Detalhe da batalha de Arsur. Eloi-Firmin Féron (1802-1876) |
continuação do post anterior: Heroica resistência
Balean de lbelin voltou várias vezes; renovou as súplicas e os rogos e sempre encontrou Saladino inexorável.
Um dia, quando os enviados cristãos rogavam-lhe instantemente que aceitasse as condições da sua capitulação, voltando-se para a praça e mostrando-lhes seus estandartes que esvoaçavam nas muralhas, disse-lhes: “Como quereis, que eu conceda condições a uma cidade vencida?”
No entretanto os muçulmanos foram derrotados e repelidos. Balean encorajado pelo feliz êxito que os cristãos acabavam de obter, disse ao sultão:
“Vedes que Jerusalém tem ainda defensores; se não pudermos obter de vós nenhuma misericórdia, tomamos uma resolução terrível e os excessos de nosso desespero vos encherão de terror.
“Esses templos e palácios que quereis conquistar serão completamente destruídos; todas as nossas riquezas que excitam a ambição e avidez dos sarracenos serão presa das chamas.
“Destruiremos a mesquita de Ornar, a pedra misteriosa de Jacó, objeto do vosso culto, será quebrada e reduzida a pó. Jerusalém possui cinco mil prisioneiros muçulmanos; todos eles perecerão pela espada.
“Degolaremos com nossas próprias mãos nossas mulheres, nossos filhos, e poupar-lhes-emos a vergonha de se tornarem vossos escravos.
“Quando a Cidade Santa não for mais que um monte de ruínas, um vasto túmulo, dela sairemos, seguidos pelos manes irritados dos nossos amigos, de nossos parentes, sairemos com o ferro e o fogo nas mãos.
“Nenhum de nós irá para o céu sem ter mandado para o inferno dez muçulmanos. Obteremos assim uma morte gloriosa e morreremos chamando sobre vós a maldição do Deus de Jerusalém.”
Assustado com essas ameaças, Saladino convidou os embaixadores a voltar no dia seguinte. Ele consultou os doutores da lei, que declararam que ele podia aceitar a capitulação proposta pelos habitantes da cidade, sem violar seu juramento.
As condições foram assinadas no dia seguinte, na tenda do sultão. Assim Jerusalém tornou a cair em poder dos infiéis depois de ter estado durante oitenta e oito anos sob o domínio dos cristãos.
Os historiadores latinos notaram que os cruzados tinham entrado na cidade numa sexta-feira, na mesma hora em que Jesus Cristo havia morrido, para expiar os crimes do gênero humano.
Os muçulmanos retomaram a cidade no dia I do aniversário, em que, segundo sua crença, Maomé partiu de Jerusalém para subir ao céu.
Essa circunstância que talvez levou Saladino a assinar a capitulação proposta, não deixou de acrescentar novo brilho ao seu triunfo entre os muçulmanos, e fez considerá-lo como favorito do profeta.
O vencedor concedeu a vida aos habitantes e permitiu-lhes resgatar a liberdade. O preço do resgate foi fixado em dez peças de ouro para os homens, cinco para as mulheres e duas para as crianças.
Os que não tinham meios de pagar o resgate, deviam continuar na escravidão.
Todos os guerreiros que estavam em Jerusalém, no momento da capitulação, obtiveram permissão de ir para Tiro ou para Trípoli, durante quarenta dias.
Essas condições, a princípio foram recebidas com alegria pelos cristãos; mas, quando viram aproximar-se o dia em que deviam sair de Jerusalém, sentiram imensa dor em ter que deixar os santos lugares.
Molhavam com suas lágrimas o túmulo de Cristo. Lamentavam não ter morrido para defendê-lo. Percorriam gemendo e chorando o Calvário e as Igrejas, que não deveriam mais tornar a ver.
Abraçavam-se chorando, nas ruas e deploravam suas fatais divergências. Os que não podiam pagar o resgate e que se iam tornar escravos dos muçulmanos, entregavam-se a todos os excessos do desespero.
Mas tal era nesses momentos cruéis, seu devotamento à religião da qual nem sempre tinham seguido os preceitos, que os ultrajes feitos aos objetos sagrados do seu culto, afligiam-nos mais que sua própria desgraça.
Uma cruz de ouro foi arrancada da cúpula da Igreja dos Templários e arrastada pelas ruas, pelos muçulmanos; todos os cristãos lançaram gritos de dor e de indignação e Jerusalém desarmada, esteve a ponto de se erguer contra seus vencedores.
Por fim chegou o dia fatal, em que os cristãos deviam se afastar de Jerusalém. Fecharam todas as portas da cidade, exceto a de Davi.
Saladino, assentado no trono, viu passar diante de si um povo desolado. O patriarca, seguido pelo clero, vinha por primeiro, levando os vasos sagrados e os ornamentos da Igreja do Santo Sepulcro e tesouros, diz um autor árabe, de que somente Deus conhecia o valor.
(Autor: Joseph-François Michaud, “História das Cruzadas”, vol. II, Editora das Américas, São Paulo, 1956. Tradução brasileira do Pe. Vicente Pedroso, páginas 414-433)
continua no próximo post: Saladino ocupa a Cidade Santa
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