Nosso Senhor, quando esteve com os Apóstolos, disse: Ide e pregai por toda a terra, a todos os povos, batizando-os em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo. Aqueles que crerem serão salvos, aqueles que não crerem se perderão.
Isso é um mandato, quer dizer, é uma ordem que Ele deu.
Esse mandamento dava aos Apóstolos e aos sucessores, bispos e padres católicos de todo mundo, em todos os tempos, a ordem de fazer missões. Daí o fato de que Nosso Senhor morrendo, eles se espalharam pelo mundo inteiro. Eles receberam uma ordem.
Mas junto com essa ordem vinha um direito: e o direito era de ir aos países, ainda que os governos não quisessem, pregar nesses países.
E, é uma obrigação para todos os governos, de atenderem à voz dos missionários e de lhes dar liberdade. Não estão obrigados a se converter, mas tem o dever de dar liberdade aos pregadores da Santa Igreja para que possam fazer ouvir a palavra de Deus ao povo.
Isso traz um corolário. Se os missionários têm direito de ir por toda parte pregar a fé, e se um governo nega o direito ao missionário de entrar, as tropas de um país católico têm o direito de marchar contra esse governo e dizer: "nós viemos aqui arrombar a porta que vocês fecharam. Porque contra Deus, ninguém prevalece. Nós estamos fazendo uma Cruzada". Entram a asseguram aos missionários o direito de pregar.
Então, podemos imaginar oito, dez, cinqüenta cruzados numa praça, e junto com ele um santo, um padre, um missionário, num lugar em evidência, pregando.
E eles com as lanças, ou com armas mais atualizadas.
É teologicamente perfeito.
O que não seria perfeito seria dizer: ou você crê, ou morre. Isso não seria perfeito.
Mas aplicar a força justa a quem quisesse criar obstáculo, pois não, porque ninguém tem o direito de ir contra os desígnios de Deus.
Então a Cruzada é um direito outorgado por Nosso Senhor Jesus Cristo.
(Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, palestra proferida em 16.11.72. Texto sem revisão do autor).
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segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
São Francisco de Assis e o Direito da Cruzada. II ‒ o exemplo de São Francisco e o sultão ilustra o direito a se fazer Cruzadas
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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
São Francisco de Assis e o Direito da Cruzada. I ‒ o equilíbrio entre a mansidão e a força
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Do livro “Les Templiers”, do mundialmente reputado historiador francês Georges Bordonove:
Entre a 4ª e 5ª cruzada houve algumas expedições militares contra os infiéis. De uma delas, que aportou no Egito, participou São Francisco de Assis.
Ele, (São Francisco) teve a audácia de se fazer conduzir à presença do sultão, tendo somente sua fé por salvaguarda. O sultão o escutou com a maior atenção, como que subjugado.
Como o bem aventurado Francisco começasse a pregar e ofereceu-se para entrar no fogo juntamente com um sacerdote sarraceno, para assim provar ao sultão que a Lei de Cristo era verdadeira, o sultão respondeu: Irmão, eu não creio que algum sacerdote sarraceno queira entrar no fogo por sua fé.
Depois, temendo que alguns dos de seu exército, pela eficácia da palavra de São Francisco, fossem convertidos para o Senhor, o sultão o fez conduzir, com toda sorte de considerações e em perfeita segurança, ao campo dos nossos, dizendo-lhe por despedida: Reze por mim para que Deus se digne de me revelar a lei e a fé que mais Lhe agrada.
Comentário de Plinio Corrêa de Oliveira:
O mundo estava dividido em dois campos opostos. Essa divisão estava eriçada de espadas e lanças de ambos os lados.
De um lado o mundo maometano, de outro lado o mundo católico.
Nessa situação, uma expedição militar embarca cheia de ardor. Ela vai levando o homem que, para a sensibilidade deformada de nossos dias, é precisamente o contrário do espírito militar: São Francisco de Assis.
O santo da doçura, da ternura, da bondade, que cantava aos passarinhos e chamava o boi e a vaca de irmãos; o santo – para usar uma expressão má, mas que teria seu cabimento aqui – o santo da fraternidade.
Esse santo vai no meio dos cruzados.
Parece que seu contínuo cântico de afabilidade, cordialidade e amor é o contrário da mensagem dos cruzados.
Ele tem esperança de converter o sultão. Ora, converter é muito melhor do que matar. O indivíduo precisa ser completamente doido, precisa ter perdido completamente o espírito católico, para preferir matar a converter. Converter é muito melhor do que matar.
De outro lado, converter é, de algum modo, o contrário de matar. Porque se um homem pode ser conversível, para que matá-lo? Dir-se-ia então que São Francisco de Assis ia como companheiro dos cruzados, com o intuito de tornar inútil a Cruzada.
Bem, ele transpõe as fileiras adversárias e vai falar com o sultão.
Nós podemos imaginar a cena. O sultão aparece como um soberano oriental, no luxo enorme– tecidos finíssimos, tapetes magníficos, casas esplendidamente decoradas, espaçosas, soldados prestando armas, doces regalados, harém – tudo quanto o prazer dos sentidos pode proporcionar de lícito e de ilícito, de belo e de feio, de honroso, e de desonroso, o sultão tinha para si.
Podemos imaginar uma sala magnificamente atapetada. Nas paredes há arcadas com arabescos. Ao longe um pátio com uma fonte que deita água perfumada e um jardim com laranjeiras em flor.
Bate o vento e entra o perfume das laranjeiras; ouvisse o canto das odaliscas dentro do harém. Mais no fundo, um minarete poético que se levanta.
Gordalhão, contente da vida, satisfeito, sentado sobre almofadas, com um turbante esplêndido, coberto de joias, um sultão.
Entra para falar com ele um homem que é o contrário. São Francisco de Assis: renunciou a tudo, é o santo do jejum, da penitência.
O sultão é truculento, autoritário, sanguinário, mata por dá cá aquela palha, cercado de escravos que ele maltrata de todos os modos.
São Francisco de Assis é um homem que quando vai aos matos, os passarinhos descem das árvores e pousam sobre os ombros dele para cantar.
Vê uma flor, uma rosa, se extasia e glorifica a Deus, é o homem que faz sua felicidade em não ter nada daquilo que é a felicidade do sultão. E que se apresenta com umas sandálias ou talvez descalço.
E aí uma das enormes antíteses, não só daquele tempo mas de todos os tempos, se estabelece: o diálogo de São Francisco com o sultão. Fala-se hoje tanto em diálogo. Isso foi diálogo.
São Francisco começa a falar. Não nos é difícil conceber o estado de alma de um sultão. Quando o homem tem todos os bens do corpo, é o sinal de que ele não tem nenhum dos bens da alma.
Porque depois do pecado original, quanto mais os bens do corpo se multiplicam, tanto mais os bens de alma vão minguando e empobrecendo.
O sultão não tem tranquilidade, não tem alegria, não tem sensação de asseio nem de bem-estar dentro de si mesmo. Ele se sente uma charneca. Tudo em torno dele é belo mas nada lhe agrada. Tudo dentro dele é feio.
Aparece São Francisco e ele começa a sentir uma paz. Ele olha São Francisco e vê que São Francisco o olha com um sentimento que ele nunca conseguiu despertar em ninguém. São Francisco olha com afeto desinteressado. Ele começa a se comover diante das frases de São Francisco.
Se o violino de São Francisco Solano conseguia desarmar os índios, os senhores podem imaginar o timbre de voz de São Francisco de Assis se não faria desarmar um sultão! Por certo e largamente.
O sultão começa a se comover. Começa a se sentir tão comovido, que começa a perceber que está mudando de doutrina e que ele mesmo vai começando a ficar católico.
Ele tem medo da ação de São Francisco sobre ele, porque ele não quer largar aqueles bens que São Francisco mostra a ele que são efêmeros, secundários, que não são a razão de ser da vida.
Então, ele comete um primeiro pecado contra o Espírito Santo. Porque negar a verdade conhecida como tal é um pecado contra o Espírito Santo. E diz: esse homem é capaz de me converter. Eu vou pô-lo fora.
Vem um segundo receio: eu não vou me converter, mas se esse homem ficar rodando pela cidade, ele vai converter os outros. Esse homem diz coisas tais, dá um tal brilho de verdade a tudo que ele profere, que outros serão capazes de ser menos duros do que eu, e são capazes de se converter. Eu vou perder meus soldados.
Então, ele toma a resolução injusta de expulsar São Francisco de seu palácio, de seu país.
Mas o pecado nele não foi tão ao fundo como se poderia recear. Ele manda, em vez de matar São Francisco, ele manda levá-lo com toda espécie atenções, até o acampamento dos católicos.
Além do mais, ele faz um pedido na hora da despedida: reze por mim para que eu conheça a verdadeira fé.
Pedido que era, de algum lado, hipócrita. Porque, ao se comover, já ou ao menos já começou a conhecer a verdadeira fé. Ele pedia o que já lhe tinha sido dado.
Mas, de outro lado, era um pedido de quem não tinha renunciado inteiramente a, em determinada emergência, seguir a São Francisco. De maneira que é um pedido que tinha um certo lado de bem.
E é possível que São Francisco tenha rezado por ele, e não é impossível que, pelos rogos de São Francisco, grande devoto de Nossa Senhora, esse sultão se tenha convertido na hora da morte.
De qualquer maneira, o sultão expulsou São Francisco e essa admirável possibilidade de conversão cessou para o Oriente.
Que beleza seria o sultão do Egito converter-se? Quanto lutou São Luís, quanto lutaram todos os Cruzados para conquistarem o Egito! Que magnífico teria sido se o Egito se tivesse feito católico. A história do mundo poderia ter virado.
A história do mundo dependeu, naquele momento, da alma de um sultão que tinha diante de si um dos maiores santos de toda a história; e que recebeu, com certeza, naquele momento, uma graça enorme.
Porque a simples presença de São Francisco de Assis era uma graça fabulosa. São Francisco de Assis ir, conduzido pelo Espírito Santo, de tão longe visitar esse sultão, é impossível que esse sultão não tivesse recebido nessa ocasião, graças enormes.
Um homem disse não, um palácio se fechou, um país se fechou, a história da conquista do Oriente pelos católicos estava modificada. O Egito nunca haveria de ser conquistado a não ser no século XIX, mas por uma potência protestante: a Inglaterra.
Seja como for, São Francisco voltou para o meio dos cruzados.
Qual é efeito maravilhoso desse fato? Para a história das Cruzadas?
É a justificação teológica mais magnífica do espírito que movia os cruzados e, ao mesmo tempo, das Cruzadas em si.
(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, palestra proferida em 16.11.72. Texto sem revisão do autor).
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