Raimundo de Tripoli nomeado regente. BNF Français 2824, fol. 162v |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
continuação do post anterior: Quase cego e imobilizado, Balduíno IV volta a vencer Saladino e a inépcia dos vassalos
Os últimos meses do reinado de Balduíno IV quase viram estourar uma guerra civil sob o olhar inimigo.
Guy de Lusignan aproveitou-se de uma ausência de Balduíno para correr até Jerusalém, onde estava Sibila, e levá-la consigo antes do retorno do rei.
Refugiou-se com ela em seu feudo de Jaffa-Ascalon e recusou atender às ordens do rei, que lhe exigia comparecer na sua presença. Foi então luta aberta.
O rei marchou sobre Ascalon, cujas portas encontrou fechadas. Mas conseguiu tomar Jaffa. Em seguida reuniu um “parlamento” em São João de Acre, para acabar com o rebelde.
O patriarca Heráclio e o Grande Mestre do Templo tentaram interceder por ele.
Mas Guy tornava desmerecido o perdão também pelo fato de ser culpado por uma ação abominável.
Nas circunvizinhanças de Ascalon viviam beduínos nômades, tributários e ‘clientes’ do rei. Eles faziam pastar seus rebanhos com toda confiança quando, para causar dano ao soberano, Guy se jogou sobre eles e os massacrou.
A cólera de Balduíno IV diante desse ato de felonia foi terrível. Ele acabou então confiando todo o seu poder ao conde de Trípoli, inimigo de Lusignan (1185).
Já não havia mais tempo, os acontecimentos se precipitavam. O rei leproso deitou-se, para nunca mais se levantar.
Ele mandou chamar os grandes vassalos e, diante deles, renovou sua vontade de deixar a regência ao conde até a maioridade do jovem Balduíno V.
O príncipe heroico, cujo reinado não foi senão uma lenta agonia, entregou sua alma a Deus em 16 de março de 1185.
Considerando-se que ele tinha apenas 24 anos e tudo o que pôde realizar durante esses breves anos a despeito da lepra, de sua impotência e cegueira finais, fica-se tomado de respeito e de admiração.
Balduíno V de Jerusalém |
As crônicas evocam a dramática cena em que, vendo aproximar-se seu fim, ele convocou diante de si todos os grandes do Reino.
“Antes de morrer, ele ordenou a todos seus vassalos para se apresentarem em Jerusalém. E vieram todos, e, quando ele partiu deste século, todos presenciaram sua morte”.
Da mesma maneira que os cronistas francos, os historiadores árabes se inclinaram diante de sua lembrança.
“Esse menino leproso soube fazer respeitar sua autoridade”, escreveu el-Imâd de Ispahan como que com uma saudação de espada.
Estoica e dolorida figura, talvez a mais nobre da história das Cruzadas, cujo heroísmo tocava na santidade. Nem as pústulas nem as crostas que a cobriam foram capazes de dobrá-la; efígie pura de rei francês que eu gostaria colocar ao lado de um São Luís IX.
Liberado de seu longo martírio, o rei leproso foi sepultado junto do Gólgota e do Santo Sepulcro, onde morreu e repousou o Homem das Dores por excelência – Deus.
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Fascinante historia de um rei Tao pouco lembrado pela igreja catolica
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