Renaud de Châtillon, senhor díscolo e caprichoso pôs o reino a perder |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
continuação do post anterior: Saladino é forçado a aceitar a paz diante do rei leproso
Infelizmente, o estado de Balduíno IV se agravava. A lepra se manifestava em toda a sua repugnância. E, com os estigmas, o temperamento do heroico jovem se toldava.
A herdeira do reino era sua irmã Sibila, a quem o marido, antes de morrer, deixou grávida de um filho, Balduíno V.
Como o rei Leproso podia desaparecer de um momento para outro e era de se prever uma longa regência, era necessário casar a princesa o mais cedo possível.
O rei e a corte procuravam um partido conveniente nas famílias soberanas do Ocidente, quando a princesa fez saber que seu coração estava com um jovem sem fortuna, sem educação e sem qualidades pessoais: Guy de Lusignan.
O romance foi ter consequências políticas desastrosas. Guy era desservido por suas qualidades negativas.
Tido como tapado na própria família, quando ficaram sabendo que “Guion” – como era apelidado – estava a ponto de ganhar uma coroa pelo raio de uma rainha fantasiosa, seu irmão mais velho estourou de rir: “Se Guy ficar rei, por que eu não ficaria deus?”
Resumindo os detalhes que nos fornecem os cronistas: uma corte em decadência, uma herdeira do trono que trazia um belo homem sem valor; a outra irmã do rei escolhia um jovem senhor insignificante, uma rainha mãe frívola, cúpida, só intervindo em favor de uma camarilha.
Por seu lado, o rei sucumbia sob a lepra e, apesar de seu grande valor, passava mais frequentemente o tempo aniquilado pela repugnante doença. Todos os elementos para a queda de um Estado.
Só um homem podia salvar o reino: o conde de Trípoli, Raimundo III. Mas ele era precisamente o odiado pela camarilha.
Mais um ator iria ganhar um lugar preponderante nas questões do Reino: o antigo príncipe de Antioquia, Renaud de Châtillon, que tinha saído das prisões turcas.
Vinte anos atrás, como príncipe de Antioquia, por suas malfeitorias e atrocidades ele tinha revoltado o império bizantino contra os francos.
Mas o que aconteceria se ele renovasse os mesmos atos de banditismo contra um adversário como Saladino?
Bruscamente, sem contrapeso nem freios, o velho aventureiro ia arrastar o reino para a aventura.
No verão de 1181, em plena paz e sem mesmo ter tido a ideia de denunciar a trégua, ele entrou na Arábia com a esperança de pilhar os peregrinos até a Meca. Ele não conseguiu executar seus projetos, mas surpreendeu e roubou uma caravana que ia tranquilamente para Damasco.
A notícia dessa agressão insensata atirou na consternação a corte de Jerusalém. Balduíno IV foi tomado de violenta indignação pela conduta de seu vassalo.
Saladino, Cristofano dell'Altissimo (c 1525–1605) |
A paz, tão indispensável para os francos, fora rompida em circunstâncias odiosas, ficando aos olhos de todo o Islã como uma violação da fé engajada.
Renaud recusou brutalmente todos os apelos à honra ou ao dever a ele dirigidos. O infeliz rei confessou sua impotência a Saladino. Foi a guerra geral.
Ao mesmo tempo, foi a ruína da autoridade monárquica e do Estado franco. O mais poderoso dos vassalos feudais aproveitou da decadência física do rei leproso para proclamar implicitamente o fim da monarquia.
Desafiando-a abertamente, ele jogou o rei e o reino na via do suicídio.
Do Cairo, Saladino acorreu a Transjordânia com todo o exército egípcio. Renaud de Châtillon, que acabava de desrespeitar a autoridade real, implorou o auxílio de Balduíno IV para preservar seu feudo.
O jovem rei, cuja santidade igualava ao heroísmo, teve a generosidade de ouvir esse apelo, apesar do risco de desguarnecer a Palestina.
Ele desceu com o exército francês para Moab; mas, evitando o engalfinhamento, Saladino escapuliu para Damasco, enquanto outros corpos muçulmanos faziam incursões pela Galileia a sangue e a fogo.
O sultão atravessou o Jordão com todas suas forças, invadiu a Galileia, atacou a praça de Beisan e a fortaleza franca de Belvoir, atual Kaukab, que defendia a rota de Nazaré.
O exército de Balduíno voltou de Moab e tomou posição diante dele. Apesar da inferioridade numérica, os francos apresentaram uma atitude tão fera, que Saladino, diante da agressividade do contra-ataque, voltou a atravessar o Jordão vencido (julho de 1182).
continua no próximo post: Diante de Beirute, Saladino foge de Balduíno IV
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