Jan Sobieski III, rei da Polônia chegou na hora certa para esmagar os turcos nas portas de Viena |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
continuação do post anterior: Batalha de Viena: a investida das trevas islâmicas
João Sobieski havia demorado um tanto para sair de Cracóvia. Afinal, graças ao dinheiro enviado pelo Bem-aventurado Inocêncio XI, foi possível aos poloneses partirem sem mais atraso.
O rei polonês conduzia consigo 25 mil homens, como também seu filho, Tiago Luís de 16 anos, para que o jovem nesta luta alcançasse glória e títulos para lhe suceder.
Finalmente, os poloneses conseguiram reunir-se com os soldados imperiais na cidade de Hollabrunn na noite de 6 de setembro. Juntos atravessaram o rio Danúbio rumo a Viena.
No dia seguinte, o príncipe eleitor da Saxônia, Jorge III, atravessou a ponte com seus 11.000 homens. A seguir, o príncipe Jorge Frederico de Waldeck-Eisenberg com seus 8.400 homens da Francônia e da Suábia.
Por último, atravessou o Danúbio Carlos de Lorena com o restante das tropas imperiais. Em 8 de setembro reuniu-se ao exército cristão o príncipe eleitor Maximiliano II Emanuel, de 24 anos.
Acompanhavam-no 11.300 bávaros, homens valentes comandados por um chefe sedento de façanhas. As forças cristãs contavam agora com 38 mil infantes e 46 mil cavaleiros. Considerável número de 84 mil homens com 186 peças de artilharia.
Leopoldo I, herdeiro de uma longa estirpe de imperadores, podia prescindir da glória dos combates. Em vista disso, enviou a Sobieski o precioso bastão de comando.
O capuchinho Beato Marco de Aviano foi o herói da resistência moral ao inimigo da religião |
Aquela era a primeira batalha em que tomaria parte o príncipe Eugênio de Sabóia, destinado a brilhar futuramente como um dos maiores generais da História.
Em sinal de que não se tratava de uma luta no plano exclusivamente temporal, mas de religião, uma grande bandeira vermelha com uma cruz branca tremulava no acampamento cristão.
Apresentando-se Carlos de Lorena a Sobieski durante a madrugada para receber suas últimas ordens, ambos se dirigiram ao altar, seguidos pelos demais príncipes.
Um frade capuchinho italiano, Beato Marco d’Aviano, que gozava de fama de santidade e de visão profética do futuro, celebrou a Santa Missa.
Frei d’Aviano fora enviado pelo próprio Papa, para levar-lhes sua bênção e inflamar os combatentes com sua eloquência.
O próprio Sobieski foi o acólito nessa Santa Missa. O sacerdote deu logo a comunhão ao rei, aos príncipes e a bênção ao exército, dizendo:
“Em nome do Pai vos digo que a vitória é vossa, se tiverdes confiança em Deus”.
Após a cerimônia litúrgica, Sobieski fez seu filho ajoelhar-se e o armou cavaleiro. Todos tinham em mente não estar lutando por uma cidade, mas sim por toda a Cristandade.
E, com o brado de “Deus é nosso auxílio!”, foi dado o sinal de combate.
Os turcos contavam com 170 mil guerreiros e dispunham de divisões estacionadas na Hungria. Mas a notícia da chegada dos exércitos da Santa Liga espalhou o terror entre os islamitas.
Kara Mustafá decidiu então: enquanto a maior parte dos turcos lutaria contra os exércitos cristãos dos salvadores, outra parte prosseguiria o ataque contra a cidade.
Os contendores se armaram para a luta decisiva. No dia da batalha — num domingo de 12 de setembro de 1683 — às cinco horas da manhã os canhões troaram.
A montanha de onde provinham os cristãos parecia toda em movimento. Ao som das músicas dos regimentos, os católicos desceram em espessas fileiras com passos lentos, devido às dificuldades do caminho.
A resistência dos turcos foi desesperada. Por duas vezes as fileiras muçulmanas foram rechaçadas e duas vezes avançaram novamente.
A batalha, sangrenta e encarniçada, durou oito horas. Somente às seis horas da tarde, quando o exército cristão conseguiu um decisivo avanço, os inimigos empreenderam a fuga.
Os turcos só não foram aniquilados porque os cristãos, extremamente cansados, se detiveram. O acampamento otomano foi então saqueado.
Tenda de Kará Mustafá e uniforme dos guardas do Pachá capturada em Viena. Museu Czartoryski, Cracóvia |
“Deus seja para sempre bendito, pois nos deu a vitória. Todo o acampamento muçulmano com imensos tesouros caiu em nossas mãos...
“O Grão-Vizir, em sua fuga, abandonando tudo, levando consigo somente sua roupa e seu cavalo, fez-me seu herdeiro... Apoderei-me de todas as bandeiras que se levam diante do Vizir.
“A grande bandeira de Maomé eu a mandei enviar por Talenti ao Santo Padre... Os Turcos abandonaram também, em sua fuga, muitos prisioneiros do país, especialmente mulheres, embora tenham tentado matar todos que puderam”.
Também o bispo de Neusdadt, conde Leopoldo de Kolinitsch, foi ao acampamento: ele congregou 500 crianças cristãs resgatadas e cuidou de seu sustento e educação.
Em 13 de setembro Sobieski entrou na cidade. Chegando à igreja dos agostinianos, o rei polonês se ajoelhou para rezar e logo entoou o Te Deum, sendo acompanhado por todos.
“Houve um homem enviado por Deus que se chamava João” (Jo 1,6), muitos exclamaram, repetindo a frase do Apóstolo São João.
Foi um dos dias mais belos de sua vida: conquistara uma grande vitória e Viena havia sido uma vez mais a barreira contra os bárbaros maometanos do Oriente.
O júbilo da vitória católica empolgou toda a Europa. O beato Inocêncio XI derramou lágrimas de alegria. Uma iluminação geral de Roma, a Cidade Eterna, solenizou o acontecimento.
Em agradecimento, o Papa transferiu para o dia 12 de setembro a festa do Santíssimo Nome de Maria.
No entanto, o invasor muçulmano não havia perdido senão uma batalha. Era preciso dar continuidade à luta, exortou o Bem-aventurado Inocêncio XI.
Também era desejo de Sobieski prosseguir a existência da Santa Liga.
Principal fonte consultada: Historia Universal, Juan Baptiste Weiss, Editora Tipografia La Educación, Tradução da 5° edição alemã, Barcelona, 1930, Vol. XI, p. 869 a 891.
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