terça-feira, 24 de setembro de 2024

Vitória da Cristandade em Lepanto

Ali Pachá chefe supremo islâmico em Lepanto caiu abatido ç e sua morte semeou o desconcerto entre os sectários do Corão.
Ali Pachá chefe supremo islâmico em Lepanto caiu abatido
e sua morte semeou o desconcerto entre os sectários do Corão.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








continuação do post anterior: Lepanto: se engaja a batalha do tudo ou nada



Num lance decisivo, Ali Pachá é abatido

Por duas vezes, os turcos penetraram na Real de D. João d’Áustria até o mastro principal. Sangrentas lutas corpo a corpo tiveram lugar ali.

E por duas vezes os valorosos soldados espanhóis rechaçaram as ondas de guerreiros turcos. O comandante católico levou um tiro no pé. Veniero, com seus 70 anos, combatia de espada na mão.

As primeiras forças de auxílio de Álvaro Bazan foram ao socorro da ala norte, salvando a situação. Bazan também percebeu o vão entre o centro e a ala de Doria, e enviou para lá mais algumas reservas para controlar a situação que já se tornava desesperadora.

As horas passavam durante o violento confronto. O tórrido sol da tarde fazia refletir sua luz nas águas do mar, agora tingidas de vermelho. As últimas naus de reserva foram enviadas ao centro, onde a batalha fervia.

As seis grandes galeaças de Duodo já haviam afundado, incendiado ou botado a pique incontáveis navios turcos.

Mas no centro, a luta era dramática para os católicos. As tropas de reserva chegaram apenas para salvar o generalíssimo ferido e já encurralado em sua própria nau.

D. João decretou que todos os prisioneiros por crimes pequenos que remavam nas galés receberiam a liberdade se combatessem valorosamente.

Os duzentos novos soldados de auxílio enviados por Bazan começavam agora a empurrar os turcos de volta para a Sultana.

A luta neste ponto foi terrível. Os valentes espanhóis invadiram por três vezes o navio de Ali Pachá e por três vezes foram expulsos. Os conveses das duas naus-capitânias estavam cobertos de cadáveres. Sentia-se uma inexplicável hesitação nas hostes turcas.

Então, Ali Pachá, quando repelia o último ataque católico, foi atingido pelo tiro preciso de um arcabuzeiro espanhol.

Em meio à confusão, seu corpo foi arrastado até D. João d’Áustria. Um espanhol levantou a cabeça do general turco na ponta de uma lança e um forte brado de vitória repercutiu nas fileiras católicas.

Os turcos entraram em pânico e começaram a bater em retirada, usando o que restara de sua esquadra.

Muitos deles ainda foram capturados ou mortos. Um estandarte com o Divino Crucificado foi hasteado no mastro da Sultana. Uluch Ali ainda conseguiu fugir com algumas embarcações.

Lepanto, Andrea Vicentino (1542 -1617) Palazzo Ducale, Venezia.
Lepanto, Andrea Vicentino (1542 -1617) Palazzo Ducale, Venezia.

Vitória contra a ameaça maometana

Maria Auxílio dos Cristãos.
Santuário Maria Ausiliatrice, Turim.
A vitória da Santa Liga foi grandiosa: 130 embarcações turcas foram presas, outras 90 afundadas e 25 mil muçulmanos pereceram. Os cristãos perderam 15 galés e 8 mil homens.

Na mesma hora do desfecho da batalha, em Roma, o Papa São Pio V tratava de assuntos internos do Vaticano. Ele voltou-se para uma janela e teve uma visão surpreendente:

“Não é hora de negócios, mas sim de rezar e agradecer a Deus. Nossa esquadra acaba de obter uma grande vitória”, disse ao secretário.

As notícias oficiais só chegaram duas semanas mais tarde...

O Santo Padre foi em procissão até São Pedro cantando o Te Deum. Depois ordenou a comemoração da vitória, designando o dia 7 de outubro em honra de Nossa Senhora do Rosário.

Mais tarde mandou acrescentar aos títulos da Santíssima Virgem na Ladainha Lauretana a invocação Auxílio dos Cristãos.

Foi a Mãe de Deus quem vencera em Lepanto, pois, conforme narrativas feitas pelos próprios muçulmanos, Ela apareceu durante a batalha, aterrorizando os combatentes seguidores de Maomé.

A espetacular vitória da Santa Liga foi um golpe do qual o império turco-islâmico jamais se recuperaria.

Alguns historiadores afirmam, porém, que Lepanto não teve grande efeito, pois enquanto a Santa Liga se desfazia, em menos de um ano a frota turca estava recomposta com mais de 200 navios.

Contudo, tal afirmação é facilmente desmentida pelos fatos. Em 1572, no litoral da África, com apenas 22 galés, D. João d’Áustria enfrentou Ulich Ali, o mesmo que havia fugido em Lepanto e que comandava agora 250 embarcações.

Os turcos não tiveram coragem de sair de seu refúgio para enfrentar o jovem príncipe. As tempestades acabaram por separar as duas frotas sem combates.

No mar, a força moral dos turcos contra a Cristandade ficou arrasada para sempre.

Ainda demoraria um pouco para que o mesmo acontecesse em terra.

FIM

(Autor: Paulo Henrique Américo de Araújo, CATOLICISMO, abril 2015)



____________________

Referências

1. WEISS, Juan Baptista. História Universal. Barcelona: Tipografia La Educación, 1929, vol. IX, pp. 535 a 540.
2. Walsh, William Thomas. Felipe II, 7ª edição, Madri, Espasa-Calpe, 1976, pp. 564 a 579.



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terça-feira, 10 de setembro de 2024

Lepanto: se engaja a batalha do tudo ou nada

A frota católica em Messina antes da batalha, Giorgio Vasari (1511 — 1574).
A frota católica em Messina antes da batalha, Giorgio Vasari (1511 — 1574).
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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continuação do post anterior: Lepanto: a maior batalha naval da História



Estreito de Lepanto, na entrada do Golfo de Patras, Grécia. A esquadra da Santa Liga Católica, composta por mais de 200 navios de guerra e 90 mil soldados comandados por Dom João d’Áustria, já avistava ao longe a poderosa frota turca com seus quase 300 barcos e 120 mil guerreiros. Era o memorável 7 de outubro de 1571.

A batalha já era iminente, não havia mais volta atrás. O generalíssimo D. João d’Áustria decidira, apesar da desvantagem numérica, enfrentar os muçulmanos turcos.

Andrea Dória, comandante de boa parte das embarcações católicas, propôs uma ideia crucial para o embate que estava para começar: “Retiremos os esporões das pontas das galés. Assim poderemos mirar os canhões num ângulo mais baixo em direção aos turcos”. Proposta aceita prontamente por D. João.

Dória percebeu que, com tantos navios batalhando tão perto uns dos outros, os esporões — grandes peças de metal utilizadas em manobras longas para furar, à força de remos, as laterais dos barcos inimigos — seriam de pouca utilidade naquela situação. Livrar-se deles daria maior liberdade de ação aos canhões.

As bandeiras multicolores davam os sinais para todos os navios se posicionarem. Estendendo-se ao sul, em direção ao alto mar, Andrea Dória chefiava a ala direita católica, com 54 navios.

Ao norte, alongando-se em direção à costa grega, o veneziano Barbarigo dirigia a ala esquerda com 53 barcos. Ao centro, D. João d’Áustria, com a nau capitânia, a Real e 64 embarcações. Atrás, com as forças de reserva, D. Álvaro Bazan.

Alinhamento para o confronto naval

O comandante turco, Ali Pachá, tendo superioridade numérica, planejou envolver e liquidar a frota católica. Ao norte, formando a ala direita turca, Siroco comandava 54 navios.

Ao sul, Uluch Ali procurava estender ao máximo seus 61 navios. O próprio Ali Pachá, com a Sultana e mais 87 galés, avançava ao centro. O comandante turco estava resolvido a atacar ao mesmo tempo os flancos e o centro das linhas católicas.

Pouco antes da batalha, D. João d’Áustria, vestindo uma armadura dourada, subiu num barco ligeiro e com um Crucifixo na mão conclamou os homens de cada navio dizendo:

“Eia, soldados valorosos, chegou a hora que desejastes; aquilo que me tocava, cumpri; humilhai a soberba do inimigo, alcançai glória em tão religiosa peleja, vivendo ou morrendo sereis vencedores, pois ireis para o Céu”.

A linha por onde se estendiam as centenas de barcos cobria quilômetros do mar. Enquanto a frota turca se aproximava com o vento favorável e as embarcações católicas se moviam à força de remos, os soldados cristãos, ajoelhados, rezavam e recebiam a bênção dos frades que ali estavam.

À frente da frota da Santa Liga, um grupo de grandes navios preparava uma surpresa ingrata aos turcos: eram as galeaças de Francisco Duodo.

Este nobre navegador e engenheiro veneziano havia projetado um novo tipo de galé. Ela possuía canhões em todos os lados do navio, diferentemente das galés convencionais que tinham canhões apenas na proa e na popa.

Essas poderosas máquinas de guerra estavam agora na vanguarda da Liga. Apenas seis delas reunidas somavam 264 canhões.
A desigualdade de forças e a discrepância religiosa impunham uma única opção: tudo ou nada
A desigualdade de forças e a discrepância religiosa impunham uma única opção: tudo ou nada

Enfrentamento entre a Cruz e o Crescente

Entretanto, o vento providencialmente mudou, favorecendo a esquadra católica. As galeaças de Duodo abriram fogo e penetraram em todas as alas das linhas turcas, causando grandes danos, mas não detiveram o avanço inimigo.

Ao norte, Barbarigo tentou evitar ser flanqueado por Siroco, mas como não conhecia as águas rasas do litoral, logo os turcos se aproveitaram da brecha e envolveram os navios cristãos, que foram sendo aniquilados. O próprio Barbarigo foi ferido e teve que ceder o comando a outro.

Ao sul, Doria projetou ao máximo sua linha de defesa, para não ser envolvido pelas galés de Uluch Ali. Contudo, a manobra fez surgir uma perigosa falha entre o centro e a direita da esquadra católica.

Alguns suspeitaram de uma traição! Mas, ao contrário, o valente chefe espanhol batia-se contra os turcos de todas as formas. Em dez dos navios espanhóis, todos os homens foram mortos em apenas uma hora de combate. A ala direita católica ruía!

No centro da batalha, a nau-capitânia de D. João, a Real, que levava o estandarte de Nossa Senhora de Guadalupe, foi facilmente identificada por Ali Pachá.

Os canhões de ambos os lados trovejavam, num barulho ensurdecedor. Logo as naus dos dois comandantes estavam frente a frente.

Os barcos de Colona, comandante das forças dos Estados Pontifícios e do velho Veniero, também se juntaram à nau-capitânia, formando uma plataforma de combate com dezenas de metros.

Foi neste momento que o conselho de Doria se fez valer. Com os canhões apontando mais para baixo, os católicos causaram grande destruição nas embarcações e tropas turcas.

Mas, por causa do contingente maior, os infiéis pressionavam violentamente os católicos de todos os lados.

Iniciam-se as abordagens. Tiros de arcabuz, lutas de espadas e lanças, gritos de dor e brados de guerra se misturavam ao choque das explosões e do fogo.

(Autor: Paulo Henrique Américo de Araújo, CATOLICISMO, abril 2015)

continua no próximo post: Vitória da Cristandade em Lepanto





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