terça-feira, 21 de outubro de 2025

Roger, príncipe de Antioquia,
entrou até nas lendas dos muçulmanos

Roberto de Normandia no sitio de Antioquia.
Jean-Joseph Dassy (1796–1865), in "Croisades, origines et consequences", Paris, 1850.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Em 1113, o sultão seljúcida da Pérsia e o califa de Bagdá empreenderam mais uma contra-cruzada.

Dois exércitos turcos convergiram no sul do lago Tiberíades.

Balduíno I lançou um premente apelo aos príncipes francos. Mas, as devastações das bandas turcas tinham-no exasperado.

Ele não aguardou os outros príncipes. Apenas com 700 cavaleiros e 4.000 infantes caiu como um raio sobre os turcos em Sinn en-Nabra, a 20 de junho de 1113.

Os turcos, porém, tinham montado uma emboscada que Balduíno I não percebeu.

Ele viu-se subitamente envolto pela cavalaria de elite turca esmagadora em número. Pegando a bandeira do reino nas próprias mãos ele lutou até o ultimo momento congregando os seus.

No fim, deixou o campo de batalha com a maioria dos cavaleiros e se refugiou na cidade de Tiberíades.

Ali recebeu os reforços de Tancredo, príncipe de Antioquia, e Pons conde de Trípoli que chegaram com bela cavalaria.

Lealmente, o rei acusou-se diante deles pela sua falta, e depois reuniu o conselho. O exército franco foi reconstituído, mas a superioridade numérica turca ficava sempre imensa.

As bandas turcas e árabes começaram a saquear as aldeias vizinhas de Tiberíades.

Mas, Balduíno I, agora mais prudente teve a energia de não cair nas provocações. Após um mês o chefe turco compreendeu que tinha fracassado e empreendeu a retirada para Damasco.

Em 1115, o sultão da Pérsia enviou mais um exército numa nova contra-cruzada, desta vez sob o comando do emir de Boursouq, com ordens de reconquistar a Síria.

Mas os chefes francos voltaram a reafirmar sua unidade.

Vendo a formidável coesão cristã, os emires locais preferiram se unir a eles antes de que aos turcos. Boursouq percebeu que seria impossível romper esse frente.

Então, ele fingiu que tinha renunciado à empresa e se encaminhou para Djéziré.

A coalizão não desconfiou e cada um voltou para seu feudo.

Assim que os francos se dispersaram, Boursouq deu meia volta e invadiu a Síria.

Roger de Antioquia, sucessor de Tancredo correu às armas. Não havia mais tempo para aguardar pelo retorno do rei Balduíno I.

Apelou para os príncipes vizinhos e correu ao encontro dos turcos, dissimulando sua marcha pelo maciço florestado de Feiloun.

Roger enviou em missão de reconhecimento um dos seus melhores cavaleiros: Teodoro de Barneville.

Teodoro voltou quase se alastrando. Os turcos estavam muito perto, do outro lado do bosque montando suas tendas.

Gautier nos relata a alegria épica do exército católico normando quando soube da surpresa que se preparava.

Roger deu o sinal de montar:
“Em nome de nosso Deus, às armas, cavaleiros!”

A relíquia do Santo Lenho foi exposta aos esquadrões que partiam em tromba rumo a Tell-Danith naquela madrugada de 14 de setembro do ano do Senhor de 1115.

Roger galopava à testa do centro, Balduíno du Bourg, conde de Edessa, comandava a ala esquerda. Na direita ia a cavalaria indígena dos turcopoles, recrutados na Síria franca.

Toda essa cavalaria caiu em cima dos turcos como um furacão. De início, o acampamento turco desguarnecido foi conquistado num instante.

Logo a seguir, os francos lançaram-se sobre as divisões turcas que chegavam dispersas e foram pegas de surpresa.

Boursouq com 800 cavaleiros tentou reagrupar os seus no morro de Tell Danith, mas a elevação foi tomada de assalto por Balduíno du Bourg e ao chefe turco só restou fugir.

Boursouq morreu de desgosto voltando para Hamadã.

O reino turco-árabe de Alepo caiu logo sob o protetorado de Roger.

Esta brilhante vitória valeu ao príncipe de Antioquia um prestígio inaudito no mundo muçulmano.

Sob o nome de Sirodjal (Senhor Roger) ele iria se imortalizar na legenda muçulmana do mesmo modo que Ricardo Coração de Leão.


(Autor: René Grousset, “L’epopée des croisades”, Perrin, Paris, 2002, cap. IV)


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segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Como os franceses levaram os venezianos a participarem da cruzada

Francês medieval: modelo de generosidade e desprendimento cavalheiresco
Francês medieval: modelo de generosidade e desprendimento cavalheiresco
Luis Dufaur
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A França do tempo das Cruzadas passava por ser a nação franca por excelência. Mas a nação franca no melhor sentido da palavra, quer dizer, generosa, desprendida, larga, cavalheiresca.

Veneza nunca foi tida como nação franca. Era uma nação mercadora.

Na Idade Média se considerava os mercadores com a sobrancelha carregada e cheio de desconfiança.

Veneza justificou muito largamente esta desconfiança!

Era uma cidade brilhante, bonita, meio impudica e pecadora e que tantas vezes traíra e iria trair o Ocidente com os seus contratos com o Oriente.

Pois tratava-se de conseguir os navios de Veneza para transportar cruzados à Terra Santa.

Foi, por ocasião da IV Cruzada, uma delegação de franceses – mas uns franceses provavelmente ainda meio alemães, e tendo o mérito e a glória de ambas as coisas somadas – chefiada por Geoffroi de Villehardouin (1150/54 –1212/18) marechal de Champagne. Ele próprio contou como foi o desempenho da missão na crônica “Conquête de Constantinople”.

Extraordinária sensibilidade para o sublime. Catedral San Marco, Veneza.
Extraordinária sensibilidade para o sublime. Catedral San Marco, Veneza.
Eles entram em Veneza em 1201 e falam com o governo. Primeiro, a tentativa com o Doge e com o Conselho de Dez.

O governo convoca sucessivas Assembléias dos órgãos de governo muito alambicados de Veneza. Chama a Assembléia de Dez, que deliberava.

Referendo da Assembléia de Vinte a qual, tendo aprovado, era preciso ouvir um Conselho de Quinhentos que, quando aprovado, era preciso ouvir a Assembléia de Dez mil.

Quando a Assembléia dos Dez mil tinha concordado, reunia-se todo o povo e perguntava-se se o povo queria.

Os franceses dirigem-se ao Doge de Veneza. Então, os venezianos movidos, ou por razões financeiras ou por razões de zelo talvez, começam a se comover. Os conselhos são sucessivamente convocados. Vencidos todos os obstáculos, convoca-se o povo...

Os franceses vão para a igreja de São Marcos, “une das mais belas e magníficas igrejas que se possa conhecer”. Ato preliminar para todas as deliberações importantes durante a Idade Média: celebra-se uma missa.

E depois, dentro da Igreja de São Marcos, cheia de venezianos, o Marechal dirige a palavra ao povo. E o discurso dele é o seguinte:


“Oh venezianos, os mais altos e poderosos barões da França nos enviaram aqui, para vos rogar, em nome de Deus – notem a humildade – para que tenhais piedade de Jerusalém e tomeis vingança da vergonha de Jesus Cristo. Nós vós rogamos a vossos pés”.
Sublimidade até nos aspectos prosaicos da vida. Veneza
Sublimidade até nos aspectos prosaicos da vida. Veneza
Todos se ajoelham, põem as mãos e dizem: “ficaremos assim até que nos deis o vosso consentimento”. E ficaram assim até o povo responder.

O povo, vendo tão altos barões, e o marechal de Champagne, ajoelhados diante deles, começou a chorar, a dar gritos, a manifestar o seu aplauso.

O Marechal de Champagne contou que na igreja, na praça e nas ruas vizinhas era um estrondo de comoção e de alegria.

As pessoas se abraçavam e prometiam tomar a cruz. A tal ponto que ele teve a impressão de que a terra se partia.

O Dodge, então, foi ao púlpito e falou ao povo declarando a resolução tomada: estava resolvido partir.

Foi a emotividade e a capacidade do povo se arrastar diante da sublimidade do ato. O povo todo se desencadeia e toma a cruz.

Vemos aqui uma espécie de impressionabilidade popular, que é da maior importância para compreendermos bem a alma medieval.



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segunda-feira, 8 de setembro de 2025

O milagre de Nossa Senhora
e a reconquista da capital da Hungria

Carlos de Lorena toma Buda, castelo de Buda
Carlos de Lorena toma Buda, castelo de Buda
Luis Dufaur
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Continuação do post anterior: A Reconquista de Budapeste invadida pelos turcos



O cerco da cidade de Buda

Nessa época, Budapeste, atual capital húngara, era dividida em duas cidades, Buda e Peste.

Os austríacos lançaram-se diretamente ao ataque contra Buda, deixando de lado — contrariamente à expectativa dos turcos — outras cidades importantes.

Buda era a décima cidade mais importante do mundo muçulmano, considerada pelos turcos como a “casa da guerra sagrada”, baluarte limítrofe do Islã na Europa e chave do Império Otomano.

Por isso, tinham-na abastecido bem de mantimentos, armas e pólvora. Para a defesa, posicionaram-se mais de 16 mil homens de tropas de elite, sob o comando de Abdulrahman Paxá.

O cerco começou em 18 de junho de 1686 e o primeiro assalto ocorreu no dia 24, dia de São João, visando o muro inferior. Os turcos instalaram muitas minas em ambas as partes dessa muralha.

No dia 15 de julho, quando a explosão numa dessas partes abalou os muros da cidade, o general cristão deu o sinal de assalto. Infelizmente, a explosão de outra mina causou particular dano aos cristãos, e a investida foi rechaçada.

Mais de 1.400 soldados imperiais morreram nessa batalha, além de muitos espanhóis, dentre os quais o Duque de Béjar, comandante de um regimento de Flandres.

Durante os 15 dias seguintes, um bombardeio é desfechado contra a cidade.

Destacou-se na ocasião um frade franciscano, Pe. Gabriel, denominado pelos húngaros “Gabriel, o entusiasmado”, que se revelou mestre em artilharia; e junto a ele, um espanhol de nome González, inventou uma forma aprimorada de morteiros.

Uma explosão e a imagem de Nossa Senhora aparece

Subitamente, uma bala incendiada atinge um armazém de pólvora dos otomanos e o fez voar. A terra estremeceu até uma grande distância ao redor, o rio Danúbio saiu de suas margens, e no muro abrindo um grande rombo.

E para espanto dos turcos, atrás de uma parede que desmoronou na antiga igreja do castelo de Buda, transformada em mesquita, apareceu uma imponente Imagem de Nossa Senhora em seu nicho, que ali permanecera escondida e esquecida desde a invasão otomana, 150 anos antes.(1)

Os próprios sitiantes cristãos ficaram tão espantados pela explosão, que no primeiro momento deixaram de atacar.

O duque de Lorena imediatamente requisitou a rendição, mas Abdulrahman respondeu que todas as cabeças da guarnição estavam consagradas à morte, e que o ruído de uma torre de pólvora que voa não era capaz de os assustar.

Imagem de Nossa Senhora na capela de Loreto da igreja de São Matias, Budapeste
Imagem de Nossa Senhora na capela de Loreto da igreja de São Matias, Budapeste
Em 27 de julho, ocorreu um segundo assalto. Foi uma luta de gigantes, destacando-se especialmente os bávaros, que lutaram como leões. Das muralhas, sacos de piche e enxofre chamejantes eram lançados.

Luís de Baden-Baden e Eugênio de Saboia detinham o recuo e levavam novas tropas para a linha de frente.

A bandeira imperial já tremulava na brecha, quando uma mina explodiu no meio dos cristãos causando grandes estragos; alguns que já haviam penetrado na cidade morreram nessa ocasião.

A jornada deste dia custou a vida de cerca de quatro mil cristãos. Ao receber novas intimações, o Paxá respondeu que era impossível entregar a fortaleza, que o “Profeta” rechaçaria o próximo assalto como fizera com os anteriores.

Abdulrahman dispôs-se a entregar qualquer outra fortaleza da Hungria, mas não Buda; embora, depois, até Buda, se com isso se pusesse termo à investida cristã; ao que Carlos de Lorena respondeu que então só uma rápida rendição poderia salvá-lo.

A situação dos cristãos também ficara grave, pois o Grão-vizir chegou com um exército de 80 mil homens em socorro do Paxá. Os cristãos teriam agora de se defender e entrincheirar.

O grão-vizir a seguir iniciou pequenos combates para tentar cansar os cristãos e introduziu reforços na cidade de Buda.

Os cristãos também não quiseram empreender uma batalha decisiva, pois esperavam igualmente reforços.

Não obstante, em 10 e 14 de agosto se travaram sérios combates em Hamzsabég, nos quais mais de oito mil turcos pereceram.

Trezentos janízaros conseguiram chegar à cidade, mas fracassaram outros intentos de fazer penetrar reforços em Buda.

Tendo Abdulrahman recusado uma última intimação de rendição, o duque de Lorena decidiu conquistar a fortaleza sob as vistas do próprio grão-vizir Solimão.

Em 2 de setembro de 1686, às 6 horas da manhã, começou o assalto no qual pela primeira vez se empregou a baioneta em grande escala. Ambas as partes lutaram com suma bravura.

O paxá morreu lutando ferozmente, enquanto outros quatro mil turcos caíram ao fio da espada. À noite, em ação de graças pela vitória, cantou-se o Te Deum na igreja principal da cidade libertada.

O mais notável entre os prisioneiros foi o Agá dos janízaros, Maomé Csonkabeg. Convertendo-se, ele se fez batizar com o nome de Leopoldo, em homenagem ao imperador austríaco.

Posteriormente foi elevado à nobreza, recebeu um regimento húngaro e lutou com muito valor pelo imperador junto ao rio Reno.

No dia seguinte, após celebrar a Missa, o Beato D’Aviano promoveu uma procissão com a Imagem de Nossa Senhora que fora encontrada nas paredes da mesquita.

Considerada como autora da explosão, foi-lhe concedido o título de “Nossa Senhora da Pólvora”.

Nenhum príncipe se alegrou tanto com a conquista dessa importante cidade como aquele que ocupava então a Cátedra de Pedro, o grande Papa Beato Inocêncio XI.

Os otomanos haviam dominado Buda durante 145 anos e sua perda abalou-os profundamente.

As cidades de Simontornya e Siklos se renderam ao Marquês de Baden-Baden. Kaposvár e Torda foram incendiadas, Pécs foi dominada e Szeged conquistada após um cerco de quatro semanas.

O grão-vizir foi obrigado a retirar-se para Belgrado.

_________________

Notas:

Principal fonte consultada: Historia Universal, Juan Baptiste Weiss, Editora Tipografia La Educación, Tradução da 5° edição alemã, Barcelona, 1930, Vol. XI, p. 917 a 923.

1. Sobre a Imagem Milagrosa: http://www.adorans.hu/node/2414
http://www.sacred-destinations.com/hungary/budapest-matthias-church
http://www.templom.hu/phpwcms/index.php?id=14,164,0,0,1,0

(Autor: Ivan Rafael de Oliveira, CATOLICISMO, outubro de 2016)

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segunda-feira, 25 de agosto de 2025

São Tomás de Aquino: no islamismo acreditaram homens animalizados,
ignorantes da doutrina divina,
que obrigaram os outros pela violência das armas

São Tomás de Aquino, apoiado em Platão e Aristotes, esmaga Averroes, 'sábio' maometano
São Tomás de Aquino, apoiado em Platão e Aristóteles,
esmaga Averroes, 'sábio' maometano
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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O que achar do islamismo e de seus prosélitos? Como interpretar os crimes que estão praticando contra os cristãos, sua adesão ao Corão (Livro) de Maomé, e as tentativas de diálogo e ecumenismo com eles?

São Tomás nos ensina com a concisão e a sabedoria do maior mestre e Doutor da doutrina e do método de pensamento da Igreja Católica:
“Tão maravilhosa conversão do mundo para a fé cristã é de tal modo certíssimo indício dos sinais havidos no passado, que eles não precisaram ser reiterados no futuro, visto que os seus efeitos os evidenciavam.

“Seria realmente o maior dos sinais miraculosos se o mundo tivesse sido induzido, sem aqueles maravilhosos sinais, por homens rudes e vulgares, a crer em verdades tão elevadas, a realizar coisas tão difíceis e a desprezar bens tão valiosos.

“Mas ainda: em nossos dias Deus, por meio dos seus santos, não cessa de operar milagres para confirmação da fé.

“No entanto, os iniciadores de seitas errôneas seguiram caminho oposto, como se tornou patente em Maomé (o fundador do Islã):

Militantes do ISIL no Iraque
Militantes do ISIL no Iraque
“a) Ele (Maomé) seduziu os povos com promessas referentes aos desejos carnais, excitados que são pela concupiscência.

“b) Formulou também preceitos conformes àquelas promessas, relaxando, desse modo, as rédeas que seguram os desejos da carne.

“c) Além disso, não apresentou testemunhos da verdade, senão aqueles que facilmente podem ser conhecidos pela razão natural de qualquer medíocre ilustrado. Além disso, introduziu, em verdades que tinha ensinado, fábulas e doutrinas falsas.

“d) Também não apresentou sinais sobrenaturais. Ora, só mediante estes há conveniente testemunho da inspiração divina, enquanto uma ação visível, que não pode ser senão divina, mostra que o mestre da verdade está inspirado de modo invisível.

“Mas Maomé manifestou ter sido enviado pelo poder das armas, que também são sinais dos ladrões e dos tiranos.

“e) Ademais, desde o início, homens sábios, versados em coisas divinas e humanas, nele não acreditaram.

Chefe do Boko Haram e sequazes na Nigéria
Chefe do Boko Haram e sequazes na Nigéria
Nele, porém, acreditaram homens que, animalizados no deserto, eram totalmente ignorantes da doutrina divina. No entanto, foi a multidão de tais homens que obrigou os outros a obedecerem, pela violência das armas, a uma lei.

“f) Finalmente, nenhum dos oráculos dos profetas que o antecederam dele deu testemunho, visto que ele deturpou com fabulosas narrativas quase todos os fatos do Antigo e do Novo Testamento.

“Tudo isso pode ser verificado ao se estudar a sua lei. Já também por isso, e de caso sagazmente pensado, não deixou para leitura de seus seguidores os livros do Antigo Testamento, para que não o acusassem de impostura.

“g) Fica assim comprovado que os que lhe dão fé à palavra creem levianamente”.

(Autor: São Tomás de Aquino. Suma contra los Gentiles. Livro I, Capítulo VI, Club de Lectores, Buenos Aies, 1951, 321. p.76 e ss.).


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segunda-feira, 11 de agosto de 2025

O martírio de Reinaldo e dos cavaleiros cristãos em Antioquia (1098)

Luis Dufaur
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O Pe. Peter Tudebode, testemunha ocular do fato, deixou escrito que durante o cerco de Antioquia na I Cruzada, precisamente o dia 3 de abril de 1098, os muçulmanos conduziram ao topo das muralhas da cidade o nobre cavaleiro Reinaldo Porchet [também lembrado como Reynaud Porquet], que eles tinham acabado de prender numa emboscada.

Daquela ‘tribuna’, ele deveria perguntar aos peregrinos cristãos quanto eles pagariam pela sua libertação a fim de impedir que os turcos lhe cortassem a cabeça.

Segundo descreve o livro de Yvonne Friedman “Choques entre inimigos: Captura e no Reino Latino de Jerusalém” (“Encounter Between Enemies: Captivity and Ransom in the Latin Kingdom of Jerusalem”) mercadejar prisioneiros para obter resgate era uma prática frequente, quando se tratava de pessoas de boa condição.

Era, aliás, segundo o autor “um método diplomático para um encontro pacífico com o inimigo num interlúdio das batalhas”.

Do alto das muralhas – diz o relato do Pe. Peter – “Reinaldo se dirigiu aos líderes cristãos: ‘Meus senhores, pouco importa que eu morra, eu vos imploro que não pagueis resgate algum por mim e que perseverem na Fé de Cristo e na libertação do Santo Sepulcro e que Deus esteja convosco para sempre”.

‘Vós trucidastes todos os líderes e os mais valorosos homens de Antioquia, especialmente 12 emires e 1.500 nobres, não tendo ficado alguém capaz de vos dar batalha ou para defender a cidade’.

Os turcos então perguntaram ao intérprete o que Reinaldo havia falado, ao que ele replicou:

– “Nada de bom relativo a vós foi dito”.

E o emir Yaghi Siyan imediatamente ordenou fazê-lo descer e se dirigiu a ele através de intérprete:

– “Reinaldo, queres gozar a vida honradamente conosco?”

Reinaldo replicou:

– “Como é que se pode viver honradamente convosco sem pecar?”

O emir respondeu:

– “Renega teu Deus, a quem tu cultuas e em quem acreditas, e aceita Maomé e os nossos outros deuses. Se fizeres isso, nós te daremos tudo o que desejares: ouro, cavalos, mulas e muitas outras coisas aprazíveis que tu desejes, assim como mulheres e escravos, e nós te enriqueceremos com grandes posses de terra”.

Reinaldo respondeu ao emir: “Dai-me um pouco de tempo para pensar”, ao que o emir concordou agradado.

Reinaldo juntou as mãos para rezar de joelhos voltado para o Oriente. Ele implorou humildemente a Deus para que Ele viesse em sua ajuda e conduzisse a sua alma com dignidade ao seio de Abraão.

Ao ver Reinaldo rezando, o emir chamou o intérprete e quis saber:

– “Qual foi a resposta de Reinaldo?”

O intérprete disse:

– “Ele recusa completamente teu deus. Ele também recusa todos os bens terrenos e todos os teus outros deuses”.

Então o emir, numa explosão de ódio porque não conseguia fazê-lo apostatar, mandou que todos os peregrinos cristãos cativos em Antioquia fossem conduzidos até a sua presença com as mãos amarradas nas costas.

Quando todos estavam diante dele, ordenou que lhes tirassem as roupas e que ficassem em pé em volta das roupas.

Depois mandou vir palha, lenha e feno e empilhar ao seu redor, e, finalmente, ordenou aos verdadeiros inimigos de Deus que ateassem fogo.

Os cristãos, cavaleiros de Cristo, elevaram suas orações em altas vozes que chegaram até Deus no Céu, por cujo amor suas carnes e ossos estavam sendo queimados.

Todos conquistaram a graça do martírio naquele dia. Subiram ao Paraíso revestidos de túnicas brancas até a presença do Senhor, por quem eles haviam padecido tão lealmente na Terra Santa de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Quem deve ser dada toda a honra e toda a glória agora e pelos séculos dos séculos. Amém”.



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