Na igreja de St-Eugene Ste-Cecile, Paris: missa de réquiem pelo repouso eterno do rei de Jerusalém Balduíno IV |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
A fama luminosa que envolve a figura do rei de Jerusalém Balduíno IV vara os séculos. E vem crescendo enquanto o Islã tenta sucessivos e criminosos golpes contra os restos da Civilização Cristã.
Testemunho eloquente disso foi o sermão pronunciado no sábado, 14 de março de 2015, na missa de réquiem pelo heroico rei leproso, por ocasião do 830º aniversário de sua morte.
A missa foi celebrada na igreja de Saint-Eugène-Sainte-Cécile, situada no coração de Paris, tendo o vigário, Pe. Éric Iborra, evocado a memória de Beduíno IV com estas palavras, que dispensam comentários:
“Faz o que deves, aconteça o que acontecer”. No dia 16 de março de 1185, há 830 anos, expirava Balduíno IV de Jerusalém. Ele tinha 24 anos.
“Humildemente, insensivelmente, abandonava seu corpo devorado pela doença na Jerusalém terrestre, a cuja defesa se consagrara inteiramente, para ir morar na Jerusalém celeste, residência prometida pelas Escrituras, à qual aspirava com todo o seu ser, e ali conhecer a beatitude num corpo glorioso.
“Ele, o débil, o doente, havia conseguido deter o avanço de Saladino, o maior, o mais poderoso, o mais determinado dos inimigos que a Terra Santa jamais conheceu.
“Após doze anos de reinado, ele deixava intacta a herança que lhe havia legado seu pai.
“No leito de morte, ele convocou pela última vez os grandes senhores feudais do Reino.
“O adeus a cada um foi impressionante e lancinante, pronunciado por esse ser desfigurado cujo simples semblante provocava o espanto e uma profunda compaixão.
“Em meio ao denso silêncio dos barões, um sopro de voz saía de lábios deformados com um tom tão particular e tão enternecedor, com leves defeitos de pronúncia, pedindo a todos jurar fidelidade a seu sobrinho e herdeiro, e respeitar suas derradeiras vontades relativas à regência.
Morte de Balduíno IV e coroação de Guy de Lusignan. Biblioteca de Genebra, FAL_021866 |
“Então, Balduíno acabou de completar seu último combate.
“Foi assim que partiu Balduíno de Jerusalém, o rei leproso, ‘estoica e dolorosa figura, a mais nobre talvez da história das Cruzadas, figura cujo heroísmo, sob as pústulas e as crostas que o cobriam, continha a santidade, a verdadeira esfinge do rei francês’” [René Grousset, L’épopée des croisades, Perrin, 2000, p. 181.1].
“Uma figura desfigurada, aliás, muito esquecida – na França pelo menos –, como está esquecida também a lembrança desse reino franco da Terra Santa que seus sucessores não souberam conservar.
“Esquece-se daquele que, durante dez anos, enfrentou Saladino e o fez fugir mais de uma vez.
“Esquece-se que esse rei era um adolescente.
“Esquece-se que, durante o seu reinado, ele teve de suportar uma das provações mais severas que um ser humano possa experimentar: a da lepra.
“Esquece-se que, apesar da adversidade, seu país era próspero e as cidades, que depois foram riscadas do mapa, eram ricas!
“Lembra-se demasiadamente das falhas cometidas após sua morte e negligenciam-se as realizações notáveis de seu reinado.
“Deve-se sempre lembrar que ele emergiu vitorioso de três inimigos que o assaltaram sem descanso: Saladino, as intrigas da Corte em torno de sua sucessão, e sua doença.
“Vamos evocá-los sucessivamente.
“Saladino foi esse fanático general curdo que tomou o Egito e a Síria quando o pai de Balduíno morreu.
“Tanto que “o reinado do infeliz jovem”, diz R. Grousset, “foi apenas uma longa agonia, mas uma agonia a cavalo, voltada contra o inimigo, que enalteceu a condição da dignidade real, do dever do cristão e da responsabilidade da Coroa nessas trágicas horas em que o drama do rei correspondia ao drama do reino” (Grousset, ibid.).
Balduíno IV derrota Saladino perto de Ascalon
“Nunca, enquanto Balduíno viveu, Saladino conseguiu obter uma real vantagem.
“E as vitórias mais gloriosas das Cruzadas foram as do leproso adolescente.
“Coroado em 1174, ele repeliu os turcos pela primeira vez em 1176, aos 15 anos, quando acabava de atingir a maioridade.
“Em 1177, em Montgisard, quando não tinha ainda 17 anos e a situação parecia desesperada, com apenas 400 cavaleiros, ele pôs para correr um exército de 26 mil homens.
O Patriarca de Antioquia, Miguel o Sírio, narra:
“Deus, que faz a sua força aparecer nos fracos, inspirou o rei.
“Ele desceu da sua liteira, curvou-se com sua face no chão diante da Verdadeira Cruz e orou com lágrimas.
Montgisard
“Nessa visão, o coração dos soldados estremeceu, e eles juraram pela Cruz não recuar e considerar como um traidor quem quer que retrocedesse.
“Eles montaram seus cavalos e carregaram”.
“Foi uma vitória brilhante.
“A guerra continuou durante os três anos seguintes, culminando numa trégua infelizmente quebrada pela culpa do cruel e inconsistente Renaud de Châtillon.
“Balduíno abafou toda queixa, foi assistir seu vassalo e derrotou o sultão. E não deixou de se opor a suas renovadas ofensivas.
“Com o corpo carcomido pelas úlceras, quase cego e incapaz de deixar sua liteira, o rei galvanizou as tropas e fez o inimigo fugir, tomado de estupefação vendo a energia sobre-humana desse cadáver ambulante”.
(Fonte: Le Rouge et Le Noire, 16/3/2015)
Continua no próximo post: Balduíno IV, modelo perfeito de monarca francês, espelho do próprio Cristo
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