segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Santa Liga e a Reconquista

Batalha de Parkany, Martino Altomonta (1657-1745), Lviv National Art Gallery, Ucrânia.
Batalha de Parkany, Martino Altomonta (1657-1745), Lviv National Art Gallery, Ucrânia.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Após a vitória católica em Viena, em 1683, prosseguiram as batalhas da Santa Liga contra o invasor muçulmano. Áustria, Polônia e Veneza uniram-se, sob as bênçãos do Papa, para reconquistar os territórios dominados pelos turcos.

Vimos em post anterior como se frustrou — graças à ação da Santa Liga convocada pelo Papa — a tentativa muçulmana de conquistar Viena. Confira: A vitória heroica e quase miraculosa quando tudo parecia perdido

Esta não havia sido a primeira investida dos turcos visando destruir a Cristandade.

Fazia-se então necessária uma reação católica à altura daquela ameaça, não só para barrá-los na Áustria, mas para reconquistar os reinos católicos que padeciam sob jugo otomano.

Essa reação ao ataque muçulmano era tanto do desejo do Papa quanto do rei polonês João Sobieski, que de boa vontade se teria precipitado sobre a importante cidade de Buda, onde Kara Mustafá, derrotado, reunira suas tropas fugitivas.

Em 17 de setembro de 1683, por sua própria iniciativa, o soberano polonês tomou o caminho da Hungria.

Batalhas de Parkany e Esztergom



Em 7 de outubro daquele ano começaram os combates pela reconquista da cidade de Parkany. Sobieski, embora desejoso de lutar e confiante na vitória, avançou demasiadamente o exército e caiu em uma cilada dos turcos.

Um cavaleiro inimigo já brandia um machado de combate sobre sua cabeça, quando um de seus nobres o salvou, recebendo em seu lugar o golpe mortal.

Dois mil de seus poloneses foram feridos e até seu filho viu-se em grande perigo. A chegada do exército austríaco salvou-os de serem aprisionados pelos maometanos.

Dois dias depois os cristãos obtiveram seu revide em Parkany. Foi renhida a batalha, sendo finalmente rechaçados os turcos. Como a única saída deles para a fuga era a ponte que liga Parkany a Esztergom, se dirigiram a ela.

Mas foi tal a confusão que se estabeleceu, atropelando-se uns aos outros, que a ponte desmoronou e muitos morreram afogados nas águas do Danúbio. As perdas dos muçulmanos pela espada dos cristãos e por afogamento foram calculadas em 15 mil homens.

Imediatamente estabeleceu-se o cerco a Esztergom, que jazia sob a tirania turca há 78 anos. A cidade santa dos húngaros, após breve defesa, se rendeu em 28 de outubro.

O Grão-vizir se retirou para Belgrado, terminando então a investida otomana daquele ano.

Chegando a Maomé IV a notícia da perda dessas duas cidades, ele atribuiu tais derrotas à indolência e avareza do chefe muçulmano Kara Mustafá, cuja decapitação confiou então ao Agá dos Janízaros, que a executou em 25 de dezembro de 1683.

O Beato Papa Inocêncio XI foi patrono da Santa Liga.
O Beato Papa Inocêncio XI foi patrono da Santa Liga.
A milícia dos janízaros foi a elite do exército otomano. Era constituída de meninos cristãos capturados em batalha, levados como escravos e pervertidos ao Islamismo. Agá era o título do comandante dessa tropa.

Veneza ingressa na Santa Liga

Em 1684, Veneza entrou na Santa Liga contra os turcos. A aliança foi concluída em 5 de março, graças ao empenho do Papa Beato Inocêncio XI.

Todos os príncipes da Cristandade foram convidados a entrar nessa Liga contra os turcos. Muitos creram então que havia chegado a hora de lançar a Europa contra o Islã.

Como patrono da Santa Liga foi designado o Papa, o qual a auxiliaria também com suas forças.

Assim, o teatro de batalha se estendeu. A Polônia atacaria a Turquia pelo norte, enquanto os austríacos avançariam pela região da Hungria.

Veneza entraria por terra na Dalmácia e lançaria sua frota de navios nos mares gregos, tentando a conquista do Peloponeso.

Investida polonesa

A atenção de toda Europa voltou-se para os acontecimentos da Santa Liga. Em vão procurou Luís XIV separar o rei polonês do Imperador austríaco Leopoldo, pois o rei João Sobieski considerava a luta contra o Islã o cerne de sua vida.

Em agosto, na região da atual Ucrânia, Sobieski conquistou a cidade de Jaslowiec e construiu uma fortaleza próxima a Kamieniec Podolski, a fim de ameaçar esse importante baluarte dos turcos.

A fortaleza recebeu o belo nome de “Trincheira da Santíssima Trindade”. Porém, nesse ano ele não obteve nenhuma vitória relevante.

Isto porque Solimão Paxá, que com 100 mil homens deveria proteger as fronteiras contra Sobieski, retirava-se constantemente, não travando batalha. Em vista disso, Sobieski regressou em novembro daquele ano à Polônia.

O rei da Polônia João Sobieski, no santuário de Czestohowa,
diante da padroeira do país
Em dezembro de 1684, os generais poloneses Kunicki e Potocki dispersaram os tártaros na região do Danúbio inferior. Na Moldávia, Potocki aprisionou o hospodar [título de Governador da Moldávia] Ducas, que havia tomado parte no cerco de Viena.

E também restabeleceu o hospodar Petriceicu. Nessa ocasião, os boiardos [membros da aristocracia] da Valáquia acorreram para prestar homenagem aos poloneses.

O Papa então abençoou Sobieski, enviando-lhe uma espada, e para a rainha, uma rosa de ouro.

Avanços na Hungria

As investidas na Hungria começaram somente em junho de 1684. Em poucos dias Carlos de Lorena conquistou as cidades de Visegrád e Waizen.

Os austríacos encaminharam-se logo em seguida para a cidade de Peste, que à sua chegada, foi incendiada pelos turcos e abandonada.

Em 14 de julho, justamente um ano desde o início do cerco de Viena, o Duque Carlos de Lorena iniciou o cerco da fortaleza de Buda.

Esta cidade era considera pelos muçulmanos ponto chave do Império Otomano. Para sua conservação faziam-se conclamações públicas em Constantinopla. Dez mil homens de tropas especiais a defendiam sob o comando de Ibrahim Scheitan.

Oito dias depois, Carlos de Lorena derrotou em Hamzsabég um exército turco que tentava impedir o cerco de Buda.

Nessa batalha foi aprisionado um turco também chamado Hamzsa-beg, que, enquanto dominador dessa cidade havia ali provocado impressionantes devastações.

Entre as atrocidades por ele praticadas conta-se o seguinte: um prisioneiro chamado Pedro Szapary, nobre húngaro, foi atrelado por ele a um arado, apesar de sua esposa ter oferecido 30 mil florins pelo seu resgate.

Agora, estando as situações invertidas, o mesmo Szapary disse a seu antigo carrasco estas palavras:

“Tu praticaste em mim muitas crueldades, e agora estás em meu poder; mas para que vejas como um cristão é melhor do que um turco, dou-te a liberdade”.

O turco, porém, já havia tomado veneno. Entretanto a magnanimidade do nobre húngaro de tal modo o comoveu, que em seguida ele abandonou o islamismo e se fez batizar, tendo falecido poucas horas depois.

Os sitiados de Buda ofereceram ferrenha resistência, enquanto os sitiadores empreendiam audaciosos assaltos.

No entanto, as enfermidades, as fortes chuvas e a guerra arrebataram em pouco tempo mais de 20 mil homens do exército cristão, e o próprio Carlos de Lorena caiu enfermo.

Encontro do rei polonês João Sobieski com o imperador Leopoldo I, perto de Schwchat, 1859. Lvivi Art Gallery, Ucrânia
Encontro do rei polonês João Sobieski com o imperador Leopoldo I,
perto de Schwchat, 1859. Lvivi Art Gallery, Ucrânia
O Imperador austríaco persistiu na continuidade do cerco durante mais de cem dias, mas em 29 de outubro se viu forçado a interrompê-lo, o que muito entristeceu o Papa.

A frota veneziana

Veneza começou a luta empregando todas as suas forças. Em 15 de julho de 1684 declarou formalmente guerra em Constantinopla, quando até então a iniciativa havia sido sempre dos otomanos.

Veneza solicitou da Alemanha e da Suécia hábeis generais, tendo nomeado o aguerrido Francisco Morosini, comandante do seu exército.

Morosini e sua tripulação desembarcaram em 20 de julho na ilha de Santa Maura. Em 8 de agosto conquistaram a fortaleza, como também seis ilhas situadas atrás de Santa Maura.

Pouco depois, na Grécia, era conquistada Prevesa. A Turquia empregou todos os meios para se defender pelo mar; até então ela não havia guerreado contra tantas potências ao mesmo tempo.

A conquista de Neuhäusel

Arquiduque Carlos de Lorena, entrada triunfal em Budapest. Museu das Belas Artes de Nancy
Arquiduque Carlos de Lorena, entrada triunfal em Budapest.
Museu das Belas Artes de Nancy
Durante o ano de 1685 realizaram-se muitos combates. Os otomanos reuniram em Belgrado 80 mil homens e 640 canhões. Em julho, o exército imperial se pôs em movimento.

Desta vez, diversas regiões do Império austríaco apoiaram seu imperador. Além dos austríacos, marcharam para a Hungria 40 mil soldados oriundos da Baviera, de Colônia, de Brunswick, da Francônia, do Alto Reno e da Suábia.

Com tão poderoso exército, Carlos de Lorena se lançou à reconquista de Neuhäusel [atualmente Nové Zámky, ou Castelo Novo]

Uma das mais importantes da época, a fortaleza de Neuhäusel era quase inexpugnável. O cerco estava bem estabelecido quando chegou a notícia de que os muçulmanos sitiaram Esztergom.

Como esta era uma cidade estratégica para a conquista de Buda, Carlos de Lorena partiu para salvá-la com 40 mil homens, deixando somente 16 mil em Neuhäusel.

Em 16 de agosto, na batalha que se travou diante de Esztergom, os otomanos foram rechaçados com grandes perdas. Três dias depois, Neuhäusel foi conquistada pelos cristãos que nela haviam permanecido.

Como prêmio pela conquista de Neuhäusel, os príncipes e os destacamentos da Suábia receberam a simbólica bandeira da fortaleza. De cinco metros e meio de comprimento por três e meio de largura, esse pendão era tão pesado que um homem sozinho não conseguia carregá-lo.

Na Alemanha, Polônia e Itália celebraram-se festividades pelas vitórias cristãs. Contudo, as três nações ainda aspiravam como ideal as conquistas de Buda, Kamieniec e do Peloponeso.

Era preciso que a Santa Liga prosseguisse sua indômita pugna contra o inimigo da Cristandade.


Continua no próximo post:


Nota:
Principal fonte consultada:Historia Universal, Juan Baptista Weiss, Editora Tipografia La Educación, Tradução da 5° edição alemã, Barcelona, 1930, Vol. XI, p. 903 a 916.



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