O príncipe Eugênio de Sabóia |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
A grande vitória católica em Zenta e o tratado de paz em Karlowitz marcaram o fim da Santa Liga convocada pelo bem-aventurado Papa Inocêncio XI contra o fracassado ataque otomano que ousou conquistar Viena. Cfr: Santa Liga e a Reconquista
No entanto, passados alguns anos, os turcos armaram nova tentativa de dominar a Cristandade, cabendo novamente ao Príncipe Eugênio de Sabóia enfrentar os muçulmanos.
Em 1683, quando os turcos empreenderam sua grande invasão da Europa, o Papa Inocêncio XI conclamou todos os povos para a defesa da Cristandade.
Mais de 10 reinos atenderam ao chamado papal, incluindo a Áustria, Polônia, Veneza e Rússia.
Depois de tantas grandes batalhas descritas em artigos anteriores,1 em 1699 foi finalmente assinado em Karlowitz um tratado confirmando as muitas conquistas dos reinos cristãos.
O príncipe Eugênio, heroico general das tropas austríacas, teria certamente dado continuidade à reconquista das cidades ainda subjugadas pelos otomanos.
Infelizmente, duas grandes guerras iniciaram-se nessa ocasião, pondo os países europeus a digladiarem entre si.
Enquanto a Áustria embarcava na luta contra a França pela sucessão espanhola, a Rússia se defendia da tentativa de expansão da Suécia. Enquanto a Europa brigava, os turcos restabeleciam suas forças.
Somente em 1611, concluída a Grande Guerra do Norte com a vitória russa sobre a Suécia, o Czar Pedro o Grande tentou nova investida contra os turcos.
Os russos tiveram uma desastrosa batalha próximo ao Rio Prut, durante a qual o próprio czar caiu refém dos turcos.
Com a derrota russa, o império otomano sentiu-se revigorado e decidiu armar-se secretamente para outra invasão da Europa.
O sultão Ahmed III sabia que a defesa do Peloponeso era um peso para os venezianos, e que os gregos estavam descontentes com eles, tanto pelos impostos quanto pelas tentativas dos padres católicos para afastá-los do cisma de Constantinopla.
Como os austríacos estavam demasiado ocupados na Espanha, a Grécia tornava-se um alvo muito fácil para os turcos iniciarem a guerra contra os cristãos.
Cerco e batalha de Corfu, H.C. Bröckell, séc. XVIII. Marburg Archives |
Os austríacos não puderam entrar desde o início em defesa de Veneza, devido à guerra na Espanha.
Somente o Papa Clemente XI enviou ajuda, e ainda concedeu a Veneza uma extraordinária contribuição de guerra em bens eclesiásticos.
Em Veneza foi grande a consternação.
Os turcos entraram no Peloponeso com mais de 200 mil homens e foram conquistando uma a uma as cidades gregas.
Vendo a própria fraqueza, muitas cidades se entregaram quase sem resistência, e por fim até a frota veneziana se retirou da batalha.
Sem condições de sustentar as ilhas de Santa Maura, seus defensores preferiram arrasá-las. Assim se perdeu vergonhosamente o Peloponeso.
Somente na cidade de Náuplia os turcos enfrentaram forte resistência.
Os otomanos abriram com minas uma brecha na muralha, tomando a cidade de assalto.
Os defensores tiveram uma morte gloriosa, e os turcos foram especialmente cruéis com os padres e religiosos.
Em outra frente de batalha, na Dalmácia, a honra das tropas venezianas foi salva, ao derrotarem os cerca de 40 mil turcos que por ela penetravam.
Em Constantinopla era fácil imaginar o júbilo dos turcos, que cogitavam novamente conquistar Roma.
Veneza enviou a toda a Europa um pedido de auxílio, mas somente a Áustria estendeu a mão para ajudá-la.
O príncipe Eugênio de Sabóia desejava muito guerrear contra os muçulmanos, a fim de reconquistar tudo o que se havia perdido e impedir que os inimigos readquirissem a robustez anterior.
Na Grécia, o próximo passo para os turcos seria conquistar a ilha de Corfu, local estratégico para quem deseja invadir a Europa.
Assim, em 13 de abril de 1716 foi ajustada a aliança entre Veneza e o imperador austríaco Carlos VI.
Enquanto Eugênio voltaria a desempenhar na Hungria seu papel de general do exército austríaco, o barão Johann von der Schulenburg comandaria a resistência do exército veneziano em Corfu.
Schulenburg era um valoroso comandante que havia se destacado a serviço da Saxônia, mas a defesa de Corfu seria uma missão quase impossível para ele, pois as forças venezianas se encontravam demasiadamente enfraquecidas.
Conde Johann Matthias von der Schulenburg (Gian Antonio Guardi, 1741). |
Schulenburg chegou à ilha pouco antes do ataque dos muçulmanos, e apressou-se para reforçar as defesas.
Sem isso a ilha seria rapidamente conquistada, pois os navios venezianos não conseguiriam evitar que os turcos desembarcassem.
Desde o dia 1° de agosto, os turcos empreenderam um assalto atrás do outro.
A conquista da ilha parecia fácil, mas uma série de contratempos tornou os avanços lentos e pouco satisfatórios.
Um só assalto custou aos turcos cinco mil baixas, entre mortos e feridos.
Os defensores e habitantes de Corfu atribuíram esses fatos a um misterioso cavaleiro, que aparecia para aterrorizar os muçulmanos.
O cavaleiro era ninguém menos que Santo Esperidião,2 padroeiro da ilha, cujas relíquias lá se achavam.
O ataque recrudescia a cada dia, mas na manhã de 22 de agosto os turcos simplesmente haviam desaparecido.
Essa rápida retirada se deveu à notícia da vitória do príncipe Eugênio na Hungria, o que desencadeou uma rebelião entre os soldados turcos.
Todo o sítio durou 45 dias, custando aos invasores a perda de 8 a 15 mil homens.
As comemorações da vitória foram notáveis. Na grande praça em frente ao castelo da cidade levantou-se uma estátua em homenagem a Schulenburg.
A ópera Juditha triumphans, de Antonio Vivaldi, é uma alegoria a essa vitória.
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