Balduino I na batalha de Jaffa, ano 1102. Henri Auguste César Serrur (1794-1865), Museu de Versailles |
Dirigiram-se por primeiro a Ascalon; mas a praça parecia disposta a se defender fortemente e os cristãos não puderam sitiá-la. Balduino rumou então para as montanhas da Judéia.
Os habitantes dessa região tinham muitas vezes maltratado e despojado os peregrinos de Jerusalém e temendo a presença dos guerreiros cristãos, se haviam todos escondido nas cavernas.
Para obriga-los a sair de seus refúgios, empregaram a astúcia. Vários chefes, aos quais prometidos foram muitos tesouros, vieram apresentar-se a Balduino, que os mandou decapitar.
Depois acenderam à entrada dos subterrâneos grandes fogueiras com ervas secas e logo uma multidão deles impelida pela fumaça e pelo fogo, veio implorar misericórdia dos soldados da cruz.
Balduino e seus companheiros prosseguiram seu caminho para o país de Hebron, desceram ao vale onde estavam outrora Sodoma e Gomorra, e que as águas salgadas do lago Asfalite recobrem agora.
Foulcher, que acompanhava essa expedição, descreve longamente o Mar Morto e seus fenômenos.
“A água é de tal modo salgada, diz-nos ele, que nem quadrúpedes, nem pássaros dela podem beber; eu mesmo, acrescenta o capelão de Balduino, a experimentei; descendo de minha cavalgadura à beira do lago, provei a água que achei amarga como heléboro.”
Balduino I, rei de Jerusalém. Vitral na abadia de Saint Denis, Paris |
Todos os habitantes tinham fugido, exceto alguns homens negros como fuligem, que não nos dignamos nem mesmo interrogar, e que os guerreiros francos desprezaram como a erva mais vil do mar.
Além de Ségor, começa a parte montanhosa da Arábia. Balduino com seu séquito passou várias montanhas cujos cimos estavam cobertos de neve; sua tropa muitas vezes não teve outro abrigo que as cavernas de que o país está cheio; não tinha outro alimento que tâmaras e a carne de animais selvagens; por bebida a água pura das fontes e das nascentes.
Os soldados da cruz visitaram com respeito o mosteiro de Santo Aarão, construído no mesmo lugar onde Moisés e Aarão se tinham entretido com Deus.
Ficaram três dias num vale coberto de palmeiras e fértil em todas as espécies de frutos. Era o vale onde Moisés havia feito brotar uma fonte do flanco de uma rocha árida.
Foulcher nos diz que essa fonte milagrosa fazia então girar vários moinhos e que ele mesmo lá fez beberem seus cavalos. Balduino levou sua tropa até o deserto, que separa a Iduméia da terra do Egito e retomou o caminho da capital, passando pelas montanhas, onde foram sepultados os antepassados de Israel.
(Autor: Joseph-François Michaud, “História das Cruzadas”, vol. II, Editora das Américas, São Paulo, 1956. Tradução brasileira do Pe. Vicente Pedroso, páginas 90 ss).
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