Os muçulmanos fizeram uma rápida conquista da península com o apoio de arianos e judeus, como registra Manuel P. Villatoro, autor premiado de vários livros históricos, no jornal ABC2.
Só ficaram resistindo Dom Pelayo e um punhado de heróis asturianos, visigodos e hispano-romanos, que se refugiaram nas montanhas do norte.
Como os invasores e seus cúmplices não conseguiram extinguir esse foco de resistência, pediram então um grande exército islâmico do sul para acabar com eles.
Excogitaram um artifício capcioso que lhes poupasse a luta e se serviram para isso de Dom Opas, arcebispo de Toledo — de Sevilha, segundo outros —, quem deveria convencer os resistentes que era um absurdo lutar contra uma potência como o Califado de Damasco.
Dom Opas agiu “ecumenicamente”, da mesma maneira como agem em nossos dias os inimigos da Igreja, que aceitam o clero que aderiu à revolução conciliar e hoje cede às forças políticas de esquerda ou putinistas.
Dom Pelayo foi abençoado pela Santíssima Virgem na própria gruta de Covadonga — escreveu Luis Carlón Sjovall, presidente da Associação Cultural Fernando III, o Santo, de Palencia.
Primeira representação de don Pelayo, no século XII, enarbolando a Cruz da Vitória
Ele levantou a Santa Cruz, renunciou à proposta de baixar os braços diante da força islâmica que avançava e de se omitir na resistência, acreditando nos embustes do Califado de Damasco transmitidos pelo arcebispo traidor.
Conta-se que o príncipe-herói encerrou o diálogo atirando uma pedra na cabeça do pérfido bispo traidor, que teve morte imediata.
A Igreja Católica na Espanha partilhou durante séculos a tradição oral segundo a qual Anjos e Arcanjos se somaram às hostes de Dom Pelayo e atiraram pedras, lanças e flechas das alturas de Covadonga, causando terror e morte entre os seguidores de Maomé.
Isso criou uma tal desordem entre os filhos da iniquidade que os católicos puderam descer para os vales adjacentes, perseguindo os invasores durante dias, até serem exterminados ou expulsos.
A vitória de Nossa Senhora foi total, e ali mesmo, sob a Santa Gruta e com a Santa Cruz da Vitória na mão direita, Dom Pelayo foi proclamado Rei da Espanha e iniciou a sua Reconquista.
A descrição do magno entrechoque de armas figura no relato historicamente mais próximo da Batalha de Covadonga, conhecido como Crônica de Alfonso III3 (852 – 910), rei de Astúrias, região da batalha, que apresenta duas respeitadas versões.
Uma delas conta que Munuza, prefeito das Astúrias e companheiro de Taric, chefe dos invasores muçulmanos, tinha ordens de acabar com a resistência, prendendo Dom Pelayo e conduzindo-o acorrentado a Córdoba.
Percebendo Dom Pelayo que não podia oferecer resistência proporcionada, levou consigo até a montanha Aseuva todos os que podia. Ali refugiou-se numa caverna, que sabia segura e da qual flui o grande rio Deva.
Depois convocou todos os habitantes das Astúrias, que se reuniram e o elegeram príncipe.
Enfurecido, Munuza enviou uma hoste incontável chefiada por um tal Alkama, fazendo-o acompanhar pelo arcebispo Dom Opas. Segundo a Crônica de Alfonso III4, Alkama entrou nas Astúrias com um exército de 187 mil soldados — número não confirmado, mas sem dúvida muito maior que o dos resistentes católicos.
Alkama armou inúmeras tendas ao pé da caverna enquanto o arcebispo subia até a gruta de Nossa Senhora para assim falar com Dom Pelayo, segundo a referida Crônica:
Batalha de Covadonga, Augusto Ferrer Dalmau (detalhe)
— “Pelayo, Pelayo, onde estás?”
— “Aqui estou.”
E o desleal arcebispo propôs a traição com palavras melosas:
— “Eu julgo, irmão e filho, que não vos é oculto como toda a Espanha foi unida recentemente sob o governo dos godos e brilhou mais do que os outros países por sua doutrina e ciência.
“E que, no entanto, quando todo o exército dos godos foi reunido, não aguentou o ímpeto dos ismaelitas, você será capaz de se defender no topo desta montanha? Acho difícil.
“Escuta o meu conselho: volta do teu acordo, gozarás de muitos bens e gozarás da amizade dos caldeus.”
Dom Pelayo respondeu:
— “Não leu nas Sagradas Escrituras que a Igreja do Senhor se tornará como o grão de mostarda e crescerá novamente pela misericórdia de Deus?”
O bispo treplicou:
— “Verdadeiramente, assim está escrito”.
Então Dom Pelayo disse:
— “Cristo é a nossa esperança; que por este pequeno monte vê a Espanha ser salva.
Covadonga: Basílica de Santa María la Real
“Confio que a promessa do Senhor se cumprirá em nós, porque David disse: ‘Castigarei com a minha vara as suas iniquidades e com açoites os seus pecados, mas eles não carecerão da minha misericórdia’”.
“Assim, confiando na misericórdia de Jesus Cristo, desprezo aquela multidão e não temo o combate com que nos ameaçais. Temos Nosso Senhor Jesus Cristo como advogado junto ao Pai, que pode nos livrar desses pagãos.”
O bispo, então, voltando-se para o exército infiel, disse:
— “Aproximem-se e lutem. Você já ouviu como ele me respondeu; pelo que adivinho a sua intenção, você não terá paz com ele, exceto pela vingança da espada.”
A Crônica de Alfonso III assim descreve o desfecho da batalha:
Alkama então ordenou o combate e os soldados pegaram em armas. Mas imediatamente a magnificência do Senhor foi mostrada: as pedras que saíram das catapultas e atingiram a casa da Santa Virgem Maria, que estava dentro da gruta, voltaram-se contra aqueles que as atiraram e mataram os infiéis.
E como Deus não precisa de lanças, mas dá a palma da vitória a quem quer, os cristãos saíram da caverna para lutar com os ismaelitas; estes fugiram, seu exército foi dividido em dois, e ali mesmo Alkama foi para um desfiladeiro que foi o local em que foi massacrado com os seus. o impasse e capturou o bispo Opas.
Covadonga, Augusto Ferrer Dalmau
124 mil infiéis morreram no mesmo lugar, e os 63 mil restantes subiram ao topo do Monte Aseuva e, pelo lugar chamado Amuesa, desceram para La Liébana.
Mas nem mesmo esses escaparam da vingança do Senhor. Quando estavam atravessando o topo da montanha, que está na margem do rio Deva, próximo à terra de Cosgaya, o julgamento do Senhor foi cumprido:
A montanha, saindo de seus alicerces, lançou os 63 mil infiéis no rio e os esmagou. Até hoje, quando o rio ultrapassa os limites de sua calha, dá muitos sinais disso.5
O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira resumiu num pensamento célebre a imensa lição deixada para a História pela façanha de Covadonga:
“Quando os homens resolvem cooperar com a graça de Deus, são as maravilhas da História que assim se operam: é a conversão do Império Romano, é a formação da Idade Média, é a reconquista da Espanha a partir de Covadonga, são todos esses acontecimentos que se dão como fruto das grandes ressurreições de alma de que os povos são também suscetíveis.
“Ressurreições invencíveis, porque não há o que derrote um povo virtuoso e que verdadeiramente ame a Deus”.6
É o que auspiciamos para o catolicismo hoje em crise.
1. https://encr.pw/P5gis
2. https://encr.pw/T4pgG
3. https://encr.pw/w6psf
4. https://l1nk.dev/XIJMR
5. Crónica de Alfonso III, Trad. de la segunda redacción. Edición original (latín). Zacarías Villada, S.J. Madrid, 1918. Centro de Estudios Históricos, caps. 8 a 10, páginas 108-114.
6. Plinio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução, Parte II, Cap. IX, Artpress, SP, 1998, pág. 124.
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