Toda a verdade sobre o islamismo

São Gregório VII, busto de ouro e prata na catedral de Salerno
São Gregório VII, busto de ouro e prata na catedral de Salerno
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Papas, santos e doutores

da Igreja Católica

mostram o que é

o Islã,

Maomé e o Corão



São Tomás de Aquino:
no islamismo acreditaram homens animalizados,
ignorantes da doutrina divina,
que obrigaram os outros pela violência das armas


São Tomás de Aquino, apoiado em Platão e Aristotes, esmaga Averroes, 'sábio' maometano
São Tomás de Aquino, apoiado em Platão e Aristóteles,
esmaga Averroes, 'sábio' maometano
O que achar do islamismo e de seus prosélitos? Como interpretar os crimes que estão praticando contra os cristãos, sua adesão ao Corão (Livro) de Maomé, e as tentativas de diálogo e ecumenismo com eles?

São Tomás nos ensina com a concisão e a sabedoria do maior mestre e Doutor da doutrina e do método de pensamento da Igreja Católica:
“Tão maravilhosa conversão do mundo para a fé cristã é de tal modo certíssimo indício dos sinais havidos no passado, que eles não precisaram ser reiterados no futuro, visto que os seus efeitos os evidenciavam.

“Seria realmente o maior dos sinais miraculosos se o mundo tivesse sido induzido, sem aqueles maravilhosos sinais, por homens rudes e vulgares, a crer em verdades tão elevadas, a realizar coisas tão difíceis e a desprezar bens tão valiosos.

“Mas ainda: em nossos dias Deus, por meio dos seus santos, não cessa de operar milagres para confirmação da fé.

“No entanto, os iniciadores de seitas errôneas seguiram caminho oposto, como se tornou patente em Maomé (o fundador do Islã):

Militantes do ISIL no Iraque
Militantes do ISIL no Iraque
“a) Ele (Maomé) seduziu os povos com promessas referentes aos desejos carnais, excitados que são pela concupiscência.

“b) Formulou também preceitos conformes àquelas promessas, relaxando, desse modo, as rédeas que seguram os desejos da carne.

“c) Além disso, não apresentou testemunhos da verdade, senão aqueles que facilmente podem ser conhecidos pela razão natural de qualquer medíocre ilustrado. Além disso, introduziu, em verdades que tinha ensinado, fábulas e doutrinas falsas.

“d) Também não apresentou sinais sobrenaturais. Ora, só mediante estes há conveniente testemunho da inspiração divina, enquanto uma ação visível, que não pode ser senão divina, mostra que o mestre da verdade está inspirado de modo invisível.

“Mas Maomé manifestou ter sido enviado pelo poder das armas, que também são sinais dos ladrões e dos tiranos.

“e) Ademais, desde o início, homens sábios, versados em coisas divinas e humanas, nele não acreditaram.

Chefe do Boko Haram e sequazes na Nigéria
Chefe do Boko Haram e sequazes na Nigéria
Nele, porém, acreditaram homens que, animalizados no deserto, eram totalmente ignorantes da doutrina divina. No entanto, foi a multidão de tais homens que obrigou os outros a obedecerem, pela violência das armas, a uma lei.

“f) Finalmente, nenhum dos oráculos dos profetas que o antecederam dele deu testemunho, visto que ele deturpou com fabulosas narrativas quase todos os fatos do Antigo e do Novo Testamento.

“Tudo isso pode ser verificado ao se estudar a sua lei. Já também por isso, e de caso sagazmente pensado, não deixou para leitura de seus seguidores os livros do Antigo Testamento, para que não o acusassem de impostura.

“g) Fica assim comprovado que os que lhe dão fé à palavra creem levianamente”.

(Autor: São Tomás de Aquino. Suma contra los Gentiles. Livro I, Capítulo VI, Club de Lectores, Buenos Aies, 1951, 321. p.76 e ss.).



São João Bosco:
Quem foi Maomé?


São João Bosco é um dos maiores formadores de gerações inteiras de católicos
São João Bosco é um dos maiores formadores
de gerações inteiras de católicos
Em sua renomeada obra “História Eclesiástica”, don Bosco nos ensina quem foi Maomé, fundador do islamismo e como fez para espalhar suas crenças, conseguir adeptos e atacar a Terra Santa, a Cristandade e a todos os que não pensavam como ele.

Com linguagem didática, o santo educador nos expõe brevemente toda a verdade básica sobre o Islã.

Maomé e sua religião


Nasceu este famoso impostor em Meca, cidade da Arábia, de família pobre, de pai gentio e mãe judia.

Errando em busca de fortuna, encontrou-se com uma viúva negociante em Damasco, que o nomeou seu procurador e mais tarde casou-se com ele.

Como era epilético, soube aproveitar-se desta enfermidade para provar a religião que tinha inventado e afirmava que suas quedas eram outros tantos êxtases, durante os quais falava com o arcanjo Gabriel.

A religião que pregava era uma mistura de paganismo, judaísmo e cristianismo. Ainda que admita um só Deus, não reconhece a Jesus Cristo como filho de Deus, mas como seu profeta.

Como dissesse com jactância que era superior ao divino Salvador, instavam com ele para que fizesse milagres como Jesus fazia; porém ele respondia que não tinha sido suscitado por Deus para fazer milagres, mas para restabelecer a verdadeira religião mediante a força.

Não existem imagens fidedignas de Maomé. Na foto, ilustração de um manuscrito otomano do século XVII.
Não existem imagens fidedignas de Maomé.
Na foto, ilustração de um manuscrito otomano do século XVII.
Ditou suas crenças em árabe e com elas compilou um livro que chamou Alcorão, isto é, livro por excelência; narrou nele o seguinte milagre, ridículo em sumo grau.

Disse que tendo caído um pedaço da lua em sua manga, ele soube fazê-la voltar a seu lugar; por isso os maometanos tomaram por insígnia a meia lua.

Sendo conhecido por homem perturbador, seus concidadãos trataram de dar-lhe morte; sabendo disto o astuto Maomé fugiu e retirou-se para Medina com muitos aventureiros que o ajudaram a apoderar-se da cidade.

Esta fuga de Maomé se chamou Egira, isto é, perseguição; e desde então começou a era muçulmana, correspondente ao ano 622 de nossa era.

O Alcorão está cheio de contradições, repetições e absurdos. Não sabendo Maomé escrever, ajudaram-no em sua obra um judeu e um monge apóstata da Pérsia chamado Sérgio.

Como o maometismo favorecesse a libertinagem teve prontamente muitos sequazes; e como pouco depois se visse seu autor à frente de um formidável exército de bandidos, pode com suas palavras e ainda mais com suas armas introduzi-lo em quase todo o Oriente.

Maomé depois de ter reinado nove anos tiranicamente, morreu na cidade de Medina no ano 632.

(Fonte: São João Bosco, “Storia Ecclesiastica ad uso della gioventù utile ad ogni grado di persone”, 4ª ed. melhorada, Turim, Tipografia do Oratorio de San Francesco de Sales, 1871).



São João Bosco:
O que ensinam o islamismo, Maomé e o Corão?


Maomé no inferno (acima na direita). Giovanni di Pietro Falloppi, ou da Modena (1379 – 1455), Cappella Bolognini.
Maomé no inferno (acima na direita). Giovanni di Pietro Falloppi,
ou da Modena (1379 – 1455), Cappella Bolognini, Bolonha, Itália.
São João Bosco, mestre da juventude, é famoso também por ser autor de numerosos livros de ilibada formação religiosa católica.

Entre esses está o livro “O católico educado em sua religião: Colóquios de um pai de família com seus filhos segundo as necessidades do tempo, com epílogo do Sacerdote João Bosco”.

Esse livro foi publicado por vez primeira em 1853 e teve incontáveis edições, sendo usado pelos sacerdotes da egrégia congregação salesiana na sua labor evangelizadora e educadora em todos os continentes.

Também foi muito usado pelos pais de família católicos que desejam dar uma boa formação aos filhos.

O texto completo, em italiano, tirado das obras completas do grande santo, pode ser descarregado em PDF clicando aqui: "O católico instruido em sua religião" ("Il cattolico istruito nella sua religione".

O livro está redigido em forma de diálogos entre um pai de família preocupado com a salvação da alma dos filhos, e o filho mais velho, que fala em nome de todos os outros irmãos.

Reproduzimos a continuação o diálogo nº13 sobre o Islamismo, ou maometanismo.



Diálogo XIII. O Maometanismo.


Pai – Sem dúvida, não há ciência mais importante para um católico do que aquela que o instrui na sua religião. Ciência importante e, ao mesmo tempo, muitíssimo consoladora, porque tem uma base tão certa e tão clara, que todos os seus relatos nos fazem reconhecer o concurso da Onipotência divina.

Esta religião de Jesus Cristo, que se conserva somente na Igreja Católica Romana, segundo as palavras do mesmo Salvador, vai ser perseguida de alguma forma, mas jamais vencida.

Em todos os tempos, em meio às perseguições mais sangrentas, Ela soube conservar-se qual imóvel coluna, sempre gloriosa, sempre visível, sempre vitoriosa, sem nunca utilizar outra arma senão a da caridade e da paciência.

Esta sua invariabilidade, conservada desde os tempos de Jesus Cristo até nós, não pode ser atribuída senão à Onipotência divina.

São João Bosco, mestre da mocidade católica.
São João Bosco, mestre da mocidade católica.
Estabelecidos assim os fundamentos da nossa Santa Religião Católica, quero entretê-los um pouco mais sobre alguns acontecimentos curiosos: refiro-me àquelas religiões que eram unidas à Igreja Católica e que depois de algum tempo se separaram.

Filho – Muito bem, muito bem. Desejo saber sobre isso há longo tempo. Quais são essas religiões que se separaram a certa altura da Igreja Católica?

Pai – Antes de lhe falar sobre as religiões que se separaram em certo momento da Igreja Católica Romana, quero fazer-lhe notar as religiões que não têm os caracteres da divindade, as quais nós chamamos de falsas religiões, que podem ser reduzidas ao judaísmo, à idolatria, ao maometanismo e às seitas cristãs professadas pelos gregos cismáticos, valdenses, anglicanos e protestantes.

Sobre a idolatria creio que não é o caso de falar, porque em nossos dias, com exceção de pouquíssimos países nos quais ainda não pôde penetrar a luz do Evangelho, ela não existe mais.

Sobre o judaísmo parece-me que já lhe falei suficientemente na primeira parte destes nossos colóquios. Se lhe aprouver, falarei das outras, começando pelo maometanismo.

Filho – Sim, sim, comece por dizer o que se entende por maometanismo.

Pai – Por maometanismo se entende uma coleção de máximas extraídas de várias religiões, que praticadas conduziram à destruição de todos os princípios da moralidade.

Filho – Como se iniciou o maometanismo?

Pai – O maometanismo iniciou-se com Maomé.

Filho – Oh! Daquele Maomé de quem sentíamos ouvir falar com muito comprazimento: diga tudo o que sabe sobre ele.

Pai – Seria muito longo referir tudo o que as histórias contam sobre este famoso impostor: procurarei apenas fazer conhecer quem foi ele e como fundou a sua religião.

Maomé nasceu em uma família pobre, de pai pagão e mãe judia, no ano de 570, em Meca, cidade da Arábia pouco distante do Mar Vermelho.

Ávido de glória e ansioso por melhorar sua condição, vagou por diversos países e conseguiu tornar-se agente de uma mercadora de Damasco, que mais tarde o desposou.

Ele era tão astuto, que soube aproveitar-se de sua doença e de sua ignorância para fundar uma religião.

Sofrendo de epilepsia, afirmava que aquelas suas frequentes quedas eram raptos durante seus colóquios com o Anjo Gabriel.

Maomé propagou a sua religião pela força das armas, e  favorecendo toda libertinagem, foi chefe de um formidável bando de salteadores.
Maomé propagou a sua religião pela força das armas, e
favorecendo toda sorte de libertinagem,
foi chefe de um formidável bando de salteadores.

Filho – Que impostor, enganar as pessoas dessa maneira! Ele também vai tentar fazer milagres que confirmem a sua pregação?

Pai – Maomé não poderia fazer nenhum milagre para confirmar a sua religião, porque ele não era enviado por Deus. Só Deus é autor dos milagres.

Como, no entanto, ele se julgava superior a Jesus Cristo, imediatamente lhe perguntaram se também não poderia fazer milagres. Ele respondeu com orgulho que já os tinha feito.

Contudo, gabava-se de ter operado um, e dizia que, tendo caído um pedaço da lua em sua manga, ele tinha sabido colá-la de novo; em memória desse milagre ridículo os maometanos tomaram como símbolo a meia-lua.

Vocês riem, ó meus filhos, e com razão, porque um homem assim devia antes ser considerado um charlatão, e não o pregador de uma nova religião.

Precisamente por isso se espalhou a fama de que ele era um impostor, um perturbador da tranquilidade pública, e seus compatriotas queriam prendê-lo e condená-lo à morte.

Após isso ele fugiu, retirando-se na cidade de Medina com alguns libertinos que o ajudaram a tornar-se mestre.

Filho – No que consiste propriamente a religião de Maomé?

Pai – A religião de Maomé consiste numa monstruosa mistura de judaísmo, paganismo e cristianismo.

O livro da lei muçulmana é chamado Alcorão [o Corão], ou seja, libro por excelência.

Essa religião é também chamada de turca, porque é muito difundida na Turquia; ou muçulmana de Musul, nome que os maometanos dão ao dirigente da oração; ou islamismo, nome tomado de alguns de seus reformadores; mas é sempre a mesma religião fundada por Maomé.

Filho – Por que Maomé fez essa mistura de várias?

Pai – Como os povos da Arábia eram constituídos uma parte por judeus, outra parte por cristãos, e os outros pagãos, para induzir todos a segui-lo, ele tomou uma parte da religião professada por eles e deu preferência especialmente àqueles pontos que podem incentivar mais os prazeres sensuais.

Maomé envolvido em chamas liderando as orações de Abraão, Moisés, Jesus e outros. Iluminura persa. Ele se achava superior até de Jesus Cristo e de todos os profetas.
Maomé envolvido em chamas liderando as orações de Abraão, Moisés, Jesus e outros.
Iluminura persa. Ele se achava superior até de Jesus Cristo e de todos os profetas.
Filho – É verdade que Maomé fosse um homem douto?

Pai – De fato não, ele nem sequer sabia escrever; e para compor o seu Alcorão, foi ajudado por um judeu e por um monge apóstata.

Falando de coisas contidas na História Sagrada, ele confunde um fato com o outro; por exemplo, atribuiu a Maria, irmã de Moisés, mais fatos que os relativos a Maria, mãe de Jesus Cristo, com muitíssimos outros absurdos.

Filho – Isto me deixa curioso: se Maomé era ignorante e não fez nenhum milagre, como poderia propagar a sua religião?

Pai – Maomé propagou a sua religião não com milagres ou com a persuasão das palavras, mas pela força das armas.

Religião que, favorecendo toda sorte de libertinagem, em curto espaço de tempo tornou Maomé chefe de um formidável bando de salteadores.

Juntamente com esses ele percorria os países do Oriente, ganhando os povos não com a pregação da verdade, com milagres ou profecias, mas com o único argumento de erguer a espada sobre a cabeça dos vencidos, gritando: acreditar ou morrer.

Filho – Canalha, esses são argumentos a serem usados para converter as pessoas? Sem dúvida, sendo Maomé tão ignorante, terá disseminado muitos erros no Alcorão.

Pai – Pode-se dizer que o Alcorão é uma série de erros os mais gritantes contra a moral e o culto do verdadeiro Deus.

Por exemplo, escusa de pecado aquele que nega a Deus por temor da morte; permite a vingança; assegura aos seus sequazes um paraíso, mas cheio apenas de prazeres mundanos.

Em suma, a doutrina desse falso profeta permite coisas tão obscenas, que a alma cristã tem horror de nomear.

Maomé no inferno com as vísceras abertas. Ilustração de Gustave Doré (1832 – 1883) para a Divina Commedia de Dante Alighieri.
Maomé no inferno com as vísceras abertas.
Ilustração de Gustave Doré (1832 – 1883) para
a Divina Commedia de Dante Alighieri.
Filho – Que diferença existe entre a Igreja cristã e a muçulmana?

Pai – A diferença é enorme.

Maomé fundou a sua religião com a violência e com as armas: Jesus Cristo fundou a sua Igreja com palavras de paz, servindo-se de seus discípulos pobres.

Maomé fomentava as paixões, Jesus Cristo ordenava a negação de si mesmo.

Maomé não fez milagre algum, Jesus Cristo operou um número incontável à luz do dia e na presença de multidões inumeráveis.

As doutrinas de Maomé são ridículas, imorais e corruptoras; as de Jesus Cristo são augustas, sublimes e puríssimas.

Em Maomé não se cumpriu profecia alguma; em Jesus Cristo todas.

Em suma, a Religião Cristã, de alguma maneira torna feliz o homem neste mundo para conduzi-lo depois ao gozo do Céu; Maomé degrada e avilta a natureza humana,

E, fazendo consistir a felicidade em apenas os prazeres sensuais, rebaixa o homem ao nível do animais imundos.




Santo Afonso Maria de Ligório:
O islamismo não pode ser verdadeiro


Santo Afonso Maria de Ligório
Santo Afonso Maria de Ligório
O que diz o Corão? O que ensinou Maomé? O que é o islamismo? No que é que os muçulmanos acreditam?

O grande Doutor e moralista da Igreja Santo Afonso Maria de Ligório responde a todas essas perguntas no esclarecedor texto que reproduzimos a continuação:

1. Vejamos em primeiro lugar as qualidades de Maomé, que estabeleceu essa religião, pois elas dizem melhor [sobre] essa seita infame que mandou muitas almas para o inferno.

Ele possuía alguns dons naturais: belo aspecto, inteligência penetrante, cortês no trato, liberal e grato pelos benefícios recebidos.

Mas em contrapartida foi dominado pelo vício da luxúria, que o levou a ter 15 mulheres e mais de 24 concubinas, fingindo contar para isso com a permissão de Deus, pois aos outros ele autorizava ter apenas quatro mulheres; e em seguida, no seu Corão, o grosso da felicidade eterna repousa na imundície da carne.

Ele foi também dominado pelo orgulho, que o fez se tornar por vezes cruel.

Basta dizer que, uma vez identificados os que lhe tinham roubado alguns camelos, ele lhes fez cortar as mãos e os pés, bem como arrancar-lhes os olhos com um ferro quente, deixando-os depois assim até que expirassem.

2. Vejamos agora o que é o Corão de Maomé, e que dogmas e preceitos nele se ensinam.

Corão significa lição, ou seja, livro de lição. Os títulos do livro variam de acordo com suas diversas edições.

Ele se divide em Suratas (capítulos), ou sieno Azoare 114, e as Suratas se dividem em Ayat (versículos), ou seja, de extensões diferentes, que contêm atributos de Deus e preceitos ou julgamentos de coisas maravilhosas, e esses sinais terminam com ritmo correspondente ao verso anterior.

O Corão está escrito em pura língua árabe e com elegância de palavras, afetando uma maneira profética.

Há julgamentos, histórias e exortações.

Aos julgamentos pertencem as leis, assim como para as coisas sacras, as preces, as peregrinações e os jejuns, como para as coisas políticas, os tribunais, os casamentos e a herança.

Às histórias pertencem muitas narrativas, uma parte tomada dos livros sagrados, mas de modo errado, e a outra parte falsa, ou mesmo feita de livros apócrifos, especialmente do Talmud dos judeus.

As exortações se referem em seguida a um convite para a nova religião, à guerra em sua defesa, às orações e às esmolas, ameaçando os transgressores com as penas do inferno e prometendo aos observantes as delícias do paraíso.

Às vezes, ele finge ser Deus, ou o anjo que fala; às vezes, fala também o próprio Maomé, ou aos de Meca, ou aos judeus, ou aos cristãos.

Outras vezes falam os beatos do paraíso abençoado, ou então os condenados do inferno: o Corão é assim uma espécie de drama, no qual são vários os que falam.

3. Os muçulmanos dizem que o Corão não foi composto por Maomé ou por outras pessoas, mas somente por Deus, e por Deus foi dado a Maomé.

Também quanto ao modo e ao tempo, dizem mil ninharias.

Outros dizem que o Corão é eterno, sempre presente ao trono de Deus sobre determinada mesa, onde estavam escritas todas as coisas passadas, presentes e futuras.

Outros dizem que em certa noite do mês Ramadã, no qual eles supõem que Deus dispõe todas as coisas, esse livro desceu do trono divino.

Outros dizem que o Arcanjo Gabriel revelou a Maomé tudo quanto está escrito no Corão. Outros dizem que Maomé recebia de vez em quando alguns versos, que ele fazia guardar em uma caixa; outros dizem outras bobagens.

De resto, nos exemplares que temos hoje do Corão, há muitas lições diferentes que variam de julgamento.

Nossos escritores dizem que o Corão foi composto por Maomé, ou sozinho, ou com a ajuda de certo monge Sergio, ou de outros.

Quem quiser entender mais coisas sobre a escrita do Corão, ler Marraccio na Introdução ao Corão (Part. 4. c. 27).

4. Falando da teologia do Corão, conviria saber que esse livro está repleto de uma mistura confusa de contos de fadas, preceitos e dogmas, todos ineptos, fora aqueles que são tomados da lei judaica e cristã.

Maomé reconhecia como divina tanto a missão de Moisés quanto a de Jesus Cristo, como também reconhecia como legítima a autoridade de nossas escrituras sagradas, pelo menos na sua maior parte, dizendo que as outras eram corruptas.

Também, com a sua pretensa religião (que afirmava ser a mesma de Moisés e Jesus Cristo), ele pretendia reformar e melhorar tanto a religião judaica quanto a cristã.

Mas, na verdade, ele não fez senão formar uma seita que discrepava de uma e de outra.

Maomé acreditava ser um Deus, e na Surata 4 vers. 17 ele mostra que de fato acreditava na Trindade das pessoas na natureza divina: Neque dicant tres (Deos), Deus enim unus est.

Ele acreditava ser de fé existirem anjos, mas dizia que eles têm um corpo, e também que são de sexo diferente; Surata 2 e 7.

Ele dizia ainda que foram destinados dois anjos da guarda para cada homem, e que estes se transformam a cada dia.

Dizia ademais que há anjos e demônios de diferentes espécies, chamados de gênios, que comem e bebem, e que também se propagam e morrem, e que estão sujeitos à futura salvação e danação.

Santo Afonso Maria de Ligório
Santo Afonso Maria de Ligório
5. Há também no Corão muitas coisas indignas de Deus.

Nele se diz (como ainda blasfemam os judeus talmudistas) que Deus foi forçado a dizer uma mentira, para fazer a paz entre Sara e Abraão.

Nele se deduz que Deus jura pelos ventos, pelos anjos, e também pelos demônios; quando Deus só pode jurar por Si mesmo, e não pelas criaturas.

Ademais, na Surata 43 se deduz que Deus ora por Maomé: Cum Deus et angeli propter prophetam exorent.

Na Surata 56, Maomé diz que Deus lhe permitiu violar um juramento.

E na Surata 43, que lhe permitiu poder unir-se com qualquer mulher, mesmo casada e consanguínea.

Então ele fala muitas mentiras.

Na Surata 17, ele escreve que Deus ordenou aos anjos que adorassem Adão, e que todos lhe obedeceram, exceto Belzebu. Ele diz na Surata 13 que Maria, mãe de Jesus, é adorada por nós como Deus.

Na Surata 27, ele diz que foi raptado por Deus ao céu para ser ensinado nos mistérios. Na Surata 25, diz que Deus criou o demônio como um fogo pestilento.

6. Há também no Corão milhares de contradições.

Na Surata 11, ele chama Jesus Cristo de espírito de Deus e seu enviado: Jesus filho de Maria foi seu enviado e seu espírito; e depois nega ser Deus e diz que não foi crucificado, mas que no seu lugar foi crucificado um parecido com ele.

Na própria Surata 11 se diz que ninguém, seja judeu ou cristão, ainda que abandone uma lei por outra, se adorar a Deus e fizer o bem, será amado por Deus e se salvará.

Depois na Surata 3 está dito que os maometanos se condenam se deixarem a sua lei.

Na Surata 20 se diz que nenhum deles obriga à fé,.,

Mas na Surata 9 se diz que os infiéis devem ser mortos.

Na Surata 2 se afirma que qualquer um pode salvar-se na sua religião, seja judeu, cristão ou sabaita:

“62.Os fiéis, os judeus, os cristãos, e os sabeus, enfim todos os que crêem em Deus, no Dia do Juízo Final, e praticam o bem, receberão a sua recompensa do seu Senhor e não serão presas do temor, nem se atribuirão”.

E depois na Surata 3 diz o contrário: “178.Que os incrédulos não pensem que os toleramos, para o seu bem; ao contrário, toleramo-los para que suas faltas sejam aumentadas. Eles terão um castigo afrontoso”.

Os muçulmanos confessam essas contradições, mas dizem que é o próprio Deus que mudou de ideia.

7. Os muçulmanos dizem ademais que, após a morte, no túmulo de duas pessoas, Moncker e Hakir, deverão ser ponderadas as obras de cada um em dois pratos de balança, que igualam a superfície do céu e da terra.

Eles também dizem que há a ponte Sorat, a partir da qual os pecadores cairão no inferno, onde os infiéis ficarão para sempre.

Mas aqueles que acreditam em um Deus, ficarão por algum tempo, não mais de mil anos, e em seguida irão para a casa da paz; mas antes de entrar nessa casa beberão água da piscina de Maomé, porque os maometanos raspam a cabeça e deixam ali uma mecha de cabelo, esperando que Maomé poderá salvá-los assim do inferno.

Eles esperam que pelo menos no dia do juízo Maomé vai salvar todos os seus seguidores com sua oração.

O paraíso que o Corão promete é um paraíso do qual se envergonhariam até mesmo os animais: é um paraíso onde não há outros prazeres que os sensuais.

Ele diz que existem dois jardins ornados com árvores, fontes e maçãs e mulheres, e que cada um terá no céu tantas mulheres quanto tiver tido nesta terra, e que as outras serão concubinas.

Eis como ele escreve na Surata 86 e 88: Ubi dulcissimas Aquas, pomaque multimoda, fructus varios et decentissimas mulieres, omneque bonum in aeternum possidebunt. Surata 78: “31.Por outra, os tementes obterão a recompensa, 32.Jardins e videiras, 33.E donzelas, da mesma idade, por companheiras, 34.E taças transbordantes”.

O maometano Avicena, envergonhando-se de tal promessa para a vida eterna, diz que Maomé tinha falado isso alegoricamente; mas o Corão em nenhum lugar admite essa explicação sonhada por Avicena.

Também quanto aos preceitos naturais, o Corão ensina principalmente a lei da natureza, mas não desculpa aqueles que o ofendem por causa do temor.

Admite (como já mencionado) ter muitas mulheres, até quatro, desde que possa manter a paz com todas, do contrário ordena que se tome pelo menos uma, e permite o repúdio duas vezes.

Também proíbe discutir sobre o Corão e a escritura sagrada; e na Surata 22 e 29 afirma tratar-se de preceito divino. Além disso, tal preceito foi dado com muita astúcia por esse impostor, uma vez que toda a força de sua lei está na ignorância.

Existem também outras leis positivas de purificação, orações e esmolas: além do jejum no mês do Surata e a peregrinação a Meca.

Um bom autor narra que Maomé colocava grãos dentro de sua orelha, e então uma pomba que havia sido habituada vinha bicá-los, a fim de fazer crer aos outros que ele por tal meio era inspirado por Deus sobre as coisas que ensinava.

E em confirmação disso, dois maronitas próximos de Bayle disseram que na Meca havia algumas pombas, que são respeitadas pelos turcos como sagradas, acreditando estes que elas descendem daquela que falava a Maomé.

8. Portanto, não pode ser verdadeira a religião dos gentios, nem a dos judeus, nem a dos maometanos, pois a cristã é a única verdadeira.

Mas porque na religião cristã existem várias igrejas que discordam da Igreja Católica Romana, vejamos por fim qual entre todas é a Igreja verdadeira e, em consequência, a verdadeira religião.


(Autor: Santo Afonso Maria de Ligório, “Non può esser vera la religione maometana”, Ed. Amicizie Cristiane, ISBN-978-88-89757-52-9, Pag. 48, apud Islam e Maometto).




São Francisco Xavier:
peste grosseira e escravizadora que vive na ignorância de seus dogmas


São Francisco Xavier, igreja do Gesù, Roma
São Francisco Xavier, igreja do Gesù, Roma







Excerto de carta de São Francisco Xavier SJ, aos padres e irmãos da Companhia de Jesus em Roma.

 Ela foi escrita em Amboine (também Amboina ou Ambon), nas Ilhas Molucas, no dia 10 de maio de 1576.

A Carta é a nº 58 do epistolário do apóstolo da Índia, Japão e China.

As Ilhas Molucas hoje fazem parte da Indonésia.



9. Sobre as Molucas, é um arquipélago considerável, quer dizer, um país constituído por um número infinito de pequenas ilhas; mas não é certo que elas não se liguem ao continene por algum lado.

Todas essas ilhas são muito povoadas. Seria fácil reuni-las sob o império da Cruz, se houvesse misionários e se nossa Sociedade pudesse instalar uma casa.

É por isso que eu consagraria todos meus esforços para obter uma fundação nesta extremidade do mundo; eu vejo desde já a perspectiva da expansão de suas conquistas.

10. Em Amboine, de onde vos escrevo, os pagãos são bem mais numerosos que os maometanos e têm horror deles, porque os obrigam a usar o turbante, ou os reduzem à escravidão.

Pois a maioria dos idólatras sente um horror igual pelo nome de Maomé e da escravidão; e se tivessem missionários, eles entrariam sem esforço no rebanho de Jesus Cristo, cuja doutrina lhes causa infinitamente menos repugnância que a do pretenso profeta. . .

Relicário com um dos braços de São Francisco Xavier, igreja do Gesù, Roma
Relicário com um dos braços de São Francisco Xavier,
igreja do Gesù, Roma.
Há setenta anos que essa peste maometana veio infeccionar esta ilha; antes, todo o país era pagão. É de Meca, cidade da Arábia onde se conserva a execrável carcaça de Maomé, que saíram esses cádis ou sacerdotes muçulmanos, que vieram aportar nestas regiões sua infame doutrina e perverter a multidão.

Esses sarracenos, conquistadores sobre as ruínas da idolatria, são grosseiros, vivem numa ignorância completa dos dogmas do islamismo, do qual só fazem uma profissão exterior; é com base na própria ignorância deles que eu deposito minhas esperanças de atraí-los ao rebanho da Igreja.

11. Das demais coisas, eu vos daria maiores detalhes, para que, participando de minha preocupação, vós concebais, do mesmo modo que eu, toda a tristeza que dá a um cristão a perda diária de tantas almas.

Ah! que aqueles que aspiram a vir em nosso socorro não hesitem e não duvidem, ainda que não sejam profundamente versados nas belas letras e nas belas artes!

Eles saberão que já estão suficientemente penetrados delas vindo aqui pela causa de Jesus Cristo, pois só terão que tratar com homens pouco instruídos, para os quais é inútil fazer uma demonstração de ciência e espírito.

Se cada ano este país visse chegar somente doze homens, o islamismo seria destruído dos pés à cabeça, e a Cruz reinaria nestas regiões; crimes abomináveis dos quais a ignorância é a única causa não sujariam mais esta nação; não se veria mais entre os habitantes desta ilha crueldades, barbáries, perfídias de arrepiar. (…)

(Apud “Cartas de S. Francisco Xavier, Apóstolo das Índias e do Japão, traduzidas da edição latina de Bolonha de 1795” par A.M.F***, Editor T. I, Paris-Lyon, 1828, Carta LVIII, p. 234 e ss.)







São João Damasceno: Doutor da Igreja explica erros do Islã


São João Damasceno, Padre e Doutor da Igreja (676 -749)
São João Damasceno, Padre e Doutor da Igreja (676 -749)
São João Damasceno (675 – 749) como seu nome indica nasceu em Damasco, capital da Síria, ocupada havia não muitos anos pelo invasor islâmico.

Paradoxalmente, foi filho de um importante ministro católico do Califa, e neto de um ministro do imperador cristão de Bizâncio. Ele próprio, iniciou sua carreira na Corte do supremo chefe islâmico.

Na época, muitos acreditavam que o Islã era mais uma das muitas heresias e cismas que devoravam o Oriente cristão.

No convívio quotidiano, São João Damasceno percebeu que o Islã era uma outra religião que visava o extermínio do cristianismo.

Retirou-se como monge a Jerusalém e desde ali empreendeu douta e destemida pregação, com homilias e escritos. Ele abriu os olhos dos católicos para os erros e os enganos da religião de Maomé, além de muitas outras grandes heresias da época, especialmente a dos iconoclastas.

São João Damasceno é Doutor da Igreja e sua festa comemorada em 27 de março foi transferida em 1969 para o 4 de dezembro, dia de sua morte.

Poucos doutores estão mais habilitados em ciência e em experiência do que ele para falar sobre o Islã. Ouçamos o que ele nos ensina:


1. Há entre os ismaelitas [árabes] uma superstição enganosa sempre ativa, que serve de precursora do Anticristo.

Ela tem sua origem em Ismael, nascido de Abraão e Agar. É por isso que eles são chamados agarenos ou ismaelitas.

Também os chamam de sarracenos, porque, ao que parece, foram devolvidos sem nada por Sara. Pois Agar disse ao anjo: “Sara mandou-me embora sem nada”.

[N.T.: Realmente significa “povo do deserto” em grego. Este termo não tem nada a ver com o nome Sara. Ele deu “sarrasins” em francês.]

Os sarracenos eram idólatras e adoravam a estrela da manhã, como também a Afrodite.

Este nome na língua deles significa Majestoso (Habar), razão pela qual até o tempo de Heráclio eles eram certamente idólatras.

2. A partir dessa época, surgiu no meio deles um falso profeta; chamava-se Maomé.

Ele ouviu algumas vezes o Antigo e o Novo Testamento, e acredita-se que em seguida encontrou um monge ariano. Finalmente, acabou criando sua própria heresia.

Depois, desgostoso, fez crer ao povo que era um “temente a Deus”, e mandou espalhar o boato de que um livro santo [o Alcorão] lhe fora trazido do céu.

Ele começou a escrever em seu livro sentenças das quais só se pode rir, e deu-as a seus seguidores para que as obedeçam.

Maomé no inferno (acima na direita). Giovanni di Pietro Falloppi, ou da Modena (1379 – 1455), Cappella Bolognini.
Maomé no inferno (acima na direita).
Giovanni di Pietro Falloppi, ou da Modena (1379 – 1455), Cappella Bolognini.
Ele dizia que só existia um Deus único, criador de todas as coisas, que não engendrou nem foi engendrado.

Dizia que Cristo era a Palavra de Deus e seu Espírito, que ele foi criado e é um servo, que nasceu da estirpe de Maria, irmã de Moisés e de Arão.

Porque, diz ele, a Palavra de Deus e o espírito entraram em Maria, e ela deu à luz Jesus, que foi um profeta e servo de Deus.

Ele afirma que os judeus, tendo violado a lei, queriam crucificá-lo, e após prendê-lo, crucificaram sua sombra, mas o verdadeiro Cristo, dizem eles, não foi crucificado nem morreu; porque Deus o levou para junto de si no céu, porque Ele o amava.

Ele afirma que quando Cristo subiu aos céus, Deus interrogou-o, dizendo: “Ó Jesus, tu disseste que eu sou o Filho de Deus, e Deus?”

E Jesus, afirmam eles, respondeu: “Tem misericórdia de mim, Senhor; sabes que eu não me vangloriaria de ser teu servo, e que eu não lhes disse isso; mas os homens que se desviaram escreveram que eu falei desse modo, e contam mentiras sobre mim, e enganaram-se a si próprios”.

E eles dizem que Deus lhe respondeu: “Eu sabia que tu não dirias uma coisa dessas”.

E embora ele introduzisse nesse escrito muitos outros absurdos que só podem ser objeto de ridículo, Maomé insiste que isso lhe foi transmitido do céu por Deus.

Quanto a nós, perguntamo-nos: “Quem pode testemunhar que Deus lhe deu esses escritos? Que profeta anunciou antecipadamente que apareceria semelhante profeta?”

E porque eles ficaram surpresos e envergonhados, acrescentamos que Moisés recebeu a Lei no Monte Sinai à vista de todo o povo, quando Deus apareceu na nuvem e no fogo, nas trevas e na tempestade.

Ficaram assombrados pelo fato de que todos os profetas, começando por Moisés e aqueles que vieram depois dele, predisseram a vinda de Cristo, e também que Cristo é Deus e que o Filho de Deus virá, encarnando-se, que será crucificado, morrerá e que será o juiz dos vivos e dos mortos.

E então, quando lhes perguntamos:

“Como é que vosso profeta não veio dessa forma, havendo outras pessoas que testemunham sobre ele?

“Porque, ao contrário de Moisés, a quem Deus deu a Lei enquanto o povo via e que a montanha estava envolta pela fumaça, Deus não deu a vosso profeta o escrito em vossa presença.

“Do contrário, também vós poderíeis ter certeza”.

E eles respondem que Deus faz o que lhe aprouver.

Isso, dizemos nós, também sabemos; mas como é que esse escrito desceu até o vosso profeta? Isso é o que vos perguntamos.

E eles respondem que o santo livro desceu sobre ele enquanto dormia.

Maomé no inferno com as vísceras abertas. Gravura de Gustave Doré (1832 – 1883) para a Divina Commedia de Dante Alighieri.
Maomé no inferno com as vísceras abertas.
Gravura de Gustave Doré (1832 – 1883)
para a Divina Commedia de Dante Alighieri.
Assim, nós lhes dizemos, brincando, que posto ter recebido o Corão enquanto dormia, ele não tinha consciência do que estava acontecendo, [N.: defeito no texto original].

Quando voltamos a lhes perguntar:

“Como é que, apesar de em seus escritos sagrados ele vos tenha ordenado nada fazer nem receber sem a presença de testemunhas, não lhe perguntastes:

“Prova primeiro, com o apoio de testemunhas, que tu és um profeta e que vieste de Deus, e que escrito santo testemunha em teu favor?”

Eles ficam em silêncio porque estão envergonhados.

Posto não terdes permissão para casar sem testemunhas ou para comprar qualquer coisa ou para adquirir bens (não tendes sequer o direito de comprar sem testemunha sequer um burro ou qualquer outro animal), e assim, pois, comprais mulheres, propriedades, burros e tudo mais, na presença de testemunhas; mas só aceitais sem testemunhas vossa fé e vossos escritos sagrados.

Isso provém do fato de que a pessoa que vos deu os escritos não tirou sua autoridade de lugar algum.

Além disso, não há ninguém conhecido que tenha testemunhado antecipadamente sobre isso.

Deve-se acrescentar que o Profeta recebeu essa coisa enquanto dormia.

3. Chamam-nos ademais de “idólatras” porque, argumentam eles, nós introduzimos um sócio ao lado de Deus, dizendo que Cristo é o Filho de Deus e é Deus.

Nós lhes respondemos:

“Isto é o que as Escrituras e os profetas nos transmitiram, e vós, como o proclamais, aceitais a autoridade dos profetas.

“Se, portanto, estávamos errados afirmando que Cristo é o Filho de Deus, então aqueles que nos ensinaram e nos transmitiram tais escritos também se enganaram”.

“Alguns sarracenos sustentam que nós adicionamos essas coisas, manipulando os profetas.

“Outros proclamam que foram os judeus que, cheios de ódio, nos enganaram com falsos escritos de profetas para nos desviar do caminho.

“Mais uma vez, nós lhes respondemos:

“Dado que dizeis que Cristo é a Palavra e o Espírito de Deus, então como podeis nos tachar de idólatras?

“Porque a Palavra e o Espírito são inseparáveis daquele em quem tudo isto tem a sua origem. Se a palavra está em Deus, é evidente que ela também é Deus.

“Se, por outro lado, ela está fora de Deus, então Deus, na vossa opinião, carece de palavra e de Espírito.

“Então, tentando não associar pessoas a Deus, vós mutilates Deus.

“Ter-vos-ia sido mais vantajoso dizer que Deus tem uma pessoa associada, em vez de mutilá-lo e apresentá-lo da mesma forma que se faria com uma pedra, madeira ou qualquer outro objeto inanimado.

“É assim que vós nos chamais erradamente de “idólatras”. Em sentido contrário, chamamo-vos de “mutiladores” (Koptas) de Deus”.

São João Damasceno, Padre e Doutor da Igreja (676 -749).
São João Damasceno, Padre e Doutor da Igreja (676 -749).
4. Eles nos acusam injustamente de idólatras, porque veneraramos a cruz, e eles a desprezam. A isto respondemos:

“Como é que esfregais vossa Kaaba numa pedra e manifestais vossa veneração por essa pedra beijando-a?”

Alguns respondem dizendo que Abraão manteve relações sexuais com Agar nessa pedra; outros dizem que esse é o lugar onde ele amarrou seu camelo antes de sacrificar Isaac.

E nós lhes respondemos:

“Posto que a Escritura diz que havia uma montanha e uma floresta, da qual Abraão cortou a lenha para o holocausto sobre o qual ele deitou Isaac, e também que ele deixou os burros atrás com os servos; de onde tirais vossa história?

“Nesse lugar não havia madeira proveniente de floresta alguma, nem sequer sendeiro para os burros”.

Ei-los então embaraçados. No entanto, continuam afirmando que se trata da verdadeira pedra de Abraão.

Nós lhes respondemos:

“Suponhamos que isso que vós dizeis de modo insensato seja verdade. Não sentis vergonha alguma de beijar a pedra, só porque Abraão teve relações com uma mulher ou porque amarrou seu camelo nela?

“E nos vituperais porque veneramos a cruz de Cristo, por meio da qual o poder dos demônios e a astúcia do Diabo foram aniquilados!!!”

Portanto, aquilo que chamam de “pedra” é na verdade a cabeça de Afrodite que eles adoram. Chamavam-na de Haber, e ainda hoje vemos entalhes na pedra, aqueles que os entendem veem nela gravações.

5. Como já mencionamos, Maomé inventou muitas histórias e atribuiu a cada uma um título como, por exemplo, O Tratado da Mulher.

“Nesse escrito ele admite que alguém pode ter legalmente quatro mulheres e mil concubinas, se puder dar-se esse luxo, com tal de manter também as quatro mulheres.

“Todos podem repudiar cada uma de suas esposas segundo o seu desejo e recasar-se com outra mulher.

“Ele criou essa lei por causa da seguinte história.

“Maomé tinha um amigo chamado Zaid. Esse homem tinha uma mulher bonita pela qual Maomé se apaixonou.

Certo dia em que os dois amigos estavam sentados juntos, Maomé disse: “Escuta, meu amigo, Deus me ordenou casar com tua esposa, para que ela se torne minha”.

Ao que o amigo respondeu: “Tu és um apóstolo, faz como Deus te disse; pega a minha esposa”. E a repudiou.

Ou melhor, para contar a história desde o início, ele lhe disse: “Deus me ordenou dizer-te que tens que repudiar tua mulher”.

Poucos dias depois, ele retomou: “Mas agora Deus ordenou que eu a tome por esposa”.

Maomé numa representação imaginária turca.
Maomé numa representação imaginária turca.
E após levá-la e cometer adultério com ela, inventou a seguinte lei: “Quem quiser, pode mandar sua mulher embora. Mas, se após o divórcio ele quiser voltar para ela, é preciso que a mulher tenha anteriormente sido casada com outra pessoa. Pois não está permitido recuperá-la, a menos que ela tenha se recasado com outra pessoa. Um irmão pode casar com a mulher repudiada por seu irmão, se assim o desejar” (...)

7. Maomé também fala do Tratado da Mesa. Ele afirma que Cristo pediu a Deus uma mesa, e ela lhe foi dada.

“Porque, segundo relatou, Ele respondeu: “Eu te dei, bem como a seus companheiros, uma mesa incorruptível”.

também o Tratado da Novilha e algumas outras estórias, das quais só se pode rir, e não vamos falar de todas devido a seu grande número.

“Ele criou uma lei dizendo que homens e mulheres devem ser circuncidados, e ordenou-lhes que não observassem o sábado nem se fizessem batizar.

“E, de um lado, mandou-lhes comer o que está proibido na Lei, e de outro se absterem de alimentos que a Lei permite; também proibiu beber vinho”.


(Autor: São João Damasceno, “De Haeresibus”, apud Blog Valentin Beziau)






São João Damasceno, Doutor da Igreja:
Maomé, falso profeta, excogitou nova heresia eriçada de coisas ridículas


“Até o momento, a superstição dos ismaelitas, arautos do Anticristo, continua a enganar os povos.

“São descendentes de Ismael, filho de Abraão e de Agar; os ismaelitas são também chamados comumente de agarianos.

“Eram idólatras, adoravam a estrela Lúcifer e Vênus, que chamavam, Chabar ou grande, até o tempo de Heráclio.

“Então levantou-se entre eles um falso profeta, chamado Maomé, que havendo encontrado os livros dos Antigo e Novo Testamentos, e tido contato com um monge ariano, formulou uma heresia nova.

“Conseguido o favor de seu povo por uma aparência de piedade, difundiu o rumor que os escritos lhe vinham do céu.

“Escreveu um livro eriçado de coisas ridículas, onde expõe a sua religião.

“Estabelece um Deus do universo, que não foi engendrado, nem engendrou nada.

“Diz que Cristo é o Verbo de Deus e seu Espírito, mas criado e servidor que nasceu sem cooperação humana, de Maria, irmã de Moisés e de Aarão, por operação do Verbo de Deus, que nela entrou; que os judeus, havendo querido, por um crime detestável, pregá-lo numa cruz, apoderaram-se dele, mas não crucificaram senão sua sombra: de sorte que Jesus Cristo não sofreu nem a cruz nem a morte, tendo Deus, a quem era todo querido, arrebatado o Verbo aos céus”.


(Fonte: “Fount of Knowledge, part two entitled Heresies in Epitome: How They Began and Whence They Drew Their Origin”, The Fathers of the Church, vol. 37 (Washington, DC: Catholic University of America Press, 1958), pp. 153-160).



São Francisco de Assis:
é de acordo com a Justiça combater os muçulmanos


São Francisco de Assis diante do sultão al-Malik al-Kamil.  Fra Angelico ca. 1429, Lindenau Museum, Altenberg.
São Francisco de Assis diante do sultão al-Malik al-Kamil.
Fra Angelico ca. 1429, Lindenau Museum, Altenberg.

Diálogo entre São Francisco de Assis e o Sultão al-Malik al-Kamil
em 1219, perto de Damieta, Egito.

“O sultão lhe apresentou outra questão:

− “Vosso Senhor ensina no Evangelho que vós não deveis retribuir mal com mal, e não deveis recusar o manto que quem vos quer tirar a túnica, etc. Então, vós, cristãos não deveríeis invadir as nossas terras, etc.”.

“Respondeu o bem-aventurado Francisco:

− “Me parece que vós não tendes lido todo o Evangelho. Em outra parte, de fato, está dito: Se teu olho te escandaliza, arranca-o e joga-o longe de ti (Mt. 5,25).

“Com isto quis nos ensinar que também no caso de um homem que fosse nosso amigo ou parente, que nos amássemos como a pupila do olho, nós devemos estar dispostos a separa-lo, e afastá-lo de nós, até arrancá-lo de nós, se tenta nos afastar da fé e do amor de nosso Deus.

“Exatamente por isto o cristãos agem de acordo com a Justiça quando invadem vossas terras e vos combatem, porque vós blasfemais contra o Nome de Cristo e vos empenhais em afastar de Sua religião todos os homens que podeis.

“Se, pelo contrário, vós quiserdes conhecer, confessar e adorar o Criador e Redentor do mundo eles vos amariam como a si próprios”.

“Todos os presentes ficaram tomados de admiração pela resposta dele”. 

(Fonte: “Fonti Francescane”, Seção terceira – Outros testemunhos franciscanos, número 2691).
The Fathers of the Church, vol. 37 (Washington, DC: Catholic University of America Press, 1958), pp. 153-160).


Santa Teresinha do Menino Jesus:
“Com que alegria teria partido para combater os hereges nas Cruzadas”


As Cruzadas foram empreendimentos históricos. Porém, elas nasceram de um ideal que transcende o tempo. Esse ideal palpita ainda hoje nas almas de inúmeros católicos, em pleno III Milênio.

Esse ideal ardeu intensamente na alma dos santos, embora se fale pouco disso. Eis um dos tantos exemplos: Santa Teresinha do Menino Jesus.

Santa Teresinha do Menino Jesus, que desejava passar o Céu fazendo o bem na Terra, não tinha uma alma débil, desprovida de personalidade e força de caráter, que fugia do sofrimento e da luta.

Se assim o fosse, não teria sido elevada às honras dos altares, nem teria sido apresentada ao mundo católico como "uma nova Joana d'Arc" pelo Papa Pio XI (a 18 de maio de 1925).

É muito oportuno e mesmo necessário, pois, considerarmos este aspecto de sua alma, frequentemente esquecido ou falseado em imagens e santinhos, onde ela aparece com a fisionomia impregnada por um adocicamento sentimental e romântico, totalmente inexistente em sua forte e marcante personalidade.

Vejamos algumas de suas afirmações que refletem o espírito de cruzado que animava a Santa da chuva de rosas:

“Na minha infância sonhei lutar nos campos de batalha.

“Quando comecei a aprender a História da França, o relato dos feitos de Joana d'Arc me encantava; sentia em meu coração o desejo e a coragem de imitá-los” (1).

“Adormeci por alguns instantes -- contava ela à Madre Inês -- durante a oração. Sonhei que faltavam soldados para uma guerra contra os prussianos. Vós dissestes: É preciso mandar a Irmã Teresa do Menino Jesus. Respondi que estava de acordo, mas que preferia ir para uma guerra santa. Afinal, parti assim mesmo.

“Oh! não, eu não temeria ir à guerra. Com que alegria, por exemplo, no tempo das cruzadas, teria partido para combater os hereges. Sim! Eu não temeria levar um tiro, não temeria o fogo!” (2)

“Lançando-me na arena
Não temerei ferro nem fôgo ....
Sorrindo enfrento a metralha ....
Cantando morrerei, no campo de batalha
As armas à mão
", bradava ela (3).

“Quando penso que morro numa cama! Como desejaria morrer numa arena!” (4)

A santidade! É preciso conquistá-la à ponta da espada. .... É preciso combater!” (5)



____________________
Notas:
1) Lettres de Sainte Thérèse de l'Enfant-Jésus, Carta ao Abbé Bellière, Office Central de Lisieux, 1948.
2) Carnet Jaune, 4.8.6 -- in Derniers entretiens, Éditions du Centenaire, Desclée de Brouwer-Éditions du Cerf, Paris, 1971.
3) Mes Armes -- Poésies, Édition du Centénaire, Cerf-Desclée de Brouwer, Paris, 1992 (Carnet jaune, Mère Agnès de Jésus, 4 de agosto).
4) Summarium [do Processo de Beatificação e Canonização], depoimento de Celina, 2753.
5) Correspondance Générale, Éditions du Cerf-Desclée de Brouwer, Paris, 1972, t. I (1877-1890), Carta (­­nº 89) a Celina, de 26 de abril de 1889. E Lettres de Sainte Thérèse de l'Enfant Jésus, Carta a Leônia, de 20 de maio de 1894.










Abismais incompatibilidades entre Maomé e Jesus




Profecia alguma prevê a vinda de Maomé.
Numerosas, precisas e antigas profecias foram confirmadas com o nascimento de Jesus.
A concepção de Maomé foi humana e natural.
Jesus foi concebido de modo sobrenatural, e nasceu de uma virgem.
Numerosas revelações de Maomé serviram para satisfazer seus interesses pessoais, tais como a legalização do casamento com sua nora.
As revelações e a vida de Jesus foram “sacrifícais”, como sua crucificação pelos pecados do mundo.
Maomé não fez milagre algum.
Jesus curou leprosos, deu vista aos cegos, andou sobre as águas, ressuscitou os mortos.
Maomé estabeleceu um reino terreno.
Jesus disse: “Meu reino não é deste mundo”.
Maomé admitiu que suas maiores paixões eram as mulheres, os perfumes e os alimentos.
A principal paixão de Jesus foi glorificar o nome de seu Pai celestial.
Maomé foi um rei terreno que acumulou riqueza, tornando-se o proprietário mais rico da Arábia.
Jesus não tinha onde reclinar a cabeça.
A vida de Maomé foi marcada pela espada.
A vida de Jesus foi marcada pela misericórdia e pelo amor.
Maomé incitou a jihad, ou guerra santa.
Jesus disse que “aqueles que ferirem pela espada, pela espada perecerão”. Um de seus títulos é “Príncipe da Paz”.
Se uma caravana era fraca, Maomé atacava-a, saqueava-a e massacrava-a; se ela era forte, ele fugia.
Jesus disse: “Resplendeça vossa luz diante dos homens, para que eles vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus”. “Amai os vossos inimigos e abençoai os que vos odeiam”.
Maomé fez apedrejar a adúltera.
Jesus perdoou à adúltera.
Maomé casou com catorze mulheres, incluindo uma menina de sete anos.
Jesus não teve relações carnais.
Maomé admitiu que era um pecador.
Jesus foi livre de todo pecado, mesmo de acordo com o Alcorão.
Maomé não previu sua morte.
Jesus predisse com exatidão a sua crucificação, morte e ressurreição.
Maomé não formou nem nomeou um sucessor.
Jesus designou, instruiu e preparou seus sucessores.
Maomé estava tão incerto sobre a sua salvação que orou setenta vezes por dia, a fim de receber o perdão.
Jesus era a essência da salvação, e disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida! Ninguém vai ao Pai senão por mim”.
Maomé massacrou seus inimigos.
Jesus perdoou os seus inimigos.
Maomé morreu e seus restos mortais estão enterrados na terra.
Jesus ressuscitou dos mortos e ascendeu ao Céu!




Outras diferenças entre Jesus e Maomé


Maomé foi um líder religioso e militar
Jesus foi um líder religioso
Estima-se que Maomé matou 3 mil pessoas, incluindo 700 judeus em Medina em 627.
Jesus nunca matou ninguém
Maomé recebeu um quinto dos prisioneiros capturados em combate, incluindo mulheres (Sura 08:41).
Jesus nunca possuiu escravos
Maomé forçou seus discípulos sob pena de morte a continuarem acreditando nele.
Jesus nunca forçou os discípulos a continuar a crer nEle.
Maomé ensinou vingar os crimes contra a honra, a família ou a religião.
Jesus ensinou a perdoar as ofensas recebidas.
Maomé torturou o chefe de uma tribo judaica.
Jesus nunca torturou ninguém.
Maomé vingou a violência contra ele, ordenando a morte de seus inimigos.
Jesus não vingou a violência praticada contra Ele, mesmo dizendo “Pai, perdoa-lhes” (Lc 23,24).
Para o Islam mártir é quem morre por sua fé enquanto luta e mata os infiéis.
Para os cristãos o mártir é aquele que morre por sua fé.
Todos os califas discípulos de Maomé também foram generais de guerra.
Nenhum dos discípulos de Jesus formou exércitos.
Nos primeiros 300 anos do Islã, os exércitos islâmicos invadiram a Arábia, a Pérsia, a Terra Santa, a África do Norte, a África Central, a Espanha, o sul da França e amplas áreas da Ásia Menor e na Ásia Central.
Nos primeiros 300 anos do cristianismo, houve 10 grandes perseguições contra os cristãos e não houve resistência armada.


(Fonte: La differenza tra Gesù e Maometto, Dietro le Quinte, 25/08/2012. BastaBugie nº.437, 20 janeiro 2016.




Papa São Gregório VII:
alma inspiradora das Cruzadas


São Gregório VII
São Gregório VII
Coube ao Papa São Gregório VII (1020-1085) a honra de inspirar o movimento das cruzadas. Seu plano resulta claro na carta de 1074 reproduzida embaixo, mas que no seu tempo não chegou a ser enviada.

Aconteceu que São Gregório VII teve que enfrentar a revolta do imperador Henrique IV e não pôde completar seu determinado projeto.

Entre seus assessores mais próximos estava o futuro Urbano II. São Gregório VII externou o desejo que ele fosse eleito para sucedê-lo.

Por sua vez, Urbano deixou bem claro aos Cardeais que de ser eleito continuaria a pastoral intransigente de São Gregório VII face à baixa moralidade de certo clero mundanizado, a simonia, a nomeação de bispos pelo poder temporal e a luta contra os inimigos da Cristandade sobre tudo o Islã.

Os Cardeais, entretanto, temeram continuar na linha do Santo Gregório VII e escolheram um pontífice conciliante.

Após poucos anos de pontificado, os purpurados bem perceberam a insuficiência da escolha.

Beato Urbano II
Beato Urbano II
À morte de Vitor III (1027-1087), Urbano voltou a sublinhar que ele retomaria a intransigência de São Gregório VII. E os cardeais o elegeram por unanimidade em 12 de março de 1088.

Quando o Bem-aventurado Papa Urbano II (1042-1099) convocou a I Cruzada em 1095 a situação não era materialmente diferente de 1074.

O Beato Papa convocou o concílio de Clermont-Ferrand e fez o inspirado e épico sermão que atraiu a graça das Cruzadas.

Nesse sermão, ele retomou o essencial das idéias de São Gregório VII contidas na carta de 1074.

Por isso, pode se disser com certeza que o Beato Urbano II convocando a Cruzada, não fez outra coisa senão realizar o que estava na mente de São Gregório VII.

Eis a carta do santo Papa:

Gregório, bispo, servidor dos servidores de Deus, a todos os que anseiam defender a Fé cristã, saudações e bênção apostólica.

Nós vos informamos que o portador desta carta, no seu recente retorno através do mar desde a Palestina veio nos visitar na cidade de Roma.

Ele repetiu para nós o que já tínhamos ouvido de muitos outros, a saber, que uma raça pagã tem subjugado os cristãos e com horrível crueldade devastou praticamente tudo até as muralhas de Constantinopla.

Eles estão agora governando as terras conquistadas com tirânica violência e têm escravizado muitos milhares de cristãos como se fossem gado.

Se nós amamos a Deus e desejamos sermos reconhecidos como cristãos, nós deveríamos nos encher de dor diante do infortúnio deste grande império (o grego) e pelo assassinato de tantos cristãos.

Mas só a dor não satisfaz todo o nosso dever. O exemplo do Redentor e o dever do amor fraterno exigem que engajemos nossas vidas para liberá-los.

Porque Ele deu sua vida por nós, nos ficamos obrigados a dá-la pelo nosso irmão? (1 Jn 3:16).

Sabei, portanto, que nós confiamos na graça de Deus e no força de seu poder e que estamos trabalhando por todas as formas possíveis e fazendo preparativos para levar auxílio ao império Cristão (grego) tão prestes quanto possível.

Em conseqüência vos exortamos pela Fé que nos une em Cristo para fazer vossos os sofrimentos dos filhos de Deus, e pela autoridade de São Pedro, príncipe dos apóstolos, vos conjuramos para que, tocado de justa compaixão pelas feridas e o sangue de vossos irmãos e pelo perigo em que se encontra dito império, pela glória de Cristo, vós assumais a difícil tarefa de dar auxílio a vossos irmãos gregos.

Enviai-nos mensageiros para nos informar do que Deus tenha vos inspirado nesta matéria.

(Fonte: Migne, Patrologia Latina, 148:329 [tradução para o inglês de Oliver J. Thatcher, and Edgar Holmes McNeal, eds., A Source Book for Medieval History, New York, Scribners, 1905, 512-13].



Bem-aventurado Papa Urbano II:
Sermão da Cruzada, Clermont-Ferrand, 27.11.1095 (versão mais completa)


Virgem das Cruzadas, Thuret(Puy-de-Dome)
Nossa Senhora das Cruzadas
Do famoso sermão do Bem-aventurado Papa Urbano II convocando à I Cruzada em Clermont-Ferrand (França, 27 de novembro de 1095) existem diversos registros feitos por diversas testemunhas. Já tivemos ocasião de postar um desses registros.

Eis um outro, o mais completo, traduzido do italiano e disponível no site Documenta Catholica:

Povo dos Francos, povo de além Alpes, povo – como reluz em muitas de vossas ações ‒ eleito e amado por Deus, distinguido entre todas as nações pela posição de vosso país, pela observância da fé católica e pela honra que presta à Santa Igreja, a vós se dirige nosso discurso e nossa exortação.

Queremos que vós saibais do lúgubre motivo que nos conduziu até vossas terras; da necessidade ‒ para vós e para todos os fiéis ‒ de conhecerem o motivo que nos impeliu até aqui.

Desde Jerusalém e desde Constantinopla chegou até nós, mais de uma vez, uma dolorosa notícia: os turcos, povo muito diverso do nosso, povo de fato afastado de Deus, estirpe de coração inconstante e cujo espírito não foi fiel ao Senhor, invadiu as terras daqueles cristãos, as devastou com o ferro, a rapina e o fogo.

Levou parte dos habitantes como prisioneiros até seu país, outra parte matou com infames estragos, e as igrejas de Deus ou as destruiu até os fundamentos ou as entregou ao culto da religião deles.

Estátua de Urbano II, Châtillon sur Marne
Beato Urbano II
Derrubam os altares após profaná-los imundamente, circuncidam os cristãos e espalham o sangue da circuncisão sobre os altares ou jogam-no nas pias batismais; e àqueles que querem condenar a uma morte vergonhosa perfuram o umbigo, arrancam os genitais, os amarram a um pau e, chicoteando-os, levam-nos pelas ruas, para que com as vísceras de fora, acabem caindo mortos prostrados por terra.

Outros se servem deles como alvo de flechas após amarrá-los a um pelourinho; a outros, após obrigá-los a dobrar a cabeça, os atacam com espadas e tentam decapitá-los de um só golpe.

O que dizer da violência nefanda praticada com as mulheres, sobre a qual é pior falar do que calar?

O reino dos gregos já foi atingido tão gravemente por eles e tão perturbado na sua vida diária que não pode ser atravessado sequer numa viagem de dois meses.

A quem, pois, cabe o ônus de vingá-lo e de reconquistá-lo se não a vós a quem Deus, mais de que aos outros povos, concedeu a insigne glória das armas, grandeza de alma, agilidade de corpo, força para humilhar a fundo aqueles que a vós resistem?

Que a gesta de vossos antepassados vos mova, que excite vossas almas a atos dignos dela, a probidade e a grandeza de vosso rei Carlos Magno e de Luis seu filho e de outros soberanos vossos que destruíram o reino dos pagãos e até eles estenderam os confines da Igreja.

Sobretudo que vos incite o Santo Sepulcro do Senhor, nosso Salvador, que está nas mãos de gentes imundas, e os lugares santos, que agora estão por eles vergonhosamente possuídos e irreverentemente profanados com sua imundícia.

Clermont-Ferrand, catedral, pórtico norte
Catedral de Clermont-Ferrand
Ó soldados fortíssimos, filhos de pais invictos, não vos mostreis decadentes, mas lembrai-vos da coragem de vossos predecessores; e se vos segura o doce afeto dos filhos, dos pais e das consortes, atentai para o que diz o Senhor no Evangelho:

“quem ama o pai ou a mãe mais que a Mim, não é digno de Mim. Todo aquele que deixar seu pai ou sua mãe, ou a mulher ou os filhos ou as terras por amor de meu nome receberá o cêntuplo nesta terra e terá a vida eterna”.

Não vos detenha o pensamento de alguma propriedade, nenhuma preocupação pelas coisas domésticas, pois esta terra que vós habitais, circundada por todo lado pelo mar ou pelas montanhas, ficou estreita para vossa multidão, não é exuberante de riqueza e apenas fornece do que viver a quem a cultiva.

Por isso vós vos ofendeis e vos hostilizais reciprocamente, vós vos fazeis guerra e com freqüência vos matais entre vós mesmos.

Cessem, pois os ódios intestinos, apaguem-se os contenciosos, aplaquem-se as guerras e sossegue toda discórdia e inimizade.

Empreendei o caminho do Santo Sepulcro, arrancai aquela terra àquele povo celerado e submetei-la a vós: ela foi dada por Deus em propriedade aos filhos de Israel; como diz a Escritura, nela correm rios de leite e mel.

Jerusalém é o centro do mundo, terra feraz por cima de qualquer outra quase como um paraíso de delícias; o Redentor do gênero humano a tornou ilustre com sua vinda, a honrou com sua passagem, a consagrou com sua Paixão, a redimiu com sua morte, e a tornou insigne com sua sepultura.

Exatamente esta cidade real posta no centro do mundo agora é tida em sujeição pelos próprios inimigos e pelos infiéis, feita serva do rito pagão. Ela eleva sua lamentação e anela ser liberada e não cessa de implorar que vós andeis no seu socorro.

De vós mais do que qualquer outro povo ela exige ajuda, pois vos tem sido concedida por Deus, por sobre todas as estirpes, a glória das armas.

Empreendei, pois este caminho em remissão de vossos pecados, certos da imarcescível glória do reino dos Céus.

Ó irmãos amadíssimos, hoje em nós manifestou-se o que o Senhor diz no Evangelho: “Onde dois ou três estarão reunidos em meu nome, Eu estarei no meio deles”.

Se o Senhor Deus não tivesse inspirado vossos pensamentos, vossa voz não teria sido unânime; e ainda que tenha ressoado com timbres diversos, foi única, entretanto a sua origem: foi Deus que a suscitou, foi Deus que a inspirou em vossos corações.

Seja, pois, esta vossa voz, o vosso grito de guerra, posto que ele vem de Deus. Quando fores ao ataque dos belicosos inimigos, seja este o grito unânime de todos os soldados de Deus: “Deus o quer! Deus o quer!”

Nós não convidamos a empreender este caminho aos velhos ou àqueles que não são aptos para portar armas, nem as mulheres; que as mulheres não partam sem seus maridos ou sem irmãos ou sem representantes legítimos: todos estes são mais um impedimento do que uma ajuda, mais um peso do que uma vantagem.

Que os ricos sustentem os pobres e levem a seu custo homens prestes para combater.

Aos sacerdotes e clérigos de qualquer ordem não seja lícito partir sem licença de seu bispo, porque esta viagem lhes seria inútil sem esse assentimento; e nem sequer aos leigos seja permitido partir sem a bênção de seu sacerdote.

Todo aquele que queira cumprir esta santa peregrinação e que faça promessa a Deus e a Ele se tenha consagrado como vítima viva, santa e aceitável, leve sobre seu peito o sinal da Cruz do Senhor. Aquele que, após ter cumprido seu voto queira retornar, dê meia-volta.

Cumprirão assim o preceito que o Senhor dá no Evangelho: “Quem não carrega sua cruz e não vem detrás de Mim não é digno de Mim”.

Clermont, 27 de novembro de 1095.






Papa Celestino III: é louvável tomar armas contra os fautores do mal

Celestino, Bispo, servo dos servos de Deus. Ao caríssimo filho em Cristo, o Rei de Portugal, saudação e bênção apostólica.

Como pelos sagrados cânones seja cominada igual pena aos autores e aos fautores do mal, e não seja menor desprezo impugnarem a fé católica os que se têm por cristãos, porque seria se a deixassem, ou a perseguissem e adotassem a superstição dos bárbaros, pareceu-nos que não deveríamos faltar com o favor apostólico à petição que fazeis, de que a vós e a todos os que fizerem guerra ao Rei de Leão sejam concedidas as mesmas indulgências que a Santa Sé Apostólica tem outorgado aos que militam contra os infiéis e defendem a Cristandade de Espanha, porquanto ele tem tomado à sua conta a defesa dos mesmos infiéis, e em companhia dos mouros luta contra os cristãos.

Nós, respeitando vossa real petição e concedendo pelo teor da presente, a vós e a todos os que fizerem guerra ao dito Rei enquanto permanecer em sua pertinácia, as graças que são concedidas aos que passam à guerra de Jerusalém, ordenamos mais, que todas as terras que vós ou outros quaisquer ganhardes àquele Rei enquanto for contumaz, fiquem livremente a quem as ocupar, sem mais se devolverem ao senhorio do mesmo Rei.

Portanto, a nenhuma pessoa seja lícito infringir ou contrariar temerariamente esta bula de indulgência. E se alguém se atrever a fazê-lo, saiba que há de incorrer na indignação de Deus todo poderoso e dos bem-aventurados S. Pedro e S. Paulo, seus Apóstolos.


(Bula dirigida pelo Santo Padre Celestino III a D. Sancho I de Portugal, a respeito de D. Afonso XII de Leão, em 10 de abril de 1197)




Pio II: Papa que pregou as Cruzadas até morrer

Pio II. Bernardino di Betto, 'Pinturicchio' (1454–1513)
Pio II. Bernardino di Betto, 'Pinturicchio' (1454–1513)
"Ah, se estivessem agora aqui Godofredo, Balduino, Eustáquio, Hugo, Boemundo e Tancredo, e aqueles outros esforçados varões que um dia reconquistaram Jerusalém, penetrando com suas armas por entre os exércitos inimigos!

"Verdadeiramente, não nos teriam deixado pronunciar tantas palavras, mas se teriam levantado, exclamando com voz fervorosa, como outrora em presença de Urbano II, nosso predecessor: ‘Deus o quer! Deus o quer!’. Mas vós aguardastes em silêncio o fim do discurso, e nossas exortações não parecem ter-vos movido. ...

"Se o acreditais convenientemente, não recusaremos consagrar nosso corpo enfermo e nosso ânimo fatigado a Cristo Nosso Senhor para esta venturosa expedição. Por entre os acampamentos, por entre as fileiras de soldados, em meio dos mesmos inimigos, queremos fazer-nos levar alegremente em uma liteira, se assim nos aconselhais, e não nos limitaremos a andar com o espírito apoucado à caça de bonitas frases".


Estas palavras, proferidas por Pio II em 1459, ao pregar a cruzada em Mântua, resumem todo o pontificado desse Papa que, segundo Pastor e outros autores, centrou-se inteiramente na idéia da guerra aos turcos infiéis.

Pio II subiu ao trono pontifício em 1458, e se defrontou com uma situação internacional extremamente grave, dada a ameaça maometana.

O novo Papa era, entretanto, um homem cujo porte estava na proporção dos acontecimentos. Eneas Silvio Piccolomini nascera de uma família nobre empobrecida.

Seu pontificado, todo "drapé" no heroísmo, na solidão e na tragédia, e portanto em valores diametralmente opostos aos dominantes na Itália do século XV, parece transcender os resíduos de humanismo que lhe possam ter restado de sua vida passada.

Leia a trágica epopeia do Papa Pio II em: Pio II: Papa que pregou as Cruzadas até morrer 





Papa Pascoal II:
comemora a conquista de Jerusalém e exorta a reforçar a Cruzada


O Papa Pascoal II com o rei da Franca Felipe I, em 1107.
O Papa Pascoal II com o rei da Franca Felipe I, em 1107.
Pascoal bispo, servidor dos servidores de Deus, a todos os arcebispos, bispos e abades da Gália, saudações e bênção apostólica.

Nós estamos obrigados por uma gratidão sem limites à compaixão de Deus Onipotente, porque no nosso tempo Ele determinou liberar a Igreja da Ásia dos bandos turcos e abrir aos soldados cristãos a própria cidade onde o Senhor padeceu e foi enterrado.

Entretanto, nós devemos receber a graça divina com todas as conseqüências que isso implica.

Ele deu-nos aquelas terras que outrora foram do povo da Palestina ou Canaã, e ajuda efetivamente nossos irmãos que ali ficaram.

Urgi, por isso mesmo, a todos os soldados de vossa região, para remissão e perdão de seus pecados, a partirem com presteza a sustentar nossa Mãe a Igreja de Oriente.

Compeli especialmente aqueles que endossaram o sinal da Cruz em sinal desta promessa a apressarem sua partida, a menos que a pobreza os impeça.

Além do mais, nós decretamos que permaneçam excomungados aqueles que incorreram na desgraça de abandonar o cerco de Antioquia por falta de fé ou questionáveis argumentos, a menos que patenteiem com sólidas promessas que pretendem voltar.

Nós ordenamos especialmente que sejam devolvidas todas as poses a nossos irmãos que estão voltando depois da vitória do Senhor, de acordo com o que, vós lembrais, foi ordenado em decreto sinodal por Urbano, nosso predecessor de feliz memória.

Agindo assim em todos os assuntos, cumprindo zelosamente vosso dever, podeis ter certeza que por nosso zelo conjunto nossa Mãe a Igreja de Oriente será reconduzida a seu devido estado, pela misericórdia do Senhor.

(Fonte: August. C. Krey, The First Crusade: The Accounts of Eyewitnesses and Participants, (Princeton: 1921), 279, Internet Medieval Source Book)











Beato Eugênio III Papa:
Convocação da II Cruzada - Bula “Quantum predecessores”


Beato Eugênio III Papa, convocou a II Cruzada
Em 1146, o principado de Edessa, dominado pelos cruzados, caiu em mãos dos muçulmanos ressurgentes. Assim, o Bem-Aventurado Papa Eugênio III apelou a uma nova cruzada - a segunda. Foi entusiasticamente apoiado nesta convocação por seu mentor, São Bernardo de Claraval.
O Bem-aventurado Pontífice redigiu para esse efeito a Bula “Quantum predecessores”, de 1º de dezembro de 1154, que diz:
O Bispo Eugênio, servo dos servos de Deus, a Luis, seu filho mais amado em Cristo, ilustre rei dos franceses; aos príncipes, seus filhos bem amados, e a todos os fiéis de Deus estabelecidos por toda a Gália, saudação e bênção apostólica.

Sabemos pelas narrações dos antigos e por seus escritos quanto os romanos pontífices, Nossos antecessores, fizeram pela libertação da Igreja no Oriente. Nosso predecessor de venerada memória, o Papa Urbano, soou como que uma trombeta celeste a fim de levantar, para a sua libertação, os filhos da Santa Igreja Romana em todos os cantos da terra.

É verdade que à sua voz os ultramontanos, e especialmente os mais bravos e fortes guerreiros do reino francês, bem como os da Itália, inflamados com ardente amor, uniram-se num mui grande exército e, não sem grande derramamento do seu próprio sangue, com divino auxílio libertaram da sujeira dos pagãos a cidade em que nosso Salvador quis sofrer por nós e onde nos deixou seu glorioso sepulcro como memorial de sua Paixão, além de muitos outros que, por amor à brevidade, abstemo-nos de mencionar.

Essas cidades, pela graça de Deus, e do zelo de vossos pais, que de tempos em tempos têm se esforçado na medida do possível para defendê-las e divulgar o nome de Cristo naquelas partes, foram mantidas pelos cristãos até hoje; e eles tem corajosamente invadido outras cidades dos infiéis. Agora, porém, por causa de nossos pecados e os do povo ‒ coisa que não podemos anunciar sem grande dor e pranto ‒ a cidade de Edessa, em nossa língua chamada Rohais foi tomada e muitos de seus castelos ocupados pelos pagãos.

Cristo gladífero à testa dos cruzados
Logo Edessa, que no tempo em que todo o Oriente era dominado por pagãos, servia sozinha a Deus sob o poder dos cristãos. Por outro lado, o arcebispo dessa cidade, juntamente com seu clero e muitos outros cristãos foram mortos e as relíquias dos santos entregues ao pisoteio dos infiéis e dispersas.

Cientes estamos todos de quão grande é o perigo que ora ameaça a Igreja de Deus e toda a Cristandade. Pois é sabido que a maior prova de nobreza e probidade é que as coisas adquiridas pela bravura dos pais sejam corajosamente defendidas pelos filhos – os senhores. Mas, que Deus nos livre, se tal não ocorrer, a valentia dos pais terá diminuído em seus filhos.

Exortamos-vos a todos em Deus, portanto, e vos pedimos e comandamos, e para a remissão dos pecados recomendamos, que os que são de Deus, e, sobretudo os mais nobres cinjam-se de coragem e se esforcem de modo a opor-se à multidão dos infiéis que ora se alegra com a vitória sobre nós obtida.

E que, assim fazendo, defendam a Igreja oriental, liberta de sua tirania por tão grande derramamento do sangue de seus antepassados, como já dissemos, a fim de arrebatar milhares de vossos irmãos cativos de suas mãos e promover a dignidade do nome cristão e fazer vossa valentia elogiada por todo o mundo, permanecendo intacta e inabalável.

Sirva o bom Matias de exemplo para vós, ele que, para preservar as leis de seus pais, sem a menor hesitação expôs-se à morte com seus filhos e parentes, deixando tudo que no mundo possuía.

E que, com a ajuda divina, depois de muitos trabalhos e de longo tempo, corajosamente obteve, bem como os seus descendentes, um varonil triunfo sobre seus inimigos.

Mais ainda, com paternal solicitude paternal para a tranqüilidade dos combatentes e para o restabelecimento da mesma igreja do Oriente, concedemos e confirmamos pela autoridade a Nós por Deus concedida, aos que instados pela graça se decidam a realizar obra tão santa e necessária, a remissão dos pecados conforme instituiu Nosso predecessor, o Papa Urbano.

E decretamos que suas esposas e filhos, bem como suas posses e bens permaneçam sob Nossa proteção e a dos arcebispos, bispos e outros prelados da Igreja de Deus.

São Bernardo foi grande pregador da Cruzada convocada pelo santo Papa
Outrossim, por Nossa autoridade apostólica proibimos que qualquer bem sobre o qual tivessem posse incontroversa ao tomarem a cruz, seja isento de qualquer processo até que se tenha notícias certas sobre seu retorno ou sua morte.

Além disso, tendo em vista que os que guerreiam pelo Senhor não devem de modo algum preparar-se com vestes preciosas nem preocupar-se com sua aparência pessoal, nem com cães e falcões, ou outras coisas que possam pressagiar licenciosidade, exortamos vossa prudência no Senhor para que os que decidirem realizar tão santa obra não busquem as coisas acima mas mostrem todo zelo e diligência com suas armas, cavalos e outras coisas com as quais possam combater os infiéis.

Os que, oprimidos por dívidas, de coração puro se lancem nessa santa jornada não devem pagar juros pelo tempo nela decorrido; e se eles ou outros em seu lugar forem obrigados por juramento ou promessa a pagar juros, de tal obrigação os absolvemos por Nossa autoridade apostólica.

É-lhes também permitido, quando as pessoas de suas relações, conhecendo sua situação, ou seus senhores, a quem são tributários, não lhes queiram avançar o dinheiro necessário, penhorar livremente, sem qualquer promessa de recuperação, suas terras ou outros bens a igrejas, pessoas eclesiásticas ou a qualquer dos fiéis.

Segundo instituiu Nosso citado predecessor, pela autoridade do Deus Todo-Poderoso e pela de São Pedro, chefe dos apóstolos, a nós por Deus outorgada, concedemos a remissão e o perdão dos pecados àquele que devotamente encete tão sagrada missão e a cumpra, ou morra durante a mesma.

Concedemos-lhe a absolvição de todos os pecados que confesse com coração humilde e contrito, recebendo assim o eterno prêmio do Remunerador de todos.

Passado em Vetralle, nas calendas de Dezembro.

(Fonte: Doeberl, Monumenta Germania Selecta, Vol 4, p. 40, trans in Ernest F. Henderson, Select Historical Documents of the Middle Ages, (London: George Bell and Sons, 1910), pp. 333-336. Quantum praedecessores).



Papa Gregório VIII:
“A misericórdia celeste pode trocar os dias da vitória muçulmana em dias de humilhação”


Gregório VIII
Gregório VIII
“Nós, principalmente, diz Gregório, que temos que gemer ante as iniquidades, que acenderam a cólera de Deus, nós que tememos que outras desgraças aconteçam na Judéia, no meio das dissensões dos reis e dos príncipes cristãos, entre cidades e aldeias, devemos chorar com o profeta e repetir com ele: A verdade, a ciência de Deus, não estão mais nesta terra; e veio reinar em seu lugar a mentira, o homicídio, o adultério e a sede do sangue.

“Pensai, meus caros irmãos, para que viestes a este mundo e como deveis dele sair, Pensai que passais como passam todas as coisas. Não podeis dizer dos bens de que gozais, do ar mesmo que nos conserva a vida: ‘Isto é meu!’

“Não vos fizestes a vós mesmos e o poder de criar um nada está acima de todos os poderes da terra.

“Daí então todos esses tesouros, que vos podem escapar, esta vida que não é mais que um ponto na duração, para socorrer vossos irmãos, para vos garantirdes a eterna salvação.

“Se os infiéis enfrentaram os perigos da guerra, se eles sacrificaram o descanso e as delícias de seus dias para atacar a herança de Jesus Cristo, hesitareis em fazer os mesmos sacrifícios pela fé cristã?

“A cólera celeste permitiu que os ímpios tivessem um momento de triunfo, mas sua misericórdia pode trocar para eles os dias da vitória em dias de humilhação.

“Entregai-vos pois à misericórdia divina, não temos o direito de pedir contas a Deus de seus juízos, mas não devemos crer que na sua bondade Ele quer nossa salvação e que aquele que se sacrifica por seus irmãos mesmo quando tivesse apenas chegado aos dias da juventude, será tratado como aquele que passou uma vida longa no serviço de Deus?”


(Autor: Joseph-François Michaud, “História das Cruzadas”, vol. II, Editora das Américas, São Paulo, 1956. Tradução brasileira do Pe. Vicente Pedroso)




Papa São Pio V:
cartas incitando os Reis católicos a combater contra os muçulmanos


São Pio V com Maria Auxiliadora na mão

Aos Reis Católicos contra os turcos (8-12-1567):


Eis o que foi bem estabelecido e é bem certo: nosso poderoso inimigo, o Sultão dos Turcos, prepara com os mais minuciosos cuidados uma frota considerável, sem precedente, uma armada e exército importantíssimos.

Ele completa todos os preparativos que se fazem necessários, com o único fim de se precipitar o mais cedo possível contra Malta, para abater a Ordem Militar de São João, por ele particularmente odiada, e submeter essa ilha.

Diz-se que dela deseja se apoderar, não só pelas grandes vantagens que oferece sob o ponto de vista estratégico, mas também, e mais ainda, em razão da humilhação por ele sofrida no sítio precedente.

Como a tais forças a Ordem não pode de forma alguma resistir, nosso caro filho Jean de la Valette, seu Grão-Mestre, é obrigado a implorar o socorro dos príncipes cristãos contra o inimigo comum, o inimigo do Cristianismo.

Não duvidamos que Vossa Majestade e seu povo venham em nosso socorro, tanto mais espontaneamente aliás, pois é de seu maior interesse que uma ilha assim próxima da Sicília e da Itália não caia em mãos inimigas.

* * *

A nosso caríssimo filho em Cristo, Carlos, Rei cristianíssimo da França (12-12-1567):


Jean de la Valette vê-se na obrigação de apelar para todos os príncipes cristãos contra o inimigo comum do Cristianismo.

A defesa da ilha de Malta parece, no momento, ser mais importante para alguns povos do que para outros. Entretanto, trata-se incontestavelmente da salvação de todos os príncipes cristãos e de toda a Cristandade. Não ignoramos, filho cristianíssimo, quais dificuldades deveis enfrentar... .

* * *

Palácio do Grão-Mestre da Ordem de Malta, ilha de Malta

A nosso filho caríssimo, o nobilíssimo Pedro Loredano, Doge de Veneza (19-1-1567):


Os cavaleiros da Ordem de São João de Jerusalém são obrigados a socorrer-se de todos os príncipes cristãos. Eles têm mais coragem que recursos para fazer face a um inimigo assim poderoso e pérfido, para contê-lo e expulsá-lo.

Essa ilha é a cidade da Cristandade inteira. Se (Deus não o permita!) ela vier a cair em poder do inimigo, pela negligência dos príncipes cristãos, não haveria mais tempo para gemer e se arrepender.


(Fonte: Fonte: François Garnier, "Journal de la Bataille de Lépante, présenté et commenté par", Editions de Paris, 1956 - p. 41)




Papa Bento XIV:
“muçulmanos, os piores entre os celerados”


S.S. Bento XIV.
Pierre Hubert Subleyras (1699-1749) Palácio de Versailles
Carta do Papa Bento XIV de louvor  à Ordem Militar Hospitalar de São João de Jerusalém, conhecida também como Ordem de Malta, por sua heroica defesa da Cristandade ameaçada pelas forças muçulmanas


“A Ordem Hierosolimitana tem um lugar de escol entre as Ordens militares que, com satisfação Nossa, sustentam a Religião Católica e a defendem corajosamente contra seus inimigos.

Para glória de Cristo, esta Ordem move o mais duro combate contra os muçulmanos, os piores entre os celerados.

Brasão da Ordem de Malta
Com todas as suas forças, ela protege sem descanso as fronteiras da Cristandade contra as incursões deles.

“Para nela ser admitido como soldado, é preciso fazer prova de nobreza; mas também, a fim de poder combater mais facilmente e ser mais livre e mais apto para os trabalhos que se preveem, é necessário renunciar às facilidades da vida doméstica e fazer voto de castidade.

“Eis por que Nós, elevado pela graça de Deus à Sé suprema de São Pedro, desejando dar um testemunho da benevolência pontifícia a esta Ordem ilustre, que tanto mereceu já da Igreja e da Santa Sé, decidimos conceder-lhe importantes privilégios e socorrê-la em suas necessidades atuais”.


(Autor: S.S. Bento XIV (1675 – 1758, Papa desde 17.08.1740), Carta Quoniam Inter de 17 de dezembro de 1743).




Papa João VIII:
indulgência para os que morrem lutando contra os inimigos da religião e da ordem cristã:


Luís II recebe o Papa João VIII, Bibliothèque Nationale de Franc
Luiz II recebe o Papa João VIII, Bibliothèque Nationale de France
O Papa João VIII governou a Igreja nos anos 872-882. A epístola seguinte é do ano 878.

“João VIII aos bispos do reino de Luiz II [da França].

“Vós tendes nos manifestado humildemente o desejo de saber se aqueles que morreram recentemente na guerra, combatendo em defesa da Igreja de Deus e pela preservação da religião e do Estado cristãos, ou aqueles que podem no futuro cair pela mesma causa, podem obter a indulgência de seus pecados.

“Com toda segurança nos vos respondemos que aqueles que, por amor à religião cristã, morram na batalha lutando bravamente contra os pagãos ou incrédulos, ganharão a vida eterna.

“Porque o Senhor disse pela boca de seu profeta: “Qualquer que seja a hora em que um pecador se converta, eu não lembrarei mais de seus pecados”.

“Pela intercessão de São Pedro, que tem o poder de abrir e fechar no Céu e na terra, eu absolvo, em toda à medida que me é possível, todos eles e os encomendo com minhas orações ao Senhor.”


(Fonte: Migne, Patrologia Latina, 126: 816. Oliver J. Thatcher, and Edgar Holmes McNeal, eds., A Source Book for Medieval History, (New York: Scribners, 1905), 512).




São Bernardo de Claraval:
Carta incitando franceses e bávaros a partirem para a II Cruzada

São Bernardo de Claraval, igreja de Zwettl, ©Wolfgang Sauber.
São Bernardo de Claraval, igreja de Zwettl, ©Wolfgang Sauber.
Com sua grande oratória, São Bernardo de Claraval, Doutor da Igreja, um dos maiores doutores do seu tempo, pregou a II Cruzada aos franceses e aos alemães.

Ele expõe o perigo que corre a Terra Santa. Ele começa mostrando a ofensa feita a Deus pelo fato da terra sagrada cair na mão dos adversários da Fé. Depois ele mostra que ali se deu a Encarnação do Verbo, a pregação de Nosso Senhor Jesus Cristo e toda a vida dEle.

E prova que cada um desses dados por si só bastaria para tornar maldito o povo que pretendesse conquistar a Terra Santa.

Depois ele mostra que não só tentam conquistá-la, mas destruí-la, que os maometanos são selvagens e as relíquias do tempo de Nosso Senhor Jesus Cristo estão ameaçadas de destruição.

O pensamento se estabelece com lógica. São Bernardo, conhecendo a miséria humana, interpela os guerreiros. Que fazeis, bravos soldados, diante disto? Vós não fazeis nada? Vós tendes muitos pecados, é preciso expiá-los e a ocasião é muito boa. Então fazei essa penitência, ide às Cruzadas.

Segunda razão: vós viveis vos matando uns aos outros. Já que vós gostais de combater eu vos apresento um combate justo contra um inimigo que merece ser combatido.

Por todas essas razões ide vós e tomai a Cruz. Esse é o sermão de São Bernardo.


A meus senhores e caríssimos pais os arcebispos e bispos, a todo o clero e fiéis da França oriental e da Baviera, Bernardo, abade de Claraval, que o espírito de força abunde em vós. 
 
Eu Vos escrevo por uma questão que se refere a Jesus Cristo e à vossa salvação. Eis, meus irmãos, um tempo favorável, um tempo de propiciação e de salvação.

O mundo cristão foi atingido pela notícia de que o Deus do céu vai perder sua pátria. Pois é o país onde Ele foi visto, Ele, o Verbo do Pai, instruindo os homens e vivendo entre eles, na sua forma humana, durante mais de trinta anos.

É o país que ele ilustrou com seus milagres, regou com seu sangue, adornou com as primeiras flores da Ressurreição. Hoje nossos pecados o fizeram cair nas mãos de ferozes e sacrílegos inimigos da Cruz cuja espada devoradora semeia por toda a parte a morte sobre a terra das antigas promessas.

Logo, logo, se ninguém se opuser a seu furor eles cairão sobre a própria cidade do Deus vivo, derrubarão os monumentos sagrados de nossa Redenção, macularão os lugares santos que o Sangue do Cordeiro sem mancha outrora regou.

Já no seu ardor sacrílego eles estendem a mão para se apoderar, oh dor, do leito sobre o qual Aquele que nos deu a vida fechou os olhos por nós, nos braços da morte.

Então, generosos guerreiros, servidores da Cruz, abandonareis o Santo dos Santos aos cães e jogareis pérolas tão preciosas aos porcos?

Quantos pecadores penitentes nesses lugares lavaram suas iniquidades com lágrimas e obtiveram o perdão, desde que a espada de vossos pais afastou os pagãos que as desonravam!

O inimigo da salvação percebe-o e se contorce de dor; esse espetáculo é para ele um tormento, ele range os dentes de raiva, mas ao mesmo tempo ele suscita povos que são vasos de iniquidade e se prepara para destruir até os últimos vestígios de tantos santos mistérios.

São Bernardo pregando a II Cruzada em Vezélay 31-03-1146. Emile Signol (1804-1892) , museu do castelo de Versailles.
São Bernardo pregando a II Cruzada em Vezélay 31-03-1146.
Emile Signol (1804-1892) , museu do castelo de Versailles.
Se, que Deus não o permita, ele conseguir se apoderar desses lugares santos entre todos, essa desgraça irreparável permanecerá por todos os séculos vindouros como um fonte de dores incessantes, e para nós, uma causa de vergonha e infâmia.

Seja como for, meus irmãos, haveria de se acreditar que o braço de Deus ficou curto, que sua mão tornou-se impotente para nos salvar, e que Ele tem necessidade do auxílio de miseráveis vermes da terra como somos nós, para restabelecer e proteger sua herança?

Não tem Ele doze legiões de anjos a seu serviço, e não pode Ele com uma só palavra liberar sua pátria?

Ele pode fazê-lo, a coisa é certa, pois para Ele basta desejá-lo. Mas, deixai-me vos dizer que Ele quer vos provar hoje e garantir que entre os filhos dos homens, há alguns ainda que compreendem suas vias, procuram se engajar nelas, e deploram o triste estado em que sua causa caiu.

Pois, na sua misericórdia ele se apraz em oferecer a seu povo o meio de reparar as faltas enormes de que se tornou culpado.

Lançai, oh pecadores, lançai um olhar de admiração sobre os meios de salvação que o Senhor vos oferece, e sondai com confiança os abismos de sua misericórdia.

Tende certeza de que, em lugar de querer vossa morte, ele vos prepara os meios de conversão e salvação, pois seu desejo é de vos salvar e não de vos perder.

Não há senão um só Deus, com efeito, que possa criar semelhante ocasião para a salvação de homicidas e ladrões, de adúlteros e perjuros, enfim de homens maculados por toda espécie de crimes, lhes conferindo o meio de cooperar com seus desígnios todo-poderosos como se fosse um povo inocente e justo.

São Bernardo de Claraval. Vitral do Reno superior, c.1450
São Bernardo de Claraval. Vitral do Reno superior, c.1450
Eu vejo, pois, nesta conduta do Deus das misericórdias um grande sinal de confiança para vós, pecadores. Pois, se Deus quisesse vos castigar, ele recusaria vossos serviços em lugar de reclamá-los.

Mais uma vez, considerai os tesouros de bondade do Altíssimo e refleti sobre seus desígnios cheios de misericórdia.

Ele dispõe assim as coisas que possui: ele finge ter necessidade de vosso auxílio para poder vir em vossa ajuda; ele quer ser vosso devedor a fim de pagar vossos serviços pela remissão de vossos pecados e pelo dom da vida eterna.

Eu não saberia felicitar suficientemente a geração que vê encontra um tempo tão propício para a salvação, e encontra este ano de propiciação fácil e de jubileu. Já uma multidão de cristãos ressente os efeitos e vá em massa a pedir o sinal da salvação.

É a vós agora, povo rico e fecundo em jovens e valorosos guerreiros, a vós de quem o mundo inteiro conhece a glória e celebra a coragem, é a vós que vos cabe vos levantar como um só homem, cingir vossos rins com as armas abençoadas dos cristãos.

Renunciai a esse gênero de milícia, para não dizer de malícia inveterada que grassa entre vós, e que vos arma tão frequentemente e vos precipita uns contra os outros para vos exterminar com vossas próprias mãos.

Com quanto furor e quanta crueldade, oh como sedes desditados!, afundais vossa espada no corpo de vosso semelhante e lhe fazeis perder a vida da alma no mesmo tempo que a vida do corpo !

Ai! O vencedor nestas lutas não tem do que se glorificar de uma vitória onde ele feriu de morte sua alma com a mesma espada que matou seu inimigo. Não é um ato de bravura, mas um verdadeiro acesso de loucura que vos impulsiona nas incertezas de semelhantes combates.

Eu vos ofereço, hoje, povo belicoso e bravo, uma bela ocasião de combater sem vos expor a perigo algum, de vencer com verdadeira glória e de morrer com vantagem.

Se vós vos entregais aos negócios, se vós procurais especulações vantajosas, eu não saberia vos indicar uma mais bela ocasião de fazer um comércio frutífero, não a deixeis passar.

Cruzai-vos, irmãos meus, e vós tereis a certeza de ganhar a indulgência de todos os vossos pecados confessados com um coração contrito.

Esta Cruz de pano não vale grande coisa se considerada em termos de dinheiro. Mas, colocada sobre um coração devotado, ela não vale menos que o Reino dos Céus.

Felizes, pois, aqueles que já se cruzaram, felizes também aqueles que seguindo o exemplo dos primeiros farão questão de pôr sobre seu peito o sinal da Salvação!

Assim seja.

(Fonte : São Bernardo de Claraval, “Obras Completas”, Carta nº CCCLXIII, “Ao povo e ao clero da França oriental”, ano 1146 [excertos]. Texto completo).




Carta de D. Manassés II, arcebispo de Reims:
encomendando ações de graças pela conquista de Jerusalém

Manasses, arcebispo de Reims pela graça de Deus, a seu irmão Lamberto, bispo de Arras; cumprimentos em Jesus Cristo.

Seja-nos permitido, caríssimo irmão, vos fazer conhecer uma notícia verdadeira e gaudiosa que chegou até nossos ouvidos, e que nós acreditaríamos não provir de fonte humana, mas da Divina Majestade. A saber:

Jerusalém ergue-se, com alegria e gratidão, na cimeira em que Deus quis elevá-la gloriosamente nos nossos tempos.

Jerusalém, a cidade de nossa Redenção e de nossa glória, delicia-se com inconcebíveis alegrias, porque graças ao esforço e incomparável empenho dos filhos de Deus foi liberada da mais cruel servidão dos pagãos.

Regozijemo-nos também nós, porque nossa fé cristã em tempos como estes foi estabelecida como um espelho vivo da luz eterna.

Nossa Senhora da catedral de Aquisgrão (também Aachen ou Aix-la-Chapelle)
Nossa Senhora da catedral de Aquisgrão
(também Aachen ou Aix-la-Chapelle)
Portanto, nós vos admoestamos, exortamos e instamos, não somente em atenção às cartas de Nosso Senhor o Papa Pascual, mas também das humildíssimas orações do duque Godofredo, que o exército de Cristo divinamente conduzido elevou à condição de Rei, como também das doces súplicas de Monsenhor Arnolfo, que foi unanimemente escolhido Patriarca da Sé de Jerusalém.

Nós ordenamos com o mesmo afeto que Vós tendes por cada uma de vossas paróquias, que sem falta, sejam elevadas solenes orações e ações de graças para que o Rei dos Reis e o Senhor dos Senhores coroe o Rei dos Cristãos com a vitória contra o inimigo, e ao Patriarca com a religião e a sabedoria contra as seitas e as artimanhas dos heréticos.

Nós ordenamos, da mesma maneira, e exortamos, por meio de vossa obediência, que ordeneis com vossa autoridade a todos os que prometeram sair na expedição e que se impuseram o signo da Cruz, a partirem para Jerusalém, se eles estão fortes de corpo e possuem meios para empreender a viagem.

Em relação aos outros, não cesseis de admoestá-los prudentemente e com o maior tato para não negligenciarem suas ajudas aos ministros de Deus, de maneira que não só o mais elevado, mas o mais inferior, possa receber o espórtula devida àqueles que trabalham a vinha do senhor.

Despeço-me…

Rezai pelo bispo de Puy, pelo bispo de Orange, por Anselmo de Ribemont, e por todos aqueles que hoje repousam em paz, coroados com um tão glorioso martírio.


(Fonte: August. C. Krey, “The First Crusade: The Accounts of Eyewitnesses and Participants”, Princeton, 1921, 264-65. Internet Medieval Source Book)




São Bernardo de Claraval:
“a penitência de vossos pecados é defender a Terra Santa!”


São Bernardo, Biblioteca Apostólica Vaticana
São Bernardo de Claraval (1091–1153) foi delegado pelo Papa para pregar a Segunda Cruzada.

Por volta de 1145 ele pronunciou um sermão reproduzido, embora parcialmente, por Joseph-François Michaud; na sua obra de referência “Histoire des Croisades”  e que tiramos de: Bartleby.com, Great books online:

Vós não podeis ignorar que vivemos num período de castigo e ruína. O inimigo da humanidade soprou um bafo de corrupção que paira sobre todas as regiões.

Nós não encontramos senão a impiedade impune. As leis dos homens e as leis da religião não têm mais suficiente poder para conter a depravação dos costumes e o triunfo da iniquidade.

O demônio da heresia tomou posse da cátedra da verdade, e Deus fez descer a maldição sobre seu santuário.

Eia, pois, vós que me ouvis, apressai-vos para apaziguar a ira do Céu, deixando de implorar seus benefícios por meio de pedidos vãos.

Revesti-vos não com o saco dos penitentes, mas recobri-vos com armaduras impenetráveis.

O exercício das armas, os perigos, os esforços, as fatigas da guerra são as penitencias que Deus vos impõe.

Apressai-vos a expiar vossos pecados obtendo vitórias sobre os infiéis, e que a liberação dos locais santos seja o fruto de vosso arrependimento.

Se vos fosse anunciado que o inimigo invadiu vossas cidades, vossos castelos e vossas terras; que ele raptou vossas mulheres e filhas e profanou vossos templos — quem de vós não pegaria em armas?

Bem, então, todas essas calamidades, e calamidades ainda maiores, caíram sobre nossos irmãos na família de Jesus Cristo, que é a vossa.

Por que hesitais na hora de reparar tantos males? Em vingar tantos ultrajes?

Permitireis que os infiéis contemplem em paz os estragos que cometeram contra o povo cristão?

Lembrai-vos que o triunfo deles será tido como objeto de censura em todas as épocas e como um eterno opróbrio para a geração que o permitiu.

Sim, o Deus vivo encarregou-me de anunciar-vos que Ele quer punir aqueles que não o terão defendido contra seus inimigos.

Voai, pegai nas armas, deixai-vos vos inflamar de uma santa cólera na luta, e fazei vibrar o mundo cristão com estas palavras do profeta: “Maldito aquele que não ensanguenta sua espada!”

[N.T.: “Maldito aquele que faz com negligência a obra do Senhor! Maldito o que recusa o sangue à sua espada!” Jeremias, 48, 10]

Não acrediteis que a mão do Senhor perdeu seu poder pelo fato de vos convocar para defender sua herança.

São Bernardo, Dijon
Não poderia Ele enviar doze legiões de anjos ou sussurrar uma simples palavra para que seus inimigos se desintegrem como areia?

Mas, Deus levou em consideração os filhos dos homens, e quis abrir uma estrada para Sua graça.

Sua bondade permitiu que hoje amanhecesse para vós um dia de salvação vos convocando para vingar Sua glória e Seu nome.

Guerreiros cristãos, quem deu Sua vida por vós, hoje vos pede a retribuição.

Esses são os combates dignos de vós, batalhas em que é glorioso conquistar e vantajoso morrer.

Ilustres cavaleiros, generosos defensores da Cruz, lembrai o exemplo de vossos pais que conquistaram Jerusalém, e cujos nomes estão inscritos no Céu.

Abandonai, pois, as coisas perecíveis para ganhar palmas imarcescíveis e conquistar um Reino que não terá fim.







São Bernardo de Claraval:
recomenda os cavaleiros templários ao Patriarca de Jerusalém


Crak dos Cavaleiros, fortaleza cruzada na Síria
Crak dos Cavaleiros, fortaleza cruzada na Síria
O Patriarca de Jerusalém havia escrito várias cartas a São Bernardo cheias de manifestações de amizade. O santo lhe responde em 1135 e recomenda-lhe os cavaleiros do Templo:

Após ter recebido tantas cartas de Vossa Grandeza patriarcal, eu passaria como um ingrato se não vos respondesse. Mas devolvendo-vos os cumprimentos que me tendes enviado, terei eu feito tudo o que devo?

Vós me tendes alertado por meio de vossas amáveis iniciativas, tendes vos dignado a tomar a iniciativa de me escrever para além dos mares, dando-me assim a prova tanto de vossa humildade quanto de vossa amizade.

Como poderia eu responder-vos à mesma altura?

Eu não sei absolutamente o que fazer para vos retribuir convenientemente, sobretudo agora, quando concedeis uma parte do maior tesouro do mundo enviando-me um fragmento da verdadeira Cruz de Nosso Senhor.

São Bernardo de Claraval. Segundo Philippe de Champaigne. Igeja de Saint-Etienne du Mont, Paris.
São Bernardo de Claraval. Segundo Philippe de Champaigne.
Igeja de Saint-Etienne du Mont, Paris.
Mais, o que dizer! Deveria dispensar-me de responder do melhor modo possível a essas iniciativas se não pudesse fazê-lo como devo?

Eu vos manifestaria pelo menos os sentimentos e as disposições de meu coração respondendo vossas cartas. É a única coisa que posso fazer, separado de vós como estou por tal espaço de terra e mares. Feliz se eu encontro uma ocasião para vos provar que não é só nas palavras e no papel que eu vos amo, mas efetivamente e na prática.

Rogo-vos que vos mostreis propício aos cavaleiros do Templo, e de abrir em favor destes intrépidos defensores da Igreja as entranhas de vossa imensa caridade.

Protegendo esses guerreiros corajosos que expõem sua vida pela salvação de seus irmãos Vós praticareis uma obra tão agradável a Deus como digna dos homens.

Quanto ao encontro que me solicitais, o irmão André vos fará conhecer minhas intenções.





São Bernardo de Claraval:
estimula seu tio André, cavaleiro do Templo


Estímulos de São Bernardo a seu tio André, cavaleiro do Templo
Estímulos de São Bernardo a seu tio André, cavaleiro do Templo
São Bernardo deplora o lamentável resultado da II Cruzada e manifesta a seu tio o desejo de vê-lo.

l. Eu estava no leito pela doença, quando recebi vossa última carta. E não saberia vos dizer com quanta pressa eu a recebi, com quanta felicidade a li e reli; mas quão mais feliz eu teria sido se voltasse a vos ver.

Sim, a vós! Vós me testemunhais o mesmo desejo, expondo-me os temores que vos inspiram o estado do país que o Senhor honrou com sua presença, assim como os perigos que ameaçam a cidade regada com seu sangue.

Oh! Desgraça para os nossos príncipes cristãos! Eles nada de bom fizeram na Terra Santa, apressando-se a voltar a seus países apenas para se entregarem a toda espécie de desordens insensíveis à opressão de José.

Impotentes para o bem, infelizmente eles são poderosos demais para o mal.

Entretanto, eu espero que o Senhor não rejeite seu povo e não abandone sua herança à mercê de seus inimigos. Seu braço é suficientemente potente para socorrê-lo, e sua mão sempre rica em maravilhas.

O universo reconhecerá que mais vale depositar a confiança em Deus do que nos príncipes da Terra.

Vós tendes bem razão em vos comparar com uma formiga. Não somos outra coisa com toda a pena e fatiga que, pobres humanos, nós sofremos por causa de coisas inúteis ou vãs.

Que outra coisa é o homem que tira tantas penas e trabalhos sob a face do sol?

Elevemos nosso olhar para o céu, e que nossa alma vá adiante até aquele local onde um dia nosso corpo deverá acompanhá-la.

É isso o que vós fazeis, meu caro André, pois ali se encontram o fruto e a recompensa de vossos trabalhos.

Aquele que vós servis sob o sol habita no mais alto dos Céus, e se o campo de batalha é aqui embaixo, a recompensa ao vencedor se encontra lá no alto.

Pois não é absolutamente nesta terra que cumpre procurar o prêmio da vitória; ele está mais alto e seu valor supera tudo quanto existe nos limites deste universo.

Sob o sol não há senão indigência e pobreza; lá encima estaremos não apenas na abundância, mas receberemos a medida plena e superabundante que o Senhor derramará em nosso peito (Lc. VI, 38).

2. Vós tendes o maior desejo de me ver, acrescentando que ele não depende senão de mim para obter essa felicidade, e que eu só tenho a dizer uma palavra para que vós venhais.

O que vos dizer? Eu desejo vos ver, mas tenho medo de ao mesmo tempo em que vierdes, eu não saiba o que escolher.

Por um lado, eu me sinto levado a satisfazer vosso desejo e o meu. Por outro, temo vos tirar do país [Terra Santa] onde se diz que vossa presencia é mais do que necessária, e que em virtude de vossa ausência se encontraria exposto aos maiores perigos.

Eu não ouso, pois, vos desvendar o desejo de minha alma e, entretanto, o quanto eu seria feliz de vos rever antes de morrer!
São Bernardo de Claraval, abade, taumaturgo, devotíssimo de Nossa Senhora e ardoroso pregador das Cruzadas
São Bernardo de Claraval, abade, taumaturgo,
devotíssimo de Nossa Senhora e ardoroso pregador das Cruzadas

Vós estais em melhor posição do que eu para ver e julgar se podeis deixar esse país sem inconveniente e escândalo para ninguém.

Talvez vossa viagem até nosso país não fosse tão inútil e, pela graça de Deus, poderia ser que não retornásseis sozinho à Palestina.

Sois conhecido e amado aqui, e não faltariam pessoas que se poriam ao serviço da Igreja junto convosco.

Nesse caso vós podereis exclamar com o santo patriarca Jacó: “Eu estava só quando atravessei o Jordão, e agora eu volto a atravessá-lo escoltado com três tropas” (Gen., XXXIII, 10).

Em todo caso, se vós deveis vir me ver, que seja mais cedo do que tarde, de medo que não encontreis mais ninguém, pois eu me debilito rapidamente e não acredito que minha peregrinação sobre a terra prossiga ainda por muito tempo.

Deus queira que eu tenha a consolação de gozar de vossa doce e amável presença pelo menos durante alguns instantes antes que eu parta deste mundo!

Eu escrevi à rainha nos termos que vós desejáveis, e eu estou muito contente do elogio que me fizestes de sua pessoa.

Cumprimentai de minha parte o vosso Grão Mestre e vossos confrades, os cavaleiros do Templo, assim como os do Hospital, do mesmo modo como eu a vós mesmo vos saúdo.

Eu vos rogo recomendar-me, havendo ocasião, aos reclusos e aos religiosos que me enviaram cumprimento por vosso intermédio. Aceitai ser meu intérprete junto a eles.

Eu saúdo com o maior afeto o nosso caro Geraldo, que ficou algum tempo entre nós e que, segundo dizem, agora é bispo.





São Bernardo de Claraval:
exorta Manuel Comneno, Imperador de Constantinopla a apoiar a Cruzada


São Bernardo de Claraval
São Bernardo de Claraval
Ao grande e glorioso Manuel, Imperador de Constantinopla, o irmão Bernardo, abade de Claraval, saudação e orações.

1. Se eu me permito escrever a uma Majestade como a vossa, não me acuseis nem de temeridade nem de audácia. Agindo assim eu só cedo diante de uma inspiração da Caridade que não duvida de nada.

Pois, da minha parte, quem sou eu e que posição ocupa minha família em meu país para que eu ouse escrever a um tão grande imperador?

Eu sou pobre e obscuro, distâncias imensas e vastos mares me separam de vossa sublime pessoa. O que há, pois, que possa aproximar minha inferioridade de vossa grandeza, se eu não contasse para isso com a própria humildade de Jesus Cristo, de quem os reis e os povos da terra, os príncipes e os juízes se glorificam?

O renome trouxe até nós o eco de vossa magnificência e a glória de vosso nome que hoje enchem a terra inteira.

Eis por que eu me prosterno aos pés do Pai dos espíritos, d’Aquele de quem provém toda paternidade no Céu e na terra, implorando-lhe não vos fazer deixar o império da terra senão para vos dar o Reino dos Céus, cuja duração é eterna (Psalm. CXLIV).

2. Eu não tenho, portanto, nenhum título para apresentar aos pés do trono de vossa glória a pessoa encarregada de vos entregar esta carta; trata-se de um jovem da maior nobreza a quem eu vos imploro armar cavaleiro e conceder uma espada contra os inimigos da Cruz de Jesus Cristo e de todos aqueles que contra Ele se levantam com a cabeça orgulhosa e ameaçadora.

Este jovem podia aspirar às maiores honrarias, mas seguindo meu conselho, preferiu o brilho de vosso império e a gloriosa lembrança que ele conservará até o túmulo da mão que o terá feito cavaleiro.

Eu não teria ousado vos rogar e interessar-vos por este jovem se não estivesse concernido Jesus, por quem ele empreende uma expedição tão longa e trabalhosa.

Dignai-vos persuadir de que tudo quanto vós fizerdes por ele, eu o terei em conta como se a mim o tivésseis feito.

Manuel I Comneno, imperador de Constantinopla
Manuel I Comneno, imperador de Constantinopla
3. Agora vos cabe, gloriosíssimo imperador, mostrar toda vossa bondade e multiplicar vossos atos; a terra inteira está abalada e agitada porque o Rei do Céu perdeu a pátria que tinha aqui embaixo, o país que seus pés pisaram.

Os inimigos do Senhor se apressam para cair sobre a Cidade Santa e destruir o Sepulcro glorioso, quer dizer, onde a flor virginal saída de Maria foi depositada, envolta em panos e bálsamos, e de onde logo ela saiu maior e mais plena de vida para brilhar sobre nossa pobre Terra.

Eis por que, por ordem do soberano Pontífice e de nossas próprias autoridades partiu o rei da França, e com ele uma multidão de senhores, cavaleiros e pessoas que se puseram em marcha rumo à Terra Santa, planejando atravessar terras de vosso império para ir em socorro da cidade do Deus vivo.

Cabe-vos recebê-los com honra e, desde já, tomar todas as medidas que de Vós se podem esperar em virtude da posição que ocupais, do poder que tendes em vossas mãos, da dignidade imperial de que justamente vos ufanais e dos tesouros que possuís.

Não podeis, aliás, agir de outro modo, pois o exige a dignidade do império, a honra de vossa pessoa e a salvação eterna de vossa alma.

Eu vos recomendo, entre todos e acima de todos, o jovem filho do ilustre conde Thibaut. Tratai-o bem, não somente como merece um príncipe de seu sangue, mas tende por ele uma atenção especial.

Ele é muito jovem, mas de ilustre família, de excelente índole e quer fazer suas primeiras armas pela causa da justiça, e não da injustiça.

Ele é também o filho de um pai cuja equidade e suavidade o colocam na primeira posição na estima e no afeto dos homens.

Em recompensa pelo que fizerdes por este jovem príncipe, eu vos ofereço uma parte dos méritos e de todas as boas obras que se praticam e se praticarão em nossa Casa, a fim de que Nosso Senhor Jesus Cristo, o filho de Maria, o esposo da Igreja, vos conceda a vitória na Terra e a coroa de glória nos Céus!

(Fonte: Obras completas de São Bernardo, abadia de Saint-Benoit, Cartas aos Templários)




São Bernardo de Claraval aos barões da Bretanha:
“Quem não tem espada, compre-a!”


São Bernardo consola Jesus Crucificado. Bamberg, Alemanha
São Bernardo consola Jesus Crucificado. Bamberg, Alemanha
Em 1146, o Doutor Melífluo – assim denominado pela unção que emanam de seus escritos, especialmente os dedicados a Nossa Senhora – escreveu uma carta aos barões da Bretanha.

Naquele tempo o ducado de Bretanha constituía um Estado independente.

“1. A terra inteira treme e está abalada porque o Rei do Céu perdeu sua pátria aqui embaixo, os locais que seus pés pisaram.

Os inimigos de sua Cruz conjuraram-se contra Ele e exibindo-se cheios de audácia e orgulho, bradaram todos juntos: “Apoderar-nos-emos de seu santuário”.

Eles querem se apoderar dos Santos Lugares onde se efetivou nossa salvação, e ameaçam emporcalhar com sua presença os locais regados com o sangue de nosso Salvador.

Mas o que eles querem no mais fundo de seu coração é destruir o tesouro insigne da religião cristã, esse Sepulcro onde o corpo do Salvador foi depositado e sua Face divina recoberta com um Sudário.

Eles apontam com mão ameaçadora a montanha de Sião, e se o próprio Senhor não fosse seu guardião, eles não demorariam em cair sobre a cidade santa de Jerusalém, a cidade onde o nome de Deus vivo foi outrora invocado.

Os cristãos são jogados nos cárceres ou cruelmente massacrados como ovelhas sem defesa.

O olho da Providência parece fechado sobre estas desgraças, mas só para melhor ver se encontrará alguém que compreenda a vontade de Deus e queira efetivá-la, que sofre a afronta com a qual Ele é ameaçado e esforce-se em devolver-lhe sua herança.

Embora Ele possa tudo quanto quer, só deseja que os cristãos tenham o mérito da vitória, reservando para Si o poder de esmagar seus inimigos.

Cruzados, altar em Gante, Bélgica
Cruzados, altar em Gante, Bélgica
2. Eis por que, atendendo ao premente apelo do rei nosso senhor, e obedecendo às ordens da Santa Sé, nós marchamos em multidão, no dia de Páscoa, até Vézelay, onde o rei nosso senhor e sua corte tinham se reunido.

Após ter exposto aos olhos de todos o triste estado das coisas, foi lida uma carta do Papa, da qual eu vos envio uma cópia.

O Espírito Santo tocou os corações e o rei pegou a cruz junto com uma multidão de homens e grande número de senhores, e de todas as partes se viu acudir pessoas ansiosas de colocar sobre seu peito o sinal da salvação.

Como vosso país está cheio de valentes guerreiros e de uma juventude plena de bravura, incumbe-vos alistar entre os primeiros, junto com aqueles que já deram seu nome para a expedição santa, e de espada em mão partir para defender a causa do Deus vivo.

Coragem, pois, generosos guerreiros! Revesti-vos de vossas armas e aquele que não tiver espada que se apresse a comprar uma!

Não deixeis sozinho o rei da França, vosso rei; isso seria abandonar o próprio Rei dos Céus, pelo qual nosso rei empreende uma guerra tão longe e tão penosa.

Vós não demorareis em receber a visita de um verdadeiro homem de Deus, o senhor bispo de Chartres.

Ele vos informará com mais detalhes de tudo quanto aconteceu aqui, e ao mesmo tempo vos mostrará as indulgências consideráveis que o Papa concede por meio de sua carta àqueles que tomarem a Cruz.

Em nome d’Aquele que quis morrer por vossa salvação, voai em defesa dos lugares onde Ele foi morto e consumou a nossa Redenção, se não desejais que os pagãos digam logo: “Onde, pois, está vosso Deus?”

Que Nosso Senhor Jesus Cristo, o filho de Maria, o esposo da Igreja, vos conceda a vitória na Terra e a coroa da glória nos Céus.”

(Fonte: Obras completas de São Bernardo, abadia de Saint-Benoit, Cartas aos Templários)




São Bernardo de Claraval:
felicita a Hugo, filho do conde de Champagne, que se fez cavaleiro templário


São Bernardo de Claraval. Juan Correa de Vivar (1510-1566)
Em 1125, São Bernardo escreveu a Hugo, filho de Thibaut III e conde de Champagne, para felicitá-lo por ter ingressado na Ordem de Cavalaria do Templo e assegurar-lhe sua eterna gratidão.

“Se for por Deus que de conde vos tornastes um simples soldado; e em pobre de rico que fostes, eu vos felicito do mais fundo de meu coração, e dou glória a Deus, porque eu estou convencido de que essa mudança foi obra da destra do Altíssimo.

“Entretanto, sinto-me obrigado a vos confessar que não posso facilmente renunciar, por uma ordem secreta de Deus, a vossa amável presença, e de nunca mais voltar a vos ver, a vós junto a quem eu teria desejado ter passado minha vida inteira, se isso tivesse sido possível.

“Poderia eu, com efeito, esquecer vossa antiga amizade, e os benefícios com que tendes cumulado nossa Casa?

“Eu rogo a Deus, cujo amor vos inspirou tanta munificência por nós, de vos ter em conta de um verdadeiro fiel.

“Da minha parte, conservarei uma gratidão eterna, da qual quereria poder vos dar as provas.

“Ah! Se me tivesse sido dado viver convosco, com quanta sofreguidão eu teria querido atender às necessidades de vosso corpo e de vossa alma.

“Mas posto que isso me é impossível, só me fica vos garantir que, apesar da distância, vós não cessareis de estar presente em meu espírito durante minhas orações.”

(Fonte: Obras completas de São Bernardo, abadia de Saint-Benoit, Cartas aos Templários)




São Bernardo de Claraval:
Elogio dos Templários



Pediste-me uma, duas ou três vezes, se não me engano, Hugo caríssimo, que fizesse uma exortação para ti e teus cavaleiros. E como não me era permitido servir-me da lança contra as agressões dos inimigos, desejaste que, pelo menos, empregasse minha língua e meu gênio contra eles, assegurando-me que eu te faria um favor se animasse com minha pena aqueles que não posso animar pelo exercício das armas.

Voa por todo o mundo a fama do novo gênero de milícia que se estabeleceu no país em que o Filho de Deus encarnou-se e expulsou pela força de seu braço os ministros da infidelidade.

Este é um gênero de milícia não conhecido nos séculos passados, no qual se dão ao mesmo tempo dois combates com um valor invencível: contra a carne e o sangue e contra os espíritos de malícia espalhados pelos ares. Em verdade, acho que não é maravilhoso nem raro resistir generosamente a um inimigo corporal somente com as forças do corpo. Tampouco é coisa muito extraordinária, se bem que seja louvável, fazer guerra aos vícios ou aos demônios com a virtude do espírito, pois se vê todo o mundo cheio de monges que estão continuamente neste exercício. Mas quem não se pasmará por uma coisa tão admirável e tão pouco usada como é ver a um e outro homem poderosamente armado dessas duas espadas, e nobremente revestido do caráter militar?

Certamente esse soldado é intrépido e está garantido por todos os lados. Seu espírito se acha armado do elmo da fé, da mesma forma que seu corpo da couraça de ferro. Estando fortalecido por essas duas espécies de armas, não teme nem aos homens nem aos demônios. E digo mais: não teme a morte, posto que deseja morrer. Com efeito, o que pode fazer temer, seja a morte ou a vida, quem encontra sua vida em Jesus Cristo e sua recompensa na morte? É certo que ele combate com confiança e com ardor por Jesus Cristo, entretanto deseja mais morrer e estar com Jesus Cristo, porque este é seu fim supremo.

Eia, pois, valorosos cavaleiros, marchai com segurança, expulsai com uma coragem intrépida os inimigos da Cruz de Nosso Senhor, e estai certos de que nem a morte nem a vida poderão separar-vos da caridade de Deus, que está em Jesus Cristo. Pensai com freqüência, durante o perigo, nestas palavras do Apóstolo: "Vivamos ou morramos, somos de Deus".

Oh! Com quanta glória voltam do combate esses vencedores! Oh! Com quanta ventura morrem esses mártires na peleja! Regozija-te, campeão valoroso, de viver no Senhor, mas regozija-te ainda mais de morrer e ser unido ao Senhor.

Sem dúvida tua vida é frutuosa e tua vitória gloriosa, mas tua morte sagrada deve ser preferida com justa razão a uma e a outra. Pois se os que morrem no Senhor são bem-aventurados, quanto mais não o serão aqueles que morrem pelo Senhor?

Em verdade, de qualquer maneira que se morra, seja no leito, seja na guerra, a morte dos santos será sempre preciosa diante de Deus. Mas a que ocorre na guerra é tanto mais preciosa, tanto maior é a glória que a acompanha.

Oh! Que segurança, repito, há na vida que espera a morte sem temor nenhum! Oh! Deseja-a com ânsia e recebe-a com devoção!

Oh! Quão santa e segura é esta milícia, e quão livre e isenta está desse duplo perigo em que se acham ordinariamente as gentes de guerra, que não têm Jesus Cristo por fim de seus combates!

Porque tantas vezes como entras na peleja — tu, que não combates senão por um motivo temporal — deves ter temor de matar a teu inimigo quanto ao corpo, e a ti mesmo quanto à alma, ou talvez de ser morto por ele quanto ao corpo e quanto à alma juntamente.

Pois o perigo ou a vitória do cristão se deve considerar, não pelo sucesso do combate, mas pelo afeto do coração. Se a causa daquele que peleja é justa, seu êxito não pode ser mau, assim como o fim não pode ser bom se é defeituoso o motivo e torta sua intenção.

Se, com a vontade de matar a teu inimigo, tu ficas estendido, morres fazendo-te homicida. E se ficas vencedor, e fazes perecer a teu contendor com o desígnio de triunfar dele e de vingar-te, vives homicida. Pois quer morras, quer vivas, quer sejas vitorioso ou vencido, de nenhum modo te é vantajoso ser homicida. Desgraçada vitória a que te faz sucumbir ao vício, ao mesmo tempo que triunfar de um homem. Em vão te glorias de ter triunfado de teu inimigo, quando a cólera e a soberba te reduzem à escravidão.

A milícia secular

Qual é o fim e o fruto, não digo desta milícia (o Templo), mas da milícia secular, quando aquele que mata peca mortalmente, e aquele que é morto perece por uma eternidade? Servindo-me das palavras do Apóstolo: "Aquele que semeia o grão deve fazê-lo na esperança de gozar de seu fruto".

Mas dizei-me, valentes do século: que ilusão espantosa é esta e que insuportável furor é este, de combater com tantas fadigas e gastos, sem outro salário que o da morte e o do crime?

Cobris os cavalos de belos ornamentos de seda, forrais as couraças com ricas fazendas, pintais as lanças, os escudos e as selas, levais as rédeas dos cavalos e as esporas cobertas de ouro, de prata e de pedrarias, e com toda essa pompa brilhante vos precipitais na morte, com furor vergonhoso e com uma estupidez que não tem menor discernimento.

São equipagens de guerra ou são o adorno de mulheres? Pensais que a espada do inimigo terá respeito ao ouro que levais? Que preservará vossa pedraria, e que não será capaz de transpassar essas belas fazendas de seda?

Enfim eu julgo, e sem dúvida vós o experimentais com bastante freqüência, que há três coisas que são inteiramente necessárias: é mister que o prudente e valoroso cavaleiro tenha muito domínio sobre si, para enganar os golpes do adversário; que tenha iniciativa e habilidade, para mover-se de qualquer lado; que esteja sempre preparado para carregar sobre o inimigo.

Mas vós fazeis tudo ao contrário: levais, como as damas, grandes cabeleiras, que vos atrapalham para atingir o que tendes em volta; embaraçais as pernas com vossas longas vestimentas; envolveis vossas fracas e delicadas mãos com grandes véus.

Mas acima de tudo isso, o que deve assustar mais a consciência dos combatentes é que ordinariamente se empreende uma guerra muito perigosa por motivos muito ligeiros e de nenhuma importância.

Efetivamente, o que suscita os combates e as querelas entre vós não é, o mais das vezes, outra coisa senão um movimento de cólera pouco razoável, um certo apetite de vanglória ou o avaro desejo de possuir um pedaço de terra. Com semelhantes causas, não há nenhuma segurança em matar um homem ou em ser morto.


A milícia do Templo

Mas o mesmo não se dá com os Cavaleiros de Jesus Cristo, pois combatem somente pelos interesses de seu Senhor, sem temor de incorrer em algum pecado pela morte de seus inimigos e sem perigo nenhum pela sua própria, porque a morte que se dá ou recebe por amor de Jesus Cristo, muito longe de ser criminosa, é digna de muita glória.

Por um lado se adquire em ganho para Nosso Senhor, por outro é Jesus Cristo mesmo que o adquire; porque Ele recebe com gosto a morte de seu inimigo em seu desagravo, e se entrega com mais gosto ainda como consolo de seu soldado fiel.

Assim, o soldado de Jesus Cristo mata com segurança o seu inimigo e morre com maior segurança. Se morre, faz o bem para consigo; se mata, o faz para Jesus Cristo; porque não é em vão que ele leva ao lado a espada, pois é ministro de Deus pata tirar vingança sobre os maus e defender pela virtude os bons.

Certamente, quando se mata um malfeitor, não se passa por homicida. Antes, se me é permitido falar assim, por malicida. Passa por ser o justo vingador de Jesus Cristo na pessoa dos pecadores, e por ser o legítimo defensor dos cristãos. E quando ele perde a vida, é antes uma vantagem do que uma perda. Pois a morte que dá a seu inimigo é um ganho para Nosso Senhor, e a que recebe é sua ventura verdadeira.

Um cristão se glorifica na morte de um pagão, porque Jesus Cristo é glorificado nela; e a liberalidade do Rei dos Reis se torna manifesta na morte de um soldado cristão, porque ele é levado da terra para o prêmio.

À vista do mau, o justo se regozijará vendo a vingança executada nele. Do bom, dirão os homens: "Ficará o justo sem recompensa? Não há Deus que é seu juiz sobre a terra?" É certo que não se deveria exterminar os pagãos se houvesse algum outro meio de punir e evitar os maus tratos e opressões violentas que eles exercem contra os cristãos. Mas é muito mais justo combatê-los agora do que sofrer sempre o jugo dos pecadores sobre os justos, assim os bons não cometerão iniqüidades com os pecadores.

Com efeito, se de nenhum modo fosse permitido a um cristão fazer guerra, por que teria o precursor do Salvador declarado no Evangelho que os soldados devem estar contentes com seu pagamento, e não proibiu toda sorte de guerra?

Se, como é certo, este é um emprego lícito para todos aqueles que Deus destinou a ele, e não estão empenhados em outra profissão mais perfeita, quem — vos pergunto — o pode servir com mais vantagens do que nossos valorosos cavaleiros, que pela força de seu braço e de sua coragem conservam generosamente a cidade de Sion como o baluarte mais forte de toda a Cristandade, a fim de que, expulsos dele os inimigos da lei de Deus, possam as nações fiéis, que guardam a verdade, entrar ali com toda segurança?

Dispersai, pois, e dissipai com firmeza os infiéis que buscam a guerra, e sejam exterminados aqueles que nos conturbam continuamente; lançai fora da cidade do Salvador todos os ímpios que cometem a iniqüidade, que desejam roubar os inestimáveis tesouros do povo cristão dos quais a cidade de Jerusalém é o sagrado depósito, os que desejam profanar as coisas santas e possuir o santuário de Deus, como se fosse herança sua. Sejam vibradas as duas espadas dos fiéis contra as cervizes dos inimigos, a fim de destruir toda cultura que queira elevar-se contra a ciência de Deus, que é a fé dos cristãos, para que os gentios não digam um dia: onde está o Deus destas nações?

Então, expulsos os inimigos de sua casa, Nosso Senhor mesmo voltará à sua herança, da qual predisse em sua cólera: "Vede que vossa casa ficará desamparada como um deserto"; e à qual se refere, pela boca de seu profeta, nestas palavras: "Desejei minha casa e abandonei minha herança". Será cumprida esta profecia de Jeremias: "O Senhor resgatou seu povo e o libertou; e eles virão e se regozijarão sobre a montanha de Sion, e gozarão com prazer dos bens do Senhor".

Alegra-te, ó Jerusalém, e reconhece o tempo de tua visita. Regozijai-vos e entoai cânticos de gratidão, desertos de Jerusalém, porque Deus consolou seu povo, livrou Jerusalém e mostrou a força de seu braço santo à vista de todos os gentios.

A vida dos cavaleiros templários

É mister agora que, para exemplo ou confusão de nossos soldados, digamos umas palavras da vida e dos costumes dos cavaleiros de Jesus Cristo, e de que maneira se portam na guerra e em sua vida particular, a fim de fazer conhecer melhor a diferença que há entre a milícia de Deus e a do século.

Primeiramente, quer na guerra, quer na paz, guarda-se perfeitamente a disciplina e a obediência exata, porque, segundo o testemunho da Escritura, "o menino que vive sem disciplina perecerá". E também: "é um crime de magia resistir, e um pecado de idolatria não querer obedecer".

Vai-se e vem ao primeiro sinal daquele que manda, veste o que se dá e não ousa buscar em outra parte nem a vestimenta, contentando-se em satisfazer apenas as necessidades. Todos vivem em comum, em uma sociedade agradável e modesta; sem mulheres e sem filhos, a fim de que nada falte à perfeição evangélica; moram todos juntos numa mesma casa, sem propriedade alguma particular, tendo um cuidado muito grande em conservar a unidade de espírito no laço da paz.

Dir-se-ia que toda essa multidão de pessoas não tem senão um coração e uma só alma. Cada um procura com cuidado não seguir sua própria vontade, mas sim obedecer pontualmente à ordem do superior.

Não estão jamais ociosos nem correm daqui para lá, desejando satisfazer sua curiosidade. Mas quando não estão em marcha, o que sucede raras vezes, estão sempre ocupados, para não comer ociosamente seu pão, em refazer o que estragou-se de suas armas e de seus hábitos, em reparar o que está demasiadamente velho ou em colocar em ordem o que está fora do lugar. Enfim, em trabalhar em tudo aquilo que a vontade do Grão-Mestre ou a necessidade comum prescreve.

Entre eles não há acepção de pessoas. Tem-se consideração pela generosidade, e não pela maior nobreza. Apressam-se em honrar-se mutuamente e em carregar as cruzes do próximo, a fim de cumprir por este meio a lei de Jesus Cristo. Uma palavra insolente, uma ação inútil, um risco imoderado, uma leve queixa ou a menor murmuração não ficam jamais sem castigo neste lugar. Desprezam e têm horror aos cômicos e aos mágicos, aos contos de fantasias, às canções burlescas e a toda sorte de espetáculos e de comédias, como vaidades e loucuras falsas. Levam seus cabelos curtos, sabendo que, segundo o Apóstolo, é vergonhoso a um homem cuidar de sua cabeleira.

Quando estão prestes a entrar em guerra, fortificam-se por dentro com a fé e por fora com as armas de aço não douradas, para, assim armados sem ornamentos preciosos, infundir terror aos inimigos, em vez de excitar sua avareza. Cuidam muito de ter bons cavalos, fortes e ligeiros, e não reparam que sejam de pelagem bonita ou estejam ricamente ajaezados. Pensam mais em combater do que em apresentar-se com fausto e pompa.

Aspirando à vitória e não à vanglória, procuram fazer-se mais respeitar do que admirar por seus inimigos. Jamais marcham em confusão e com impetuosidade, nem se precipitam às pressas nos perigos, pelo contrário estão sempre em seus postos com uma precaução e prudência inimagináveis.

Entram em batalha na mais bela ordem, segundo o que está escrito do povo de Deus: "Os verdadeiros israelitas marcham para a batalha com o espírito pacífico. Mas chegados ao embate, põem de lado a mansidão costumeira, como se dissessem: ‘Não é certo que eu aborreço a todos que vos aborrecem, Senhor, e que me consumo de cólera contra vossos inimigos?’"

Lançam-se como leões sobre seus adversários, olhando as tropas inimigas como rebanhos de ovelhas.

Mesmo que muito poucos em número, não temem de maneira alguma a multidão de seus soldados nem sua crueldade bárbara. Estão igualmente ensinados a não confiarem em suas próprias forças, mas a esperam do poder do Deus dos Exércitos, ao qual é fácil, segundo a sentença do generoso Macabeu, entregar as numerosas fileiras inimigas nas mãos de um punhado de pessoas, não fazendo, para Deus do céu, nenhuma diferença em livrar seu povo com muita ou pouca gente.

Porque a vitória da guerra não vem do grande número de soldados, mas de um favor do céu. Isto eles têm experimentado freqüentemente, até ter visto muitas vezes um milhar de homens posto em fuga por um só, e dez mil por dois somente.

Enfim, vê-se todavia no dia de hoje, por uma graça singular e admirável, que eles são mais mansos que cordeiros e mais ferozes que leões. De tal forma que, de boa fé, fico indeciso em dizer se deve-se qualificá-los com o nome de monges ou de cavaleiros, e me pergunto se não seria melhor chamá-los com um e outro nome, posto que têm a mansidão dos monges e a força dos soldados.


O que se pode dizer aqui, senão que é Deus mesmo o autor dessas maravilhas que vemos com pasmo diante de nossos olhos?

É Deus, volto a dizer, quem escolheu para si tais servos e os juntou de todas as extremidades da terra, dentre os mais valentes de Israel, para guardar animosamente o leito do verdadeiro Salomão, isto é, o Santo Sepulcro, com a força de suas armas e com sua destreza nos combates.

Fontes:

LATIM: nas OBRAS COMPLETAS: S. BERNARDI ABBATIS DE LAUDE NOVAE MILITIAE AD MILITES TEMPLI LIBER, Opera Omnia 541 ADMONITIO IN OPUSCULUM VI.

FRANCÊS: De Laude novae militiae, Par Bernard De Clairvaux.
Em PDF: CLICAR AQUI

PORTUGUÊS: Elogio à Nova Milícia - São Bernardo





São Raimundo de Penhaforte: grande canonista e moralista que pregou a Cruzada (1)


Raimundo nasceu por volta de 1176 no castelo de Penhaforte, próximo de Villafranca del Panadés, na Catalunha, Espanha. Seus pais, ricos e nobres, descendiam dos antigos condes de Barcelona. Eram também aparentados com a casa real de Aragão.

Fez seus estudos na escola da catedral de Barcelona e formou-se depois em letras, com tal êxito que o bispo o convidou para nela lecionar retórica e lógica. Tinha então 20 anos. Desapegado de qualquer interesse humano, ensinava gratuitamente, dando a todos o exemplo de suas virtudes.

Em 1210 foi estudar Direito civil e eclesiástico na famosa universidade de Bolonha, na Itália. Fez a viagem a pé, pedindo esmolas pelo caminho.

Ao passar por Briançon, na França, presenciou um estupendo milagre operado por Nossa Senhora de Delbeza.

Um jovem fora assaltado por ladrões, que lhe furaram os olhos e cortaram as mãos. A Virgem restituiu-lhe mãos e olhos. O relato autêntico desse fato passou para a História narrado pelo próprio São Raimundo.

Doutor em Direito canônico e civil

Estudando com diligência, auxiliado por boa inteligência e feliz memória, doutorou-se com brilho em 1216. Foi então escolhido, por aclamação, para ensinar na própria universidade, onde os alunos eram sobretudo nobres e letrados.

Ensinou com êxito durante dois anos, não exigindo nenhuma remuneração. Entretanto, o senado da cidade concedeu-lhe um soldo anual, que utilizava para auxiliar os párocos pobres e os necessitados em geral.

Um fato novo veio mudar totalmente o rumo de sua vida. Em 1218 o bispo de Barcelona, Berenguer de Palou, no desejo de obter para sua diocese alguns frades da nova ordem dos dominicanos, foi à Itália para encontrar-se com São Domingos de Gusmão.

Passando por Bolonha, ouviu os maiores elogios a Raimundo, e quis tê-lo como professor do seminário que ia fundar. Depois de muita insistência — alguns autores dizem mesmo que o Papa interveio no assunto — ele aceitou.

Em Barcelona recebeu um canonicato e foi elevado à dignidade de arcediago da catedral. Cheio de zelo pela casa de Deus, aproveitava todas as ocasiões para aumentar o decoro da catedral e a majestade do culto divino. As novas e maiores rendas permitiram-lhe também socorrer com mais liberalidade os pobres, a quem chamava “meus credores”.

Muito devoto do mistério da Anunciação, obteve do bispo e do capítulo da catedral que passassem a festejar com maior solenidade essa festa. Deixou para isso parte de sua renda.

Desejoso de levar vida mais recolhida e penitente, pediu admissão nos dominicanos em 1222, apenas oito meses depois que São Domingos falecera. Ia completar 47 anos de idade, mas começou o noviciado com o fervor do mais jovem postulante.

Co-fundador da Ordem de Na. Sra. das Mercês

São Raimundo pediu ao seu superior que lhe impusesse severa penitência, a fim de expiar a vã complacência que supunha haver tido quando catedrático em Bolonha.

Tendo em vista a grande capacidade e conhecimento que o noviço possuía do Direito e dos cânones, o superior mandou-o escrever uma Suma de casos de consciência para que, por ela, se orientassem os confessores da Ordem.

O Papa Clemente VIII afirmou que esse trabalho de São Raimundo era “tão útil aos penitentes quanto necessário aos confessores”. Foi o primeiro escrito no gênero, tendo alcançado grande difusão.

Segundo a tradição, nessa época Nossa Senhora apareceu em sonhos, na mesma noite, a São Raimundo, a seu dirigido São Pedro Nolasco, e ao rei Jaime I, inspirando-lhes o desejo de fundar uma ordem religiosa e militar cujos membros se obrigassem, por voto, a redimir os cativos em poder dos mouros.

Assim surgiu, no dia 10 de agosto de 1223, a Ordem de Nossa Senhora das Mercês para a Redenção dos Cativos.

São Raimundo redigiu o corpo de prescrições e regras para a nova Ordem, inspiradas na regra dos dominicanos. Mais tarde, em fevereiro de 1235, foi ele também quem obteve do Papa Gregório IX a aprovação definitiva da Ordem.

Pregador de cruzada, confessor do Papa, inquisidor


Em 1229 o cardeal João Helgrin d’Abbeville, legado da Santa Sé na Espanha, foi encarregado de uma tríplice missão: pregar a cruzada contra os mouros; declarar nulo o casamento de Jaime de Aragão com Eleonora de Castela; e fazer a visita canônica das igrejas, pondo em vigor, onde necessário, os decretos do concílio de Latrão.

O cardeal associou a si São Raimundo de Penhaforte, que percorreu as cidades da região a fim de preparar o povo para receber o legado.

Pregava a indulgência da cruzada, ouvia confissões e dispunha com prudência os corações, de maneira que, chegando o legado, encontrasse já os ânimos muito bem dispostos para as novas medidas.

Finda a missão, o cardeal d’Abbeville, ao dar ao Papa conta de sua missão, ressaltou a preciosa ajuda de São Raimundo, a quem cobriu de elogios. Gregório IX encarregou então o santo de pregar nas províncias de Arles e Narbona em favor da expedição do rei Jaime de Aragão contra os mouros.






São Bernardo de ClaravalSão Raimundo de Penhaforte: grande canonista e moralista que pregou a Cruzada (2)


Ordena a coleção das Decretales

Em 1230 o Papa chamou-o à corte pontifícia, escolhendo-o seu confessor, capelão e penitenciário. Nessa qualidade o santo redigiu grande número de documentos para o Soberano Pontífice.

Como confessor, impunha ao Papa, como penitência, despachar com misericórdia e brevidade as causas dos pobres que acudiam à corte pontifícia e não tinham protetor.

São Raimundo tomou ainda parte ativa na introdução da Inquisição em Aragão e deu seu parecer sobre o procedimento a seguir em relação aos hereges da província de Tarragona.

Vagando a sé dessa cidade, Gregório IX nomeou-o seu bispo. São Raimundo protestou tanto e chegou a adoecer tão gravemente, que o Papa revogou a nomeação, pelo temor de perdê-lo.

O trabalho intelectual mais importante que se deve a São Raimundo de Penhaforte na corte pontifícia foi o de ordenar e editar a nova coleção das Decretales (os vários decretos e decisões pontifícias regulando pontos da disciplina eclesiástica e civil), destinada a substituir as várias existentes, que estavam em profunda desordem e confusão.

O santo trabalhou durante quatro anos nessa tarefa. Gregório IX, mediante bula de 5 de setembro de 1234, enviou a nova coleção às universidades de Paris e Bolonha, em caráter oficial.

Em 1237, Gregório IX encarregou-o de absolver o rei Jaime de Aragão da excomunhão em que havia incorrido, devido ao atentado cometido, através de seus agentes, contra o bispo eleito de Saragoça.

O santo exerceu as funções de penitenciário até 1237 ou começo de 1238. Tendo então adoecido gravemente, os médicos aconselharam-lhe os ares da pátria.

No capítulo geral dos dominicanos realizado em Bolonha, apesar de ausente, foi eleito por unanimidade para substituir o geral Jordão de Saxe, falecido num naufrágio.

Tendo que aceitar o cargo por obediência, promoveu nova redação das constituições da Ordem, que foram aprovadas em 1239 no capítulo geral de Paris.

Em 1240 demitiu-se do generalato devido à idade e pouca saúde, e voltou para seu convento de Barcelona. Mas lá não permaneceu inativo. Promoveu uma campanha de apostolado em relação aos judeus e mouros da Espanha e da África, e trabalhou com sucesso para a repressão da heresia na Espanha.

Foi também por iniciativa sua que se abriu em Múrcia uma escola de hebreu, para facilitar o ministério apostólico com os judeus.

A tradição conservou um fato milagroso ocorrido com São Raimundo nessa época. O rei Jaime I – que tinha o santo em grande consideração, e freqüentemente recorria ao seu ministério e conselhos – levou-o consigo numa viagem à ilha de Mallorca.

Levou também ocultamente uma mulher com quem mantinha relações ilícitas. Ao descobrir o fato, pediu ao rei que despedisse a mulher, caso contrário ele se retiraria.

Túmulo do santo na catedral de Barcelona

O soberano prometeu atendê-lo, mas não cumpriu a promessa. Para impedir o santo de deixar a ilha, ordenou a todos os portos que não o aceitassem a bordo.

São Raimundo estendeu então seu manto sobre as águas, e nesse barco improvisado atravessou o braço do Mediterrâneo até Barcelona.

São Raimundo de Penhaforte morreu no dia 6 de janeiro de 1275, já nonagenário, sendo canonizado em 1601.


(Autor: Plinio Maria Solimeo, “Catolicismo”, janeiro de 2010)





Mons. Athanasius Schenider, bispo auxiliar de Astana, capital do Cazaquistão: o Alá dos muçulmanos não é verdadeiro Deus. Ecumenismo é traição a Deus






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