Igreja Matriz de Tentúgal |
Os mouros tinham sido escurraçados até ao Algarve, mas os dois sucessores do conquistador de Silves não foram lutadores como os dois primeiros reis portugueses e eram freqüentes as incursões sarracenas que, vindas da Andaluzia, atravessavam o Guadiana e vinham assolar as terras reconquistadas.
Os portugueses eram senhores dos castelos e quando os mouros faziam os seus fossados, as populações rurais, ainda mozárabes, isto é mistas de católicos e árabes convertidos, refugiavam-se atrás das ameias.
Montemor-o-velho |
Mas uma das incursões era comandada por um grande mouro, uma figura gigantesca a que os portugueses chamavam “mourão”.
Este intrépido inimigo concebeu o plano de ir atacar e saquear Coimbra que era, então, onde a corte residia.
A cidade estava cheia de riquezas e como ficava longe da fronteira, as precauções de defesa não eram tão grandes como em Lisboa, Santarém ou Évora.
Os sarracenos passaram o Tejo entre Abrantes e Santarém, por terras da Golegã e, evitando Tomar, seguiram pelo vale de Nabão em demanda de Coimbra.
O plano consistia em ultrapassar a cidade para o lado Norte e atacá-la.
É claro que esse lado era o menos vigiado por não se esperar um ataque pelo lado em que os territórios eram há muito católicos e bastante povoados. Além disso, havia a defesa natural do Rio Mondego.
Igreja da Misericórdia, Tentúgal |
O seu acampamento ficava exatamente onde hoje se ergue a igreja matriz e ali mesmo ficava a tenda maior que era a do general, o “mourão” que comandava.
Por isso, o lugar ficou a ser conhecido por Mourão e ainda hoje tem esse nome.
Quando os católicos tiveram noticia da chegada das hostes mouras, reuniram tropas idas de Montemor, de Coimbra e até de Leiria.
Travaram-se muitos combates preliminares, como era uso da época, simples escaramuças para avaliação de forças de ambas as partes contendoras.
Finalmente, chegou o dia da peleja que se realizou em campo aberto com sorte vária para ambos os lados. Ora os portugueses eram repelidos ora avançavam impetuosamente, fazendo recuar os invasores.
Mouros sitiam Montemor-o-Velho |
Foi então que o gigante mouro resolveu entrar na luta com a sua guarda de escol para resolver a batalha a seu favor.
Logo que investiu com a sua força devastadora, o resultado do combate parecia decidido e os chefes portugueses já pensavam em retirar para Coimbra, quando um moço português resolveu enfrentar pessoalmente o “mourão”.
Abriu caminho até o mais aceso da luta e fez frente em duelo mortal ao inimigo invasor.
Então os portugueses ao verem o valoroso combate, resolveram suspender a manobra de retirada e recomeçar a luta em apoio do seu campeão.
Enquanto eram dadas as ordens para o efeito, os dois contendores digladiavam-se já isolados nas ruínas das fortificações que eram bastante frágeis, e estavam quase completamente desmoronadas, pois haviam ainda sido construídas pelos godos.
Brasão em Tentúgal |
Tem-te igual com o “mourão”! Essa frase de português arcaico equivaleria hoje a bradarem: Agüenta-te com ele! Agüenta-o!
O valente guerreiro agüentou os golpes do alfange agareno com o seu montante até que os companheiros treparam às ruínas e rodearam o “mourão” por todos os lados. Em breve, a cabeça rolava pelas pedras envolvida no turbante ensangüentado.
Os mouros, vendo cair a seu general derrotado, começaram a render-se e a fugir. Como estavam longe das suas bases, em breve eram aprisionados, mesmo antes de chegarem a Tomar, porque os portugueses dessa cidade vieram ao seu encontro.
Foi esta a última arrancada mourisca pelo centro de Portugal para lhe atingir o coração. Nunca mais ousaram fazê-lo porque as perdas tinham sido muitas e verificaram que nem de surpresa conseguiam vencer os portugueses.
Brasão em Tentúgal |
Mas o lugar do acampamento mouro ficou para sempre recordado como lugar do “mourão” e ali foi construída uma igreja, já reedificada várias vezes.
Quanto à aldeia próxima, também já se não sabe o seu nome primitivo, anterior à batalha.
O castelo que ali foi construído recebeu o nome de castelo do “Tem-te-igual”, nome que, com o tempo, evoluiu para Tentúgal.
Hoje, Tentúgal é uma vilazinha sossegada e laboriosa, cuja fama já não é devida a memórias guerreiras, mas aos seus apreciados pastéis de finíssimo folhado com recheio de doce de ovos...
Quem viaja entre Coimbra e a Figueira da Foz não deixa de parar em Tentúgal para saborear os afamados pastéis.
Mas, se perguntar aos anciãos donde provém o nome, já ninguém sabe referir a tradição lendária...
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Apenas uma observação.
ResponderExcluirA igreja referida em:
«Mas o lugar do acampamento mouro ficou para sempre recordado como lugar do “mourão” e ali foi construída uma igreja, já reedificada várias vezes.»,
suponho que deverá ser a Igreja Matriz, a meio da Rua do Mourão,e que é esta:
http://fotos.sapo.pt/jomirife/fotos/?uid=JZQbzE0TASIp465am9LC
A que figura na imagem acima deste artigo é a Igreja da Misericórdia.
Cumprimentos
Francisco Cabral de Moncada
Prezado Sr. Francisco,
ExcluirAgradecemos sua valiosa observação e já introduzimos a melhora na linha apontada pelo Sr.
Atenciosamente,
Luis