Sitio de Antioquia |
O cronista Alberto de Aix descreve-os de seguinte maneira:
“Os Cruzados vão em direção às muralhas de Antioquia no meio de esplendor dos escudos dourados, verdes, vermelhos e de outras corres; desfraldam suas bandeiras de ouro e de púrpura; montam os cavalos de guerra e vão revestidos de escudos e capacetes resplandecentes.”
Parece um fragmento de uma canção de gesta e, todavia, é só o relato de um cronista que em geral é muito preciso, o qual simplesmente transmite a sensação que certamente produziu aquele exército de cores resplandecentes, segundo o gosto da época.
A cidade para a qual se dirigem é também digna de uma canção de gesta.
Antioquia, ao pé do Monte Silpius, banhada pelo Orontes, que a une ao mar, era praticamente inexpugnável, com sua muralha de 12 quilômetros de comprimento, eriçada por trezentos e sessenta torres.
Quando chegaram, os Cruzados não imaginaram que permaneceriam junto à cidade por mais de um ano.
Estevão II, conde de Blois e conde de Chartres |
“O Conde Estevão a Adélia, sua amada esposa, a seus queridos filhos e a todos os vassalos de sua linhagem, saúde e bênção.
“Podeis estar certos, meus muito queridos, de que a mensagem que envio para vos confortar deixa-me diante de Antioquia são e salvo; e, pela graça de Deus, com muita prosperidade. Agora, junto com todo o exército eleito por Cristo e por Ele dotado de grande valor, fazem vinte e três semanas que avançamos sem cessar rumo à Morada de Nosso Senhor Jesus.
“Podeis ter por certo, minha cara, que em ouro, prata e toda sorte de riquezas, tenho presentemente duas vezes mais do que aquilo que me foi entregue quando vos deixei, porque todos nossos Príncipes, com o consentimento do exército inteiro, e contra meus próprios desejos, me nomearam chefe, cabeça e guia da expedição.
“Sem dúvida ouvistes contar que depois de termos nos apoderado da cidade de Nicéia, livramos uma grande batalha contra os pérfidos turcos, e com a ajuda de Deus os vencemos.
“Conquistamos para o Senhor toda a Romênia e depois a Capadócia. Soubemos que um dos Príncipes dos turcos, Assam, habitava na Capadócia; dirigimos nossos passos até ele.
“Conquistamos pela força todos os seus castelos e obrigamo-lo a fugir a outro castelo, muito forte, edificado num penhasco muito alto.
“Entregamos as terras de Assam a um de nossos chefes e, para que as possa conservar, deixamos com ele muitos soldados de Cristo.
“Daí, seguindo sempre os malditos turcos, repelimo-los até o centro da Armênia, junto ao grande rio Eufrates. Deixando suas bagagens e bestas de carga à beira do rio, fugiram pela outra margem, até a Arábia.
Batalha ante os muros de Antioquia, F.H. Schopin (1804-1880), Museu de Versailles
“Entretanto, os mais audaciosos soldados turcos entraram na Síria e se apressaram, com marchas forçadas de noite e dia, para chegar antes de nós à real cidade de Antioquia. Todo o exército de Deus, quando soube disso, deu graças e louvou Deus Todo-Poderoso.
“Apressamo-nos radiantes em chegar à cidade de Antioquia, sitiamo-la e desde então temos tido com freqüência escaramuças com os turcos, e sete vezes combatemos com grande valentia, sob o mando de Cristo, a eles, aos habitantes de Antioquia e às inumeráveis tropas que vieram em seu socorro.
“E nas sete batalhas com a ajuda do Senhor Deus, vencemos e causamos a morte a um grande número de inimigos.
“Nas mesmas batalhas, também é verdade, e nos numerosos ataques que realizamos contra a cidade, muitos de nossos irmãos foram mortos e suas almas arrebatadas aos gozos do Paraíso...
“Diante da cidade, durante todo o inverno, aguentamos por Cristo Nosso Senhor um frio excessivo e chuvas torrenciais.
Batalha diante das muralhas de Antioquia
“O que alguns dizem sobre o calor do sol, impossível de se suportar na Síria, não é verdade, porque o inverno daqui assemelha-se muito a nosso inverno do Ocidente....
“Enquanto no dia da Páscoa meu Capelão Alexandre escrevia a toda pressa esta carta, uma parcela de nossos homens que espreitava os turcos livrou com eles uma batalha vitoriosa e prenderam sessenta cavalos, que trouxeram ao exército.
“Escrevo-vos umas quantas coisas entre tantas que temos feito; e, dado que não sou capaz de dizer-vos tudo o que penso, recomendo-vos que andeis bem, que veleis com cuidado minhas terras e cumprais vosso dever para com vossos filhos e vassalos. Tornareis a ver-me quando puder voltar e estar convosco. Adeus”.
(Fonte: Régine Pernoud, “Las Cruzadas”, col. Los Libros del Mirasol, Compañia General Fabril Editora S.A. - Buenos Aires, 1964, pp. 56 a 58)
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ResponderExcluirME AJUDOU MUITO!OBRIGADO
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