segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A batalha de Dorileia quebrou o poder turco e inaugurou o predomínio cristão no Oriente Próximo

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Após tomar a cidade de Nicéia, os cruzados empreenderam a travessia da Ásia Menor em direção a Jerusalém.

Travessia penosa, o planalto anatoliano no qual entraram é uma zona de estepes secas que conduzem a um deserto salino que há no seu centro e onde o problema do reabastecimento foi sempre difícil.

Para enfrentá-lo, o exército dividiu-se em dois. No primeiro grupo marchavam Boemundo, seu sobrinho Tancredo e Roberto Courte-Heuse. No segundo, Godofredo de Bouillon (ou Bulhão) e Raimundo de Saint-Gilles.

Os turcos da Ásia Menor haviam concentrado todas suas forças sob as ordens de seu sultão, o seljúcida Kilij Arslan e tentaram explorar a divisão.

Na manhãzinha do 1º de julho, na altura de Dorileia, atualmente Escki-Chéhir, eles caíram em massa sobre o corpo de exército de Boemundo.

A brusquidão do ataque foi tal que Boemundo, surpreso em plena marcha, apenas teve tempo para reagrupar sua tropa às presas para resistir às cargas da cavalaria turca que o rodeou por todos os lados.



Seguindo a tática de seus ancestrais nômades, os esquadrões turcos aproximavam-se à distancia de um tiro de flecha, esvaziavam suas aljavas depois davam meia volta cedendo o lugar para novas nuvens de arqueiros montados.

Os francos ‒ que a chuva de flechas dizimava ‒ carregavam em vão visando engajar a luta com o adversário. Este evitava o contacto e fugia de cada vez.

Foi só quando o exército normando começou a ficar visivelmente esgotado por este jogo assassino que os turcos desembainharam as espadas e carregaram por sua vez.

Os normandos foram sendo acuados até as charretes do combóio, se abrigando detrás delas do modo que podiam, resistindo com feroz obstinação... A cruzada iria se terminar num desastre logo no primeiro encontro?

Mas Boemundo, antes de ser rodeado, teve tempo de avisar do perigo em que se encontrava à outra divisão franca. Ouvindo seu apelo, os chefes dessa acorreram em tromba para auxiliá-lo.

Godofredo de Bouillon (ou Bulhão) chegou o primeiro com somente cinqüenta cavaleiros. O resto dos brabanções vinha atrás ao galopo.

Quase no mesmo tempo apareceram no campo de batalha Hugo I de Vermandois, depois o legado pontifício bispo Dom Adhémar de Monteil e Raimundo de Saint-Gilles.

Por volta de duas da tarde todos intervinham na batalha.

A chegada dessas massas francas iria cambiar o resultado da jornada. Acresce que dom Adhémar de Monteil, bispo de Puy, avançou dissimulado por uma série de morros e foi aparecer no flanco esquerdo dos turcos.

O movimento foi imitado pelo lado direito por Godofredo de Bouillon (ou Bulhão), o conde de Flandres e Hugo I de Vermandois. Eles começaram a desbordar o exército turco também por seu lado.

Na iminência de ficarem cercados, moídos pela carga furiosa da cavalaria pesada cristã, os turcos deram-se à fuga sem sequer se dar o tempo de salvar as riquezas de seu chefe.

“Eles fugiram através dos desfiladeiros, das montanhas e das planícies e nos tomamos suas tendas com um botim considerável em ouro, prata, gado e camelos”.

Os cruzados “tornaram-se donos de uma grande quantidade de víveres, tendas magnificamente ornadas, imensos tesouros, toda espécie de animais de carga e, sobre tudo, um grande número de camelos. Na derrota, as perdas dos turco-árabes foram de grande número de emires mortos, assim como três mil oficiais e vinte mil soldados rasos.”

A batalha de Dorileia definiu por perto de um século a nova relação de forças no Oriente Próximo. Desde a jornada de Malazgerd e a captura de um imperador bizantino por um sultão turco em 1071, a potência turca dominava Oriente.

A jornada do 1º de julho de 1097 anunciou ao mundo que uma força nova tinha se levantado: a força franca, e que ela ia prevalecer desde aquele momento em diante.

Neste sentido a jornada de Dorileia, apagando a de Malazgerd, se reviste na história da Ásia de uma importância tão grande como as vitórias de Alexandre Magno em Granique ou em Arbeles.

Dois séculos de hegemonia européia no Levante vão se derivar desse fato, dois séculos durante os quais o avanço turco recuará não só diante da conquista franca da Síria e da Palestina, mas também diante da reconquista bizantina na Ásia Menor.

É de se destacar que os francos e os turcos, a raça militar de Ocidente e a raça militar da Ásia, aprenderam a se estimarem desde esta primeira trombada.

A este respeito, o cronista da Gesta Francorum nos transmite as impressões sentidas:

“Deve se reconhecer as qualidades militares e a valentia dos turcos. Eles acreditavam que iriam nos apavorar com a chuva de flechas, como eles apavoravam os árabes, os armênios, os sírios e os gregos. Mas, com a graça de Deus, eles não prevalecerão sobre nós! Em verdade, eles reconheciam de seu lado que ninguém, salvo os francos e eles próprios, tinha o direito de se dizer cavaleiro”.
(Fonte: René Grousset, “L’epopée des croisades”, Perrin, Paris, 2002)


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