Navas de Tolosa: batalha prototípica entre a Cruz e a Meia-lua |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Em 1212, a onda invasora dos muçulmanos almoades, seita fanática de tipo fundamentalista, ameaçava tomar conta da Península Ibérica.
O Papa Inocêncio III convocou, então, uma Cruzada para deter o perigo, que ameaçava toda a Europa.
Para liderar as forças católicas foi escolhido o rei Afonso VIII de Castela, avô de São Fernando III.
Natal num castelo da França |
Entre os convocados estrangeiros figuravam também três bispos das cidades francesas de Narbonne, Bordeaux e Nantes.
O rei Sancho da Navarra quebrou o cerne dos fanáticos islâmicos |
Nessa batalha os dois lados empenharam todo o seu poderio militar e o melhor de suas forças.
O rei Afonso foi o grande articulador da aliança vencedora e teve o arguto senso de oportunidade para escolher o momento da batalha, que preparou com quase dez anos de antecedência.
Sabia que a mesma selaria o destino da península.
O exército mouro, segundo as crônicas da época, chegava a ter 300.000 ou 400.000 homens comandados pelo califa Muhammad Al-Nasir (Miramamolín para os cristãos).
Por sua vez, os católicos eram 70.000 e constituíam um dos maiores exércitos já reunido na península sob o signo da Cruz.
Nunca lutaram dois exércitos tão grandes na longa guerra da Reconquista |
A derrota esmagadora infligida naquela data pelos aliados castelhanos, navarros, aragoneses e portugueses aos sarracenos contribuiu decisivamente para a queda do domínio muçulmano na Península Ibérica.
A batalha foi antecedida por escaramuças e um jogo de estratégias que começaram em 13 de julho de 1212. Ambos os lados buscavam a melhor posição e o melhor terreno para a luta.
Por fim, os árabes ficaram mais bem posicionados, sobre uma colina, enquanto os cristãos teriam que avançar “morro acima”.
O embate final aconteceu em 16 de julho.
As forças de Castela, que formavam o maior contingente, agiram no centro, apoiadas nos flancos pelos reis cristãos de Navarra (Sancho) e de Aragão (Pedro).
O heroísmo de Diego López II de Haro e seu filho empolgou os católicos |
O rei Afonso simulou uma força de infantaria central fraca para atrair o inimigo, que caiu na armadilha.
Em seguida deslanchou uma carga de cavalaria pesada, que foi decisiva para a vitória cristã.
Porém, o combate teve um momento angustiante, quando as tropas almoades conseguiram rodear e isolar o centro do exército castelhano.
Muitos então fugiram, mas não o capitão vascaíno Diego López II de Haro e seu filho, que aguentaram heroicamente na posição junto ao capitão castelhano Núñez de Lara e às Ordens Militares.
A resistência desse punhado de heróis encheu de brios a reis e cavaleiros cristãos, que se jogaram no auxílio deles com o resto de suas tropas.
Os reis avançaram numa carga irrefreável contra os flancos do exército mouro.
Por sua vez, com duzentos cavaleiros, o rei Sancho VII de Navarra atacou diretamente o acampamento do califa Al-Nasir.
O rei Sancho de Navarra quebrando a elite maometana tirou dos infiéis a vontade de resistir |
O acampamento estava rodeado de correntes defensivas, que os navarros foram os primeiros em quebrar.
Crê-se que foi por esse feito que as correntes entraram simbolicamente no brasão do reino de Navarra.
A guarda pessoal do califa sucumbiu sem arredar, mas assim que percebeu a batalha perdida, o próprio An-Nasir procurou a salvação na fuga, passando pusilanimidade a seus seguidores.
Sabedor por experiências anteriores de que os derrotados se reorganizariam para novos embates, o rei Afonso ordenou que aos muçulmanos, que batiam em retirada desorganizada, fosse dado um trato inclemente.
A crônica chega a afirmar que foram mortos na escapada tantos muçulmanos quantos o foram durante a batalha.
A precipitada fuga de An-Nasir deixou um incalculável botim de guerra.
A peça mais preciosa é a bandeira, ou pendão de Las Navas, hoje conservado no Mosteiro de Santa Maria la Real de Las Huelgas, na cidade de Burgos.
Pendão islámico ganho na Batalha. Mosteiro de Las Huelgas, Burgos |
Eles incluem a Cruz do Arcebispo D. Rodrigo, uma bandeira e uma lança dos fanáticos que custodiavam a Miramamolín, e a casula com que o senhor arcebispo oficiou missa no dia do colossal enfrentamento guerreiro para implorar a vitória das armas cristãs.
Os árabes da Península Ibérica nunca mais se recuperaram dessa derrota.
A partir daquele momento, o rei Afonso os manteve em situação de desvantagem permanente.
A batalha deu início à superioridade militar, econômica e política dos reinos católicos e demarcou definitivamente o início da decadência da civilização árabe na Península Ibérica.
A obra do rei Afonso foi completada brilhantemente pelo seu neto São Fernando III de Castela, que conquistou as grandes capitais árabes da Andaluzia.
Além disso, submeteu à vassalagem o emir de Granada, cidade onde ficou o último quisto muçulmano na Europa, até ser definitivamente expulso pelos Reis Católicos em 1492.
Vídeos: A batalha das Navas de Tolosa marcou o fim da hegemonía muçulmana na Península Ibérica (espanhol)
Fontes bibliográficas
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11) García Fitz, Francisco, “Las Navas de Tolosa”, Ariel, Barcelona 2005.
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17) “Batalla de Las Navas de Tolosa”, Wikipedia, http://es.wikipedia.org/wiki/Batalla_de_Las_Navas_de_Tolosa.
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