segunda-feira, 18 de novembro de 2024

O espírito de Cruzada: única resposta válida à soberba do Islã

Santo Agostinho, bispo de Hipona na África, joga por terra as heresias. Paul Vergós (atribuído, c.1470 o 1475-1486),  Museo Nacional de Arte de Cataluña, Barcelona
Santo Agostinho, bispo de Hipona na África, joga por terra as heresias.
Paul Vergós (atribuído, c.1470 o 1475-1486), 
Museo Nacional de Arte de Cataluña, Barcelona
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Antes das invasões muçulmanas, toda a África do Norte e toda a Ásia Menor eram católicas apostólicas romanas embora arrebentaram umas tantas heresias.

Mas essas foram juguladas depois e a ortodoxia sempre prevalecia com a pregação de grandes doutores e Padres da Igreja como Santo Agostinho na África e muitos outros como São João Damasceno em Constantinopla.

Após as invasões maometanas e a destruição da Cristandade da Ásia Menor e Terra Santa, a única nação com grande densidade católica que restou foi o Líbano. No Norte de África, a religião católica desapareceu completamente.

Pela África, os muçulmanos invadiram a Espanha e Portugal, chegando até a França, onde foram derrotados por Carlos Martel na batalha de Poitiers. Foi ali que o impulso mafamético se deteve.

A Reconquista espanhola levou 800 anos. Oito séculos de luta entre católicos e árabes.

Em face da invasão dos maometanos havia católicos de duas correntes diversas.

Uma era dos que queriam fazer cruzada no território espanhol e português para pôr fora os árabes. A figura histórica de maior realce desta linha foi São Fernando, rei de Castela.

A outra corrente era a dos católicos do estilo da democracia cristã, chamados moçárabes.

Eles faziam uma política de mão estendida aos mouros. Eles lhes ficavam sujeitos numa situação onde embora humilhados podiam continuar a comer, beber e dormir.

Essa divisão entre os católicos retardou muito a expulsão dos mouros.

Afinal de contas, com o apoio da Santa Sé, a pregação das cruzadas, as indulgências, as Ordens religiosas constituídas para combater os maometanos, o poder islâmico deixou de representar um perigo para o Ocidente.

Pelo contrário, a Cristandade tomou a ofensiva junto ao Oriente, apresentando uma civilização que tinha se desenvolvido muito.

Enquanto que o atraso da civilização maometana era humilhante.

Foi um período de contra-ataque do Ocidente todo feito pelo prestígio da riqueza, da técnica e da civilização esplendorosa que foi-se erguendo até ao século XIX, e no XX principiou a decair.

Porta-estandartes do Califa de Bagdá: o belicismo invasor maometano
A partir do momento que as relações entre Ocidente e Oriente foram se tornando mais fáceis por causa do progresso dos meios de comunicação, houve muito mais intercâmbio entre os descendentes dos cruzados e os de Maomé, que, outrora tinham atacado largamente a Cristandade.

O século XIX salientou-se pela Historiografia, ou seja a arte de escrever história. Os historiógrafos e historiadores foram no encalço dos comerciantes e dos generais do Ocidente.

Esses historiadores estudaram as línguas e dialetos árabes de vários países, e meteram-se a pesquisar os arquivos ismaelitas, para saber como eles contavam as Cruzadas.

Notaram, pois, que os maometanos tinham muito ressentimento dos cruzados, porque estes entravam em suas regiões e por toda a parte faziam-nos sofrer; matavam-nos na guerra, diminuíam seu poder religioso, impunham liberdade para religião católica.

Esses historiadores ateus ou protestantes, portanto inimigos da Igreja Católica, chegavam quase sempre à conclusão de que as Cruzadas constituíram um grande erro para a religião católica.

Se os cruzados tivessem ido ao Oriente animados de métodos amáveis e processos simpáticos teriam conquistado os maometanos para a fé católica.

Assim, seria preciso que, doravante, nunca mais entrassem em luta contra os árabes. Deviam procurar por meio do sorriso fazer a reparação do erro medonho, que foi o de armar as Cruzadas.

Quem pensa assim é a favor da política da mão estendida em relação ao comunismo hodierno, porque pensa que o homem é visceralmente bom.

Quando ele se extravia ele diz que é porque da parte dos bons houve uma inabilidade.

Se os bons fossem sempre hábeis, sempre conquistariam pelo sorriso e pelas concessões os adversários.

Assim, nunca haveria perseguição religiosa. De sorriso em sorriso, a Igreja Católica conquistaria os homens.

Massacre dos peregrinos de Pedro o Ermitão: só o combate organizado da Cruzada podia vencer
Massacre dos peregrinos de Pedro o Ermitão:
só o combate organizado da Cruzada podia vencer
É curioso que este modo de pensar levantaria a seguinte objeção:

Se sempre que os maus se erguem contra os bons e os perseguem, a culpa está dos lados dos bons, então Nosso Senhor Jesus Cristo teve culpa de ser perseguido e até crucificado.

Ele também não soube aplicar a tática do sorriso. Se tivesse sabido aplicá-la, teria aproveitado o momento de popularidade do Domingo de Ramos, e levado aquele povo todo a uma grande reconciliação e nunca teria acontecido o que aconteceu depois.

Como Ele foi muito intransigente nos seus princípios daí Lhe adveio toda a impopularidade e toda a tragédia.

Ceder, sorrir, não ter princípios e pagar qualquer preço doutrinário ou ideológico para evitar a guerra, colocar a morte física como mal supremo e o pecado como nenhum mal, eis a mentalidade hoje deu no progressismo, na politique de la main tendue, no maritainismo e em quantas aberrações há por aí.

E hoje deu na posição da esquerda católica face aos islâmicos, que é a seguinte: nunca briguem com eles; não discutam religião e não os ataquem: sejam muito amáveis e façam o que eles quiserem. Eles, assim, se converterão.

O problema é não dar aos seguidores do Corão a impressão de que os católicos poderão algum dia vir a combatê-los.

Este seria o grande erro, que é preciso nunca incorrer, segundo a esquerda católica.



Continua no próximo post: Nossa Senhora alma do espírito da Cruzada


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segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Roubo de espada revela saudades da Idade Média

Durandal encravada na piedra em Rocamadour
Durandal encravada na pedra em Rocamadour
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
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A espada medieval “Durandal” do lendário herói Roland falecido numa batalha que ficou para a História como um modelo de virtudes cavalheirescas estava fantasticamente encravada há 1.300 anos na parede de uma rocha do santuário de Rocamadour, no sul da França.

Porém, desapareceu provavelmente roubada, segundo informações do jornal britânico The Independent. A relíquia estava envolvida numa aura gloriosa que inspirou uma tradição grandemente espalhada na Europa e na Igreja medieval.

O lendário paladino defendeu até morrer a retaguarda do exército do imperador Carlos Magno, contra um exército muçulmano nos abismos dos Pirineus, mais precisamente em Roncesvales.

Ela se encontrava no santuário de Rocamadour profundamente encravada na pedra a 10 metros de altura e em virtude de seu tamanho, a arma era considerada inatingível.

Roland en Roncesvales segura Durandal e chama a Carlos Magno Wolfgang von Bibra (1862–1922),  Burg Brennhausen
Roland em Roncesvales segura Durandal e chama a Carlos Magno
Wolfgang von Bibra (1862–1922),  Burg Brennhausen
Malgrado a aura fantástica que envolve a espada, o roubo abalou a cidade de Rocamadour.

O prefeito, Dominique Lenfant deplorou o crime porque a espada é uma referência para os moradores e visitantes da região. “Vamos sentir falta de Durandal” afirmou ao jornal local La Dépêche, que na ocasião esqueceu seu passado laicista.

“Rocamadour sente que foi roubada de uma parte de si mesma. Mesmo que seja uma lenda, os destinos de nossa vila e desta espada estão entrelaçados” disse.

No poema “La Chanson de Roland” (“A Canção de Rolando”) do século XI, a espada é descrita como símbolo do heroísmo abençoado por Deus, como uma relíquia sagrada pelo holocausto dos heróis cristãos.

Segundo a lenda, Carlos Magno teria recebido a arma de um anjo e a repassou para Roland, seu sobrinho.

“La Chanson de Roland” canta o herói como o último combatente com vida na batalha de Roncesvales, que antes de morrer tenta num esforço extremo quebrá-la numa rocha para impedir que caia nas mãos dos islâmicos, mas não consegue e então se deita sobre ela para morrer.

O combate de Roncesvales não pode ser verificado pelos arqueólogos, mas os eruditos dedicaram estudos e mais estudos ao ensinamento moral da “La Chanson de Roland”.

Ela aparece como uma requintada aula, um verdadeiro e próprio manual em verso, que ensina a pureza do catolicismo na ordem temporal admirado e que se desejava praticar, no “tempo em que a filosofia do Evangelho penetrava todas as instituições” segundo o Papa Leão XIII definiu a Idade Média.


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segunda-feira, 4 de novembro de 2024

300 heróis para salvar a Europa de invasão do Islã (2)

Don Pelayo de Asturias en Covadonga, Museo del Prado, Madrid
Don Pelayo de Asturias em Covadonga, Museo del Prado, Madrid
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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continuação do post anterior: 300 heróis para salvar a Europa de invasão do Islã (1)


Os muçulmanos fizeram uma rápida conquista da península com o apoio de arianos e judeus, como registra Manuel P. Villatoro, autor premiado de vários livros históricos, no jornal ABC2.

Só ficaram resistindo Dom Pelayo e um punhado de heróis asturianos, visigodos e hispano-romanos, que se refugiaram nas montanhas do norte.

Como os invasores e seus cúmplices não conseguiram extinguir esse foco de resistência, pediram então um grande exército islâmico do sul para acabar com eles.

Excogitaram um artifício capcioso que lhes poupasse a luta e se serviram para isso de Dom Opas, arcebispo de Toledo — de Sevilha, segundo outros —, quem deveria convencer os resistentes que era um absurdo lutar contra uma potência como o Califado de Damasco.

Dom Opas agiu “ecumenicamente”, da mesma maneira como agem em nossos dias os inimigos da Igreja, que aceitam o clero que aderiu à revolução conciliar e hoje cede às forças políticas de esquerda ou putinistas.

Dom Pelayo foi abençoado pela Santíssima Virgem na própria gruta de Covadonga — escreveu Luis Carlón Sjovall, presidente da Associação Cultural Fernando III, o Santo, de Palencia.

Primeira representação de don Pelayo, no século XII, enarbolando a Cruz da Vitória
Primeira representação de don Pelayo, no século XII,
enarbolando a Cruz da Vitória
Ele levantou a Santa Cruz, renunciou à proposta de baixar os braços diante da força islâmica que avançava e de se omitir na resistência, acreditando nos embustes do Califado de Damasco transmitidos pelo arcebispo traidor.

Conta-se que o príncipe-herói encerrou o diálogo atirando uma pedra na cabeça do pérfido bispo traidor, que teve morte imediata.

A Igreja Católica na Espanha partilhou durante séculos a tradição oral segundo a qual Anjos e Arcanjos se somaram às hostes de Dom Pelayo e atiraram pedras, lanças e flechas das alturas de Covadonga, causando terror e morte entre os seguidores de Maomé.

Isso criou uma tal desordem entre os filhos da iniquidade que os católicos puderam descer para os vales adjacentes, perseguindo os invasores durante dias, até serem exterminados ou expulsos.

A vitória de Nossa Senhora foi total, e ali mesmo, sob a Santa Gruta e com a Santa Cruz da Vitória na mão direita, Dom Pelayo foi proclamado Rei da Espanha e iniciou a sua Reconquista.

A descrição do magno entrechoque de armas figura no relato historicamente mais próximo da Batalha de Covadonga, conhecido como Crônica de Alfonso III3 (852 – 910), rei de Astúrias, região da batalha, que apresenta duas respeitadas versões.

Uma delas conta que Munuza, prefeito das Astúrias e companheiro de Taric, chefe dos invasores muçulmanos, tinha ordens de acabar com a resistência, prendendo Dom Pelayo e conduzindo-o acorrentado a Córdoba.

Percebendo Dom Pelayo que não podia oferecer resistência proporcionada, levou consigo até a montanha Aseuva todos os que podia. Ali refugiou-se numa caverna, que sabia segura e da qual flui o grande rio Deva.

Depois convocou todos os habitantes das Astúrias, que se reuniram e o elegeram príncipe.

Enfurecido, Munuza enviou uma hoste incontável chefiada por um tal Alkama, fazendo-o acompanhar pelo arcebispo Dom Opas. Segundo a Crônica de Alfonso III4, Alkama entrou nas Astúrias com um exército de 187 mil soldados — número não confirmado, mas sem dúvida muito maior que o dos resistentes católicos.

Alkama armou inúmeras tendas ao pé da caverna enquanto o arcebispo subia até a gruta de Nossa Senhora para assim falar com Dom Pelayo, segundo a referida Crônica:

Batalha de Covadonga, Augusto Ferrer Dalmau (detalhe)
Batalha de Covadonga, Augusto Ferrer Dalmau (detalhe)
— “Pelayo, Pelayo, onde estás?”

— “Aqui estou.”

E o desleal arcebispo propôs a traição com palavras melosas:

— “Eu julgo, irmão e filho, que não vos é oculto como toda a Espanha foi unida recentemente sob o governo dos godos e brilhou mais do que os outros países por sua doutrina e ciência.

“E que, no entanto, quando todo o exército dos godos foi reunido, não aguentou o ímpeto dos ismaelitas, você será capaz de se defender no topo desta montanha? Acho difícil.

“Escuta o meu conselho: volta do teu acordo, gozarás de muitos bens e gozarás da amizade dos caldeus.”

Dom Pelayo respondeu:

— “Não leu nas Sagradas Escrituras que a Igreja do Senhor se tornará como o grão de mostarda e crescerá novamente pela misericórdia de Deus?”

O bispo treplicou:

— “Verdadeiramente, assim está escrito”.

Então Dom Pelayo disse:

— “Cristo é a nossa esperança; que por este pequeno monte vê a Espanha ser salva.

Covadonga Basílica de Santa María la Real
Covadonga: Basílica de Santa María la Real
“Confio que a promessa do Senhor se cumprirá em nós, porque David disse: ‘Castigarei com a minha vara as suas iniquidades e com açoites os seus pecados, mas eles não carecerão da minha misericórdia’”.

“Assim, confiando na misericórdia de Jesus Cristo, desprezo aquela multidão e não temo o combate com que nos ameaçais. Temos Nosso Senhor Jesus Cristo como advogado junto ao Pai, que pode nos livrar desses pagãos.”

O bispo, então, voltando-se para o exército infiel, disse:

— “Aproximem-se e lutem. Você já ouviu como ele me respondeu; pelo que adivinho a sua intenção, você não terá paz com ele, exceto pela vingança da espada.”

A Crônica de Alfonso III assim descreve o desfecho da batalha:

Alkama então ordenou o combate e os soldados pegaram em armas. Mas imediatamente a magnificência do Senhor foi mostrada: as pedras que saíram das catapultas e atingiram a casa da Santa Virgem Maria, que estava dentro da gruta, voltaram-se contra aqueles que as atiraram e mataram os infiéis.

E como Deus não precisa de lanças, mas dá a palma da vitória a quem quer, os cristãos saíram da caverna para lutar com os ismaelitas; estes fugiram, seu exército foi dividido em dois, e ali mesmo Alkama foi para um desfiladeiro que foi o local em que foi massacrado com os seus. o impasse e capturou o bispo Opas.

Covadonga 01, Augusto Ferrer Dalmau
Covadonga, Augusto Ferrer Dalmau
124 mil infiéis morreram no mesmo lugar, e os 63 mil restantes subiram ao topo do Monte Aseuva e, pelo lugar chamado Amuesa, desceram para La Liébana.

Mas nem mesmo esses escaparam da vingança do Senhor. Quando estavam atravessando o topo da montanha, que está na margem do rio Deva, próximo à terra de Cosgaya, o julgamento do Senhor foi cumprido:

A montanha, saindo de seus alicerces, lançou os 63 mil infiéis no rio e os esmagou. Até hoje, quando o rio ultrapassa os limites de sua calha, dá muitos sinais disso.5

O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira resumiu num pensamento célebre a imensa lição deixada para a História pela façanha de Covadonga:

“Quando os homens resolvem cooperar com a graça de Deus, são as maravilhas da História que assim se operam: é a conversão do Império Romano, é a formação da Idade Média, é a reconquista da Espanha a partir de Covadonga, são todos esses acontecimentos que se dão como fruto das grandes ressurreições de alma de que os povos são também suscetíveis.

“Ressurreições invencíveis, porque não há o que derrote um povo virtuoso e que verdadeiramente ame a Deus”.6

É o que auspiciamos para o catolicismo hoje em crise.


BATALHA DE COVADONGA: O início da RECONQUISTA



(Fonte: Catolicismo nº 881, maio de 2024, Ano LXIX).

____________


Notas:

1. https://encr.pw/P5gis
2. https://encr.pw/T4pgG
3. https://encr.pw/w6psf
4. https://l1nk.dev/XIJMR
5. Crónica de Alfonso III, Trad. de la segunda redacción. Edición original (latín). Zacarías Villada, S.J. Madrid, 1918. Centro de Estudios Históricos, caps. 8 a 10, páginas 108-114.
6. Plinio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução, Parte II, Cap. IX, Artpress, SP, 1998, pág. 124.





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segunda-feira, 21 de outubro de 2024

300 heróis para salvar a Europa de invasão do Islã (1)

Covadonga 01, Augusto Ferrer Dalmau
Batalha de Covadonga, Augusto Ferrer Dalmau
Luis Dufaur
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A Batalha de Covadonga foi um embate decisivo para conter a invasão das hordas maometanas que avançavam sobre um continente que lhes abria as portas.

Há aproximadamente 1300 anos, uma vitória contra todas as probabilidades permitiu que a península ibérica — e com ela toda a América Latina, as Filipinas e outros países — fosse católica.

Nada mais natural do que a comemoração desse milagre por parte do Estado espanhol e da Igreja Católica. Porém, essa data transcendental foi ignorada pelas altas esferas civis e religiosas hispânicas e europeias, sendo rememorada apenas em eventos de segunda ou terceira importância, para ficar constando que algo foi feito. 1

A Espanha é atualmente governada pelo socialismo revolucionário, comprometido com a falsidade histórica contrária às glórias da Cristandade e engajado na Revolução Cultural. Esse governo e seus afins europeus veem com maus olhos aquele triunfo em Covadonga da fidelidade heroica, oposta ao diálogo entreguista e ao falso ecumenismo.

Sobremaneira pungente foi o menosprezo da memória do milagre da Santíssima Virgem pela hierarquia eclesiástica. A Nossa Senhora de Covadonga, chamada La Santina, que preside a gruta da batalha, sempre foi atribuído o milagre da resistência de 300 heróis chefiados pelo rei de Astúrias, Dom Pelayo.

Naquele período do século VIII, todo o Catolicismo esteve em jogo, pois a expansão do Califado islâmico, após se consolidar na Ibéria, avançaria sobre uma Europa imersa no caos desde a extinção do império romano em 476.

Hoje, contudo, a hierarquia eclesiástica na Espanha e alhures acolhe o invasor islâmico e deblatera contra o punhado de fiéis ao catolicismo tradicional, contra aqueles míticos 300 heróis salvadores da civilização.

Sintoma revelador desse ódio anticatólico foi o fato de o mais renomado pintor espanhol em vida, Augusto Ferrer-Dalmau, denominado “o pintor de batalhas”, ter concluído para a data uma magnífica pintura retratando o embate com admirável arte e pormenor, mas o mundo oficial desprezou e criticou sua obra, pois nela o artista apresentava brilhantemente a liquidação do inimigo anticristão que hoje volta a invadir a Europa e para o qual as esquerdas e o progressismo escancaram as portas.

Don Pelayo
Don Pelayo
Embora não se saiba ao certo o ano exato do milagroso triunfo, há uma relativa certeza de que ele aconteceu em 28 de maio, pois segundo fontes árabes, nesse dia do ano 722 morreu Munuza, governador islâmico das Astúrias, que teria participado da batalha.

Há nisto concordância com algumas fontes cristãs. A partir dessa data a presença islâmica desapareceu no norte da Espanha. O islã custaria a se reorganizar e invadir a França, tendo sido necessários vários séculos para o islamismo ser banido da península ibérica.

O evento tem surpreendentes analogias com a situação dos autênticos católicos em nossa época: minorias genuinamente católicas resistem a um adversário revolucionário imensamente superior em militantes, recursos materiais e auxílios de bispos engajados na demolição da Igreja e da civilização cristã.

O antigo reino visigodo estava exausto após uma guerra civil religiosa pela coroa, na qual o príncipe ariano Witiza foi derrotado pelo príncipe católico Dom Rodrigo. Em 718, nas encostas do Monte Corona, atual província de León, o líder católico Dom Pelayo foi eleito por aclamação príncipe da Espanha cristã.

Os heréticos derrotados pediram o auxílio de Musa ben Nusayr, governador muçulmano da Tunísia. Este viu a oportunidade de invadir o território cristão e surrupiar suas riquezas. Enviou para isso um exército de 11 mil bérberes sob o comando de Tariq, um de seus melhores generais.


(Fonte: Catolicismo nº 881, maio de 2024, Ano LXIX).



continua no próximo post: 300 heróis para salvar a Europa de invasão do Islã (2)

 


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