quarta-feira, 20 de março de 2019

Um Papa santo convoca à vitória na ilha de Corfu

O príncipe Eugênio de Sabóia
O príncipe Eugênio de Sabóia
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







A grande vitória católica em Zenta e o tratado de paz em Karlowitz marcaram o fim da Santa Liga convocada pelo bem-aventurado Papa Inocêncio XI contra o fracassado ataque otomano que ousou conquistar Viena. Cfr: Santa Liga e a Reconquista

No entanto, passados alguns anos, os turcos armaram nova tentativa de dominar a Cristandade, cabendo novamente ao Príncipe Eugênio de Sabóia enfrentar os muçulmanos.

Em 1683, quando os turcos empreenderam sua grande invasão da Europa, o Papa Inocêncio XI conclamou todos os povos para a defesa da Cristandade.

Mais de 10 reinos atenderam ao chamado papal, incluindo a Áustria, Polônia, Veneza e Rússia.

Depois de tantas grandes batalhas descritas em artigos anteriores,1 em 1699 foi finalmente assinado em Karlowitz um tratado confirmando as muitas conquistas dos reinos cristãos.

O príncipe Eugênio, heroico general das tropas austríacas, teria certamente dado continuidade à reconquista das cidades ainda subjugadas pelos otomanos.

Infelizmente, duas grandes guerras iniciaram-se nessa ocasião, pondo os países europeus a digladiarem entre si.

Enquanto a Áustria embarcava na luta contra a França pela sucessão espanhola, a Rússia se defendia da tentativa de expansão da Suécia. Enquanto a Europa brigava, os turcos restabeleciam suas forças.

Nova investida turca contra Veneza

Somente em 1611, concluída a Grande Guerra do Norte com a vitória russa sobre a Suécia, o Czar Pedro o Grande tentou nova investida contra os turcos.


Os russos tiveram uma desastrosa batalha próximo ao Rio Prut, durante a qual o próprio czar caiu refém dos turcos.

Com a derrota russa, o império otomano sentiu-se revigorado e decidiu armar-se secretamente para outra invasão da Europa.

O sultão Ahmed III sabia que a defesa do Peloponeso era um peso para os venezianos, e que os gregos estavam descontentes com eles, tanto pelos impostos quanto pelas tentativas dos padres católicos para afastá-los do cisma de Constantinopla.

Como os austríacos estavam demasiado ocupados na Espanha, a Grécia tornava-se um alvo muito fácil para os turcos iniciarem a guerra contra os cristãos.

Cerco e batalha de Corfu, H.C. Bröckell, séc. XVIII. Marburg Archives
Cerco e batalha de Corfu, H.C. Bröckell, séc. XVIII. Marburg Archives
Em dezembro de 1714, Ahmed declarou guerra a Veneza. Visando evitar que a Áustria entrasse em defesa dos venezianos, os otomanos alegaram que Veneza teria apoiado rebeldes em seu território, quebrando a paz, e por isso precisava ser castigada.

Os austríacos não puderam entrar desde o início em defesa de Veneza, devido à guerra na Espanha.

Somente o Papa Clemente XI enviou ajuda, e ainda concedeu a Veneza uma extraordinária contribuição de guerra em bens eclesiásticos.

Em Veneza foi grande a consternação.

Os turcos entraram no Peloponeso com mais de 200 mil homens e foram conquistando uma a uma as cidades gregas.

Vendo a própria fraqueza, muitas cidades se entregaram quase sem resistência, e por fim até a frota veneziana se retirou da batalha.

Sem condições de sustentar as ilhas de Santa Maura, seus defensores preferiram arrasá-las. Assim se perdeu vergonhosamente o Peloponeso.

Somente na cidade de Náuplia os turcos enfrentaram forte resistência.

Os otomanos abriram com minas uma brecha na muralha, tomando a cidade de assalto.

Os defensores tiveram uma morte gloriosa, e os turcos foram especialmente cruéis com os padres e religiosos.

Em outra frente de batalha, na Dalmácia, a honra das tropas venezianas foi salva, ao derrotarem os cerca de 40 mil turcos que por ela penetravam.

Em Constantinopla era fácil imaginar o júbilo dos turcos, que cogitavam novamente conquistar Roma.

Veneza enviou a toda a Europa um pedido de auxílio, mas somente a Áustria estendeu a mão para ajudá-la.

Santo Esperidião e a Batalha de Corfu

O príncipe Eugênio de Sabóia desejava muito guerrear contra os muçulmanos, a fim de reconquistar tudo o que se havia perdido e impedir que os inimigos readquirissem a robustez anterior.

Na Grécia, o próximo passo para os turcos seria conquistar a ilha de Corfu, local estratégico para quem deseja invadir a Europa.

Assim, em 13 de abril de 1716 foi ajustada a aliança entre Veneza e o imperador austríaco Carlos VI.

Enquanto Eugênio voltaria a desempenhar na Hungria seu papel de general do exército austríaco, o barão Johann von der Schulenburg comandaria a resistência do exército veneziano em Corfu.

Schulenburg era um valoroso comandante que havia se destacado a serviço da Saxônia, mas a defesa de Corfu seria uma missão quase impossível para ele, pois as forças venezianas se encontravam demasiadamente enfraquecidas.

Conde Johann Matthias von der Schulenburg (Gian Antonio Guardi, 1741).
Conde Johann Matthias von der Schulenburg
(Gian Antonio Guardi, 1741).
Contava para a defesa com apenas 18 mil homens, quando eram necessários 30 a 40 mil, pois os turcos dispunham de 30 mil homens. Além disso, sua esquadra era inferior ao que se poderia esperar.

Schulenburg chegou à ilha pouco antes do ataque dos muçulmanos, e apressou-se para reforçar as defesas.

Sem isso a ilha seria rapidamente conquistada, pois os navios venezianos não conseguiriam evitar que os turcos desembarcassem.

Desde o dia 1° de agosto, os turcos empreenderam um assalto atrás do outro.

A conquista da ilha parecia fácil, mas uma série de contratempos tornou os avanços lentos e pouco satisfatórios.

Um só assalto custou aos turcos cinco mil baixas, entre mortos e feridos.

Os defensores e habitantes de Corfu atribuíram esses fatos a um misterioso cavaleiro, que aparecia para aterrorizar os muçulmanos.

O cavaleiro era ninguém menos que Santo Esperidião,2 padroeiro da ilha, cujas relíquias lá se achavam.

O ataque recrudescia a cada dia, mas na manhã de 22 de agosto os turcos simplesmente haviam desaparecido.

Essa rápida retirada se deveu à notícia da vitória do príncipe Eugênio na Hungria, o que desencadeou uma rebelião entre os soldados turcos.

Todo o sítio durou 45 dias, custando aos invasores a perda de 8 a 15 mil homens.

As comemorações da vitória foram notáveis. Na grande praça em frente ao castelo da cidade levantou-se uma estátua em homenagem a Schulenburg.

A ópera Juditha triumphans, de Antonio Vivaldi, é uma alegoria a essa vitória.


(Autor: Ivan Rafael de Oliveira, Catolicismo n° 807, março 2018


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