Carlos de Lorena toma Buda, castelo de Buda |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Continuação do post anterior: A Reconquista de Budapeste invadida pelos turcos
O cerco da cidade de Buda
Nessa época, Budapeste, atual capital húngara, era dividida em duas cidades, Buda e Peste.
Os austríacos lançaram-se diretamente ao ataque contra Buda, deixando de lado — contrariamente à expectativa dos turcos — outras cidades importantes.
Buda era a décima cidade mais importante do mundo muçulmano, considerada pelos turcos como a “casa da guerra sagrada”, baluarte limítrofe do Islã na Europa e chave do Império Otomano.
Por isso, tinham-na abastecido bem de mantimentos, armas e pólvora. Para a defesa, posicionaram-se mais de 16 mil homens de tropas de elite, sob o comando de Abdulrahman Paxá.
O cerco começou em 18 de junho de 1686 e o primeiro assalto ocorreu no dia 24, dia de São João, visando o muro inferior. Os turcos instalaram muitas minas em ambas as partes dessa muralha.
No dia 15 de julho, quando a explosão numa dessas partes abalou os muros da cidade, o general cristão deu o sinal de assalto. Infelizmente, a explosão de outra mina causou particular dano aos cristãos, e a investida foi rechaçada.
Mais de 1.400 soldados imperiais morreram nessa batalha, além de muitos espanhóis, dentre os quais o Duque de Béjar, comandante de um regimento de Flandres.
Durante os 15 dias seguintes, um bombardeio é desfechado contra a cidade.
Destacou-se na ocasião um frade franciscano, Pe. Gabriel, denominado pelos húngaros “Gabriel, o entusiasmado”, que se revelou mestre em artilharia; e junto a ele, um espanhol de nome González, inventou uma forma aprimorada de morteiros.
Uma explosão e a imagem de Nossa Senhora aparece
Subitamente, uma bala incendiada atinge um armazém de pólvora dos otomanos e o fez voar. A terra estremeceu até uma grande distância ao redor, o rio Danúbio saiu de suas margens, e no muro abrindo um grande rombo.
E para espanto dos turcos, atrás de uma parede que desmoronou na antiga igreja do castelo de Buda, transformada em mesquita, apareceu uma imponente Imagem de Nossa Senhora em seu nicho, que ali permanecera escondida e esquecida desde a invasão otomana, 150 anos antes.(1)
Os próprios sitiantes cristãos ficaram tão espantados pela explosão, que no primeiro momento deixaram de atacar.
O duque de Lorena imediatamente requisitou a rendição, mas Abdulrahman respondeu que todas as cabeças da guarnição estavam consagradas à morte, e que o ruído de uma torre de pólvora que voa não era capaz de os assustar.
Imagem de Nossa Senhora na capela de Loreto da igreja de São Matias, Budapeste |
Luís de Baden-Baden e Eugênio de Saboia detinham o recuo e levavam novas tropas para a linha de frente.
A bandeira imperial já tremulava na brecha, quando uma mina explodiu no meio dos cristãos causando grandes estragos; alguns que já haviam penetrado na cidade morreram nessa ocasião.
A jornada deste dia custou a vida de cerca de quatro mil cristãos. Ao receber novas intimações, o Paxá respondeu que era impossível entregar a fortaleza, que o “Profeta” rechaçaria o próximo assalto como fizera com os anteriores.
Abdulrahman dispôs-se a entregar qualquer outra fortaleza da Hungria, mas não Buda; embora, depois, até Buda, se com isso se pusesse termo à investida cristã; ao que Carlos de Lorena respondeu que então só uma rápida rendição poderia salvá-lo.
A situação dos cristãos também ficara grave, pois o Grão-vizir chegou com um exército de 80 mil homens em socorro do Paxá. Os cristãos teriam agora de se defender e entrincheirar.
O grão-vizir a seguir iniciou pequenos combates para tentar cansar os cristãos e introduziu reforços na cidade de Buda.
Os cristãos também não quiseram empreender uma batalha decisiva, pois esperavam igualmente reforços.
Não obstante, em 10 e 14 de agosto se travaram sérios combates em Hamzsabég, nos quais mais de oito mil turcos pereceram.
Trezentos janízaros conseguiram chegar à cidade, mas fracassaram outros intentos de fazer penetrar reforços em Buda.
Tendo Abdulrahman recusado uma última intimação de rendição, o duque de Lorena decidiu conquistar a fortaleza sob as vistas do próprio grão-vizir Solimão.
Em 2 de setembro de 1686, às 6 horas da manhã, começou o assalto no qual pela primeira vez se empregou a baioneta em grande escala. Ambas as partes lutaram com suma bravura.
O paxá morreu lutando ferozmente, enquanto outros quatro mil turcos caíram ao fio da espada. À noite, em ação de graças pela vitória, cantou-se o Te Deum na igreja principal da cidade libertada.
O mais notável entre os prisioneiros foi o Agá dos janízaros, Maomé Csonkabeg. Convertendo-se, ele se fez batizar com o nome de Leopoldo, em homenagem ao imperador austríaco.
Posteriormente foi elevado à nobreza, recebeu um regimento húngaro e lutou com muito valor pelo imperador junto ao rio Reno.
No dia seguinte, após celebrar a Missa, o Beato D’Aviano promoveu uma procissão com a Imagem de Nossa Senhora que fora encontrada nas paredes da mesquita.
Considerada como autora da explosão, foi-lhe concedido o título de “Nossa Senhora da Pólvora”.
Nenhum príncipe se alegrou tanto com a conquista dessa importante cidade como aquele que ocupava então a Cátedra de Pedro, o grande Papa Beato Inocêncio XI.
Os otomanos haviam dominado Buda durante 145 anos e sua perda abalou-os profundamente.
As cidades de Simontornya e Siklos se renderam ao Marquês de Baden-Baden. Kaposvár e Torda foram incendiadas, Pécs foi dominada e Szeged conquistada após um cerco de quatro semanas.
O grão-vizir foi obrigado a retirar-se para Belgrado.
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Notas:
Principal fonte consultada: Historia Universal, Juan Baptiste Weiss, Editora Tipografia La Educación, Tradução da 5° edição alemã, Barcelona, 1930, Vol. XI, p. 917 a 923.
1. Sobre a Imagem Milagrosa: http://www.adorans.hu/node/2414
http://www.sacred-destinations.com/hungary/budapest-matthias-church
http://www.templom.hu/phpwcms/index.php?id=14,164,0,0,1,0
(Autor: Ivan Rafael de Oliveira, CATOLICISMO, outubro de 2016)
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