Balduino I entrando em Edessa. |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O terror que os cristãos inspiravam era tão grande que os infiéis não ousavam mais enfrentar seus ataques, nem suportar lhes a presença.
Em vão o califa do Egito, ordenava aos seus emires, encerrados em Ascalon, que combatessem os francos e que trouxessem à sua presença, carregado de ferros, aquele povo mendigo e vagabundo: os guerreiros egípcios hesitavam em deixar seus abrigos e suas defesas.
Por fim, levados pelas ameaças do califa, encorajados pela multidão, tentaram uma incursão a Ramla. Balduino, avisado de sua marcha, reuniu depressa duzentos e oitenta cavaleiros e novecentos soldados de infantaria.
Logo que chegou diante do exército egípcio, dez vezes mais numeroso que o dos cristãos, disse aos soldados que eles iam combater pela glória de Cristo; se alguém tinha vontade de fugir, devia lembrar-se de que o Oriente não oferecia asilo para os vencidos e que a França estava muito longe.
O Patriarca de Jerusalém, há muito tempo em litígio com o rei, não tinha seguido o exército; o venerável abade Gerle, que trazia em seu lugar a verdadeira cruz, mostrou-a aos soldados, lembrando-lhes que deviam vencer' ou morrer.
O exército cristão contemplava num silencio morno a imensa multidão de sarracenos, etíopes, turcos, árabes, vindos do Egito. Estes, confiando em seu número, avançavam ao ruído de cornos e de tambores. Travam combate com tal fúria que as duas primeiras linhas dos cristãos são logo desfeitas.
O rei Balduino, ficara nas últimas fileiras, mas mandou vários batalhões para ajudar os que fugiam. A vitória parecia decidir-se pelos muçulmanos: então o arcebispo de Cesaréia e o abade Cerle, que trazia a cruz do Salvador, aproximam-se do rei e dizem-lhe que a misericórdia divina se havia retirado dos cristãos por causa da divergência entre ele e o patriarca.
A essas palavras, Balduino, cai de joelhos diante do sinal sagrado da Redenção dos homens.
“O juízo da morte, diz ele aos dois pontífices, está perto de nós; de todos os lados os inimigos nos rodeiam; eu sei que não poderei vencê-lo, se a graça de Deus não estiver comigo; imploro pois o auxílio do Todo-Poderoso e juro restabelecer a concórdia e a paz do Senhor.”
Balduino confessa ao mesmo tempo seus pecados e recebe a absolvição. Confia a dez dos seus cavaleiros a guarda da verdadeira cruz, depois sobe ao seu cavalo que era chamado de gazela, pela sua velocidade e precipita-se para o meio da luta.
Uma bandeira branca presa à sua lança mostra aos seus cavaleiros o caminho do perigo e da matança. Diante deles, em redor deles, tudo é presa da espada. Atrás vem a Cruz do Salvador; em todos os lugares onde aparece o lenho sagrado só há salvação para os que tem rápidos corcéis.
Os soldados cristãos que se haviam deixado vencer no começo da luta, tinham tomado o caminho de Jaffa, mas na fuga vieram cair sob os golpes do inimigo.
Revestidos das armaduras e das vestes dos cristãos que eles haviam matado, os muçulmanos apresentaram-se diante das muralhas de Jaffa. Gritaram em altas vozes que o exército cristão tinha perecido, que o rei tinha morrido.
Houve grande consternação na cidade; a Rainha de Jerusalém que então estava em Jaffa mandou por mar uma mensagem a Tancredo para lhe dar essas tristes notícias e anunciar-lhe que o povo de Deus chegaria ao seu último momento, se ele não viesse em seu auxílio.
Enterro de Balduino I. |
Os cristãos deram graças ao Senhor e passaram a noite sob as tendas dos inimigos. No dia seguinte, quando voltavam a Jaffa de repente, um grupo de infiéis apresentou-se diante deles, carregados de despojos e vestindo hábitos dos francos.
Eram os que no dia anterior tinham ido aos muros de Jaffa e cuja presença tinha causado tanto terror. Ante o exército cristão, ficaram todos fora de si, e não resistiram nem ao primeiro ataque daqueles que julgavam mortos e derrotados. Do alto das torres de Jaffa veem-se as bandeiras triunfantes do exército de Balduino.
“Deixo-vos imaginar, diz aqui Foulcher de Chartres, que gritos de vitória partiram então da cidade, e que louvores se deram ao Senhor.”
Essas coisas passaram-se no dia sete de setembro, dia do nascimento da Virgem, no segundo ano do reinado de Balduino.
(Autor: Joseph-François Michaud, “História das Cruzadas”, vol. II, Editora das Américas, São Paulo, 1956. Tradução brasileira do Pe. Vicente Pedroso, páginas 90 ss).
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