Luis Dufaur
Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
continuação do post anterior: Diante de Beirute, Saladino foge de Balduíno IV
Diante de um adversário com a atividade de Saladino, teria sido necessário que o rei leproso estivesse sem cessar acima do cavalo para frustrar os planos inimigos.
As campanhas francas do outono de 1182 tinham salvo a independência de Alepo dos ataques do sultão.
Mas, no ano seguinte, a imperícia dos últimos reis turcos locais lhe entregou a cidade (junho de 1183). A partir dali, a Síria muçulmana pertencia ao grande sultão, do mesmo modo que todo o Egito.
Pese os esforços desesperados de Balduíno IV, a situação dos francos se degradava cada vez mais. Após a anexação de Alepo, Saladino voltou à sua boa cidade de Damasco a fim de organizar a invasão da Palestina (agosto de 1183).
Sabendo desta notícia, Balduíno convocou todas as forças francas nas fontes de Sephoria, na Galileia, ponto de concentração habitual das armas cristãs. Foi lá que a doença venceu seu heroísmo.
Após uma interrupção de alguns meses, a terrível doença retomou seus progressos. Balduíno IV entrou em estado terminal.
“Sua lepra – diz o cronista – debilitava-o até o ponto de ele não mais conseguir fazer uso de suas mãos e de seus pés. Ele estava todo apodrecido e ia a perder a visão”.
Nesse estado, quase cego, longamente imobilizado em seu leito, um cadáver vivo, ele ainda lutava contra o destino. Quem acompanhou sua atividade desde o início da doença compreende o combate patético e doloroso que ele livrou contra si mesmo.
Com sua alma heroica, ainda nesse estado ele queria governar. Em vão seus próximos o aconselhavam a abandonar suas funções, a retirar-se em algum palácio “com boas rendas, para viver honrosamente”.
Ele recusava, diz a crônica, “porque embora fosse débil de corpo, tinha a alma elevada e a vontade voltada para além das forças humanas”. Mas derradeiros acessos de febre acabaram por abatê-lo.
Impulsado pela unanimidade do sentimento islâmico, Saladino agiu com decisão. Uma frota egípcia posta por ele no Mar Vermelho, destruiu a flotilha franca.
E em novembro de 1183, à testa de um poderoso exército, ele foi pessoalmente assediar a fortaleza de Renaud de Châtillon, o famoso Crac de Moab, nosso Kerak, na Transjordânia.
Sob o bombardeio incessante da artilharia, a muralha ameaçava desabar quando, mais uma vez, a realeza salvou os vassalos imprudentes.
A labareda de um grande fogo aceso sobre a Torre de Davi, em Jerusalém, reproduzida por um castelo e outro, provocou a aparição de sinais iguais sobre as torres de menagem da Judeia meridional até o mar Morto. Ela anunciava aos sitiados do Crac de Moab que o auxílio se aproximava.
Apesar de parecer-se mais com um cadáver, Balduíno IV foi mais uma vez rei.
Cego, paralisado, moribundo, ele convocou suas tropas, a cuja testa pôs o conde de Trípoli, e as acompanhou numa liteira até Kerak.
Mais uma vez, Saladino fugiu diante dele, sem mesmo aguardá-lo.
O rei leproso fez uma entrada triunfal na fortaleza, saudado como um salvador pela multidão dos sitiados.
Ele reconfortou a guarnição, fez reconstruir as partes danificadas dos muros, e voltou a Jerusalém, após cumprir até o fim seu dever de chefe, em dezembro de 1183.
continua no próximo post. Balduíno IV é enterrado ao pé do Gólgota, junto ao Santo Sepulcro
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