terça-feira, 30 de abril de 2024

Batalha das Navas de Tolosa:
decisiva para a expulsão do Islã invasor

Navas de Tolosa: a batalha prototípica entre a Cruz e a Meia-lua
Navas de Tolosa: batalha prototípica entre a Cruz e a Meia-lua
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Em 1212, a onda invasora dos muçulmanos almoades, seita fanática de tipo fundamentalista, ameaçava tomar conta da Península Ibérica.

O Papa Inocêncio III convocou, então, uma Cruzada para deter o perigo, que ameaçava toda a Europa.

Para liderar as forças católicas foi escolhido o rei Afonso VIII de Castela, avô de São Fernando III.

Veja vídeo
Natal num castelo da França
Integravam a santa coligação Sancho VII, rei de Navarra; Pedro II, rei de Aragão; um exército enviado por Afonso II, rei de Portugal; cavaleiros do reino de Leão e das ordens militares de Santiago, Calatrava, Templários e Hospitalários, entre outras, além de um grande número de cavaleiros franceses.

Entre os convocados estrangeiros figuravam também três bispos das cidades francesas de Narbonne, Bordeaux e Nantes.

O rei Sancho da Navarra quebrou o cerne dos fanáticos islâmicos
O rei Sancho da Navarra quebrou o cerne dos fanáticos islâmicos
Afonso de Castela obteve a declaração papal de cruzada que facilitou a ajuda das Ordens Militares e impediu, sob pena de excomunhão, que os muçulmanos obtivessem ajuda de cristãos interesseiros que porventura tentassem se apropriar de bens dos que haviam partido ao combate.

Nessa batalha os dois lados empenharam todo o seu poderio militar e o melhor de suas forças.

O rei Afonso foi o grande articulador da aliança vencedora e teve o arguto senso de oportunidade para escolher o momento da batalha, que preparou com quase dez anos de antecedência.

Sabia que a mesma selaria o destino da península.

O exército mouro, segundo as crônicas da época, chegava a ter 300.000 ou 400.000 homens comandados pelo califa Muhammad Al-Nasir (Miramamolín para os cristãos).

Por sua vez, os católicos eram 70.000 e constituíam um dos maiores exércitos já reunido na península sob o signo da Cruz.

Nunca lutaram dois exércitos tão grandes na longa guerra da Reconquista
Nunca lutaram dois exércitos tão grandes na longa guerra da Reconquista
Registrado nas crônicas da época simplesmente como “A Batalha”, o enfrentamento aconteceu perto de Navas de Tolosa, na Espanha.

A derrota esmagadora infligida naquela data pelos aliados castelhanos, navarros, aragoneses e portugueses aos sarracenos contribuiu decisivamente para a queda do domínio muçulmano na Península Ibérica.

A batalha foi antecedida por escaramuças e um jogo de estratégias que começaram em 13 de julho de 1212. Ambos os lados buscavam a melhor posição e o melhor terreno para a luta.

Por fim, os árabes ficaram mais bem posicionados, sobre uma colina, enquanto os cristãos teriam que avançar “morro acima”.

O embate final aconteceu em 16 de julho.

As forças de Castela, que formavam o maior contingente, agiram no centro, apoiadas nos flancos pelos reis cristãos de Navarra (Sancho) e de Aragão (Pedro).

O heroísmo de Diego López II de Haro e seu filho
empolgou os católicos
O rei de Portugal e os cavaleiros franceses – com exceção de um pequeno número – não chegaram a participar.

O rei Afonso simulou uma força de infantaria central fraca para atrair o inimigo, que caiu na armadilha.

Em seguida deslanchou uma carga de cavalaria pesada, que foi decisiva para a vitória cristã.

Porém, o combate teve um momento angustiante, quando as tropas almoades conseguiram rodear e isolar o centro do exército castelhano.

Muitos então fugiram, mas não o capitão vascaíno Diego López II de Haro e seu filho, que aguentaram heroicamente na posição junto ao capitão castelhano Núñez de Lara e às Ordens Militares.

A resistência desse punhado de heróis encheu de brios a reis e cavaleiros cristãos, que se jogaram no auxílio deles com o resto de suas tropas.

Os reis avançaram numa carga irrefreável contra os flancos do exército mouro.

Por sua vez, com duzentos cavaleiros, o rei Sancho VII de Navarra atacou diretamente o acampamento do califa Al-Nasir.

O rei Sancho de Navarra quebrando a elite maometana  tirou dos infiéis a vontade de resistir
O rei Sancho de Navarra quebrando a elite maometana
tirou dos infiéis a vontade de resistir
E perfurou as últimas defesas islâmicas formadas pelos im-esebelen, tropa de elite árabe que se enterrava no chão ou se afixava com correntes ao local para mostrar que não fugiria.

O acampamento estava rodeado de correntes defensivas, que os navarros foram os primeiros em quebrar.

Crê-se que foi por esse feito que as correntes entraram simbolicamente no brasão do reino de Navarra.

A guarda pessoal do califa sucumbiu sem arredar, mas assim que percebeu a batalha perdida, o próprio An-Nasir procurou a salvação na fuga, passando pusilanimidade a seus seguidores.

Sabedor por experiências anteriores de que os derrotados se reorganizariam para novos embates, o rei Afonso ordenou que aos muçulmanos, que batiam em retirada desorganizada, fosse dado um trato inclemente.

A crônica chega a afirmar que foram mortos na escapada tantos muçulmanos quantos o foram durante a batalha.

A precipitada fuga de An-Nasir deixou um incalculável botim de guerra.

A peça mais preciosa é a bandeira, ou pendão de Las Navas, hoje conservado no Mosteiro de Santa Maria la Real de Las Huelgas, na cidade de Burgos.

Pendão islámico ganho na Batalha.
Mosteiro de Las Huelgas, Burgos
Muitos outros troféus da batalha se encontram hoje na igreja de São Miguel Arcanjo de Vilches.

Eles incluem a Cruz do Arcebispo D. Rodrigo, uma bandeira e uma lança dos fanáticos que custodiavam a Miramamolín, e a casula com que o senhor arcebispo oficiou missa no dia do colossal enfrentamento guerreiro para implorar a vitória das armas cristãs.

Os árabes da Península Ibérica nunca mais se recuperaram dessa derrota.

A partir daquele momento, o rei Afonso os manteve em situação de desvantagem permanente.

A batalha deu início à superioridade militar, econômica e política dos reinos católicos e demarcou definitivamente o início da decadência da civilização árabe na Península Ibérica.

A obra do rei Afonso foi completada brilhantemente pelo seu neto São Fernando III de Castela, que conquistou as grandes capitais árabes da Andaluzia.

Além disso, submeteu à vassalagem o emir de Granada, cidade onde ficou o último quisto muçulmano na Europa, até ser definitivamente expulso pelos Reis Católicos em 1492.



Vídeos: A batalha das Navas de Tolosa marcou o fim da hegemonía muçulmana na Península Ibérica (espanhol)






Fontes bibliográficas
1) “La batalla de las Navas de Tolosa : historia y mito”. María Dolores Rosado Llamas y Manuel Gabriel López Payer, Jaén: Caja Rural, 2001.
2) “Batallas decisivas de la Historia de España”. Juan Carlos Losada, Punto de Lectura, 2004.
3) Huici Miranda, Ambrosio: “Las grandes batallas de la reconquista durante las invasiones africanas”, 2000, Editorial Universidad de Granada.
4) Batista González, Juan: “España estratégica. Guerra y diplomacia en la historia de España” (cap. 4: De Covadonga a Las Navas de Tolosa), Madri, 2007.
5) Willian Weir, “50 Battles That Changed the World”, pp. 186 a 189.
6) “El Pais”, “La Batalla de las Navas de Tolosa: El día D de la Reconquista”, Madri, 16-7-2012.
7) Modesto La Fuente, “Historia General de España”, Tomo V, 1851, pp. 208 a 249.
8) Martín Alvira-Cabrer, “Las Navas de Tolosa, 1212. Idea, liturgia y memoria de la batalla”, Sílex, Madrid, 2012.
9) Philippe Conrad, “16 juillet 1212: Las Navas de Tolosa, un moment décisif”, La Nouvelle Revue d'Histoire, nº 61, julho-agosto 2012, p. 20-23.
10) Jean Watelet, “Les Batailles les plus sanglantes de l'histoire”, ed. Famot, 1977.
11) García Fitz, Francisco, “Las Navas de Tolosa”, Ariel, Barcelona 2005.
12) García Fitz, Francisco, “Was Las Navas a decisive battle?”, in: Journal of Medieval Iberian Studies (JMIS), vol. 4, no. 1, 5–9.
13) Nafziger, George F. e Mark W. Walton, “Islam at War: a history”, Greenwood Publishing Company, 2003.
14) O’Callaghan, Joseph F., “Reconquest and crusade in medieval Spain”, University of Pennsylvania Press, Philadelphia PA 2004.
15) Setton, Kenneth Meyer, “A History of the Crusades”, University of Wisconsin Press, 1975.
16) Vara Thorbeck, Carlos, “El lunes de las Navas”, Universidad de Jaén, 1999. “Las Navas de Tolosa: 1212, la batalla que decidió la Reconquista”, Edhasa, Barcelona 2012.
17) “Batalla de Las Navas de Tolosa”, Wikipedia, http://es.wikipedia.org/wiki/Batalla_de_Las_Navas_de_Tolosa.

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terça-feira, 16 de abril de 2024

A rainha Isabel, a Católica, faz Cruzada contra os mouros

Encenação cinematográfica do rei mouro Boabdil.
Encenação cinematográfica do rei mouro Boabdil.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs


continuação do post anterior: Isabel, a Católica, a rainha que empreendeu uma Cruzada


A cruzada contra os infiéis maometanos

Um dos maiores empenhos que Isabel teve em seu reinado foi mover a guerra santa contra o invasor muçulmano.

Para esse empreendimento, obteve do Papa as mesmas indulgências de Cruzada concedidas aos que iam lutar na Terra Santa, tendo o Sumo Pontífice lhe enviado uma cruz de prata para ir à frente de seus exércitos.

Nas várias campanhas que encetou, e sobretudo na reconquista de Granada, Isabel arrebatava seus soldados por sua energia sobre-humana, senso do dever e espírito sobrenatural.

Estes “criam que ela era uma santa. Como Santa Joana d’Arc, sempre lhes recomendava viver honestamente e falar bem. Não havia nem blasfêmias nem obscenidades no acampamento onde ela se achava, e viam-se curtidos soldados ajoelhar-se para rezar, enquanto se celebrava a missa ao ar livre por ordem da piedosa rainha”.(7)

A presença da soberana era para os guerreiros como uma garantia de vitória, pois lhes inspirava valor e confiança. Até os mouros admiravam a grande rainha, cantando sua bondade e beleza em suas canções, apesar de a temerem como inimiga.

Enquanto Fernando, um dos melhores guerreiros de sua época, comandava o exército, a rainha cuidava de toda a retaguarda, como recrutamento de reforços, envio de alimentos e munições, bem como projetava os hospitais — foi ela quem instituiu o primeiro hospital militar da História, e suas enfermeiras precederam as da Cruz Vermelha em mais de trezentos anos.

Cavalgava de um lugar a outro, indo mesmo aos acampamentos revestida de leve armadura de aço, para elevar o moral dos soldados. Mas essa rainha guerreira fazia questão de ela mesma costurar a roupa de seu marido, nunca usando o monarca outras senão as confeccionadas pelas hábeis mãos de Isabel ou de suas filhas.

Título glorioso de “Reis Católicos”

Um fato mostra a têmpera dessa rainha. No cerco de Granada, uma vela mal colocada ateou fogo na tenda ao lado da rainha, e desta propagou-se para todo o acampamento, que foi tomado pelas chamas. Os mouros, das muralhas, cantavam vitória.

O rei muçulmano Boabdil entrega as chaves de Granada à rainha e ao rei Fernando de Aragão, seu esposo. Francisco Pradilla y Ortiz (1848–1921).
O rei muçulmano Boabdil entrega as chaves de Granada à rainha e ao rei Fernando de Aragão, seu esposo.
Francisco Pradilla y Ortiz (1848–1921).
Mas a enérgica soberana, para mostrar sua determinação de conquistar a cidade, mandou edificar novo acampamento de pedra, surgindo assim uma verdadeira cidade à qual deu o nome de Santa Fé. Foi de lá que partiram as investidas contra Granada, obtendo-se sua capitulação.

O Papa Alexandre VI concedeu ao real casal, por seus serviços em prol da Cristandade, o título de Reis Católicos, em harmonia com o de Rei Cristianíssimo, concedido anteriormente ao monarca francês.

A política matrimonial que seguiram os Reis Católicos teve como intuito isolar a França, sua grande rival na época. Mas não tiveram felicidade com seus filhos.

A primogênita, também chamada Isabel, casou-se com o jovem príncipe português Afonso e, ao enviuvar precocemente, contraiu matrimônio com o seu herdeiro Dom Manuel, o Venturoso.

O príncipe João casar-se-ia com Margarida de Áustria, filha do Imperador Maximiliano I, mas morreria jovem. Joana, que entrará para a História como Joana a Louca, contraiu matrimônio com Felipe de Áustria, o Formoso, e tornou-se herdeira do trono que passou para seu filho, o futuro Carlos V.

Maria casa-se com seu cunhado, o viúvo Dom Manuel, e Catarina será a desafortunada esposa do lúbrico Henrique VIII, da Inglaterra.

“O bom governo dos soberanos católicos levou a prosperidade da Espanha ao seu apogeu e inaugurou a Idade de Ouro do país”.(8)

Três meses após a conquista de Granada, Isabel assinou uma ordem de expulsão dos judeus de seus territórios; e favoreceu a empresa de Cristóvão Colombo, que descobriria assim a América.

A morte de Isabel a Católica. Eduardo Rosales, Museu Nacional del Prado, Madri.
A morte de Isabel a Católica.
Eduardo Rosales, Museu Nacional del Prado, Madri.
A morte desta grande rainha foi muito lamentada pelos seus contemporâneos. Um deles deixou este depoimento:

“O mundo perdeu seu adorno mais nobre; uma perda que deve chorar não somente a Espanha, que ela já não levará mais no caminho da glória, mas todas as nações da Cristandade, porque ela era o espelho de todas as virtudes, o amparo do inocente e o sabre vingador do culpado.

“Não conheço ninguém de seu sexo, nos tempos antigos nem nos modernos, que, a meu juízo, possa equiparar-se com esta mulher incomparável”.(9)

Notas:
1. Luis Amador Sanchez, Isabel, a Católica, tradução de Mario Donato, Empresa Gráfica O Cruzeiro S. A., Rio de Janeiro, 1945, p. 55.
2. William Thomas Walsh, Isabel de España, tradução castelhana de Alberto de Mestas, Cultura Española, 1938, p. 49.
3. Ramón Ruiz Amado, DO, The Catholic Encyclopedia, Vol. VIII, transcrito por WGKofron, copyright © 1910 de Robert Appleton Company, online edition copyright © 1999 by Kevin Knight. 4. Id. ibid.
5. William Thomas Walsh, op.cit., p. 171.
6. (Site: www.artehistoria.com, Protagonistas de la História, Isabel la Católica.)
7. Walsh, op.cit., p. 160.
8. The Catholic Encyclopedia, online edition.
9. Carta de Pedro Mártir, um dos secretários da rainha, comunicando a morte de Isabel ao Arcebispo Talavera, in William Thomas Walsh, Isabel de España, p. 599.

(Fonte: Catolicismo, julho de 2004.



terça-feira, 2 de abril de 2024

Balduíno IV é enterrado ao pé do Gólgota, junto ao Santo Sepulcro

Raimundo de Tripoli nomeado regente. BNF Français 2824, fol. 162v
Raimundo de Tripoli nomeado regente.
BNF Français 2824, fol. 162v
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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continuação do post anterior: Quase cego e imobilizado, Balduíno IV volta a vencer Saladino e a inépcia dos vassalos


Os últimos meses do reinado de Balduíno IV quase viram estourar uma guerra civil sob o olhar inimigo.

Guy de Lusignan aproveitou-se de uma ausência de Balduíno para correr até Jerusalém, onde estava Sibila, e levá-la consigo antes do retorno do rei.

Refugiou-se com ela em seu feudo de Jaffa-Ascalon e recusou atender às ordens do rei, que lhe exigia comparecer na sua presença. Foi então luta aberta.

O rei marchou sobre Ascalon, cujas portas encontrou fechadas. Mas conseguiu tomar Jaffa. Em seguida reuniu um “parlamento” em São João de Acre, para acabar com o rebelde.

O patriarca Heráclio e o Grande Mestre do Templo tentaram interceder por ele.

Mas Guy tornava desmerecido o perdão também pelo fato de ser culpado por uma ação abominável.

Nas circunvizinhanças de Ascalon viviam beduínos nômades, tributários e ‘clientes’ do rei. Eles faziam pastar seus rebanhos com toda confiança quando, para causar dano ao soberano, Guy se jogou sobre eles e os massacrou.

A cólera de Balduíno IV diante desse ato de felonia foi terrível. Ele acabou então confiando todo o seu poder ao conde de Trípoli, inimigo de Lusignan (1185).

Já não havia mais tempo, os acontecimentos se precipitavam. O rei leproso deitou-se, para nunca mais se levantar.

Ele mandou chamar os grandes vassalos e, diante deles, renovou sua vontade de deixar a regência ao conde até a maioridade do jovem Balduíno V.

O príncipe heroico, cujo reinado não foi senão uma lenta agonia, entregou sua alma a Deus em 16 de março de 1185.

Considerando-se que ele tinha apenas 24 anos e tudo o que pôde realizar durante esses breves anos a despeito da lepra, de sua impotência e cegueira finais, fica-se tomado de respeito e de admiração.

Balduíno V de Jerusalém
Balduíno V de Jerusalém
Ele soube manter até seu último suspiro a autoridade monárquica e a integridade do reino, e soube morrer como rei.

As crônicas evocam a dramática cena em que, vendo aproximar-se seu fim, ele convocou diante de si todos os grandes do Reino.

“Antes de morrer, ele ordenou a todos seus vassalos para se apresentarem em Jerusalém. E vieram todos, e, quando ele partiu deste século, todos presenciaram sua morte”.

Da mesma maneira que os cronistas francos, os historiadores árabes se inclinaram diante de sua lembrança.

“Esse menino leproso soube fazer respeitar sua autoridade”, escreveu el-Imâd de Ispahan como que com uma saudação de espada.

Estoica e dolorida figura, talvez a mais nobre da história das Cruzadas, cujo heroísmo tocava na santidade. Nem as pústulas nem as crostas que a cobriam foram capazes de dobrá-la; efígie pura de rei francês que eu gostaria colocar ao lado de um São Luís IX.

Liberado de seu longo martírio, o rei leproso foi sepultado junto do Gólgota e do Santo Sepulcro, onde morreu e repousou o Homem das Dores por excelência – Deus.


(Autor: René Grousset, de l’Académie française, “L’épopée des Croisades”, Perrin, Paris, 2002, 321 páginas, pp 171 e ss. Excertos).

FIM DA SÉRIE



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