Nos dias de Garcia o Temerário, Rei de Navarra, aconteceu que Abderramán entrou em Navarra com seu exército, chegando até a terra de Estela.
Quando o monarca soube que o Rei de Córdoba viera ao seu reino com tão grande exército, pediu socorro a seu irmão, o Rei das Astúrias.
Abderramán ficou na vila de Logroño com o grosso de seu exército e enviou a Navarra um príncipe mouro, muito poderoso.
Este príncipe era secretamente devoto de Nossa Senhora, e tinha por costume rezar a Ave Maria.
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
A conversão do príncipe muçulmano
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
A batalha de Tentúgal “Tem-te-igual” face à moraima
Igreja Matriz de Tentúgal |
Os mouros tinham sido escurraçados até ao Algarve, mas os dois sucessores do conquistador de Silves não foram lutadores como os dois primeiros reis portugueses e eram freqüentes as incursões sarracenas que, vindas da Andaluzia, atravessavam o Guadiana e vinham assolar as terras reconquistadas.
Os portugueses eram senhores dos castelos e quando os mouros faziam os seus fossados, as populações rurais, ainda mozárabes, isto é mistas de católicos e árabes convertidos, refugiavam-se atrás das ameias.
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segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Foulques de Neuilly: de padre relaxado a pregador da Cruzada e taumaturgo
Foulques de Neuilly-sur-Marne: de padre relaxado a pregador da Cruzada e taumaturgo |
Um exemplo significativo da flexibilidade de espírito dos medievais vem da história de Foulques, vigário de Neuilly-sur-Marne, na França.
Ele, de início, foi um vigário relaxado que vivia como um leigo na ignorância da religião. E na Idade Média havia duas categorias bem definidas de vigários: o relaxado e o não relaxado.
Esse vigário relaxado à certa altura se converteu e se transformou num bom vigário.
Sua ação começou a se difundir em torno de Neuilly-sur-Marne. Depois começou a ser conhecido fora, mas mal visto.
A conversão dele datava de apenas dois anos, quando ele soube que havia uma assembleia geral de abades para tratar das Cruzadas.
Ele vai, se apresenta nessa assembleia e fala aos abades. Os abades se recusam a apoiá-lo.
Então, ele resolve dirigir-se ao povo que se comprimia do lado de fora. Falou com tanta força, com tanta unção, de um modo tão religioso que toda a multidão que o ouvia – velhos, homens, mulheres, nobres, plebeus – resolveu tomar a cruz.
Depois, ele começou a pregar a Cruzada por toda a região.
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Ricardo Coração de Leão
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Como os franceses levaram os venezianos a participarem da cruzada
Francês medieval: modelo de generosidade e desprendimento cavalheiresco |
Veneza nunca foi tida como nação franca. Era uma nação mercadora.
Na Idade Média se considerava os mercadores com a sobrancelha carregada e cheio de desconfiança.
Veneza justificou muito largamente esta desconfiança!
Era uma cidade brilhante, bonita, meio impudica e pecadora e que tantas vezes traíra e iria trair o Ocidente com os seus contratos com o Oriente.
Pois tratava-se de conseguir os navios de Veneza para transportar cruzados à Terra Santa.
Foi, por ocasião da IV Cruzada, uma delegação de franceses – mas uns franceses provavelmente ainda meio alemães, e tendo o mérito e a glória de ambas as coisas somadas – chefiada por Geoffroi de Villehardouin (1150/54 –1212/18) marechal de Champagne. Ele próprio contou como foi o desempenho da missão na crônica “Conquête de Constantinople”.
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segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Refutando mitos nº 6, 7 e 8: a Cruzada das crianças, pedido de perdão de João Paulo II e “justiça” do ódio muçulmano
A "Cruzada" das criancas foi desaprovada pelo Papa e as criancas tiveram que voltar a casa |
continuação do post anterior
Mito nº 6: as Cruzadas foram algo tão vil e degenerado que houve até uma Cruzada das Crianças
A chamada “Cruzada das Crianças” de 1212 nem foi uma Cruzada nem consistiu num exército de crianças.
Foi uma onda de entusiasmo religioso especialmente prolongada na Alemanha que levou alguns jovens – na maior parte adolescentes – a se autoproclamarem Cruzados e começarem a marchar rumo ao Mediterrâneo.
Ao longo do caminho foram recebendo grande apoio popular, e a companhia de não poucos bandoleiros, ladrões e mendigos.
O movimento se desmembrou quando chegou à Itália e terminou quando o mar se recusou a abrir-se para dar-lhes passagem…
O Papa Inocêncio III não convocou essa tal “Cruzada”, pelo contrário: pediu insistentemente para que os não combatentes ficassem em casa e apoiassem o esforço de guerra apenas com jejuns, orações e esmolas.
Nesse episódio, depois de louvar o zelo e a disposição desses jovens que tinham marchado até tão longe, mandou-os de volta para casa.
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segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Refutando mitos nº 4 e 5 as Cruzadas foram colonialismo medieval e combateram os judeus
Mito nº 5: as Cruzadas foram colonialismo europeu com ornato religioso
É importante lembrar que, na Idade Média, o Ocidente não era uma cultura poderosa e dominante, que se lançava sobre uma região primitiva ou atrasada.
Era o Oriente muçulmano que era poderoso, próspero e opulento.
A Europa era o terceiro mundo. O Reino Latino de Jerusalém, fundado após a Primeira Cruzada, não era um latifúndio católico incrustado em terras muçulmanas, como depois viriam a ser as terras de plantio em algumas colônias ibéricas ou inglesas na América.
A presença católica nesse Reino sempre foi mínima: menos de um décimo da população.
Católicos eram os governantes, os juízes, alguns mercadores italianos e os membros das ordens militares: o resto, a imensa maioria da população, era de muçulmanos.
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segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Refutando mito nº 3: os Cruzados encheram as ruas de Jerusalém de sangue até os tornozelos
Esse é o modo preferido de pôr em evidência o caráter malévolo das Cruzadas.
Num discurso em Georgetown, o ex-presidente Bill Clinton disse que esse foi um dos motivos pelos quais agora os Estados Unidos são alvo de terroristas (embora no citado discurso o Sr. Clinton tenha subido o nível do sangue até a altura dos joelhos, para dar mais ênfase).
É certamente verdade que muita gente morreu em Jerusalém após a tomada da cidade pelos Cruzados.
Mas o fato deve ser analisado no seu contexto histórico.
O costume vigente em todas as civilizações pré-modernas, tanto na Europa quanto na Ásia, era que se uma cidade resistisse à captura e fosse tomada pela força, sua posse caberia às forças vitoriosas.
Isso incluía não somente os edifícios e os bens, mas também as pessoas.
Por isso, cada cidade ou fortaleza devia pensar muito bem se podia ou não resistir a um cerco: se não pudesse, o mais prudente era negociar os termos da rendição.
No caso de Jerusalém, seus defensores resistiram até o último instante.
Calcularam que as imponentes muralhas da cidade conteriam os Cruzados até chegarem os reforços do Egito.
Eles erraram: a cidade caiu e consequentemente foi saqueada.
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segunda-feira, 3 de setembro de 2012
Refutando mito nº 2: os Cruzados queriam pilhar. As intenções boas eram máscara
Uma opinião comum entre os historiadores é a de que o aumento da população na Europa originou uma crise, devida ao excesso de “segundos filhos” de nobres, treinados nas artes bélicas de cavalaria, mas sem terras ou feudos onde se estabelecer.
Por esse motivo, as Cruzadas seriam uma válvula de escape, mandando esses homens belicosos para longe da Europa, onde pudessem obter terras para si à custa dos outros.
Os pesquisadores atuais, graças à ajuda de bancos de dados computadorizados, desmontaram esse mito.
Hoje sabemos que os “primeiros filhos” da Europa foram os que responderam ao apelo do Papa em 1095, e também nas Cruzadas seguintes.
Empreender uma Cruzada era uma operação extremamente cara.
Os Senhores tiveram que hipotecar suas terras para angariar os fundos necessários.
Além do mais, não estavam interessados em reinos no além-mar. Como os soldados de hoje, o Cruzado medieval orgulhava se de estar cumprindo o seu dever, mas queria voltar para casa.
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segunda-feira, 20 de agosto de 2012
Refutando mito nº 1: as Cruzadas foram contra pacíficos muçulmanos que nada fizeram contra o Ocidente
Altar em Gante, cavaleiros de Cristo, Jan van Eyck |
Não há nada de mais falso.
Desde os tempos de Maomé, os muçulmanos lançaram-se à conquista do mundo cristão.
E fizeram um ótimo trabalho: após poucos séculos de incessantes conquistas, os exércitos muçulmanos tomaram todo o norte da África, o Oriente Médio, a Ásia Menor e a maior parte da Península Ibérica.
Em outras palavras: ao findar o século XI, as forças islâmicas já haviam capturado dois terços do mundo cristão.
A Palestina, terra de Jesus Cristo; o Egito, berço do monaquismo cristão; a Ásia Menor, onde São Paulo estabeleceu as primeiras comunidades cristãs.
Não conquistaram a periferia da Cristandade, mas o seu núcleo. E os impérios muçulmanos não pararam por aí: continuaram pressionando pelo leste em direção a Constantinopla, até que finalmente a tomaram e invadiram a própria Europa.
Se uma agressão não-provocada existiu, foi a muçulmana. Chegou-se a um ponto em que só restava à Cristandade defender-se ou simplesmente sucumbir à conquista muçulmana.
A Primeira Cruzada foi convocada pelo Papa Urbano II em 1095 para atender aos apelos urgentes do Imperador bizantino de Constantinopla, Aleixo I Comneno (1081-1118).
Urbano convocou os cavaleiros cristãos para irem em socorro dos seus irmãos do Leste.
Foi uma obra de misericórdia: livrar os cristãos do Oriente de seus conquistadores muçulmanos.
Em outras palavras, as Cruzadas foram desde o início uma guerra defensiva.
Toda a história das Cruzadas do Ocidente foi a história de uma resposta à agressão muçulmana.
Thomas F. Madden, Professor de História e Diretor do Centro de Estudos Medievais e Renascentistas na Universidade de Saint Louis, EUA |
(Autor: Thomas F. Madden. Fonte: Ignatiusinsight.com)
continua no próximo post
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segunda-feira, 6 de agosto de 2012
Toda a verdade sobre as Cruzadas. Refutando falsos mitos
O Beato Papa Urbano II prega a I Cruzada |
Muitas pessoas, no Oriente e no Ocidente, consideram as Cruzadas uma mancha negra na História da Civilização Ocidental em geral, e da Igreja Católica em particular.
Citadas por ambas as partes no conflito entre os Estados Unidos e os terroristas árabes, as Cruzadas voltaram aos noticiários, aos filmes e às séries de televisão.
Propalam-se velhos mitos e reacendem-se discussões. Um bom exame da História das Cruzadas é, portanto, indispensável.
O Presidente George W. Bush foi infeliz quando chamou a guerra contra o terrorismo de “Cruzada”, tendo recebido inúmeras críticas por empregar uma palavra que seria tão ferina e ofensiva para com os muçulmanos de todo o mundo.
No entanto, os próprios árabes também fazem uso desse termo. Osama bin Laden e o Mulá Omar com frequência chamaram os norte-americanos de “cruzados”, e qualificaram os atuais conflitos como uma “Cruzada contra o Islã”.
De fato, as Cruzadas estão bem presentes na memória do mundo muçulmano.
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segunda-feira, 30 de julho de 2012
"Com que alegria, no tempo das cruzadas, teria partido para combater os hereges"
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
As Cruzadas foram empreendimentos históricos. Porém, elas nasceram de um ideal que transcende o tempo. Esse ideal palpita ainda hoje nas almas de inúmeros católicos, em pleno III Milênio.
Esse ideal ardeu intensamente na alma dos santos, embora se fale pouco disso. Eis um dos tantos exemplos: Santa Teresinha do Menino Jesus.
Santa Teresinha do Menino Jesus, que desejava passar o Céu fazendo o bem na Terra, não tinha uma alma débil, desprovida de personalidade e força de caráter, que fugia do sofrimento e da luta.
Se assim o fosse, não teria sido elevada às honras dos altares, nem teria sido apresentada ao mundo católico como "uma nova Joana d'Arc" pelo Papa Pio XI (a 18 de maio de 1925).
É muito oportuno e mesmo necessário, pois, considerarmos este aspecto de sua alma, frequentemente esquecido ou falseado em imagens e santinhos, onde ela aparece com a fisionomia impregnada por um adocicamento sentimental e romântico, totalmente inexistente em sua forte e marcante personalidade.
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segunda-feira, 25 de junho de 2012
Balduíno IV: o rei-herói em meio a decadência do reino de Jerusalém
Renaud de Chatillon, turbulento e belicoso vassalo |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
continuação do post anterior: Balduíno IV: o santo rei leproso que espantou a Saladino
Nesse momento reapareceu, libertado dos cárceres muçulmanos, o antigo príncipe de Antioquia, Renaud de Châtillon.
Logo recomeçou suas aventuras, assaltando uma importante caravana de peregrinos com destino a Meca.
Esse ato rompia a trégua assinada por Balduíno IV e Saladino e ofendia as convicções religiosas dos muçulmanos, a cujos olhos o atentado afigurava-se monstruoso.
Intimado pelo rei a devolver os prisioneiros e o produto da pilhagem, ele recusou-se com arrogância, tornando assim evidente a incapacidade do doente de se fazer obedecer.
Imediatamente Saladino acorreu do Egito e invadiu a Galiléia, incendiando e devastando as colheitas, capturando rebanhos e semeando pânico por toda parte.
Renaud de Châtillon suplicou ao rei que salvasse seus feudos. Balduíno concedeu, vencendo Saladino em julho de 1182.
Em agosto, o infatigável maometano tentou tomar Beyrouth por uma ação combinada por terra e mar.
Uma vez mais Balduíno afastou o perigo. Impediu Saladino de se apoderar de Alepo e conduziu uma expedição até os subúrbios de Damasco.
Assim, por toda parte, graças à sua energia sobre-humana, e ainda que daí em diante ele se fizesse carregar em liteira para as batalhas, o heróico leproso levava vantagem sobre o genial muçulmano.
Episódios da vida de Balduíno IV. BNF, Richelieu Manuscrits Français 2628 |
Pode-se bem imaginar o drama interior desse rei de 22 anos, corroído por úlceras, semi-paralisado e quase cego, cercado pelas sombras da desconfiança e dos maus pressentimentos, atormentado de um lado pelas insinuações e sugestões pérfidas dos seus, e de outro pela alta ideia que ele fazia de sua missão de rei.
Se a lepra o enfraquecia, se ele não podia ter esperanças de se curar, sempre, entretanto, encontrava novas forças e resistia da melhor forma às ciladas da camarilha.
Como a doença entrasse numa fase evolutiva, ele devia lutar contra ela, e sobretudo contra a tentação de abandonar tudo para morrer em paz.
Foi num desses períodos que ele consentiu, se bem que a contragosto, em investir Guy de Lusignan na regência do reino.
No primeiro encontro com Saladino, Lusignan deixou o exército franco ser massacrado. Recusou com altivez prestar contas a Balduíno IV, que o destituiu de seu cargo. Para evitar que, pela complacência de Sybila, Lusignan se tornasse rei de Jerusalém após sua morte, designou seu sucessor o pequeno Balduíno V, filho de Guilherme “Longue Epée”.
Como a situação da Terra Santa estivesse desesperadora, ele enviou uma embaixada ao Ocidente, composta pelo Patriarca de Jerusalém, pelo Mestre do Hospital e pelo Mestre do Templo, o velho Arnaud de Torrage.
Morte de Balduino IV, o rei, herói e mártir de Jerusalém |
Armou uma frota, que foi transportada ao Mar Vermelho em dorso de camelo. Devastando portos, interceptando comboios, essa frota ameaçou por algum tempo o caminho para Meca.
Saladino, excitado até o cúmulo do furor, destruiu os navios de Renaud e depois sitiou-o em sua própria fortaleza, o Krac de Moab. Balduíno IV reapareceu, agonizando em sua liteira, para lhe fazer frente. Saladino retirou-se.
O último ato de Balduíno IV foi o de reunir em São João d’Acre o parlamento de seus barões. Guy de Lusignan, incapaz e rebelde, foi então oficialmente afastado do trono, e — o que não era senão justiça e sabedoria — a regência foi confiada a Raimundo de Trípoli.
Mais tarde, a 13 de março de 1185, o mártir rendeu sua alma a Deus, em presença se seus vassalos, dignitários e bons companheiros de guerra. Até os infiéis lhe tributaram homenagens.
(Fonte: Georges Bordonove, “Les Templiers”, in “Catolicismo” nº 303)
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segunda-feira, 11 de junho de 2012
Balduíno IV: o santo rei leproso que espantou a Saladino
Balduíno IV na batalha de Montgisard |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
continuação do post anterior: Balduíno IV: o rei cruzado que atingido pela lepra venceu Saladino e o Islã
Um novo cruzado — Filipe de Alsácia, conde de Flandres e parente próximo de Balduíno IV — acabava de desembarcar. O pequeno rei Balduíno esperava muito desse apoio.
Estava claro que era necessário ferir Saladino no coração de seu poderio — isto é, no Egito — se se quisesse abalar a unidade muçulmana. Era isso, precisamente, o que propunha o basileus, imperador de Bizâncio.
O Egito, uma vez conquistado em parte, Damasco não poderia deixar de subtrair-se ao poder cambaleante de Saladino.
Mas Filipe de Alsácia opinava de outra forma. Ninguém poderia impedi-lo de ir guerrear na Síria do Norte, e, o que era mais grave, de levar consigo parte do exército franco.
Saladino respondeu invadindo a Síria do Sul. Balduíno reuniu o que lhe restava da tropa, desguarneceu audaciosamente Jerusalém e partiu para Ascalon, onde Saladino investia. Este, logo que foi informado, subestimou seu adversário. Ele acreditava que a queda de Ascalon era uma questão de dias, e marchou sobre Jerusalém com o grosso de seu exército.
Balduíno compreendeu suas intenções. Saiu de Ascalon, fez um longo périplo e caiu repentinamente sobre as colunas de Saladino, em Montgisard.
Vale de Montgisard |
Desceu do cavalo, prosternou-se com o rosto na areia, diante do madeiro da verdadeira Cruz, que era levada pelo Bispo de Belém, e orou com a voz banhada de lágrimas.
Com o coração convertido, seus soldados juraram não recuar, e considerariam traidor quem voltasse atrás. Rodeando o Santo Lenho, o esquadrão de trezentos cavaleiros se lançou impetuosamente.
“O vale entulhava-se com a bagagem do exército de Saladino — diz Le Livre des Deux Jardins — os cavaleiros francos surgiam ágeis como lobos, latindo como cães. Atacavam em massa, ardentes como uma chama”. E puseram em fuga o invencível Saladino.
Se este salvou a pele, foi graças à rapidez de seu cavalo e ao devotamento de sua guarda. Retornou ao Egito, abandonando milhares de prisioneiros. Balduíno logrou, enfim, uma vitória sem precedentes.
No ano seguinte Balduíno edificou o Gué-de-Jacob, fortaleza destinada a defender a Galiléia dos ataques de Damasco. Guilherme de Tyr pretende que isso tenha sido feito pelas prementes solicitações de Odon de Saint-Amand, grão-mestre do Templo. Em todo caso, qualquer que tenha sido o inspirador da idéia, não há dúvida quanto à importância estratégica de Gué-de-Jacob.
Balduíno IV em Montgisard, Charles Philippe Larivière (1798-1876) |
Sybila, irmã do rei, acabava de casar — contrariamente aos interesses de Estado — com Guy de Lusignan, homem de beleza discutível, sem fortuna e sem talento. Balduíno, pressionado pelos seus, minado pela doença, tinha consentido nessa união e dado a Lusignan os condados de Jaffa e Ascalon.
Tão logo a insignificância do marido de Sybila se manifestou, atiçaram-se as esperanças dos senhores feudais. Contava-se que o irmão de Lusignan, comentando o casamento, disse: “Se Guy for Rei, eu deveria ser Deus!” Tal a mediocridade que lhe era atribuída.
Nessa mesma ocasião, Isabel de Jerusalém desposava Anfroi de Toron, filho indigno de seu pai, o falecido condestável de Jerusalém, morto em defesa do rei.
O estado de Balduíno IV piorava dia a dia. Foi uma provação para sua mãe — que não tinha boa fama — e para a roda de seus cortesãos ambiciosos e amorais, ver a aproximação de Balduíno com Raimundo de Trípoli, único homem capaz de o aconselhar sabiamente.
continúa no próximo post: Balduíno IV: o rei-herói em meio a decadência do reino de Jerusalém
(Fonte: Georges Bordonove, “Les Templiers”, in “Catolicismo” nº 303)
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segunda-feira, 28 de maio de 2012
Balduíno IV: o rei cruzado que atingido pela lepra venceu Saladino e o Islã
Vitral do rei Balduino na Basílica de Saint-Denis, França |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Balduíno IV foi o último rei de Jerusalém com espírito de Cruzada. Guy de Lusignan, seu sucessor, foi um interesseiro, sob cujo reinado a Civilização Cristã perdeu a posse da Cidade Santa.
Na história das Cruzadas, nada é mais emocionante que o reinado doloroso de Balduíno IV.
Nada, entre os vários exemplos famosos, pode atestar melhor o império de um espírito de ferro sobre uma carne débil.
Foi um rei sublime, que os historiadores tratam só de passagem, o que faz perguntar por que até aqui nenhum escritor se inspirou nele, exceto talvez o velho poeta alemão Wolfram von Eschenbach.
Nem o romance nem o teatro o evocam, entretanto sua breve existência cheia de acontecimentos coloridos forma uma apaixonante e dilacerante tragédia.
O destino sorria à sua infância. Robusto e belo, ele era dotado da inteligência aguçada de sua raça angevina (de Anjou).
Tinha sido dado a ele por preceptor Guilherme de Tiro, que se tomou de “uma grande preocupação e dedicação, como é conveniente a um filho de rei”. O pequeno Balduíno tinha muito boa memória, conhecia suficientemente as letras, retinha muitas histórias e as contava com prazer.
Um dia em que brincava de batalha com os filhos dos barões de Jerusalém, descobriu-se que tinha os membros insensíveis:
“Os outros meninos gritavam quando eram feridos, porém Balduíno não se queixava. Este fato se repetiu em muitas ocasiões, a tal ponto que o arquidiácono Guilherme alarmou-se.
“Primeiro pensou que o menino fazia uma proeza para não se queixar. Então perguntou-lhe por que sofria aquelas machucaduras sem queixar-se.
Guilherrme de Tiro descobre lepra no futuro rei Balduino IV
“O pequeno respondeu que as crianças não o feriam, e ele não sentia em nada os arranhões. Então o mestre examinou seu braço e sua mão, e certificou-se de que estavam adormecidos” (L’Eraclès).
Era o sinal evidente da lepra, doença terrível e incurável naquele tempo.
Os médicos aos quais foi confiado não podiam sustar a infecção, nem mesmo retardar a lenta decomposição que afetaria suas carnes.
Toda sua vida não foi senão uma luta contra o mal irremissível.
Mais ainda, muito mais: foi testemunho dos poderes de um homem sobre si mesmo e da encarnação assombrosa dos mais altos deveres.
Balduíno IV foi um rei digno de São Luís, um santo, um homem enfim — e é isso, sobretudo, que importa à nossa admiração sem reticências — a quem nenhuma desgraça chegou a destruir o vigor de alma, as convicções, a altivez, as qualidades de coração, o senso das responsabilidades, dos quais ele hauria o revigoramento da coragem.
No fim de 1174, Saladino, senhor do Egito e de Damasco, veio sitiar Alepo. Os descendentes de Noradin pediram socorro aos francos.
Raimundo de Trípoli atacou a praça forte de Homs e Balduíno IV empreendeu uma avançada vitoriosa sobre Damasco. Estas iniciativas fizeram com que Saladino abandonasse seu desejo inicial.
Saladino incendeia cidade, Chroniques de Guilhaum de Tyr, BNF, Mss fr 68 |
Apesar de sua doença, cavalgava como um homem de armas, empunhando eximiamente a lança.
Nenhum de seus predecessores teve tão cedo semelhante noção da dignidade real de que estava investido, e de sua própria utilidade.
Percebendo as rivalidades existentes entre os que o cercavam, compreendeu quão necessária era sua presença à cabeça dos exércitos católicos.
Mas que calvário deveria ser o seu! Aos sofrimentos físicos juntava-se a angústia moral: seu estado impedia-o de se casar, de ter um descendente.
Ele não era senão um morto-vivo, um morto coroado, cujas pústulas e purulências se disfarçavam sob o ferro e a seda, mas que se mantinha de pé e se lançava à ação, movido não se sabe por que sopro milagroso, por que alta e devoradora chama de sacrifício.
(Fonte: Georges Bordonove, “Les Templiers”, in “Catolicismo” nº 303)
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