segunda-feira, 6 de julho de 2015

Heroica resistência – A perda de Jerusalém 1

Balian de Ibelin, carregando o jovem rei Balduino V.
Balian de Ibelin, carregando o jovem rei Balduino V.



1187: chegara o momento em que Jerusalém devia de novo cair em poder dos infiéis. Todos os muçulmanos pediam a Maomé esse último triunfo de Saladino.

Depois de ter tomado Gaza e várias fortalezas das vizinhanças, o sultão reuniu seu exército e marchou para a Cidade Santa.

Uma rainha em pranto, os filhos dos guerreiros mortos na batalha de Tiberíades, alguns soldados fugitivos, alguns peregrinos vindos do Ocidente, eram os únicos guardas do Santo Sepulcro.

Um grande número de famílias cristãs que tinham deixado as províncias devastadas da Palestina, enchiam a capital e bem longe de lhe dar auxílio, só serviam para aumentar a perturbação e a consternação que reinava na cidade.

Saladino aproximava-se da Cidade Santa; antes mandou vir à sua presença os principais habitantes e lhes disse:

“Eu sei, como vós, que Jerusalém é a casa de Deus; não quero profaná-la com o derramamento de sangue; abandonai suas muralhas e eu vos entregarei uma parte de seus tesouros, dar-vos-ei muitas terras que podereis cultivar. Não podemos, responderam-lhe eles, ceder-vos uma cidade onde nosso Deus morreu; menos ainda podemos vendê-la”.



Saladino, irritado com essa recusa, jurou sobre o Alcorão derrubar as torres e as muralhas de Jerusalém e vingar a morte dos muçulmanos massacrados pelos companheiros e pelos soldados de Godofredo de Bouillon.

Quando Saladino falava com os enviados de Jerusalém, um eclipse do sol cobriu de repente de trevas todo o céu e pareceu como um sinistro presságio para os cristãos.

No entretanto, os habitantes, encorajados pelo clero, preparavam-se para defender a cidade. Tinham escolhido para seu chefe a Balean de Ibelin, que estivera na batalha de Tiberíades.

Saladino, sultão do Egito, manuscrito do século XV
Saladino, sultão do Egito, manuscrito do século XV
Esse velho guerreiro, cuja experiência e virtudes inspiravam muita confiança e respeito, começou por restaurar as fortificações da praça e por formar na disciplina os novos defensores de Jerusalém.

Como ele não tinha oficiais, criou cinquenta cavaleiros entre os burgueses da cidade; todos os cristãos em condições de pegar em armas, juraram derramar seu sangue pela causa de Jesus Cristo.

Não havia dinheiro para custear as despesas da guerra; mas todos os meios de encontrá-lo pareceram então legítimos, ante o perigo grave que os ameaçava e à cidade de Deus.

Despojaram as igrejas e o povo assustado ante a aproximação de Saladino, viu, sem escândalo, converter-se em moeda todo o metal precioso que cobria a capela do Santo Sepulcro.

Logo os estandartes de· Saladino flutuaram sobre as alturas de Emaús. O exército muçulmano veio colocar seu acampamento nos mesmos lugares onde Godofredo, Tancredo e os dois Robertos tinham estendido suas tendas, quando atacaram a Cidade Santa.

Os sitiados a princípio opuseram forte resistência e fizeram frequentes incursões nas quais eles eram vistos tendo numa das mãos a espada e a lança e na outra, uma pá, com a qual atiravam poeira aos muçulmanos.

Um grande número de cristãos recebeu então a palma do martírio e partiu, dizem os historiadores, para a Jerusalém celeste. Muitos muçulmanos, mortos também pelas mãos dos inimigos, foram morar nas margens do rio que banha o Paraíso.

Saladino depois de ter acampado por alguns dias ao Ocidente da cidade, dirigiu seus ataques para o norte, e mandou minar as muralhas que se estendem desde a porta de Josafá até à de Santo Estêvão.

Os mais valentes dos cristãos saíram da praça, e procuraram corajosamente destruir as máquinas e frustrar os trabalhos dos infiéis.

Encorajando-se reciprocamente, repetindo estas palavras da Escritura: Um somente de nós fará os infiéis fugirem e dez porão em fuga dez mil.

Fizeram prodígios de valor mas não puderam impedir a continuação do cerco. Repelidos pelos muçulmanos, tornaram a entrar na cidade, onde seu regresso trouxe o desânimo e o terror.

As torres e as muralhas estavam prestes a ruir, ao primeiro sinal de um ataque geral. O desespero então, apoderou-se de todos os habitantes, que só encontraram como defesa, as lágrimas e a oração.

Os soldados corriam para as igrejas em vez de tomar as armas; a promessa de cem moedas de ouro não era capaz de mantê-los durante uma noite nas muralhas ameaçadas.

Das Crônicas de Ultramar, de Guilherme de Tyro
Das Crônicas de Ultramar, de Guilherme de Tyro
O clero fazia procissões pelas ruas para invocar a proteção do céu. Uns feriam o peito com pedras; outros rasgavam o corpo com cilícios, exclamando: Misericórdia; em Jerusalém só se ouviam gemidos.

Mas, Nosso Senhor Jesus Cristo, diz uma velha crônica, não os queria ouvir, pois a luxúria e a impureza que havia na cidade, não deixavam oração alguma subir até Deus.

O desespero dos habitantes inspirava-lhes ao mesmo tempo mil projetos contrários. Ora tomavam a resolução de sair da cidade e de buscar uma morte gloriosa entre os infiéis; ora punham sua última esperança na clemência de Saladino.

No meio da perturbação e da agitação geral, os cristãos gregos e sírios, os cristãos melquitas, que suportavam com dificuldade a autoridade dos latinos, acusavam-nos das desgraças da guerra.

Descobriu-se uma traição que eles haviam tramado para entregar Jerusalém aos muçulmanos; essa descoberta duplicou a inquietação e determinou os chefes da cidade a pedir capitulação a Saladino.

Acompanhados por Balean de lbelin vieram propor ao sultão entregar-lhe a. praça, nas condições que ele mesmo lhes havia imposto antes do cerco.

Mas Saladino lembrou-se de que tinha feito o juramento de tomar a cidade de assalto e de passar a fio de espada todos os habitantes. Despediu os embaixadores sem lhes dar nenhuma esperança.


(Autor: Joseph-François Michaud, “História das Cruzadas”, vol. II, Editora das Américas, São Paulo, 1956. Tradução brasileira do Pe. Vicente Pedroso, páginas 414-433)

Continua no próximo post: Saladino intimidado pela determinação dos defensores


GLÓRIA CASTELOS CATEDRAIS ORAÇÕES HEROIS CONTOS CIDADE SIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário! Escreva sempre. Este blog se reserva o direito de moderação dos comentários de acordo com sua idoneidade e teor. Este blog não faz seus necessariamente os comentários e opiniões dos comentaristas. Não serão publicados comentários que contenham linguagem vulgar ou desrespeitosa.