Ricardo Coração de Leão na batalha de Jaffa, Britannica |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Após a libertação de Jaffa, Ricardo Coração de Leão só dispunha de dois mil homens, dos quais só cinquenta eram cavaleiros, aliás desmontados. A debilidade numérica inspirou aos turcos a esperança de tirar revanche.
Assim que o exército de Saladino conseguiu se reorganizar em Yazour, ele percebeu a imensa vergonha do pânico do 1º de agosto.
Ele ficou sabendo que a pequena tropa de Ricardo, com louca despreocupação, acampava fora dos muros de Jaffa. Passar no sabre nesses pedestres parecia fácil.
Na noite do 4 ao 5 de agosto de 1192, a cavalaria muçulmana se pôs em marcha sob a luz da lua em direção ao acampamento inglês.
Estourou uma disputa entre os mamelucos que atrasou um pouco a marcha, de maneira que quando eles chegaram diante do acampamento cristão já era de manhãzinha.
Um genovês que se afastara pelos campos viu brilhar as armaduras e deu a alarme. Acordados às pressas, Ricardo e os seus apenas tiveram tempo de pagar nas armas, alguns até tiveram que combater semi-nus.
Formando linhas fechadas, com um joelho em terra para ficarem mais firmes, puseram os escudos encravados na terra e as lanças inclinadas para frente.
Assim, eles receberam sem fissuras, nos primeiros albores da manhã, a carga furiosa dos esquadrões maometanos. Ricardo, a toda pressa, dissimulou entre os lanceiros, um número igual de besteiros.
Quando os cavaleiros turcos viam que sua carga era quebrada pelas lanças, eles davam meia volta para se reorganizarem. Então, os besteiros atiravam, matando os cavalos e semeando a desordem nos esquadrões.
Todas as cargas de Saladino arrebentaram-se diante desta tática precisa. Foi em vão que o sultão exortou seus soldados por trás das fileiras.,
“A bravura dois francos era tal, escreve Béhá ed-Dín, que nossas tropas desencorajadas, contentavam-se em mantê-los cercados, mas ficavam à distância”.
Foi então que Ricardo Coração de Leão passou ao ataque contra esse exército desmoralizado.
“Ele lançou-se no meio dos turcos e os rachava até os dentes. Ele projetou-se tantas vezes, deu-lhes tantos golpes que acabou se fazendo mal e a pele de suas mãos descolou-se.
Ricardo Coração de Leão esmaga Saladino
“Ele golpeava para frente e para trás e com sua espada abria passagens por toda parte que ele ia. Seja que ele ferisse um homem ou um cavalo, ele abatia tudo.
“Foi lá que ele deu um golpe que arrancou o braço e a cabeça de um emir vestido de ferro e que enviou direto para o inferno.
“Quando os turcos viram esse golpe, abriram um espaço tão largo que, graças a Deus, ele voltou sem dano.
“Mas, sua pessoa, seu cavalo e suas costas estavam tão cobertas de flechas que ele parecia um porco espinho”.
A batalha durou todo o dia 5 de agosto. Na tarde, a vitória dos cruzados era completa. Diante do rei de Inglaterra e seu punhado de heróis o exército muçulmano bateu em retirada.
Saladino saiu humilhado e desencorajado.
Tão grande foi a admiração dos muçulmanos pela bravura do grande Plantagenet que em plena batalha Mélik el-Adil, vendo-o combater sobre um cavalo medíocre e já cansado, enviou-lhe um novo corcel.
Fendendo a multidão dos combatentes vira-se chegar ao galopo e se deter diante de Ricardo um mameluco que conduzia dois magníficos cavalos árabes, “porque não era conveniente que o rei combatesse a pé”.
Entrementes, os acontecimentos na Europa pediam pelo rei da Inglaterra.
Na sua ausência o rei da França Felipe Augusto e o próprio irmão do rei inglês, João sem Terra, começaram a dividir seu reino.
Instado a regressar, Ricardo concluiu uma paz de compromisso com Saladino em 3 de setembro de 1192.
O acordo baseou-se no mapa das operações: os francos obtiveram o território recuperado pelos seus exércitos, quer dizer a zona costeira desde Tiro até Jaffa.
O interior, incluindo Jerusalém, ficava na posse de Saladino, mas o sultão concedia todas as garantias aos cristãos para peregrinarem em liberdade na cidade santa.
Túmulo de Saladino em Damasco |
Não foi sem melancolia que Ricardo embarcou para Europa, em 9 de outubro de 1192, sem ter podido liberar o Santo Sepulcro. Ele puniu-se a si próprio se abstendo de acompanhar os cavaleiros na visita aos Locais Santos.
Saladino teve que se contentar com um semi-sucesso após ter quase apalpado a vitória total. Frente ao rei-cruzado com coração de leão ele conheceu as sombrias jornadas de Arsur e Jaffa e teve que ceder aos cristãos a costa palestina.
Derrotas e angústias demais esgotaram o sultão. Ele decidiu se retirar para sua terra natal, o Egito. Porém, na noite de 3 a 4 de março de 1193 a morte o surpreendeu em Damasco, onde ainda jaz no seu túmulo.
(Autor: René Grousset, « L’épopée des croisades », Perrin, 2002, collection tempus, 321 pp., capítulo XII).
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Olá amigo, tenho que corrigí-lo um pouquinho... Salah Al Din Yusuf Ibn Ayiub, conhecido pelos ocidentais como Saladino, na verdade nasceu no antigo Curdistão,na cidade de Tikrit, que hoje faz parte do Iraque, portanto ele não era egipsio e sim curdo, grande abraço...
ResponderExcluircorretíssimo...
ResponderExcluirMuito interessante a história pode assistir no filme a cruzada e confesso que fiquei bastante curioso,com todos os detalhes. Ainda existe esse muro de Jerusalém,
ResponderExcluirGostaria de saber tudo ...adorei o filme muito bom
ResponderExcluirSó que a parte dos templários no filme foi totalmente deturpada, eles não eram aquilo que o filme retrada. Eram honrados e valorosos.
ExcluirE viva os Curdos!
ResponderExcluirSaladino foi um grande e condescendente herói muçulmano...curso de origem.E Ricardo Coracao de Leão foi o herói cristão da terceira cruzada apesar de nao ter recuperado Jerusalém.
ResponderExcluirAssim como no filme foi uma ofensa o papel dos templarios o rei saladino foi tudo menos heroi, diria mais aproveiador!
ResponderExcluirApesar de encherem a "bola" do Saladino, ele foi muito violento e impiedoso, morreu com um tipo de febre, hoje diagnosticada como febre tifóide
ResponderExcluirEstou cansado de ver as pessoas ( muitas que se dizem católicas...), criticarem as Cruzadas, principalmente a Ordem dos Templários. Se não fossem os Cruzados, toda a Europa seria islamita e os descobridores do Novo Mundo, seriam maometanos. Não haveria liberdade de religião e provavelmente, os cristãos seriam um grupo reduzido de pessoas que viveriam escondidas em grutas, isso é fato!
ResponderExcluirTodos os dias eu oro pelos Cruzados e os seus valores cristãos irrevogáveis que mantiveram acesa a chama do Catolicismo no mundo.
Obrigado pelo bom trabalho, sr. Luis.