Carcereiros islâmicos põem um cadeado na boca de São Ramimundo Nonato para que não prossiga pregando. Vicente Carducho (1576 - 1638), Museo del Prado |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
“São Raimundo Nonato veio à luz em Portel, diocese de Urgel, na Espanha, cerca do ano de 1200, e recebeu no batismo o nome de Raimundo.
“Nonato, non natus, foi o apelido que lhe deram porque a mãe sofreu operação cesariana e por isso seu nascimento não foi normal.
“Quanto ao pai, era pastor, segundo uns, segundo outros seria membro da família Cardona, uma das mais conhecidas na Espanha.
“Desde muito jovem, Raimundo manifestou especial devoção à Santíssima Virgem.
“Todos os dias rezava o Rosário ante sua imagem na ermida de São Nicolau de Mira. Um dia Nossa Senhora apareceu-lhe, prometendo-lhe especial proteção.
“Certa vez em que fortemente tentado, conseguiu afastar o demônio, foi agradecer à divina libertadora e em sua honra consagrou a virgindade.
“Maria testemunhou-lhe grande satisfação e o aconselhou a entrar na Ordem da Redenção dos Cativos, cuja fundação tinha inspirado, havia pouco, a São Pedro Nolasco. Raimundo obedeceu.
“Recebida a ordenação sacerdotal, consagrou-se, até 1231, ao resgate dos cativos. Libertou 140 em Valença, 250 em Argel e 28 em Tunis.
“Foi nessa cidade que teve ocasião de cumprir o voto especial em virtude do qual os mercedários se obrigavam a entregar-se e a oferecer a vida, se fosse necessário, para resgatar os cristãos prisioneiros dos infiéis.
“Não tendo em seu poder a soma exigida pelos mercadores de escravos de Tunis, Raimundo ofereceu-se para os substituir.
São Raimundo Nonato, anônimo, Cuzco, s. XVIII
Blanton Museum of Art, Austin, Texas.
“O cativeiro foi extremamente árduo. A fim de impedi-lo que falasse de Cristo aos carcereiros, fechavam-lhe a boca com um cadeado de ferro, que lhe perfurava os lábios, e só era aberto por ocasião das refeições.
“Depois de oito meses de tão cruel tratamento, acudiram da Espanha alguns mercedários com a importância necessária para o resgatar.
“Os últimos dez anos de sua vida passaram-se ora em Roma, onde foi procurador de sua Ordem, ora em diferentes países onde o levavam as funções de pregador de Cruzada.
“Foi assim que se deslocou até a França, encarregado por Gregório IX de insistir com São Luís para que partisse para a Terra Santa.
“Essa expedição, como se sabe, só se efetuou dez anos depois.
“Entretanto, Raimundo morreria no castelo de Cardona no dia 31 de agosto de 1240, tendo adoentado voltando de uma viagem a Roma. Tinha apenas 37 anos de idade”.
Lemos estes dados na obra monumental Histoire Universel de l'Eglise Catholique, (ed. Guillaume XII, Paris, 1885), do grande hagiógrafo Pe. Réné François Rohrbacher (1789 – 1856).
O exemplo deste santo mercedário é de uma vida cheia e uma vida marcada por toda espécie de fatos extraordinários.
Primeiro, o sinal de Nossa Senhora, aparecendo-lhe e encaminhando-o para a Ordem dos Mercedários.
Depois, a epopeia dele para a libertação dos cativos, culminando com esse tormento do cadeado.
São Raimundo Nonato, pregador da Cruzada. Antonio del Castillo (1616–1668), Museo Camón Aznar, Zaragoza. |
Como isso deve incomodar, como isso deve mexer com todo sistema nervoso?
E depois, cada vez que abre para comer, que dor deve dar?
E depois aquele tormento varando tecidos delicados como esses dos lábios para fechar de novo. Cada vez? Cada refeição? Que tormento!
Para tomar uma água, que dificuldade! E martírio ininterrupto durante meses!
Admiremos a fortaleza da alma desse homem.
Ele volta, a gente pensa que ele está arrasado, com a psique quebrada.
Não. Ele leva dez anos ainda de atividade. Ele anda pela Europa, ele vai falar com São Luís, ele vira pregador de cruzados, com seus lábios machucados, com certeza mal cicatrizados, ele obrigado ainda a fazer pregações e acaba cardeal da Santa Igreja Romana.
Ele é uma glória do Colégio Cardinalício que se veste de vermelho pela cor do sangue dos mártires.
São Raimundo Nonato é um exemplo que não deveria sair da memória de Cardeal algum, inclusive no III milênio.
Ele resistiu bem. E como toda a sua integridade psíquica continuou em ótima situação. Quer dizer, elevação de alma, com espírito sobrenatural.
Ele era um testemunho vivo de quem sofreu esse martírio para todos especialmente para os moles, adocicados que temiam padecer algum mal na Cruzada contra o Islã.
Foi um santo digno de pregar a Cruzada e aí nós compreendemos em parte o êxito das Cruzadas.
Quando a gente ouve falar de grandes pregadores que percorriam a Europa e que todo mundo se levantava para segui-los fazendo os maiores sacrifícios, aquilo parece um milagre meio inverossímil.
Mas quando a gente imagina um santo dessa natureza pregando Cruzadas, tudo se esclarece.
Chega o pregador numa cidade, toca o sino, o prefeito manda avisar que está aí o famoso frei Raimundo dos lábios machucados, do resgate dos cativos.
E frei Raimundo vai pregar uma Cruzada em nome do Papa.
Acorrem todos os nobres e todas as famílias. Ele começa a falar então no sepulcro de Cristo com sua voz e prestígio de santo, com a comunicatividade das graças de santo que ele tem.
São Raimundo Nonato coroado de espinhos por Cristo. Diego González de la Vega (1628-1697), Museo del Prado, Madri |
Então as confissões começam. A data da Cruzada é comunicada e os preparativos começam, tudo isso porque esse santo passou por lá.
Assim é uma época que tem santos e gente sensível à voz dos santos. Quer dizer que tem homens de virtude num estado tal que a voz dos santos de fato repercute neles.
Ali se compreende tanta coisa maravilhosa que a Idade Média teve e que nossa época não tem mais.
O segredo estava isso: santos e gente sensível à voz dos santos.
Hoje, quão poucos os santos! Quanta gente insensível à voz dos santos!
E então nós temos a tragédia da situação contemporânea: os maus pregadores, pregadores de microfone, que para tentar encher igrejas que se esvaziam propõem concessões malucas à imoralidade.
Até “acolhem” as marés de invasores islâmicos contra os quais em seu século São Raimundo Nonato pregou com palavras de fogo saídas de sua boca torurada.
Peçamos a São Raimundo Nonato que desde o Céu interceda para que o mundo de hoje ouça ainda a voz dos santos, e se torne sensível aos santos que venham falar.
Sobre tudo nesta véspera de realização das advertências de Nossa Senhora de Fátima e quando o Islã voltou a bater em nossas portas com a faca, ou a Kalachnikov, pingando sangue.
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