leicester com todo seu esquadrão onde não havia nenhum só covarde.
“A continuação carregaram os Angevinos, o Poitevinos, os Bretões, os Manchegos e todos os outros corpos do exército.
“Ah! Bravos e corajosos homens! Eles atacaram os turcos com tal vigor que cada um atingiu seu adversário, lhe enfiou a lança no corpo e o tirou de suas estribeiras”.
Ricardo Coração de Leão derrota Saladino |
“Quando o rei Ricardo viu que a carga tinha se desencadeado sem aguardar sua ordem, esporeou seu cavalo e lançou-se a toda a brida sobre o inimigo.
“Ele realizou naquele dia proezas tais que em volta dele, dos dois lados, por trás e pela frente havia fileiras de sarracenos mortos, e os que se salvaram foi porque assim que o viam afastavam-se para longe abrindo-lhe espaço.
“Via-se os corpos dos turcos com suas cabeças barbudas deitados como feixes”.
A vitória de Arsur teve uma repercussão enorme. Ela apagou o desastre de Hattin. Ela devolveu a superioridade militar aos estandartes francos.
A força mudou de campo mais uma vez, junto com o “moral” e a habilidade tática, em poucas palavras tudo o que constitui o potencial militar.
Saladino foi o primeiro a compreendê-lo. Desde aquele momento ele renunciou a enfrentar a Ricardo Coração de Leão em campo aberto.
Saladino contentou-se ‒ à maneira beduína – com criar o deserto diante do rei Ricardo. Com o desespero no coração, Saladino mandou evacuar as cidades da costa, Ascalão inclusive.
Doloridos cortejos de emigrantes muçulmanos pegaram o caminho do Egito. Saladino mandou arrasar até o chão as muralhas das cidades.
Ruínas da fortaleza de Arsur |
Esta tática demorava o avanço de Ricardo, mas o rei pôde reconstruir, entretanto, Jaffa, cidadela particularmente importante como “porto da peregrinação” e base do desembarco dos cruzados rumo a Jerusalém.
Este site sobre as cruzadas é maravilhoso, recomendo a todos.
ResponderExcluirParabéns.
Euclydes Addeu
Salve a fé cristã!
ResponderExcluirEsta bela passagem histórica serve para afervorar em muitos a fé cristã católica.
Obrigado!
Que beleza de blog! Adorei o que li e reputo tudo como verdadeiro porque sou professor de História e apaixonado por história medieval. Sugiro uma seção com os nossos santos heróis da Antiguidade romana, como São Policarpo, São Sebastião, São Jorge e São Maurício.
ResponderExcluirParabéns!
Fábio Siqueira Batista
É muito bom esse blog sobre as Cruzadas gostei de saber sobre a história do meu chará rei Ricardo maravilhosa a história inimigo dos árabes que defendia a Terra Santa
ResponderExcluirÉ maravilhosa a história do meu chará Rei Ricardo este Blog é muito bom meus parabéns
ResponderExcluirSerá mesmo que ricardo coração de leão esmagou Saladino ???
ResponderExcluire pq depois das crusadas o controle de Jerusalem ficou com o povo arabe ???
só uma pergunta
Pq este Blog é tendencioso, sectário, prega parte da história (e não o seu todo) e têm o diabólico afã de opor cristãos aos muçulmanos...
ExcluirPreste bem atenção no que é publicado amigo!!!Ricardo Coração De Leão humilhou saladino em varias outras batalhas.Mas jerusalém foi combinada de ficar em maos muçulmanas,mas todo peregrino cristão poderia andar livremente por la e ser bem recebido!
ExcluirOs muçulmanos aprendem a odiar cristãos e judeus e os infieis em geral no ALcorão e nas mesquitas. Infelizmente os muçulmanos nao conseguem viver em paz. Eles precisam fazer guerra para alcançar seu mestre ALhá de quem são escravos.
ExcluirResistência, RCL tinha a noção de que o controle militar de Jerusalem era muito dificil e penoso, seria desvantajoso controlar a região, embora fosse representar um grande animo emocional. O acordo que ele conseguiu foi o supremo triunfo: conseguiu que cristãos visitassem Jerusalem sem serem mortos ou qualquer coisa enquanto deixava no controle inimigo o controle da região santa. Estratégico e pragmático. Para um homem que tinha ainda a preocupação de conter o ímpeto invejoso de poder do seu irmão João Sem Terra do outro lado do mundo, em sua terra natal, parece-me uma decisão de gigante.
Excluirperfeito esse blog viva a cristandade
ResponderExcluirCristo é que é Deus !!!
✠Pro Christo et Ecclesia✠
Este documentário é tendencioso,colocando os cruzados como heróis e os muçulmanos como os vilões. Nas cruzadas, milhares de vidas foram ceifadas em nome de religião. Nenhum Deus,seja ele idealizado,concebido ou imaginado por qualquer civilização passada ou atual,poderia ser inspirador de matanças de seres humanos. Na verdade,o que predomina no ser humano,de antes e dos dias de hoje,é o ódio desenfreado,egoismo,ganância e sede de poder; basta ver a ação dos mandatários do mundo atualmente, massacrando os mais fracos e se impondo através dos meios mais odiondos possíveis. O pior de tudo é ver pessoas batendo palmas prá tudo isto.
ResponderExcluirDeus ficou do lado dos ISRAELITAS para derrotar os inimigos,porque não ficaria do lado dos cristãos também? se não fossem os cruzados e reis o islamismo tinha tomado
Excluirconta da Europa e a AMÉRICA SERIA MUÇULMANA VIU!
Isso é uma historia que se repete hoje ou seja o ódio dos muçulmanos pela sociedade judaico-cristã que eles querem destruir. Veja Quem ja leu o Alcorão sabe que é uma declaração de guerra aos judeus e cristãos. Eles aprendem isso no ALcorão...não seja submisso que inclusive é o que significa a palavra Islã.
ExcluirPreste bem atenção no que é publicado!Ele humiilhou e derrotou saladino em varias outras batalhas!Mas Jerusalem foi combinada de ficar em mãos muçulmanas,mas todo cristãos que quisesse ir lá poderia livremente!
ResponderExcluirA história medieval e fascinante...
ResponderExcluirParabéns pelo rico trabalho do blogueiro.
SE ALGUM PROTESTANTE VIM FALAR MAU DAS CRUZADAS SAIBA QUE HOJE VC NÃO ESTARIA LENDO A BÍBLIA E SIM O CORÃO VIU!
ResponderExcluirQue documentário é esse que mostra Ricardo na praia?(o 1º)
ResponderExcluirSerá que as guerras empreendidas após a criação do Estado de Israel e homologada pela ONU - Organização das Nações Unidas, no âmbito a partir do Oriente Médio, alterando a Geopolítica Mundial, mantem alguma relação direta entre o Vaticano e a Cultura semítica árabe - judaica e/ou Judaico - Cristã? Será que as cruzadas podem estar relacionadas ao "Estado Islâmico", por exemplo, com algum tipo de nexo causal?
ResponderExcluirCreio que o resultado da história,foi séculos de guerras,mortes,e ruínas,não creio que DEUS aprove isso.porem sem luta não há vitoria..
ResponderExcluirOroroso pois o q ficou combinado entre eles??????
ResponderExcluirMuito bom o artigo,sr. Luis Dufaur! Ver-se que foi feito por uma pessoa de alma reta!
ResponderExcluirQue Nossa Senhora o abençoe sempre!
A paz de Cristo.
ResponderExcluirPara aqueles que vieram aqui com o discurso vazio de sempre, ou seja, "pacifista", dizendo que os Cruzados " mataram muitas pessoas nas Cruzadas", estude mais e melhor ( sites, livros fieis à História, não sites ateus/esquerdistas...), e descobrirão que se não fossem os Cruzados, todo o mundo hoje seria muçulmano, principalmente o Ocidente ( pois a China comunista sempre foi difícil de conquistar totalmente...), e aproveito para lembrar à algum Reformista que comente aqui, que se existe uma Bíblia ( Sagradas Escrituras...), para que todos os cristãos tenham acesso, deve-se agradecer à Igreja Católica, que preservou sozinha as Escrituras até a tal Reforma, em 1517, e manteve os muçulmanos ( lembrando que a última Cruzada foi em 1571, convocada por reis católicos, graças ao Papa Pio V que percebeu o domínio do Islã, caso ele não fosse contido pelos exércitos Cruzados, claro; compostos por soldados católicos e convenceu os reis a formar um grande exército para combater os muçulmanos..), longe da Europa.
Se não fossem os Cruzados, hoje todo o Ocidente seria muçulmano, pois os seguidores do Islã obriga os vencidos a se converter e nunca desistem de impor o Alcorão a todos os povos. É só observar a eterna guerra que os islamitas fazem contra os cristãos e judeus.